Observando o crescimento exponencial que os evangélicos têm assumido nos últimos anos, percebemos que o número de pessoas preocupadas com questões sociais, política e econômica que o mundo enfrenta é mínimo. Temos visto crises em toda a existência humana, mas ao que parece, a maioria dos evangélicos não tem encontrado relevância no esforço em melhorar um mundo que só tende a piorar. Isso nos leva a pergunta: Qual o papel da Igreja em meio a nossa sociedade?
O Evangelho que presenciamos em nossos dias não tem abarcado o homem por completo. Age como uma espécie de teologia “manca”. Têm se feito uma dicotomia entre secular e sagrado. E para muitos, o evangelho é algo que se refere unicamente à religião. Vemos um total desinteresse com matérias presentes em nosso dia-a-dia. Quantos cristãos proclamam com ar de “espiritualidade” que não devemos nos preocupar com temas como política, sociedade e economia! Para eles, o que importa é que tudo isso acabará e viveremos em um lar celestial! Estas pessoas se recusam a tentar mudar a situação atual, pois para eles o mundo vai de mal a pior, até que tudo se finde. Para estas, o “mundo jaz no maligno”, somos “peregrinos na Terra” e este “mundo é passageiro”.
No entanto, quando olhamos de uma forma mais ampla o conceito bíblico acerca dessas questões, vemos um Deus que ao criar o mundo, desejou glorificar o seu nome e esta glória era em todas as áreas da vida. Com a entrada do pecado por meio do homem, a glória de Deus ficou manchada. Tudo passou a ser caos. Cristo, então, vem ao mundo para restabelecer aquilo que foi perdido com o intuito de redimir o homem, para que este volte a refletir o esplendor divino. Ele veio não para agir em uma única esfera da vida, mas veio para restaurar o homem por completo. No coração do homem regenerado agora, passa a ecoar as palavras de Abraham Kuyper: “Não há um único centímetro quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é o Soberano sobre tudo, não clame: é meu!”¹
O desejo maior que o crente tem nesse instante, é a busca da glória de Deus em tudo e todos. Viver desinteressado com as crises presente nas esferas da existência humana, não é a atitude de quem anela ver a glória de Deus. É impossível desejar glorificar ao Senhor por completo e não se preocupar com o império satânico que vêm crescendo no mundo. O cristão sincero sabe que a injustiça irá aumentar, que o mundo só atingirá a perfeição na consumação dos séculos. Mas ele se recusa a cruzar os braços, ele se recusa viver sem que o nome de Cristo seja glorificado em todas as áreas da vida. Pois em seu coração, “o fim supremo e principal do homem é glorificar a Deus e alegrar-se nele para sempre”².
Não é “nadar contra maré”, não é utopia, nem falsa esperança, mas é simplesmente a busca incessante para que a glória de Deus seja estabelecida na Terra. O verdadeiro cristão sabe que não é por mero esforço humano que o Reino de Deus será implantado, mas ele que tem o coração do Pai odeia a injustiça, odeia a glória do homem, odeia as crises decorrentes do pecado, e sua posição para com os problemas do mundo é que “o homem tem que viver e só pode viver coram deo”³
Referências bibliográficas:
1. Kuyper, Abraham. Sphere Sovereignty. Em: Bratt, James. Abraham Kuyper: A Centennial Reader. Grand Rapids: Eerdmans, 1998.
2. Catecismo Maior de Westminster, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1991.
3. Van Til, Survey of Christian Epistemology, 97.
Fonte: [ Apologia e Espiritualidade ]
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