O amor cristão, é um incessante fruto do Espírito. Cada um dos verdadeiros membros da igreja invisível de Cristo possui deste fruto no coração. O divino amor, o amor cristão, é implantado, habita, e reina ali, como um eterno fruto do Espírito, e como um fruto que nunca cessa. Ele nunca cessa neste mundo, mas permanece através de todas as provações e oposições, pois o apóstolo nos diz que nada "poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8.38,39). E ele não cessa quando os santos vierem a morrer.
Quando os apóstolos e outros dos seus dias morreram e foram para o céu, eles deixaram atrás de si todos os seus dons miraculosos, com seus corpos. Contudo, eles não deixaram para trás o amor que estava nos seus corações, mas o carregaram consigo para o céu, onde ele foi gloriosamente aperfeiçoado. Quando os homens ímpios morrem, homens que tiveram as influências comuns do Espírito, seus dons cessarão eternamente, mas a morte nunca destrói o amor cristão, aquele grande fruto do Espírito, em qualquer um que o tenha. Aqueles que o tem podem deixar e deixarão após si muitos outros frutos do Espírito que tiveram em comum com os homens ímpios. E ainda que eles deixarão tudo que era comum à sua fé, e esperança, e tudo aquilo que não é pertinente a este divino e santo amor, mesmo assim este amor eles não deixarão para trás, mas irá com eles para a eternidade e será aperfeiçoado lá, e viverá e reinará com glorioso e perfeito domínio nas suas almas para todo o sempre.
Nós podemos considerar a igreja de Cristo coletivamente, ou como um corpo. E aqui, novamente, ficará manifesto que o amor, o amor cristão, nunca cessará. Embora outros frutos do Espírito cessem na igreja, este nunca cessará. No passado, quando houve interrupções dos dons miraculosos do Espírito na igreja, e quando houve épocas nos quais nenhum profeta ou pessoa inspirada apareceu que possuía tais dons, ainda ali nunca houve qualquer interrupção total deste excelente fruto ou influência do Espírito. Dons miraculosos foram interrompidos por longo tempo que se estendeu de Malaquias até próximo ao nascimento de Cristo; mas em todo este tempo a influência do Espírito, em manter o divino amor na igreja, nunca foi suspensa. Como Deus sempre teve uma igreja de santos no mundo, desde a primeira criação da igreja após a queda, assim esta influência e o fruto do Espírito nunca cessou nela.
E quando, depois da conclusão do cânon das Escrituras, os dons miraculosos do Espírito parecem finalmente ter cessado e desaparecido na igreja, esta influência do Espírito em produzir o divino amor nos corações dos santos não cessou, mas tem sido mantida por todas as épocas desde aquele tempo até hoje, e assim será até o fim do mundo. E no fim do mundo, quando a igreja de Cristo for colocada no seu estado final, mais completo e eterno, e todos os dons comuns, tal como convicção e iluminação, e todos os dons miraculosos, estarão eternamente findados, ainda então o divino amor não cessará, mas será trazido à sua mais gloriosa perfeição em cada membro individual da igreja resgatada no céu. Então, em cada coração, aquele amor que agora aparece apenas como uma faísca, será aceso num brilhante e incandescente fulgor, e cada alma resgatada será como se estivesse numa fogueira de divino e santo amor, e permanecerá e crescerá nesta gloriosa perfeição e bem-aventurança por toda a eternidade!
Eu darei apenas uma singular razão em favor da verdade da doutrina que tem sido deste modo apresentada. E a grande razão porque assim é, que os outros frutos do Espírito cessam, e o grande fruto do amor permanece, é que, o amor é o grande fim de todos os outros frutos e dons do Espírito. O princípio e o exercício do divino amor no coração, e os frutos dele na conduta, e a felicidade em que ele consiste e que jorra dele — estas coisas são o grande fim de todos os frutos do Espírito que cessam. O amor, o divino amor, é o fim para o qual toda a inspiração, e todos os dons miraculosos que já existiram no mundo, são apenas os meios. Eles foram somente meios de graça, mas o amor, o divino amor, é a graça mesmo; e não só isto, mas a soma de toda graça. Revelação e milagres nunca foram dados para qualquer outro fim senão apenas para promover santidade e edificar o reino de Cristo no coração dos homens, mas o amor cristão é a soma de toda santidade, e seu crescimento é apenas o crescimento do reino de Cristo na alma. Os frutos extraordinários do Espírito foram dados para revelar e confirmar a palavra e a vontade de Deus, para que os homens crendo possam ser conformados àquela vontade; e eles eram valiosos e úteis somente na medida em que tendiam para este fim.
E daí, quando este fim foi obtido, e quando o cânon das Escrituras, o grande e poderoso meio da graça foi completado, e as ordenanças do Novo Testamento e da última dispensação foram completamente estabelecidas, os dons extraordinários cessaram, e chegaram ao fim, não sendo mais úteis. Dons miraculosos sendo um meio para um fim posterior são bons só enquanto se dirigem para aquele fim. Mas o divino amor é aquele fim mesmo, e portanto permanece quando os meios para ele cessam. O fim não é somente um bem, mas a mais elevada qualidade de bem em si mesmo, e portanto permanece para sempre. E assim é com relação aos dons comuns do Espírito, que foram dados em todas as épocas, tais como iluminação, convicção, etc. Eles não tiveram nenhum bem em si mesmos, e somente são úteis enquanto tendem a promover aquela graça e santidade que sumaria e radicalmente consiste em divino amor, e, portanto, quando este fim é completamente satisfeito, haverá um término para sempre destes dons comuns, enquanto o divino amor, que é o fim de todos eles, permanecerá eternamente.
Fonte: Jonathan Edwards
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