Você esta revestido de poder? - Paul Washer

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Uma grande mensagem de Ide e pregai o EVANGELHO, sangre O EVANGELHO!

“Se Cristo for removido do Velho Testamento, se tudo que há lá não for uma imagem Dele, então eu não tenho nada, a não ser histórias morais. O animal morto para cobrir a nudez de nossos primeiros pais, aquele era Cristo; a arca que foi usada por Noé, aquilo era Cristo; carneiro travado pelos seus chifres, aquilo era Cristo; o templo e seus sacrifícios, aquilo era Cristo, Ele é a semente de Abraão e maior que Moisés e Josué.” Paul Washer

“Se a graça é tanta, se ela é tão larga e tão aberta, profundamente insondável, então, deixe-me ser santo, deixe-me servi-lo!” Paul Washer

“Quando a luz brilha através da escuridão, nós entendemos que fomos justificados pela fé, e o grande peso do pecado caem de nossos ombros e nós clamamos: Aba Pai!” Paul Washer

“Um homem de Deus quando alcança uma idade avançada deve estar quebrado em mil pedaços!” Paul Washer


“Em toda história do planeta, Jesus emerge como a única pessoa esperada, ninguém estava esperando por tal pessoa como Julio Cesar, ou Napoleão, ou Washington ou Lincoln para aparecer no tempo e lugar que eles apareceram. Nem uma outra pessoa teve seu percurso previsto ou sua obra preparada para ele séculos antes de seu nascimento. Mas a vinda do Messias foi prevista por séculos.” Loraine Boettner

“O livro de Atos não se trata dos atos dos apóstolos, mas dos atos do Senhor Jesus Cristo ressurreto através do Espírito Santo trabalhando através dos apóstolos.” Paul Washer

“O pregador não é um agente social, e também não é um executivo de marketing, ele é apenas um mensageiro da fé, do que já foi dito por Deus e ele precisa dizê-lo apenas da forma que Deus disse, as pessoas gostando ou não.” Paul Washer

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Muito baixo, muito humano, muito seguro.

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Por Tim Challies


Mais de uma vez eu fui acusado de ser um bibliólatra, uma pessoa que idolatra a Bíblia, que tem uma reverência excessiva pela letra da Bíblia. Estou certo que muitos outros cristãos também têm sido acusados disso. Na minha experiência, essa acusação tende a ser levantada contra aqueles que afirmam a infalibilidade e inerrância das Escrituras; ela também pode ser levantada contra aqueles que afirmam a suficiência da Escritura. Pessoas que levantam tal acusação estão indo contra algo que eles veem como um endurecimento da fé e prática que derivam de um entendimento da Bíblia que eles consideram demasiadamente literal.

Tenho certeza de que não idolatro a Bíblia e estou bem certo que isso é muito mais difícil de fazer do que os acusadores possam pensar. Deixe-me dizer o que penso a respeito dessa acusação.

Nós, como humanos pecadores, perdemos o direito e a habilidade do acesso direto a Deus. Antes de caírem em pecado, Adão e Eva tinham o privilégio de andar e falar com Deus. Eles tinham acesso direto, face a face, ao Criador. Este é um privilégio que nós ansiosamente prevemos recuperar quando o Senhor retornar, mas enquanto isso, poluídos como somos pelo pecado, cortamos essa comunicação direta. Nós agora dependemos da comunicação de Deus mediada pelas Escrituras. John Stott uma vez disse, “Deus revestiu seus pensamentos em palavras, e não há outra forma de conhecê-lo exceto pelo conhecimento das Escrituras. (…) Nós nem mesmo podemos ler a mente uns dos outros, muito menos o que está na mente de Deus”. A palavra de Deus nos diz que somente conseguimos conhecer Deus, como ele realmente é, através da própria Palavra.

A Bíblia é a Palavra de Deus. John Frame, em Salvation Belongs to The Lord [A Salvação Pertence ao Senhor], define a palavra de Deus como “a poderosa e autoritativa auto-expressão de Deus”. A palavra de Deus é poderosa por fazer mais do que meramente comunicar, ela também cria e controla. Frame diz, “a palavra é a presença de Deus entre nós, o lugar onde Deus habita. Então, não podemos dissociar a palavra de Deus do próprio Deus”.

Você consegue entender? Você não pode separar a palavra de Deus do próprio Deus. A palavra revela Deus. Frame continua mostrando que a palavra de Deus tem atributos divinos. Ela é justa, fidedigna, maravilhosa, santa, eterna, onipotente e perfeita. Porque esses são atributos de Deus, eles também são atributos de sua Palavra. Ele também mostra que a Palavra de Deus é um objeto de adoração, citando Salmo 56.4 onde Davi escreve, “Em Deus, cuja palavra eu exalto, nesse Deus ponho minha confiança e não temerei. Que me pode fazer um mortal?” O salmista repete no verso dez, “Em Deus, cuja palavra eu louvo, no Senhor, cuja palavra eu louvo…” Isto é notável, por que apenas Deus é o objeto do louvor. Louvar algo além de Deus é idolatria. Uma vez que, aqui, Davi adora a palavra, não podemos escapar da conclusão de que a palavra é divina.

No familiar verso que abre o evangelho de João, nós lemos, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Este verso identifica a palavra de Deus, sua auto-expressão, com o próprio Deus. “O Verbo que ‘era Deus’, no verso 1 não era apenas Jesus, como o verso 14 claramente indica (‘E o Verbo se fez carne e habitou entre nós’), mas também a palavra de Deus ordenando que a luz sobressaísse das trevas em Gênesis 1.3.” Spurgeon diz bem (em referência a 2 Timóteo 3.16): “A Palavra de Deus, isso é, esta Revelação de si mesmo nas Sagradas Escrituras, é tudo que é descrito aqui porque Jesus, o Verbo Encarnado de Deus, está nela. Ele, de fato, se encarnou como a Divina Verdade nesta Revelação visível e manifesta. E assim ela se torna viva e poderosa, divisora e discernente.”

Há uma unidade inseparável entre Deus e sua Palavra. A Palavra é onde Deus está e Deus está onde sua Palavra está. A Palavra de Deus é a presença de Deus entre nós. Qual a implicação disso? Vamos voltar uma última vez a Jonh Frame. “A Palavra de Deus, onde quer que nós a encontremos, incluindo a escritura, é um objeto digno de reverência. Não estou advogando a bibliolatria, que é a adoração do objeto material de papel, tinta e etc. O papel e a tinta são criação, não Deus, e não devemos nos encurvar a eles. Mas a mensagem da Bíblia, o que ela diz, é divino, e devemos recebê-la com louvor e adoração.”

Quando lemos a Bíblia ou estamos sob o seu ensino, nós ouvimos do próprio Deus. Não adoramos a tinta e o papel – isto seria diminuir a Bíblia, não elevá-la – mas tratamos as Escrituras com reverência, considerando-a como a presença, poder e autoridade do próprio Deus. Realmente, é difícil imaginar como podemos ter uma visão demasiadamente elevada das Escrituras. É muito mais provável que nosso respeito pelas Escrituras seja muito baixo, muito humano e muito seguro.

Traduzido por Filipe Guerra | iPródigo.com | Original aqui
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Narcisismo “Gospel”

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Por Marcelo Milazzo

Quem já ouviu falar de Narciso? Pois é! De acordo com a mitologia greco-romana, Narciso foi um jovem que, por causa de uma maldição, se apaixonou pela própria imagem refletida na lagoa de Eco. A admiração pela própria imagem fazia Narciso pensar que era semelhante a um deus! Em sua mente, tudo girava em torno de sua beleza!

Parece-me que hoje, cada vez mais, as pessoas são encorajadas a olharem para si mesmas com os olhares de Narciso! Impressiona-me, por exemplo, como tudo gira em torno de entretenimento! Vale tudo para fazer as pessoas se sentirem bem, alegres e felizes, mesmo que isso aconteça às custas da realidade! Além disso, existe entre nós uma espécie de existencialismo barato, que faz com que o mundo em que vivemos seja o mundo da autoajuda e do estilo de vida baseado na busca pelo prazer, o que muitos confundem com felicidade.  O problema é que a moda pegou, e pegou muitos cristãos! Sim, os cristãos têm acreditado nessa mentira e, junto com os ímpios, fazem coro dizendo que “o que importa é a minha felicidade e nada mais”! Você já parou para ouvir os cânticos da moda? Já percebeu como eles disfarçadamente colocam o homem e suas necessidades no centro, ao invés da obra e pessoa de Cristo? Você já entrou numa livraria evangélica e viu quantos títulos existem tratando de autoajuda? O que dizer, por exemplo, da liturgia de algumas igrejas, que incentiva a sensualidade e a extravagância? E as pregações que tratam de “5 passos para felicidade” ou “8 passos para uma vida de sucesso”? Meus irmãos, a velha mentira (de que seríamos como deuses) faz mais parte da nossa realidade do que imaginamos!

Um antídoto contra o narcisismo gospel!

Deus nos fez para A Sua glória! (Is 43.7)

Ele é a medida de todas as coisas! Tudo o que existe, existe para que Ele seja magnificado e glorificado! Nada foge deste propósito! Assim, precisamos entender que não somos o centro do universo! Não nos bastamos! Não estamos aqui para encontrar a felicidade! Aliás, nenhuma perspectiva pode ser mais egocêntrica do que esta! Imagine que, harmoniosamente, todas as coisas no universo declaram a glória do grande Deus! Agora imagine que o homem, ao contrário de toda a criação, insiste em perceber o mundo a partir de si mesmo! Se Deus é incomparável e de valor inigualável, não percebê-lo como fonte e centro de toda a existência seria uma prova de imenso egoísmo.

A Bíblia não é um livro de autoajuda (2 Pe 1.19-21)

A Bíblia não é uma caixinha de promessas! A Bíblia não é uma espécie de amuleto ou tarô gospel, onde as pessoas, aleatoriamente (e misticamente), buscam uma palavra mágica! A Bíblia não é um livro de autoajuda comprometido com a minha satisfação e autoaceitação! Ao contrário, a Bíblia é a revelação de Deus, comprometida com a glória dEle! Na Bíblia, Deus revela a si mesmo (sozinhos não poderíamos compreendê-lo) a homens pecadores! Dessa forma, a Bíblia deve ser entendida como um todo, um todo que revela a Glória de um Deus que escolheu, por graça, redimir um povo por meio do Seu Filho. Assim, pregações como “5 passos para o sucesso” ou até “atitudes que liberam a benção” não fazem o menor sentido biblicamente, porque removem a pessoa e obra de Cristo do centro (ainda que textos bíblicos sejam usados) e colocam o homem! Portanto, nos coloquemos diante do Livro dos livros, entendendo que Deus é glorificado quando nós conhecemos e reconhecemos a Sua glória revelada em cada página dele! E sabemos que isto está acontecendo quando o resultado da nossa leitura bíblica nos faz estimar mais a Cristo e menos a nós mesmos!

Precisamos de uma perspectiva correta de nós mesmos! (Sl 139.13,14)

Preciso entender que o fato de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus não me dá nenhuma prerrogativa para autoglorificação ou autogratificação! Muitas pessoas têm entendido esta cara doutrina de maneira equivocada! O fato de termos sido criados de forma admirável e assombrosa, aponta para a magnitude do Criador e não para a nossa, visto que todas as coisas têm como objetivo revelar a glória de Deus! Portanto, ao invés de dizer “amem-se” ou “valorizem-se”, o discurso deveria ser “valorizem a Deus por aquilo que vocês são, colocando à disposição dEle seus dons e talentos”! Percebe? Não precisamos nos sentir bem conosco mesmos! Precisamos é reconhecer que Deus já nos deu tudo o que precisamos em Cristo, e que se precisamos nos sentir bem conosco mesmos para sermos felizes e tudo o mais, estamos reconhecendo que estas coisas estão em nós e não em Cristo!

Fonte: Blog Fiel
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Por que relutamos em pregar o evangelho?

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Por Pr. Charles Melo


Jerram Barrs, em seu livro “A Essência da Evangelização” (Editora Cultura Crtistã) demonstra que, em geral, somos relutantes para pregar o evangelho às pessoas. É fácil perceber isso. Procure se lembrar agora da última vez em que a igreja foi convocada a evangelizar o bairro. Quantas pessoas participaram? Qual a porcentagem da igreja que se envolveu no projeto? Procure se lembrar de quando foi oferecido curso de evangelismo na igreja. Quantas pessoas mostraram interesse? Apenas uns quatro ou cinco. Isso é ou não é relutância?

O nosso problema é que nossa relutância não combina com a natureza das obras de Deus para alcançar os pecadores. Deus não é relutante em perdoar pecados e em salvar pecadores aos quais ele amou soberanamente. Ele, pela sua graça, escolheu, antes da fundação do mundo, os alvos de seu bem-querer, enviou seu Filho para morrer no lugar deles, enviou o Espírito Santo para, em ocasião própria, chamar de forma eficaz os seus amados das trevas para a luz, derrotou o inimigo que antes escravizava e consumará a obra de salvação no último dia para o louvor da glória da sua graça, ressuscitando os que já partiram com Cristo e transformando os que estiverem vivos quando Jesus voltar.

Deus não é relutante, mas a igreja o é. Quando Jesus ascendeu às alturas, disse que os discípulos seriam suas testemunhas em Jerusalém, na Judéia, em Samaria e até os confins da terra (At 1.8). No entanto, a igreja só se espalhou quando ocorreu a dispersão em consequência da terrível perseguição chefiada por Saulo. Assim o evangelho chegou a Samaria e outras partes do mundo. Mas por que precisaram de uma perseguição para sair pregando o evangelho? Bastava obedecer à ordem de Cristo. Deus não é relutante em espalhar a mensagem do evangelho. Você já reparou como o Senhor conduziu cada passo de Filipe até que ele pregasse ao eunuco? (At 8.26,27). O problema da igreja de Jerusalém naqueles dias é o mesmo do nosso hoje: a relutância em pregar, talvez por timidez, vergonha, tipo de personalidade, culpa paralisante, mas a razão verdadeira é que somos pecadores e sujeitos a esse tipo de torpor espiritual. Deus não quer que sejamos relutantes no cumprimento da sua missão de encher a terra com a sua glória.

É hora de percebermos que a relutância em evangelizar é absolutamente incompatível com a graça do evangelho! Pensemos na beleza do evangelho. Ele é o poder de Deus em operação para a salvação de todo o que crer, independente da nacionalidade. É Deus tomando a iniciativa de ir atrás do pecador morto em seus pecados e incapaz de se aproximar, envolvendo-o com seu Espírito vivificador, que lhe dá compreensão da magnitude da obra redentiva realizada por Cristo na cruz do Calvário. Poder participar do processo de salvação de uma pessoa é um privilégio! Então não sejamos relutantes. Sejamos prontos a atender ao mandamento do Senhor de sermos sal e luz neste mundo mergulhado em trevas e sem sentido. Ore, use a Bíblia, seja claro ao dizer o que Deus fez para nos salvar do juízo, ajude seu próximo a refletir sobre sua vida com Deus, use a sua maneira de viver como testemunho poderoso da obra de Deus.

Concluindo, longe de nós a relutância para evangelizar. Preguemos, não movidos por sentimento de culpa ou por constrangimento, mas pela alegria de ser cristão, que é a melhor coisa do mundo. Sejamos relutantes, mas apenas em desobedecer a Deus. Que a sua graça esteja sempre sobre nós!

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Ressurgimento da Espiritualidade?

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Por Solano Portela


Vivemos em uma era de ressurgimento da espiritualidade. Durante décadas a ênfase foi na racionalidade e no raciocínio horizontal das pessoas, onde a religiosidade era considerada algo supérfluo e incômodo. Quem sabe, nos diziam, com mais alguns milhares de anos de evolução chegaremos à pura racionalidade e deixaremos todos essas manifestações religiosas como um resquício do passado animal da humanidade. No entanto, autores e psicólogos famosos, como Maslow (Abraham Harold Maslow: 1908-1970, que chegou a presidir a Associação Americana de Psicologia), passaram a tratar as experiências místicas, religiosas, transcendentais e espirituais, não somente como normais, mas como desejáveis na integração da personalidade. Espaço estava aberto, no campo secular e no ápice da pirâmide, para o abraçar, sem constrangimentos, da espiritualidade latente às pessoas.

Se há essa avidez por experiências espirituais em nossa sociedade como um todo, não é de espantar que as obras e autores no campo evangélico também viessem a se multiplicar, e não somente com autores do meio. Vários escritores católico-romanos foram agregados às publicações e catálogos de editoras evangélicas. Essa tendência segui-se a um interesse crescente pelos escritos de místicos medievais, tais como Tereza D’Ávila (1515-1582) e Thomas a Kempis (1379-1471). Surpreendentemente, vários autores liberais também embarcaram nessa apreciação, como Karen Armstrong (1944 -), que escreveu, “Visões de Deus: Quatro místicos medievais e seus escritos” (Visions of God: Four Medieval Mystics and their Writings, 1994). Em adição a isso, o cenário evangélico contemporâneo, dominado pelo subjetivismo e misticismo do neo-pentecostalismo, abunda em expressões que aparentam promover a espiritualidade, mas por vezes pouco têm a ver com os ensinamentos bíblicos.

A teologia reformada, que aceita a Escritura Sagrada como fonte de autoridade de conhecimento, especialmente na instrução religiosa que necessitamos, não tem qualquer problema com o reconhecimento de que o homem é um ser religioso (Romanos 2.15). Formado à imagem e semelhança de Deus, ele não se auto-completa em si mesmo, mas anseia pelo conhecimento e relacionamento com o transcendente. No entanto, a própria Escritura alerta que essa religiosidade se apresenta distorcida pelo pecado (Romanos 1.19-23). Espiritualidade, sem a diretriz da Palavra de Deus; sem o solo fértil de um coração transformado pelo Espírito Santo, baseado na obra redentora de Cristo Jesus; sem o poder do Evangelho para dar o entendimento e canalizar a devoção ao Deus verdadeiro; é algo mortal, enganador, que leva à destruição.

Por isso devemos procurar a verdadeira espiritualidade. Aquela que leva os nosso pensamentos ao Deus verdadeiro, em ação de graças por tudo quanto nos fez; aquela que procura estudar e aplicar os princípios normativos de Deus à nossas vidas; aquela que reconhece a centralidade de Jesus Cristo em todas as coisas (Romanos 11.36).  Precisamos, portanto, fugir do subjetivismo que tem mirrado as mentes cristãs. Precisamos voltar à revelação proposicional e objetiva da Palavra de Deus. Não podemos nos deslumbrar ou nos enganar com a pretensa super-espiritualidade contemporânea, que pretendendo estar mais próxima de Deus em um enlevo místico-misterioso, no qual dialoga-se com Deus, recebe-se revelações; fala-se muito em amor, em vida, em ministério, em pregação, em poder, em maravilhas, em atividades, em louvor; enquanto que progressiva e paralelamente há demonstração de afastamento e desprezo para com a única fonte de revelação objetiva que Deus nos legou: As Sagradas Escrituras. Nessa jornada, não me empolgo com personalidades do passado, recicladas nesta onda mística, mas que compartilhavam a sua confiança de redenção em outros intermediários diversos, que não o Senhor Jesus Cristo.

Meditemos na pessoa e nos atos de Deus e em nossas responsabilidades para com Ele. Enraizemos o meditar nas Escrituras Sagradas. Ela serve de fio de prumo e de bússola ao nosso caminhar. Essa é a verdadeira espiritualidade, fundamentada na Palavra de Deus. Aquela que conduz à modificação de comportamentos estranhos às prescrições divinas, e que procura honrar a Deus na proclamação de Sua Palavra. Essa espiritualidade é reflexo da verdadeira teologia da reforma, que não é fria ou distanciada; que não é simplesmente acadêmica ou estéril; mas que é viva e produz frutos abundantes na disseminação do Reino de Deus, para a Sua glória.

Solano Portela

Notas:

1. Achei por bem expressar minha compreensão desse tema, apesar de muito já ter se escrito sobre ele. Só neste Blog temos esses importantes artigos do Rev. Dr. Augustus Nicodemus (além de referências indiretas, em outros posts):

2. Este meu texto foi adaptado do prefácio escrito para o ótimo livro do Rev. Dr. Wendell Lessa - "Espargindo Luz: Reflexões Bíblicas que Iluminam a Vida" (Monergismo: 2010), que recomendo.

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O Verdadeiro Amor

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Por John MacArthur


"Tudo o que você precisa é de amor", assim cantavam os Beatles. Se eles tivessem cantado sobre o amor de Deus, a frase revelaria uma certa verdade. Mas aquilo que a cultura popular diz ser amor, não se trata, na verdade, de um amor autêntico, é antes uma verdadeira fraude. Longe de ser "tudo o que precisa", é algo que deve evitar a todo o custo.

O apóstolo Paulo fala-nos sobre esse tema em Efésios 5:1-3. Ele escreveu: "Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados. E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos".

A simples ordem do verso 2 ("E andai em amor, como também Cristo vos amou") resume toda a obrigação moral do cristão. No fundo, o amor de Deus é o único princípio que define completamente o dever do cristão, e este tipo de amor é exatamente "tudo o que você precisa". Romanos 13:8 diz, "porque quem ama aos outros cumpriu a lei". Os mandamentos resumem-se a estas palavras: "Amarás o próximo como a ti mesmo, já que o amor é o cumprimento da lei." Gálatas 5:14 ecoa a mesma verdade: "Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Da mesma maneira Jesus ensinou que toda a lei e profetas dependem de dois princípios básicos sobre o amor – o primeiro e o segundo mandamentos (Mt. 22:38-40). Em outras palavras: "e, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição." (Cl 3:14).

Quando o apóstolo Paulo nos diz para caminhar no amor, o contexto revela-se em aspectos positivos, pois ele fala-nos sobre sermos bons uns para os outros, misericordiosos e que nos perdoemos uns aos outros (Ef. 4:32). O modelo de tal amor, mais centrado nos outros que em si próprio, é Cristo, que se entregou para nos salvar dos nossos pecados. "Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos." (João 15:13). E "amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros." (1 João 4:11).

Em outras palavras, o amor verdadeiro é sempre um sacrifício, uma entrega de nós mesmos, é misericordioso, compassivo, compreensivo, amável, generoso e paciente. Estas e muitas outras qualidades positivas e benignas (ver 1 Co. 13:4-8) são as que as Sagradas Escrituras associam ao amor divino.

Mas reparemos no lado negativo, também visto no contexto de Efésios 5. Aquele que ama os outros verdadeiramente, como Cristo nos ama, deve recusar todo o tipo de amor falso. O apóstolo Paulo nomeia algumas destas falsidades satânicas. Elas incluem a imoralidade, a impureza e a ganância. A passagem continua: "Nem torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não convêm; mas antes, ações de graças. Porque bem sabeis isto: que nenhum devasso, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência. Portanto, não sejais seus companheiros." (Ef 5:4–7).

A imoralidade é, talvez, o substituto favorito do amor na nossa atual geração. O apóstolo Paulo usa o termo grego porneia, o qual significa todo o tipo de pecado sexual. A cultura popular tenta desesperadamente desvanecer a linha que separa o amor verdadeiro da paixão imoral. Mas tal imoralidade é uma perversão total do amor verdadeiro, porque procura a autogratificação em vez do bem aos outros. A impureza é outra perversão diabólica do amor. O apóstolo Paulo emprega aqui o termo akatharsia, o qual se refere a todo o tipo de imoralidade sexual e impureza. Especificamente, ele refere-se à sujidade, à impureza e à ganância, que são as características particulares do companheirismo com mal. Este tipo de companheirismo não tem nada a ver com o amor verdadeiro, e o apóstolo afirma claramente que não tem lugar para ele no caminho do cristão.

A ganância é outra corrupção do amor que tem origem no desejo narcisista de autogratificação. É exatamente o oposto do exemplo que Cristo deu quando "se entregou por nós" (v. 2). No verso 5, o apóstolo Paulo compara a ganância à idolatria. Também isto não tem lugar no caminho do cristão e, de acordo com o verso 5, a pessoa culpada de tal pecado "não tem herança no Reino de Cristo e de Deus."

E tais pecados, diz o apóstolo Paulo, "nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos." (v. 3). "Portanto, não sejais seus companheiros", ou seja, daqueles que praticam tais coisas, diz-nos o verso 7.

Em outras palavras, não demonstraremos amor verdadeiro a não ser que sejamos intolerantes com todas as perversões populares do amor.

Hoje em dia, a maioria das conversas sobre o amor ignora este princípio. "O amor" foi redefinido como uma ampla tolerância que ignora o pecado e que abraça o bem e o mal de igual forma. Mas isso não é amor, é apatia.

O amor de Deus não tem nada a ver com isso. Lembra-te que a mais suprema manifestação do amor de Deus é a Cruz, sinal que Cristo "vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave." (V. 2). A Sagrada Escritura explica o amor de Deus em termos de sacrifício, de arrependimento pelos pecados cometidos e de reconciliação: "Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados." (1 João 4:10). Em outras palavras, Cristo converteu-se em sacrifício para desviar a ira de um Deus ofendido. Longe de perdoar os nossos pecados com uma tolerância benigna, Deus deu o seu Filho como uma oferta pelo pecado para satisfazer a sua própria ira e justiça na salvação dos pecadores. Este é o coração do Evangelho. Deus manifesta o seu amor de uma forma que confirma a sua santidade, justiça e misericórdia sem compromisso. O amor verdadeiro "não folga com a injustiça, mas folga com a verdade." (1 Co. 13:6). Este é o tipo de amor, no qual fomos chamados para caminhar. É um amor que primeiro é puro e depois, harmonioso.

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Resenha: Família Guiada pela Fé

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Por Tim Challies

Recomendado. Um excelente início de discussão e um poderoso chamado à ação.

“Há muitos objetivos honrados para este mundo”, admite Voddie Baucham Jr., “mas poucos deles chegam ao nível da honra de treinar nossos filhos para seguirem o Senhor e guardarem seus mandamentos”. Então as convicções do autor, literalmente, explodem ao longo das páginas: “É sério e muito forte o meu desejo de que meus filhos e filhas caminhem com Deus. E estou disposto a fazer o que for necessário, o que a Bíblia disser que devo fazer, a fim de ser usado por Deus como veículo para alcançar esse objetivo” (p. 41).

Mas o que envolverá fazer “tudo o que a Bíblia diz” com respeito a treinar nossos filhos para andar com Deus? Essa é a pergunta que Família Guiada pela Fé — um livro sensato, perspicaz e às vezes provocativo — procura responder. A resposta de Baucham é que a comunidade cristã deve retornar à visão bíblica de criação de filhos: uma visão que delega aos pais a responsabilidade primária de nutrir a fé dos seus filhos e alista o lar como o local estratégico para esse treinamento.

O esboço que Baucham faz dessa visão bíblica é articulado de forma cativante e apresentado de forma lógica. Os dois capítulos iniciais (“Explorando o Terreno” e “Um Deus sem Rivais”) oferecem um diagnóstico dos problemas contemporâneos da paternidade — para não dizer da igreja — e em particular aborda a doença raiz da idolatria. Essa doença extremamente comum dentro das paredes dos lares e corações cristãos é com frequência nutrida pelos pais, que encorajam seus filhos a seguirem os deuses do Esporte, do Desempenho Escolar e do Dinheiro.

Como remédio, os capítulos 3 e 4 prescrevem uma boa dose de Deuteronômio 6.  Embora Moisés se dirija aos israelitas à beira da Terra Prometida há séculos, os pais hoje são lembrados de suas prioridades similares. Primeiro, eles devem amar a Deus com todo o seu coração; e segundo,  devem amar seus próximos como a si mesmos. Sem dúvida, tudo isso deve ser uma devoção genuína à glória de Deus e ao bem-estar da família do nosso próximo — sem hipocrisia no coração — como nos adverte o capítulo 4.

Se tudo isso parece muito abstrato, capítulos 5 ao 8 chegam ao âmago da questão. Com o que se parece um lar livre de ídolos bem como comprometido a amar a Deus e aos outros? Baucham responde que o lar deveria ser um lugar onde os pais estão ensinando (capítulo 5) e vivendo a Palavra (capítulo 6), e onde a adoração em família seja central (capítulo 7) e onde a riqueza, o desempenho e o status sejam periféricos (capítulo 8).

Naturalmente, visto que Baucham está considerando a família biológica como a força motriz para o desenvolvimento da fé da criança, é somente no final (capítulos 9-10) que ele aborda como essa visão poderia impactar a família da igreja. Como o que se pareceriam as nossas igrejas se a “fidelidade multigeracional” fosse a prioridade dos pais e também dos pastores? E quais são os obstáculos que devemos superar para chegar lá?

Ao longo desses dez capítulos de melodia cativante, Baucham apresenta muitas observações intrigantes — observações que poderiam facilmente ser vistas como um afastamento da temática do livro:

  • A necessária preeminência do relacionamento marido-esposa sobre o pai-filho;
  • Uma cultura anti-filhos sutil, mas cada vez mais dominante dentro da igreja dos nossos dias (“Quantos filhos você tem?!!”);
  • A ameaça odiosa do legalismo dentro das famílias que praticam devoções familiares; ou
  • A necessidade urgente de igrejas que levem à sério a qualificação bíblica para líderes que governem bem a própria casa (quantos comitês de avaliação buscam informações sobre a qualidade das devoções familiares de um pastor prospectivo?).

Em adição, algumas pessoas acharão alguns dos pontos de Baucham controversos. Mais controversa é sua convicção de que uma igreja segregada por idade, com foco no ministério jovem, com frequência milita contra a abordagem bíblica dos pais terem como responsabilidade primária o desenvolvimento espiritual dos seus filhos. Além disso, Baucham aborda a questão do home-schooling, onde há muita discordância, e desafia a comunidade cristã a adotar essa abordagem em maior número, ou pelo menos mostrar maior simpatia para com aqueles que a utilizam.

Quer você concorde ou não com nessas questões, uma coisa que você apreciará é o seu diálogo sincero com prováveis opositores. Todas as ideias em Família Guiada pela Fé foram testadas ao longo de muitos anos e seminários antes de finalmente serem impressas. O autor ouviu verdadeiramente as objeções e frequentemente oferece contrapontos a elas ao longo de todo o livro.

Essa abordagem apologética, juntamente com as sugestões práticas no final de cada capítulo, tornam Família Guiada pela Fé um excelente início de discussão entre os pais sobre demarcar seus lares como território de Deus. Se levarmos Baucham a sério, isso pode ser também um importante ponto de partida para líderes eclesiásticos, à medida que eles procuram pensar biblicamente sobre o discipulado de crianças. Não podemos fugir com facilidade da tese de Baucham. A Escritura de fato convoca os pais à responsabilidade de treinarem seus filhos na justiça. A visão bíblica para as crianças não é primariamente uma fé orientada pela igreja, mas uma fé orientada pela família.

Mas a igreja contemporânea continuará a ignorar esse fato óbvio? Ou a prescrição bíblica de Baucham modelará de forma crescente o padrão do ministério eclesiástico nos anos vindouros?

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- Sobre o autor: Tim Challies é pastor da igreja Grace Fellowship, em Toronto, no Canadá, editor do site de resenhas Discerning Reader e cofundador da Cruciform Press. Casado com Aileen e pai de três filhos, ele também é blogueiro, web designer e autor de várias obras.

Adquira o seu exemplar no site da Editora Monergismo: www.editoramonergismo.com.br
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto — 4 de novembro de 2012
Fonte: Monergismo
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Salvação pela lei do coração

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Por André R. Fonseca

"Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. 2.13 Pois, diante de Deus, não são justos os que somente ouvem a lei, mas os que a praticam; estes serão justificados. 2.14 (Porque, quando os gentios, que não têm lei, praticam as coisas da lei por natureza, embora não tenham lei, tornam-se lei para si mesmos, 2.15 demonstrando que o que a lei exige está escrito no coração deles, tendo ainda o testemunho da sua consciência e dos seus pensamentos, que ora os acusam, ora os defendem)" Romanos 2:12-15

Um dia desses, conversava com um amigo sobre a impossibilidade de alguém, excluído do evangelho, encontrar salvação. Somente por meio de Cristo, com sua obra redentora, podemos encontrar o perdão de nossos pecados e a salvação. Observamos que é muito comum o emprego de Romanos 2:12-15 para defender a tese de que os povos ainda não alcançados pelo evangelho, por exemplo, obterão salvação obedecendo a lei de seus corações. Mas a pergunta que faço é a seguinte: Paulo está falando de salvação nesses versículos? Vamos analisar juntos o texto em seu contexto. Se você concordar com os meus argumentos, que julgo norteadores para a interpretação da carta de Paulo aos romanos, no fim, você facilmente perceberá que é impossível defender a tese de que há salvação para aqueles que ainda não foram alcançados pelo evangelho de cristo com base em Romanos 2.

Primeiro argumento – Em todas as suas cartas, Paulo deixa bem claro que ninguém será salvo pelas obras da lei. Na teologia paulina, lei e graça são impossíveis de reconciliar. Uma vez que entendemos que Paulo sempre ensinou que a salvação vem pela graça e não pela lei, seria estranho encontrar este mesmo Paulo defendendo a salvação pelas obras da lei em Romanos. Não tenho a imagem de um apóstolo bipolar. Entendo que Paulo desenvolveu uma teologia solida e coerente. Crendo que Paulo foi um dos homens divinamente inspirados para escrever a Palavra de Deus e também na inerrância bíblica, não posso admitir que Paulo tenha escrito coisa com coisa. Portanto, seja pelo aspecto humano ou espiritual, creio que a teologia paulina seja coerente, livre de dubiedade ou contradições. Se você vê alguma contradição, ela está apenas na sua interpretação. A Palavra é divinamente inspirada, por isso é perfeita! Nossa interpretação nunca é perfeita, muito menos inspirada! Mas isso não nos impede de buscar o mínimo de coerência na interpretação bíblica, de buscar a real intenção do autor ao escrever o texto bíblico.

Segundo argumento – Não é somente a teologia paulina que pode amarrar o contexto de interpretação de Romanos, mas toda a Escritura. Uma cosmovisão bíblica facilmente nos impedirá de tratar Romanos como uma defesa de Paulo da salvação por obras. Toda a lei foi entregue ao homem para que tivéssemos o “guia” do padrão moral divino. Sem o padrão moral definido, como haveria de ser julgado o pecado? Nunca foi objetivo da lei salvar o homem, mas somente acusar o homem de seu pecado. A promessa de uma bem-aventurança pelo cumprimento da lei sempre foi para este mundo. Quando foi que a lei garantiu alguma coisa com implicações para o mundo por vir através de sua obediência? Nunca! Toda promessa vinda da lei ficou restrita a este mundo. Se vocês obedecerem a esta lei, gozarão do melhor desta terra, seus dias serão prolongados nesta terra etc..

Você pode até citar: “Aquele que pecar, esse morrerá!” (Ezequiel 18:4). Não preciso nem dizer que a implicação aqui é: o fim de seus dias nesta terra. Não podemos interpretar esse “morrer” apenas no âmbito espiritual, porque a lei também previa a morte física como resultado da quebra de algumas leis (Êxodo 21:29, Levítico 20:27 e Deuteronômio 24:7 só para citar alguns exemplos). Sem falar que há alguns relatos na bíblica que não deixam dúvidas de que Deus mesmo tirou a vida de algumas pessoas por causa de algum pecado que cometeram (Gênesis 28:7, Levítico 10:1-2 e Atos 5:1-5). Ainda que haja alguma implicação soteriológica na morte física, essa morte não implica necessariamente perder a chance no mundo por vir. Vamos tomar o exemplo de Moisés. Ele pecou quando desobedeceu a ordem de Deus batendo na rocha para tirar água. A consequência de seu pecado foi sua morte antes que pudesse gozar da terra prometida. Contudo, não concluímos que Moisés perdera sua “salvação”, sua oportunidade de viver uma eternidade com Deus.

Podemos também encontrar nos evangelhos e nos escritos dos outros apóstolos o ensinamento de que a salvação vem por graça, por meio da fé; nunca pelas obras! (João 3:16-18; Atos 15:11, 18:27, 26:18; e Hebreus 11 tem como principal objetivo mostrar que ninguém alcançou nada por obras, mas por fé).

Terceiro argumento – A carta de Paulo aos Romanos é considerada como o tratado teológico de Paulo. E parece mesmo! Basta perlustrar as folhas de qualquer teologia sistemática para constatar que há praticamente uma citação de Romanos para qualquer uma das categorias sistematizadas da teologia. Há informações sobre os atributos divinos, sobre hamartiologia, pneumatologia, cristologia, soteriologia, missiologia etc.. Romanos é um tratado teológico suprassumo ultra concentrado em 16 capítulos. É possível diluir isso aí num pensamento aguado de nossa teologia de EBD e ter um oceano para beber para o resto da vida. O pastor David Martyn Lloyd-Jones é famoso por ter levado 10 anos para concluir sua pregação expositiva de Romanos. E há tanta informação em Romanos que podemos facilmente perder o rumo do raciocínio do autor. Quando isso acontece, começamos a injetar informações no texto. Isso é fazer eisegese, e devemos buscar a exegese; isto é, retirar informação do texto, não o contrário. Quando injetamos informação no texto, a interpretação será a intenção do leitor. Se a correta interpretação é a busca pela real intenção do autor, devemos tirar informação do texto. Quando digo “tirar informação do texto” refiro-me à extração das intenções do autor como quem garimpa a terra em busca de ouro. “Tirar informação” do texto significa extrai do texto as intenções do autor. “Extrair” não com a acepção de eliminar ou descartar. Seria comparável mais um vez ao procedimento de extrair ouro da terra. Você não extrai o ouro da terra para jogá-lo fora. Da mesma forma, você não busca extrair de um texto a intenção do autor para eliminá-a de sua interpretação. Se você faz o contrário, colocar informação no texto ao invés de extrair, o produto não será a interpretação com base na intenção do autor, mas da sua própria intenção – a intenção do leitor/intérprete. O que temos, na verdade, na maioria dos casos, é uma interpretação mista das intenções do autor e leitor. E estas interpretação mistas são as mais difíceis de perceber onde está o erro. Um leitor não "antenado" acaba levando tudo, os gatos e as lebres, no mesmo balaio.

Certamente quando Paulo escreveu sua carta aos romanos ele não contava com sua contribuição de coautoria da carta! Tendo dito isso, podemos analisar o contexto imediato com mais segurança. E para conduzirmos uma boa exegese do texto, sem correr o risco de produzir uma eisegese, vamos começar com uma análise do esboço dos primeiros capítulos de Romanos (1 a 4) que englobam (contextualizam) suficientemente nosso texto em análise.

1. Prefácio e saudação
2. Paulo deseja ver os cristãos em Roma
3. A idolatria e a depravação dos gentios
4. O julgamento divino
5. Os judeus e a lei – a verdadeira circuncisão
6. A fidelidade de Deus
7. Todos os homens estão debaixo do pecado
8. A justificação pela fé em Jesus Cristo

Até aqui apresentei argumentos apenas do contexto mais abrangente. O contexto da teologia paulina e o contexto de uma teologia holística da Bíblia. Falta, então, considerar o contexto mais imediato: o contexto da própria carta aos Romanos.

Se você entendeu e concordou com todos os argumentos que apresentei para a interpretação de Romanos levando em consideração um contexto mais amplo, você facilmente deduzirá que o contexto imediato também não poderá ser uma defesa de Paulo de uma salvação pelas obras da lei. Isso seria fazer uma interpretação particular, isolada do contexto mais amplo. Isso não é o que a boa hermenêutica recomenda. O contexto imediato do texto precisa estar harmonizado com contexto mais amplo. E se o contexto imediato do texto em nossa análise também não pode ser um que favoreça a interpretação de que paulo defendia uma salvação por obras, então o que é? O que Paulo queria dizer com esse papo de ser julgado pela lei do coração? Vamos ao meu último argumento.

Todo escritor precisa de um roteiro para seguir, para orientar a sua produção do texto. Sem esse roteiro, o texto fica sem pé nem cabeça, carece de objetivo. Esse roteiro, norteador da composição, é composto basicamente da motivação (o que levou o autor a escrever) e dos argumentos (para criticar ou defender) sobre o que se escreve. Paulo tinha tudo isso em mente. E a carta aos Romanos está muito bem dividida em seus argumentos, assim como na organização, no desencadeamento desses argumentos para levar o leitor à mesma conclusão do autor, que é a intenção dele. Imagine se eu estivesse aqui empenhado em escrever um texto para provar a tese A e meus argumentos são trabalhados para fazer você concluir B? Isso não tem lógica.

Observe, mais uma vez, a temática com que Paulo vem trabalhando nos primeiros capítulos de sua carta através do esboço apresentado acima. Após a costumeira saudação que Paulo faz em suas cartas, geralmente sem aquele tom de ensino teológico, ele abre sua primeira argumentação que vai sendo somada a outras ao longo da carta para culminar em Cristo e sua salvação na virada do capítulo 8 - “Desgraçado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! Desse modo, com a mente eu mesmo sirvo à lei de Deus, mas com a carne, à lei do pecado. Portanto, agora já não há condenação alguma para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 7:24-25 e 8:1). Quando Paulo termina sua saudação no capítulo 1 e diz: “vamos ao que interessa” para chegar ao ápice no fim do capítulo 7, ele já abre o discurso falando da idolatria e da depravação dos gentios. Como estava escrevendo para uma igreja mista, composta de judeus e gentios, ele também fala da situação dos judeus. Uma vez que tanto gentios quanto judeus estão na mira de Paulo, ele conclui: todos estão debaixo do pecado. Veja o esboço novamente, agora com destaques:

1. Prefácio e saudação
2. Paulo deseja ver os cristãos em Roma
3. A idolatria e a depravação dos gentios
4. O julgamento divino
5. Os judeus e a lei – a verdadeira circuncisão
6. A fidelidade de Deus
7. Todos os homens estão debaixo do pecado
8. A justificação pela fé em Jesus Cristo

Vamos analisar os tópicos do esboço de trás para frente. A justificação pela fé em Jesus Cristo é a resposta de Paulo para Todos os homens estão debaixo do pecado. A fidelidade de Deus é a resposta de Paulo para Os Judeus e a lei – a verdadeira circuncisão. E O julgamento divino é a resposta de Paulo para A idolatria e a depravação dos gentios. Observe como um assunto puxa naturalmente o outro. Vamos resumir desta forma:

Os gentios são idólatras e depravados. O julgamento divino será justo para eles. Eles são merecedores do juízo. E não pense que os judeus estão livres desse julgamento porque não é a circuncisão da carne que os salvará. Mas, mesmo diante de tudo isso, há esperança. Deus é fiel. Mesmo que todos os homens, gentios e judeus, estejam debaixo do pecado encontramos esperança na justificação pela fé em Jesus Cristo.

O nosso texto em análise encontra-se no tópico O julgamento divino de nosso esboço. Lembre-se que O julgamento divino é desdobramento do tópico anterior: A idolatria e depravação dos gentios, que prepara o terreno para mostrar que, juntamente com os judeus, todos os homens estão debaixo de pecado e encontrarão salvação somente em Jesus Cristo por meio da fé.

Portanto, quando Paulo fala que os gentios serão julgados pela lei de seus corações mesmo não tendo a lei de Moisés que os judeus tinham o privilégio de ter, ele não está dizendo que os gentios seriam salvos por essa lei, mas que seriam todos condenados por ela. Observem que o texto não diz assim: “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão salvos”. Não, o texto diz que pela lei serão julgados! (Romanos 2:12)

Ainda dentro desse mesmo contexto Paulo afirma sobre a condição dos gentios: “esses homens são indesculpáveis” (Romanos 1:20). E são indesculpáveis por quê? “Porque o que se pode conhecer sobre Deus é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, seu eterno poder e divindade, são vistos claramente desde a criação do mundo e percebidos mediante as coisas criadas...” (Romanos 1:19-20).

É muito comum encontrar Paulo antecipando os questionamentos de seus leitores com perguntas retóricas mais adiante em sua carta. E acredito que ele faz o mesmo aqui quando mostra que os gentios também não têm desculpas para escapar do julgamento divino alegando que desconheciam a lei de Deus. Falando em termos teológicos, Paulo coloca a Lei como parte da revelação geral. É claro que a Lei escrita e disponível para os judeus era uma revelação especial, e há vantagens nisso. Mas a Lei também foi manifestada na revelação geral.

Se a lei é uma revelação especial para os judeus e geral para os gentios, ninguém tem desculpas, e serão todos julgados pela lei. Uma vez que “ninguém será justificado diante dele pelas obras da lei; pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado" (Romanos 3:20), Deus não cometerá injustiça em julgar judeus e gentios!

Portanto, o que Paulo queria defender era a justiça de Deus. Ele queria provar que Deus é justo em julgar as pessoas. Que todos estão debaixo do pecado e são indesculpáveis, seja pela revelação geral ou pela revelação especial de sua Lei que nunca intencionou salvar ninguém, apenas condenar! “Se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, a justiça, na verdade, seria pela lei” (Gálatas 3:21). “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se orgulhe” (Efésios 2:8-9).

Será que vamos agora admitir que os gentios terão o direito de se orgulharem por obterem salvação por meio da obediência da lei nos corações deles? É claro que não! E “se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não seria graça” (Romanos 11:6).

Onde chegamos com tudo isso? Se ficou claro que ninguém será salvo pela lei, mas somente pela graça mediante a fé em Jesus Cristo; percebemos a importância das missões. Não há salvação para aqueles que ainda não foram alcançados pela pregação da boa nova de Jesus Cristo.

É necessário que todos invoquem o nome do Senhor para ser salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Assim como está escrito: Como são belos os pés dos que anunciam coisas boas! Romanos 10:13-15

Ou nos alistamos na obra missionária,
ou sustentamos nossos missionários!

Autor: André R. Fonseca
Twitter: @andreRfonseca
contatos@andrerfonseca.com

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Anteparo contra a verdade.

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Por Norma Braga


Todo comportamento está escorado por um conjunto de crenças; todo modo de agir se reporta a uma cosmovisão específica, seja declarada, seja inconsciente. E as cosmovisões não surgem no vácuo, mas são parte do tecido de ideias que sustenta determinada sociedade. Ninguém é um núcleo absolutamente original e imprevisível de pensamentos; sempre reproduzimos em alguma medida as ênfases de nosso tempo. Essas percepções me parecem estar desaparecendo das mentes contemporâneas, à medida que a descontinuidade ganha terreno sobre a continuidade e oferece a sensação de que é impossível um desenho nítido do que vivemos.

Assim, um dos maiores problemas de nossa época é que as pessoas se acostumaram a um afrouxar de laços entre o crer e o agir. Não sabem mais no que creem e por quê, e não sabem o que as motiva em suas decisões práticas. A proliferação de analistas parece ter coincidido com o abandono de um autoexame informado culturalmente: buscam soluções tão individualizadas, tão personalistas, que perdem de vista o todo que poderia fornecer-lhes explicações para esse estado de divisão interior. Embriagadas da ilusão romântica (Girard), esquecem-se de que são seres de imitação.

Um dado que me parece óbvio nesse quadro é que as crenças partilhadas, hoje, são de fato desconectadas da realidade, tão incapazes de escorar ações efetivas no mundo que passam a compor apenas uma atmosfera indiscernível, uma bruma difusa, que só obscurece o caminho em vez de apontar direção. Acreditar que a moralidade é relativa mas continuar vivendo de modo compatível com a existência do bem e do mal (porque não se pode viver de outro modo, a não ser como sociopata) é um dos exemplos mais recorrentes dessa dissociação. A frequência com que o discurso nega a vida é tão grande que o pensar não só deixa de acompanhar a experiência, mas a atomiza ainda mais.

E há outro exemplo que nos diz respeito diretamente. Você fala a alguém de sua fé em Cristo e narra algum fato miraculoso ou extraordinário relacionado a sua fé, e imediatamente seu interlocutor proclama com seus botões, ou até em alta voz, que você só pode ter um parafuso a menos. Porém, ao mesmo tempo, nada em seu comportamento ou suas atitudes mudarão em relação a você. Em 99% das vezes, você continuará sendo, aos olhos dele, uma pessoa amiga e confiável. A presumida "loucura" que ele lhe imputa, nesse caso, é operacional e só funciona para que se mantenha a salvo da ameaça da crença.

Eis a marca de nossos dias: antes, as cosmovisões davam identidade, ainda que uma identidade idólatra e inconsistente; hoje, foi dado um passo para trás: o relativismo engole toda possibilidade de um posicionamento público que esteja de acordo com a cosmovisão, persistindo, como forte anteparo, contra qualquer tentativa de organizar mentalmente o real. Lamentamos essa situação, mas ao mesmo tempo podemos nos indagar se um mecanismo que se afigura claramente como proteção contra a verdade não seria mais fácil de desmascarar, já que resulta (ou deveria resultar) em maior desconforto existencial. Por outro lado, assusta que nossos contemporâneos se mostrem tão voluntários em preferir a ilusão e permanecer nela, ainda que em tudo se assemelhe de fato ao que é: uma ilusão.

Só Deus poderá nos comunicar com eficácia as reações adequadas aos desafios que a igreja está prestes a enfrentar nesse novo século. Estejamos atentos.

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Quem é Deus?


Por Rev. Josafá Vasconcelos

Geralmente se tem por certo que todos conhecem a Deus. Mas isso não corresponde à realidade. A ideia que as pessoas tem de Deus é completamente distorcida e parcial. Primeiro por falta de informação e conhecimento, tira-se conclusões apressadas baseadas apenas na sabedoria popular. Embora possuamos o que Calvino costumava chamar de "sensus divinitat", isto é, um senso inato de que há um Deus e que podemos ter um certo conhecimento Dele através do que nos revela a natureza, a ponto de sermos inescusáveis, o pecado afetou nossa mente de tal forma que não somos mais capazes de ter uma compreensão correta a respeito Dele por nós mesmos. Para falar a verdade, nem somos dignos de cogitar a respeito de Deus ou, de modo atrevido, perscrutá-lo. Deveríamos tremer só de pronunciarmos o Seu Santo Nome, quanto mais de termos o desplante de sondá-lo; quem somos nós? Somos todos como aqueles cegos da fábula oriental que foram levados para saber como era um elefante. Começaram a tatear as partes do paquiderme e anunciavam suas conclusões: o primeiro, apalpando a tromba, gritou: "o elefante é como uma grande serpente!", o segundo abraçando uma das pernas replicou: "não, é antes como um grosso tronco de árvore!", e o terceiro, fazendo deslizar as mãos pelos lados do imenso animal, retrucou: "É como uma parede ambulante!". Assim, uns dizem: "Deus é amor!", outros: "Deus é Luz!", e ainda "Deus é verdade!", mas sempre de forma parcial. Se desejamos ser salvos, precisamos conhecer a Deus. Jamais teremos conhecimento correto da salvação tendo noções distorcidas do Deus que salva. Então, qual seria a descrição confiável do Criador? Como saber com Ele é? Jamais saberíamos se Ele mesmo não quisesse graciosamente Se revelar. Felizmente Ele quis e o fez, condescendendo com a nossa humílima condição, até onde podíamos alcançar, Deus se revelou nas Escrituras! É através do Santo Livro, a Palavra de Deus, que podemos, de forma correta, saber quem Deus é.

Contudo, é bom que saibamos desde já que nunca seremos capazes de compreendê-lo devido à Sua incomensurável grandeza. Somos criaturas finitas e jamais abarcaremos o infinito. Somos criaturas, Ele é o Criador! A Bíblia diz que "Ele habita em luz inacessível onde homem algum jamais penetrou..." (I Tm 6:16). Mas de forma alguma se trata de um deus como o concebem os deístas, ausente e totalmente alheio às suas criaturas e ao destino delas. O Deus da Bíblia é um Deus imanente, que se compadece, age na vida dos filhos dos homens e habita com eles: "Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos" (Is 57:15).

A Confissão de Fé de Westminster, documento de doutrina importantíssimo das Igrejas Reformadas, escrito pelos puritanos do século XVII, homens piedosos, distinguidos por sua fidelidade às Escrituras, faz a seguinte afirmação a respeito de Deus:

"Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade, que é reta e imutável, e para a sua própria glória. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o buscam; é, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado". 

Isto corresponde exatamente ao que a Bíblia ensina a respeito de Deus.

Observe bem esta frase: "completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade que é reta e imutável..." Lembre-se, nós estamos falando de um DEUS! Às vezes, não nos damos conta disso, estamos vivendo uma época tão soberba que parece que Deus é um igual, se não, pelo menos de alguém superior, mas que tem de prestar conta de seus atos. Como se dissessem: "nós permitimos que você exista, desde que seus atos como Deus estejam dentro dos nossos padrões de justiça! Queremos que você seja uma Deus de amor e respeite nosso livre arbítrio". Aliás, foi exatamente isso que Erasmo de Roterdã, um teólogo católico humanista, disse a Lutero numa discussão que travaram sobre a doutrina bíblica da Eleição. Erasmo, defendendo o livre arbítrio, disse a Lutero: "Deixa Deus ser amor! Ao que Lutero, defendendo a livre e soberana vontade de Deus em escolher os seus, respondeu: "Deixa Deus ser Deus!". Quando o apóstolo Paulo, defendendo a mesma doutrina em Romanos capítulo 9:8-24, responde a uma suposta objeção ao direito de Deus ter misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia e compaixão que quem lhe aprouver ter compaixão, responde: "Mas, ó homem, que és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou, por que me formaste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?". Seria mais ou menos se o dono de uma cerâmica recebesse, por parte das latrinas, uma reclamação formal pelo fato de não terem sido pratos! Ainda que tenham sido feitas com esmero, perfeitas e brilhantes! Ainda que tenhamos sido criados à imagem e semelhança de Deus, não passamos de criaturas. É bobagem essa estória de que fomos criados para fazermos o que quisermos, dotados de livre arbítrio e tudo mais, isso não é verdade. Fomos criados para obedecer a Deus, ser aquilo para o qual fomos criados e fazer o que Ele planejou que fizéssemos: "glorificar a Deus e goza-lo para sempre". O que Deus formulou para o homem no paraíso não se tratou de uma opção soberana de escolha concedida a ele entre pecar ou obedecer, ao contrário, era obedecer ou obedecer, pecar seria a morte!

Gostaria também de destacar a palavra "santíssimo" e o parágrafo final da Confissão: "é contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado". Você já havia pensado neste aspecto considerando a pessoa de Deus? Admitimos facilmente que Ele é santo sem nos apercebermos das sérias implicações disso, contudo há sérios problemas para pecadores como nós no fato de Deus ser santo! Se Ele é santo, terá que ser justo, odiar o pecado e não ter por inocente o culpado! A Bíblia nos relata a visão que Isaías, um santo profeta, teve da glória de Deus: "No ano da morte do rei Usias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, toda terra está cheia de sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava e a casa se encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio de homens de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!". A visão é gloriosa e nos dá um vislumbre do que é a glória de Deus. Os Serafins, criaturas santas que assistem constantemente na presença de Deus, temem a Sua santidade. Está escrito: "Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus são puros aos seus olhos" (Jó 15:15), eis a razão porque tinham seis asas. Com duas cobriam o rosto e com duas cobriam os pés. Isto é um símbolo que significa reverência para com a santidade de Deus. Estes seres celestiais, criados em pureza, não são achados dignos e nem mesmo podem suportar o esplendor da glória que refulge na face daquele que está sentado no trono; têm que cobrir o rosto, têm que cobrir os pés; as asas designadas para voar significam a presteza que devem ter para cumprir as suas ordens e não podem dizer outra coisa senão: "Santo! Santo! Santo! É o Senhor dos Exércitos!". Que pureza! Que glória! Que santidade! Deus habita em luz inacessível, onde homem algum jamais penetrou! Todos os homens que tiveram apenas um vislumbre de Sua glória caíram como mortos! "Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno; ao seu furor treme a terra, e as nações não podem suportar a sua indignação" (Jr 10:10).

- Sobre o autor: Josafá Vasconcelos é Pastor da Igreja Presbiteriana da Herança Reformada em Salvador; foi Presidente do Presbitério da Bahia; conferencista reformado no Brasil e exterior; foi membro da Comissão de Evangelização da Igreja Presbiteriana do Brasil. Autor e tradutor de diversos artigos publicados na revista Os Puritanos e dos livros: "Nada se Acrescentará" e "O Outdoor de Deus".

Fonte: Editora Fiel
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Salvação ou deboche?

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Por Josemar Bessa

Algumas pessoas dizem que querem ser salvas, mas jamais foram levadas a ver porque de fato precisam de salvação. É um desejo auto-centralizado. É um desejo de salvação para o futuro, mas não agora. Não pelo menos nos termos bíblicos.

Agora seu deleite está nesse mundo, seu amor está sobre o pecado... Mas no futuro, quando este mundo não for mais uma realidade, quando o prazer do pecado já não for mais possível, então querem ser livres dos horrores inevitáveis que o pecado (que nada mais é que o desprezo por quem Deus é, Sua santidade, Sua mente, expressa em Sua Palavra), traz.

Por hora sentem prazer no que despreza Deus e querem uma salvação (e não faltará quem a ofereça) compatível com isso. Isso é um deboche para com o Salvador, que é o “Cordeiro que foi morto”, e também é o Deus contra quem cada pecado é cometido, contra quem todo o desprezo é lançado.

Agora, olhe a característica da salvação bíblica descrita por Spurgeon:

“Esta salvação completa é acompanhada por uma santa vocação. Aqueles que o Salvador redimiu são chamados pelo poder do Espírito Santo para a santificação. Eles abandonam seus pecados e se esforçam, pela operação toda poderosa do Espírito, para serem semelhantes a Cristo.” Na verdade Paulo diz dos redimidos: “...todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”. - 2 Coríntios 3:18

Então Spurgeon continua: “Eles escolhem a santidade, não por motivação natural, e sim por causa da propensão da nova natureza implantada neles na Regeneração soberana. Os crentes são capazes de regozijar-se na santidade, não naturalmente, como antes se deleitavam no pecado, mas pelo poder infinito que opera neles momento após momento.  Deus não os escolheu, nem os chamou porque eles eram santos. Eles os chamou para que sejam santos” ( C. H. Spurgeon – 1834/1892).

Isso descreve os teus sentimentos? 
Descreve a salvação de que você já está desfrutando? 
Então você não tem nada a temer.

“Que nos salvou e nos chamou com santa vocação” – 1 Timóteo 1.9

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