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Todo
mundo parece que quer reinventar o Evangelho. Se você não sabe, a
palavra “evangelho” significa “boas-novas” – e o Evangelho de Cristo são
as boas-novas da salvação. Ponto. O Verbo encarnou, morreu e
ressuscitou para que tivéssemos salvação, ou seja, vida eterna. Ponto. O
resto é só o resto. Por isso me impressiona a quantidade de cristãos
que acham que o Senhor encarnou para resolver os problemas desta vida,
da nossa sociedade, do mundo. O Evangelho não são as “boas-novas do
saneamento básico”, as “boas-novas do enriquecimento financeiro”, as
“boas-novas da influência sobre a política social” ou as “boas-novas da
luta pelo fim da miséria”. Isso é Evangelho 2.0, uma nova versão daquilo
que Jesus ensinou: seu Reino não é deste mundo. Ponto.
Um homem brasileiro vive, em média, 72,5 anos, enquanto na eternidade
teremos vida – ou morte – eterna por 72 trilhões de trilhões de
trilhões de trilhões de anos. E isso não será 0,1% da eternidade. E você
realmente acha que Deus está tão preocupado assim com nossos anos sobre
a terra? Um-hum. Claro que Ele se preocupa, mas esta vida, que a Bíblia
diz que é como “um sopro” e “uma neblina”, é uma ridícula e minúscula
portinhola de entrada para o porvir eterno. Daí a influência marxista
sobre o Evangelho ser um equívoco tão elementar: Jesus se ofereceu ao
sacrifício não para que seus servos fossem ao Planalto, fizessem
comitês, organizassem passeatas, lançassem manifestos sobre política
partidária. O sacrifício vicário é um sublime exercício espiritual, um
estímulo à vida devocional.
Quando
Jesus morre na Cruz não é a porta do palácio de Herodes que se rompe
para que seus seguidores possam exigir melhores condições de vida, nem a
fechadura da residência de Pilatos que arrebenta para que os discípulos
tenham como reivindicar um melhor padrão de vida para as massas
carentes: é o véu do templo que se rasga, para que o homem pecador tenha
acesso ao Santo dos Santos, ao Altíssimo, ao Sagrado, ao espiritual, ao
Pai. Para praticar o religare com o Todo-Poderoso, o tão
mal-falado bicho papão do momento: religião. Uuuuuu, que medo, teve
gente que só de ouvir essa palavra se arrepiou todo.
É lógico que agora, furiosos, os adeptos dessa linha terrena de
Evangelho 2.0 virão com todos os argumentos das classes oprimidas, que
temos que ajudar o próximo, que amparar os órfãos e as viúvas em suas
tribulações. Isso é óbvio! A consequência das boas-novas é o amor pelo
próximo. Não sou filho de família rica: meus pais eram professores do
estado e tinham cada um quatro ou cinco empregos para poder sustentar os
filhos. Mas não é pelas minhas raízes proletárias que segurarei a foice
e o martelo e farei do foco da morte e da ressurreição de Cristo uma
luta política por uma vida melhor. Segurarei a Bíblia. Meu compromisso,
como o de todo cristão, é com a Jerusalém Celestial, não com Brasília.
Os problemas desta vida nós, que vivemos numa pseudodemocracia,
resolvemos no voto. Ou, pelo menos, deveríamos resolver, se soubéssemos
votar. A fé é sobre outras coisas. Amar o próximo, sem dúvida, mas a
Deus sobre todas as coisas. Como disse o Cordeiro, a Videira, “de que
adianta ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Quem não entende
que o Evangelho é sobre nossa comunhão eterna com Deus e não sobre nossa
comunhão momentânea com os problemas desta vida não compreendeu que o
Pai deu seu Filho unigênito para que os que nEle cressem não perecessem,
mas tivessem…adivinha o quê? Bem, você conhece João 3.16.
Olho
para os mártires dos 313 primeiros anos de Cristianismo e não consigo
ver nenhum deles morrendo no Coliseu para que os pobres tivessem acesso a
educação e saúde. Não me ache um insensível, acredite, choro pelos que
choram e faço a minha ação social – e o que faço Deus sabe, não preciso
alardear aqui. Mas não é por isso que vou ignorar o testemunho dos
mártires da Igreja primitiva, que fizeram o bem ao próximo, mas que,
como os casos citados em Hebreus 11, deram suas carnes alegremente aos
leões e às torturas pelo entendimento de que a meta é o Céu – e não
asfaltar um bairro. Blandina, Romano, Policarpo, Estêvão e tão grande
nuvem de testemunhas deram-se ao martírio em nome da eternidade. Por
entenderem que o Evangelho não é a respeito deste sopro de vida. Que
adianta erradicar a miséria e irmos todos para o inferno? Jesus não é um
super-herói que veio à terra para salvar mocinhas em becos escuros de
batedores de carteiras.
O Evangelho 2.0 é um equívoco. Simplesmente porque põe uma das muitas
consequências da Cruz como a causa. Ação social, caridade, cavar poços
artesianos, construir creches e escolas, influir sobre as instâncias do
poder público… não foi por nada disso que Jesus encarnou, morreu e
ressuscitou. Isso é consequência e não causa. Jesus veio para tirar
pecadores do inferno e não pobres das favelas. Isso é Evangelho.
Quando eu era mais jovem, com meus 17 anos, cheio de testosterona,
filiado a organizações estudantis de esquerda e crente que ia mudar o
mundo, acharia o Evangelho 2.0 o máximo. Fui a comícios nas eleições de
1989, fui orador na minha turma de formatura na escola ostentando um button
do partido que eu apoiava, discutia com os padres do colégio São Bento,
onde estudei como bolsista, porque eles eram uns “reacionários de
direita”. Mas aí os anos se passaram, a esquerda assumiu o poder no país
e tudo continuou igual, veio a minha conversão e fui discipulado por um
bom sacerdote, que me mostrou que a grande revolução social ocorre
mediante a pregação do Evangelho (o 1.0, o original). Refiz meus
pensamentos. Mudei minhas premissas. E compreendi a razão de Jesus ter
vindo à terra. Entendi o que é graça e a diferença entre causa e
consequência da Encarnação do Verbo. Cheguei a ir a um Congresso
Teológico sobre a vertente evangélica e da moda da Teologia da
Libertação para entender melhor as ideias que importamos do Equador
sobre o tema. Continuo acreditando em caridade, em ação social e em dar
de comer a quem tem fome e beber a quem tem sede, em amar o próximo, em
ajudar o necessitado. Mas não acredito que isso suplante a pregação das
boas-novas de salvação e que isso seja a locomotiva. Não é, é o vagão.
Que
os adeptos do marxismo cristão joguem pedras. Não tem importância.
Antes importa agradar a Deus que aos homens. Não sou rico, não sou da
elite, amo o próximo e quero o bem de pobres e ricos. Não vou aderir ao
Evangelho 2.0, porque desejo proclamar as boas-novas de salvação para os
miseráveis e também para os milionários. Olho para as favelas e para os
condomínios de luxo e o que vejo são a mesma coisa: almas. Pior: almas
pecadoras, destituídas da graça de Deus. Cobrirei quem tem frio com um
cobertor, visitarei o preso, darei pão ao faminto e água a quem tem
sede. Farei isso por amor e porque Jesus nos ensinou a fazê-lo. Mas
investirei a maior parte de meu tempo e de minhas forças e esforços em
proclamar o Evangelho. Em proclamar a Cruz. Em anunciar o Caminho
estreito. Em cumprir o ide para fazer discípulos bons e fiéis que um
dia, tenham passado fome ou não nesta vida, compartilhem comigo dos
quadrilhões de séculos que dura a eternidade ao lado do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Ponto final.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: [ Apenas ]
Nota do Blog Bereianos:
Parabenizo o Maurício pelo artigo e compartilho a mesma opinião a respeito. Excelente!
RM
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1 comentários:
parabens pelo post!
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