Por: Josemar Bessa
A. W. Tozer certa vez disse: “Tudo que podemos tocar não é eterno”. Palavras sábias e verdadeiras. Como então podemos viver uma vida com a perspectiva da eternidade se tudo que tocamos com nossos sentidos; e mesmo tudo que sentimos e tocamos com nossas faculdades naturais, não expressam a eternidade?
Precisamos de algo fora de nós, precisamos de algo de Deus. Esse foi um dos maiores achados na Reforma. Lutero repetia e repetia – A Palavra é externa – a verdade não está dentro... Além disso, nossas faculdades naturais não são suficientes, precisamos de um novo coração que vem do mesmo lugar de onde esta Palavra veio. Temos que “tocar’ a Verdade com nada que seja humano ou natural.
Nos dias de Jesus o profeta nos diz: “não vimos nele beleza alguma que nos atraísse”. Assim que Israel contemplou Deus andando no mundo, com olhos físicos, com o que podiam avaliar, ver, tocar, sentir – Resultado: ‘não vimos nada que nos atraísse”
Já João nos diz algo completamente diferente, ele diz: “O Verbo virou gente e habitou entre nós e vimos sua glória como a glória do unigênito do Pai” – Uau!! Que diferença! – “Não vimos beleza alguma...” – “...e vimos Sua Glória...”
Vivemos em dias de grande confusão espiritual. Nossa época é rica em heresias e desvios atordoantes da Palavra de Deus. Tudo seria mais fácil se o homem tão somente se fixasse naquilo que tão claramente a Palavra de Deus proclama.
As multidões não querem obedecer (ou sequer tem um coração para isso) a Deus, elas querem “senti-lo”. Uma das provas da maturidade (mesmo emocional – que dirá espiritual) é a capacidade (e a disposição) de superar os sentimentos efêmeros e governar nosso comportamento com o intelecto e a vontade.
Os ‘crentes’ infelizmente, parecem desconhecer esta fonte de confusão e desilusão. Como pastor estou sempre em contato com pessoas que estão passando por períodos de sofrimento ou que foram destruídas por doutrinas heréticas...
Muitas vezes, apesar do sofrimento, eles ainda não perceberam o fator que os levou até ali, e por isso, continuam indo no mesmo processo que os levará de volta ao mesmo desespero. Não percebem que o que eles sentem não reflete nada a não ser sua disposição de espírito.
Tanto na dificuldade do enfrentamento dos sofrimentos da vida, como na facilidade de se crer em falsas doutrinas, essa natureza que interpreta tudo na base do como estou sentindo, é a raiz destruidora.
Não podemos nos aproximar da Palavra de Deus, nem do próprio Deus com base no que estamos sentindo. Não podemos enfrentar as tristezas e sofrimentos inevitáveis de um mundo caído – na base de como nos sentimos.
Isso me faz lembrar de uma história bem antiga sobre quatro homens cegos que encontraram um elefante. Todos nós já encontramos tal elefante. Todos nós fomos tentados a agir da mesma maneira.
A história diz que um deles colocou a mão na perna do elefante. “Um é como uma árvore”, ele declarou: “grosso e forte”.
Outro homem pegou o elefante pela orelha. “Não meu amigo”, disse ele, “um elefante é como uma grande folha, chata e flexível”.
O terceiro pegou o animal pelo rabo. “Ambos vocês estão errados”, ele disse. “Um elefante é como uma corda, longo e fino”.
O quarto homem encostou no corpo maciço do elefante. “Todos vocês são tão burros quanto são cegos”, ele disse: “um elefante não é nada disso. Ele é forte e duro, como um grande muro”.
Assim as pessoas tocam as doutrinas. Assim as pessoas tocam os problemas e tragédias da vida. Cada um com sua interpretação absurda dos fatos da vida e da Verdade de Deus que opera em todas essas coisas. Com isso a visão de Deus é distorcida, a visão do seu plano eterno é distorcida, a visão dos seus atributos é distorcida, a maneira como se enxerga o sofrimento é distorcida... Como conseqüência, vivemos na mentira e não compreendemos o sofrimento. Tudo isso porque somos cegos.
Um bom exemplo disso está em Lucas 24.13,14 – quando dois discípulos estavam a cominho da aldeia chamada Emaús. Eles haviam visto o ser Mestre horrivelmente crucificado três dias antes, e ficaram profundamente deprimidos. Toda a esperança que acalentaram por anos morreu numa cruz romana. Todos aqueles três anos juntos, os ensinamentos... pareciam agora apenas fantasia das suas mentes. Cristo havia falado com tal autoridade, mas agora estava morto. Eles tocaram esses fatos como os cegos tocaram o elefante. Seu Mestre estava morto e enterrado num túmulo emprestado. Isso era um fato e contra fatos não há argumento. Eles deviam lembrar dos últimos momentos de Cristo, tipo “Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste...” (Mt 27.46). Isso não te deixaria confuso?
O que eles não podiam ver nem sentir, era que Jesus estava caminhando com eles na mesma estrada poeirenta, e naquele exato momento. Eles estavam prestes a receber a maior notícia que o ouvido humano já ouviu em toda a história. A notícia iria revolucionar as suas vidas e virar o resto do mundo de cabeça para baixo. Entretanto, eles só viam os fatos, fatos estes, que não podiam ser harmonizados.
Com meu trabalho como pastor junto a pessoas e famílias em crise, eu sempre as encontro lutando de maneira semelhante a esses discípulos e aos cegos com seu elefante. Enquanto caminham com seus problemas e dores, não há provas de que Jesus faz parte do universo deles. Porque eles não “sentem” sua presença. Como os fatos que estão vivendo e tocando não acrescentam nada, eles estão convencidos de que não há explicação razoável, ou estão tateando com opiniões absurdas do que seja um ‘elefante’.
As orações não trazem alívio imediato, por isso, eles imaginam que não são mais ouvidos. Estão enganados, tão enganados como os cegos tocando o elefante e tentando entender sua aparência.
Toda confiança e esperança é colocada no que elas sentem e não nas promessas de Deus que disse que supriria todas as nossas necessidades, segundo as riquezas na glória por Cristo Jesus (Fl 4.19).
Se você está hoje nessa estrada poeirenta para Emaús, e além disso, encontrou um ‘elefante’ - se as circunstâncias da vida o deixaram confuso e deprimido, se sentiu que uma doutrina herética estava certa, apenas para neste instante estar na mais profunda confusão, tenho um breve conselho pra te dar. Abandone completamente a tentativa de caminhar neste mundo baseado naquilo que você sente. Naquilo que você sente ser a verdade; naquilo que você sente no meio do sofrimento e das perdas da vida, na tentativa de novamente sentir para determinar que caminho tomar... Nunca presuma que o silêncio de Deus ou sua aparente inatividade, é prova de seu desinteresse... De uma vez por todas entenda – Sentimentos a respeito da inacessibilidade dela nada significam! Absolutamente nada! A Palavra de Deus é confiável. A Palavra dele é infinitamente mais confiável do que nossas sinistras emoções.
Não precisamos andar de heresia em heresia. Não precisamos mergulhar na confusão a cada sofrimento na vida. Como disse certo servo de Deus há muito tempo atrás: “Com Deus, mesmo quando nada está acontecendo – alguma coisa está acontecendo” – Deus está trabalhando à sua própria maneira.
Estabelecemos nossos alicerces, estabelecemos nossa vida na verdade, como reagimos na dor... não em emoções efêmeras, ou em qualquer capacidade natural de compreender as coisas; mas na Palavra escrita. Como disse Lutero, a Verdade é externa, está fora... A Palavra escrita e sua proclamação permanecem verdadeiras mesmo quando não temos sentimentos espirituais quaisquer que sejam eles. Agarre-se somente a esta Verdade com a tenacidade de um bulldog.
Bulldog, elefante, esta história está ficando cheia de bichos. Vamos encerrá-la antes que mais bichos apareçam.
Se fizer assim, sua vida estará protegida contra o erro e as heresias que se multiplicam aos milhares em nossos dias; e estará pronto para enfrentar todo o sofrimento que Deus achar necessário para sua vida.
Tudo isso que vimos, acontece porque somos cegos. Nós só conseguimos ‘enxergar’ um pequeno pedaço do quadro todo – como aqueles cegos com seu elefante. Não Podemos ver o futuro – nem devemos tentar. Sequer conseguimos enxergar todo o presente! Nós não sabemos o efeito que nossas ações, quando não submetidas a Palavra, irão ter. Na verdade, seria mais fácil para um cego descrever um elefante do que qualquer um de nós ver bem e compreender os caminhos de Deus... Mas isto não faz mal.
Imagine se alguém com visão perfeita encontrasse os cegos discutindo sobre a aparência do elefante. Essa pessoa poderia descrever o elefante como ele é. Talvez os cegos não acreditassem nele (será essa a sua situação? ) mas se escutassem, sua descrição daria sentido a tudo.
É exatamente isso que Deus faz conosco. Ele nos diz – e somente na Sua Palavra (externa) – a verdade, e então como os olhos dos discípulos em Emaús, começamos a enxergar – tudo faz sentido – Essa vida é a que Deus ordenou para nós – confiança absoluta apenas na Sua Palavra (externa) – e nós bradamos com os Reformadores – Sola Scriptura!! – Quando encontrar o próximo elefante, não se esqueça disso.
Soli Deo Gloria
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