Mário
Ferreira dos Santos, o maior filósofo que o Brasil já teve, afirmou que
o cristianismo era por definição a grande religião capaz de levar os
homens à condição de verdadeiros filósofos. A lista destes é imensa, e
inclui gigantes de várias épocas, como Justino Mártir, Agostinho, Tomás
de Aquino e Edmund Husserl. Recorrendo a ela, deve-se concluir que se o
“ide e fazei discípulos” resultou no surgimento de inúmeros filósofos ao
longo da história, certamente algo há em Cristo e em sua doutrina que
gera esse maravilhoso resultado.
O filósofo norte-americano Peter Kreeft, em seu The Philosophy of Jesus – traduzido para o português dos brasileiros com o título marotamente marketeiro Jesus, o maior filósofo que já existiu
– destaca, usando um parecer de C. S. Lewis, que se num certo sentido,
Confúcio, Buda e Maomé são filósofos, Jesus Cristo também o é, não só
por conta do conteúdo da sua mensagem, mas também pela forma com que a
apresentava, para que os homens apreendessem o sentido mais profundo de
seus ensinamentos.
Kreeft apresenta na obra os pareceres definitivos do Mestre dos
mestres nas quatro disciplinas fundamentais da filosofia. Há uma
metafísica de Jesus: Ele responde o que é o ser, o que é o real. Há uma
epistemologia do Cristo: Jesus responde como podemos conhecer a
realidade, e também apresenta os limites do conhecimento humano. Há a
antropologia do Logos Encarnado: “Ele é o homem como o homem foi
planejado para ser”, diz Peter Kreeft, que, em seguida, denuncia: “Toda
psicologia, sociologia e antropologia secular é fundamentalmente oblíqua
em seu próprio fundamento, pois assume, de forma errônea, que seu
objeto de estudo, o homem, se encontra em seu estado natural”.
O filósofo está correto. Sem levarmos em conta a Queda, nossa
condição de seres caídos, imersos no pecado, não entederemos a Cristo,
seu sacrifício, e a nós mesmos. A confusão moderna e as tragédias da
modernidade encontram aí sua raíz. E então adentramos nas questões
centrais da quarta grande disciplina filosófica: a ética do Salvador
filósofo. Como viver? Como agir? Como se portar? Nossa cultura rejeita a
moralidade cristã por rejeitar a Cristo, avisa Kreeft. Mas Ele é a
refutação do relativismo: mas que um argumento perfeito, Ele é a Pessoa
Perfeita. “Os argumentos mais irrefutáveis são sempre fatos, dados,
realidade concreta”, lembra o autor, evocando um tema que,
vergonhosamente, e por conta dos que rejeitam a Cristo, ainda integra o
debate político: “o argumento mais eficaz contra um aborto é
simplesmente assistir a um aborto”. Aquele que diz: “quem vê a mim, vê
ao Pai, se apresenta e diz: “Segue-me”. E na santidade o homem encontra
sua realização plena, pois foi criado santo, sem pecado. Nela encontra a
resposta também da metafísica. Pois um santo é um homem mais parecido
com Cristo, que é o fundamento de toda a realidade. É nessa ética que a
plena percepção do real pode se ser encontrada, ainda que com
limitações: “em parte conhecemos, em parte profetizamos”. Kreeft aborda
estas questões decisivas para a saúde espiritual de todo e qualquer ser
humano com um texto leve, mas com argumentação sólida.
E aí vem a dimensão pública da ética, a realidade política. O autor
exorta: Cristo é mais real do que as doutrinas da direita, que apenas
apontam para o real. Cristo é mais amoroso com o pobre do que o
entusiasta do esquerdismo. “Por que ser um ‘liberal de coração mole’?
Porque Cristo o é. Por que ser um ‘conservador cabeça dura’? Porque
Cristo o é”, afirma Peter Kreeft, sem se omitir a respeito do grande
vilão em nossa sociedade: a Cristofobia. Declara que vivemos numa época
revolucionária, denuncia o pensamento “politicamente correto”, o falso
conceito de “tolerância” vigente, e o fraco fundamento dos secularistas
para a solidariedade: nossa origem comum, que, segundo estes, é o
macaco. “Um fundamento não muito bom”, ironiza. Também critica a chamada
revolução sexual. “Cristo modifica radicalmente a revolução sexual.
Como ele faz isso? Não ao contrapor religião e sexo, mas ao contrapor a
verdadeira e a falsa religião”. E aqui expõe a farsa fundamental do
marxismo cultural gestado pela Escola de Frankfurt, sem citá-la, talvez
por conta dos fins mais evangelísticos da obra. Imagino que Kreeft sabe o
quão sensíveis são às críticas os autoproclamados defensores da
diversidade e do pluralismo; pessoas, que, no fim das contas, são os
mais ferrenhos dogmáticos das religiões políticas que geraram as grandes
matanças do século XX.
Jesus, o maior filósofo que já existiu convida cristãos
tendentes ao irracionalismo e ao desleixo em relação à vida intelectual,
como é boa parte dos cristãos do Brasil, a uma vida mais parecida com a
de seu Mestre e a de seus grandes discípulos que surgiram ao longo da
história. Filósofos, teólogos, mártires, missionários, avivalistas, em
várias épocas, mergulhavam nas obras clássicas que tratavam das grandes
questões relativas à vida humana. Assim, seguiam a ordenança do apóstolo
Paulo à igreja de Filipos (4:8):
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável,
tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor,
nisso pensai.
Dispersa no entretenimento, “o substituto diabólico da alegria”, como bem o definiu Leonard Ravenhill, nossa (a minha; também sou um filho dessa derrocada cultura caótica) geração pode encontrar, em obras como esta, um incentivo à busca do vigor intelectual necessário para “responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”, como ordenou o apóstolo Pedro (1. Pe.3:15), e seja possível dizer que “destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2.Co. 14: 4b,5).
Dizem que a filosofia passa por uma crise. Negativo. O que passa por uma crise é o vasto conjunto de filosofias seculares desprovidas de coerência e incapazes de fornecer respostas adequadas: o naturalismo, o modernismo, o cientificismo, as ideologias de massa, e a loucura pós-moderna. Essas sim, são as “vãs filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens” (Cl. 2:8). Os cristãos têm um Salvador que é mais que um filósofo, é o próprio Logos, é o fundamento de toda a existência e de toda a realidade. Que cada um de seus discípulos esteja cada vez mais disposto a mergulhar na sabedoria e santidade de seu Mestre. Até por que essa não é uma opção. É um dever daquele que professa o nome de Cristo.
Dispersa no entretenimento, “o substituto diabólico da alegria”, como bem o definiu Leonard Ravenhill, nossa (a minha; também sou um filho dessa derrocada cultura caótica) geração pode encontrar, em obras como esta, um incentivo à busca do vigor intelectual necessário para “responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”, como ordenou o apóstolo Pedro (1. Pe.3:15), e seja possível dizer que “destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2.Co. 14: 4b,5).
Dizem que a filosofia passa por uma crise. Negativo. O que passa por uma crise é o vasto conjunto de filosofias seculares desprovidas de coerência e incapazes de fornecer respostas adequadas: o naturalismo, o modernismo, o cientificismo, as ideologias de massa, e a loucura pós-moderna. Essas sim, são as “vãs filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens” (Cl. 2:8). Os cristãos têm um Salvador que é mais que um filósofo, é o próprio Logos, é o fundamento de toda a existência e de toda a realidade. Que cada um de seus discípulos esteja cada vez mais disposto a mergulhar na sabedoria e santidade de seu Mestre. Até por que essa não é uma opção. É um dever daquele que professa o nome de Cristo.
(Imagem: Paulo em Atenas, Rafael, 1515).
Fonte: Gospel+
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