Já fui convocado para fazer mapeamento espiritual

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Por: Daniel Clós Cesar

Alguns anos atrás, quando ainda era estudante de História, fui convidado por uma senhora para ajudá-la em um "mapeamento espiritual" que sua igreja estava fazendo. Eu ainda não tinha ouvido nada a respeito do assunto, e apesar de bastante "exotérico-gospel" que eu era, resolvi pesquisar um pouco a respeito.

Na época blogs e sites apologéticos ainda eram escassos. Um que outro site, justamente de "ministérios" favoráveis ao mapeamento podiam ser encontrados buscando-se pelo Cadê? ou pelo Yahoo! (o Google não era tão famoso à epóca).

Lembro de um pastor (eram poucos os apóstolos) que fizera um ato profético na cidade de Sapiranga (RS), cidade próxima a capital gaúcha e que tem como "título", a Capital do Vôo Livre. E conseqüentemente um mapeamento espiritual do lugar.

Aquele pastor dizia que ao chegar na cidade viu os praticantes de vôo livre e teve uma revelação: "eram abutres de satanás que voavam sobre uma cidade entregue ao inferno". Muita imaginação... pouca sabedoria. Mas Sapiranga também foi o local da "Revolta dos Muckers". E ele também afirmava que a cidade havia feito um pacto com satanás quando no passado o governo destruiu a colônia "cristã" dos muckers e matou a mulher que os liderava, Jacobina. A quem atribui, se não me falha a memória, o adjetivo de: "mulher de Deus"

Ele alegava que Sapiranga fora palco da sangrenta (e foi mesmo) destruição de uma colônia de pessoas que serviam a Deus. A história era no mínimo imbecil. Como postulante a professor de História não podia acreditar que um pastor evangélico estava chamando Jacobina de "mulher de Deus". Aquele "estudo" mostrava apenas ignorância quanto ao assunto.

Para os que não conhecem a história da revolta. Tratou-se de um movimento messiânico liderado por Jacobina, que julgava-se a própria reencarnação de Cristo e era de "Cristo" que seus seguidores a chamavam. Os muckers eram um grupo armado que executou oponentes e dissidentes. Até ser aniquilado por forças do governo no ano de 1874. Alguns poucos sobreviventes ainda tornaram-se mais tarde, seguidores de Antônio Conselheiro (Guerra de Canudos). Uma viva prova de sua "conversão" não é mesmo?

Aquilo não cheirou muito bem... continuei pesquisando... agora não mais na internet... mas na Bíblia (para onde eu deveria ter ido primeiramente... mas era muito ignorante espiritualmente).

Descobri que basicamente, "mapeamento espiritual", é estudar uma cidade (sua história, cultura e símbolos, como bandeira e brasão) para entender ou descobrir, quem é o demônio que domina naquela cidade, para então poder expulsá-lo e conquistar o território.

Nada pode ser mais herético. Nada pode ser mais anti-bíblico. Nada pode ser mais fruto de alguém paranóico e místico. Exoterismo barato. Terrorismo gospel.

Não estou dizendo que "alguns lugares" não são mais difíceis de pregar o evangelho que outros. Tente pregar o evangelho na zona de meretrício ou nas "cracolândias", tente evangelizar em Cabul ou Teerã.

Precisamos sim conhecer a história e a cultura de um povo (sua língua, costumes etc)... e não os demônios que "habitam" o lugar. Há mais pastores, apóstolos(?) e profetas(?) preocupados em descobrir nome de demônio que nomes de pessoas. Mais preocupados em entender o poder das trevas do que receber Poder de Deus.

Não encontrei na Palavra de Deus nenhuma referência ao tal mapeamento. As referências bíblicas utilizadas para defender essa prática herética são distorcidas e só podem ser "entendidas" quando isoladas do restante do texto.

Por um outro lado... que julgo mais perverso que o próprio mapeamento... está o jogo de medo que se faz com os incautos e neófitos. Temerosos e desconhecedores do poder de Deus, passam a temer mais o poder das trevas. Tornam-se mais facilmente vítimas da "cobertura espiritual" desses "espíritas" que dizem conhecer o divino, mas não entendem nem mesmo das coisas naturais.

Não ajudei no tal mapeamento... mas sei que foi feito, e agora "oficialmente" Porto Alegre pertence a algum "demônio de rebeldia" por ter se rebelado contra o governo central na Revolução Farroupilha. O mais engraçado (ou triste) de tudo isso, é que Porto Alegre recebeu o título de "Mui leal e valerosa" (valerosa mesmo) do imperador D. Pedro II (1841), justamente por ter resitido ao cerco dos revolucionários e não se aliar a eles.

Quanta ignorância meu Deus!

Maranata Jesus!

Autor: Daniel Clós Cesar
Fonte: [ Blog do autor ]

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