A Cultura Artística sob uma Perspectiva Reformada

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Por Thomas Magnum
               

Ao discorrermos sobre arte no campo da cosmovisão cristã reformada, devemos inicialmente compreender a importância de um correto posicionamento teológico sobre o assunto. Segundo o conhecido historiador da arte Hans Rookmaaker, a arte deve ser feita não por amor a arte, nem por amor a entronização do artista, mas, para glória de Deus [1]. Partindo desse principio, que é sem sombra de dúvida evidente desde a era dos reformadores, onde podemos ler nos antigos escritos, tanto de Lutero como de Calvino, o entendimento correto sobre a arte como dom de Deus é que deve ser devolvida a ele. No entanto, ao voltarmos nosso olhar, tanto para o período renascentista quanto o iluminista, a concepção dada à arte desde suas escolas mais famosas como o Impressionismo, Pontilhismo, Art Nouveaux, Simbolismo, Primitivismo, Expressionismo, Cubismo, Abstracionismo e Construtivismo, todas estas decorrentes dos séculos IXX e XX e também o Dadaísmo, Surrealismo e Expressionismo Abstrato só para citar algumas, são as bases para o atual desenvolvimento artístico. Trabalhando nesse período da historia contemporânea, após a revolução francesa, observamos que tais insigths são resultado de um clamor da alma do homem em se encontrar, e se achar, em se realizar. No entanto, essa procura nas artes não pode ser o ponto final dessa busca, porque a busca pelo belo em si não promove o devido resultado de satisfação, por isso o artista sempre continua fazendo arte, essa satisfação plena não existe. Tomando como exemplo o surrealismo que, inspirado nos escritos de Freud, materializou através da arte o mundo surreal residente no homem, trouxe as ânsias humanas certas doses de desespero, também que, diametralmente, o conduziu a uma inválida jornada por resultados insatisfatórios e inconclusos no que se refere a nobreza de sua capacidade e a satisfação plena em si mesmo, essa satisfação plena só pode ser alcançada em Deus, a arte conduz o homem ao supremo criador, no entanto, fora da esfera da glória ela é condenatória ao homem.

Nas Institutas da Religião Cristã do reformador João Calvino, observamos:

... E assim na consciência da nossa ignorância, fatuidade, penúria, fraqueza, enfim, de nossa própria depravação e corrupção, reconhecemos que em nenhuma outra parte, senão no Senhor, se situam a verdadeira luz e sabedoria, a sólida virtude a plena abundância de tudo que é bom, a pureza da justiça, e daí somos por nossos próprios males instigados à consideração das excelências de Deus. Nem podemos aspirar a ele com seriedade antes que tenhamos começado a descontentarmos de nós mesmos. [2]

Calvino versa no livro I sobre a semente da religião, que só é possível o homem conhecer a si mesmo se conhecer a Deus:

... O Verdadeiro e sólido conhecimento consta de duas partes: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos...

Essa compreensão é muito importante para que estabeleçamos uma sólida teologia sobre a arte. A expressão artística deve ser voltada para glorificação do soberano Deus e não a arte pela arte ou por amor a arte [3]. 

Ao chegarmos no período cibercultural, que é nossa pauta, percebemos como a arte popularizou-se com mais força, inclusive, mais do que a revolução industrial que levou a arte a um contexto mercantil e a popularizou. A internet nos deu a possibilidade de irmos ao museu do louvre sem sairmos de casa, temos a possibilidade de assistirmos congressos sobre conjunturas artísticas em Madri ou Viena da sala de nossa casa. O mundo artístico está em nossa sala, em nossa tela. Verdade é que os protestantes são desconhecedores das grandes contribuições que cristãos deram ao mundo das artes, como Johann Sebastian Bach assinava ao fim das partituras – S.D.G – Soli Deo Gloria [4].

Como o pensamento artístico no mundo teve imensa contribuição de Cristãos e muitos deles protestantes, essa revolução artística que experimentamos hoje pela internet deve nos levar a dois pontos de reflexão: O que tem promovido o atual movimento gospel e qual é a finalidade da atual arte cristã.

O Que tem Promovido o atual movimento gospel?

Youtube, Faceboock, Myspace, Twitter e tantas outras redes que tem surgido, tem sido uma útil plataforma de propaganda do trabalho artístico, essa base leva a uma congratulação artística convergente e emergente para um cenário segmentado no meio fonográfico. Embora atualmente o mercado gospel seja de interesse dos grandes conglomerados empresariais, os cristãos devem sim apoiar o desenvolvimento artístico em nosso meio, as crianças devem ser estimuladas as artes e as Igrejas devem apoiar esse crescente interesse de jovens e crianças em relação à prática artística. Lemos no livro do Êxodo: 

"Eis que eu tenho chamado por nome a Bezalel, o filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de sabedoria, e de entendimento, e de ciência, em todo o lavor, para elaborar projetos, e trabalhar em ouro, em prata, e em cobre, e em lapidar pedras para engastar, e em entalhes de madeira, para trabalhar em todo o lavor." Êxodo 31:2-5 

Notamos que o próprio Deus dotou Bezalel com a capacidade artística, para Seu louvor, para Sua glorificação. Infelizmente não é o que observamos no atual movimento gospel, ou melhor, na indústria gospel, que tem feito arte pela arte por amor a arte e não para glória de Deus. Shows que promovem a idolatria, onde honram o Senhor com lábios, mas, o coração está distante de Deus. 

Qual é a finalidade da atual arte cristã?

Em seu livro sobre a cosmovisão cristã do calvinismo, o renomado teólogo Abrahan Kuyper [5] nos mostrará com clareza que a arte cristã deve ter um propósito teleológico, deve ter um propósito final, a arte promovida por cristãos deve ter como finalidade a gloria de Deus. Tanto na música, nas artes plásticas, em artes visuais nas suas várias vertentes e as demais manifestações do estético devem regar um coração compungido e contrito em agradar o criador de todas as coisas.

Por isso, se a arte cristã não estiver regada por esse sentimento de temor e adoração, não podemos chama-la de cristã. Além do fator interior e da função teleológica da arte, não podemos deixar de sublinhar a precisão doutrinária da arte cristã. Ao observarmos, por exemplo, a questão do estético, podemos destacar algumas coisas interessantes tomando o livro do Apocalipse como base.

O livro do Apocalipse foi escrito em um estilo literário, o estilo apocalíptico, como os livros poéticos de Jó, Salmos e Cantares. O estilo literário é uma forma artística e uma manifestação do belo. O belo é a manifestação, ainda que limitada, da glória de Deus. No exemplo que tomamos, sabemos pelos conhecimentos históricos que João não inventou o estilo apocalíptico, na verdade, temos fontes antigas do estilo. No Antigo Testamento temos o livro de Ezequiel, Daniel e Zacarias que esboçam um estilo apocalíptico. Aonde chegamos com isso? Que a arte é uma manifestação da graça comum e deve ser devotada a Deus para sua glória. 

O desenvolvimento cultural pela web tem sido de grande valor para os homens e também para a igreja, mas, a cultura cristã deve ser para a glória de Deus, e não dos homens ou instituições. Se isso for feito não há nada de dessemelhante a arte desse século, que entroniza a arte e o amor a arte, que coloca o homem sendo superior a manifestação artística e não Deus como o doador e o sustentador de tais capacidades.

Soli Deo Gloria

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Bibliografia:
[1] A Arte não precisa ser justificada, Ed. Ultimato
[2] Institutas da Religião Cristã, Ed. Unesp
[3] O Conceito Calvinista de Cultura, Henry R. Van Til, Cultura Cristã
[4] Se Jesus não tivesse nascido, D. James Kennedy, Ed. Vida
[5] Calvinismo, Abrahan Kuyper, Ed. Cultura Cristã

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Fonte: Bereianos
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