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No último artigo, nós vimos como pode ser que o Deus de toda eternidade ordenou “tudo quanto acontece” e ainda assim não é “o autor do pecado” (Confissão de Fé de Westminster III.I). Tendo mostrado isso, o assunto que nós iremos focar nesse artigo é: como o controle de Deus sobre todas as coisas não destrói a responsabilidade humana. Como a Confissão de Fé de Westminster prossegue dizendo, a soberania de Deus não violenta a “vontade da criatura”.
Muitas coisas que nós dizemos no último artigo lançam luz nesse assunto da responsabilidade humana sob a providência de Deus. Por exemplo, o fato que o pecado não é um resultado de Deus injetar o mal no coração de alguns, mas mais um problema dele conter sua graça que impediria a pessoa de pecar, é uma coisa que preserva nossa responsabilidade moral e torna claro que Deus não é o autor do pecado. Nós iremos, agora, olhar mais de perto como Deus determina a vontade, que irá primariamente mostrar por que sua soberania não destrói a responsabilidade moral, e secundariamente dar adiante prova do fato que Deus não é o autor do pecado.
Para ser específico, esta análise irá responder duas perguntas para nós. Primeira, como nós podemos sustentar a responsabilidade por nossas ações pecaminosas quando elas são pré-determinadas por Deus? Segunda, como podem nossas escolhas boas serem genuínas quando elas todas foram pré-determinadas e trazidas a tona por Deus?
O Ensino das Escrituras
A primeira coisa que eu gostaria de ressaltar é que as Escrituras vêem a soberania divina como consistente com a responsabilidade moral. Elas ensinam tanto que nós somos responsáveis por nossos atos e que Deus, no final das contas, determina nossas escolhas. Como nós iremos ver em breve, isso nos dá um princípio que é essencial para resolver o mistério.
Em Êxodo 7.2-4 Deus diz a Moisés: “Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os filhos de Israel. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó não vos ouvirá; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de julgamento.” Esta é uma passagem incrível! No verso 2, Deus diz que Moisés e Arão estão, na autoridade de Deus, para comandar ao faraó que deixe Israel ir. Mas no verso 3, Deus diz que ele irá endurecer o coração do faraó tanto que ele não deixasse Israel ir. No verso 4, nós lemos que Deus irá julgar o faraó e o Egito por sua desobediência. Desta forma, não vemos nas Escrituras a soberania de Deus destruindo a responsabilidade moral de faraó ao endurecer o coração dele, por Deus julgar faraó por sua desobediência. Nós sabemos que o faraó merecia este julgamento porque todos os julgamentos e caminhos de Deus são justos; “todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto” (Deuteronômio 32.4). de fato, mais tarde na história, o próprio faraó reconheceu sua culpa: “Esta vez pequei; o SENHOR é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios” (Êxodo 9.27).
Igualmente, no livro de Atos nós lemos que o ato pecaminoso dos judeus, gentios, Heródoto e Pôncio Pilatos que resultaram na morte de cruz de Cristo, foram todos predestinados por Deus (Atos 4.28). Todavia, eles foram considerados moralmente culpados por esses pecados (2.23; 7.52). Jesus parece afirmar no mesmo sentido que a soberania de Deus sobre sua traição e a culpa moral daquele que o traiu: “Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!” (Lucas 22.22). Em 2 Tessalonicenses 2.9-12 nós lemos de um tempo quando, para aqueles que rejeitaram o Evangelho, “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça”. Muitas outras instâncias poderiam ser dadas, mas esta é suficiente para mostrar que as Escrituras crêem que a soberania de Deus é consistente com o fato que ele nos atribui toda responsabilidade por nossos pecados.
As Escrituras também crêem que nossas escolhas boas são genuínas, tanto quanto elas são trazidas por Deus. Em 2 Coríntios 8.16, Paulo diz que o amor e a solicitude de Tito pelos corintos foram colocadas por Deus em seu coração. Desse modo, Paulo considera a solicitude de Tito como genuína, dizendo “partiu voluntariamente para vós outros” (v.17). Ezequiel 33.27 ensina que a obediência dos cristãos é causada pelo Espírito de Deus: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos …”. Assim, quem ousaria dizer que sua obediência não é genuína! Igualmente, da fé é dita ser dada a nós vinda de Deus (Filipenses 1.29), ainda assim nossa fé agrada a Deus (Hebreus 11.6).
As Escrituras parecem claramente negar a crença comum que humanos são a causa última que determina suas próprias escolhas (“livre-arbítrio”). Jeremias 10.23 diz: “Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.
De tudo isso, devemos concluir que de acordo com a Escritura, o controle de Deus não destrói a responsabilidade moral em considerar nossos atos pecaminosos, e nem destrói a genuinidade das boas escolhas que os cristãos fazem. Desde que as Escrituras ensinam, nós deveremos acreditar nisso, mesmo que não entendamos como isso se encaixa na lógica. Em outras palavras, nós deveremos acreditar que a soberania de Deus é consistente com nossa ação moral porque Deus diz que isso é assim, e Deus sempre fala a verdade.
Existem aqueles que param após este ponto, dizendo que o modo para ser entendido de como essas coisas são consistentes é um mistério. Isso é perfeitamente normal. Parece-me, porém, que a simples reflexão revela que as Escrituras resolvem muito desse problema. Como isso? Isso me parece desta forma: o fato que as Escrituras ensinam que nós somos responsabilizados pelo que Deus, em última instância causa em nós, ensina que o livre-arbítrio não é um pré-requisito para a responsabilidade moral. Em outras palavras, você não precisa ter o poder de autodeterminação como regra para ter responsabilidade por suas escolhas.
Você vê, a razão que podemos pensar que a relação entre soberania divina e responsabilidade humana é um mistério, é por causa de uma fixa pressuposição que temos: que responsabilidade moral requer que nós tenhamos autodeterminação – que nós tenhamos a palavra final sobre o que irá acontecer. Mas, desde que as Escrituras mostram que Deus, em última instância, determina o que irá acontecer, e ainda assim nós temos responsabilidade por nossas ações, nós devemos concluir que a crença comum que responsabilidade moral requer livre-arbítrio é falsa. Porém, responsabilidade moral é estabelecida por alguma outra coisa vinda da liberdade de determinação de Deus.
E sobre os versos de “escolha”?
Antes de olhar o que nos faz ter responsabilidade por nossas escolhas, há uma coisa que é importante para entender neste ponto. Muito freqüentemente, pessoas tentam refutar a soberania divina mostrando várias passagens onde humanos são ditos fazerem escolhas. O argumento é como este: “Olhe para todos esses versos que dizem que fazemos escolhas. Por exemplo, João 3.36 diz que quem crê no Filho tem a vida eterna. Isso significa que Deus deu-nos o poder de decisão última sobre o que irá acontecer. Ele não controla todas as coisas porque ele deixou muitas coisas sobre nós”.
Mas esse argumento vai além do texto. Aqueles que acreditam no controle de Deus sobre todas as coisas, reconhecem que nós fazemos escolhas. Eu repito: humanos fazem escolhas. Esse não é o assunto que é debatido. O assunto é este: Por que nós fazemos as escolhas que fazemos? Como nós viemos a fazer nossas escolhas? É Deus, talvez, aquele que, em última instância, causa-nos a escolha do que fazemos? As muitas passagens na Bíblia onde nos é dito escolher certas coisas não interessam a esse assunto, por elas não dizerem como é que nós fazemos as escolhas que fazemos. Tudo o que eles dizem é que fazemos escolhas. Com isso, a predestinação concorda. Mas os textos não dizem que nós temos autodeterminação. Eles não lidam com o assunto de se Deus é ou não a causa última atrás de nossas escolhas. Para esse assunto, nós devemos nos voltar para outros textos das Escrituras, que nós vimos que claramente ensinam o controle de Deus sobre todas as coisas. Assim, nós devemos concluir que humanos fazem, realmente, genuínas escolhas. Mas Deus é a causa última que determina o que nós iremos escolher.
Com esse entendimento, nós iremos agora examinar a visão chamada compatibilismo, que se esforça em explicar como a soberania divina é consistente com a responsabilidade humana. Talvez o melhor defensor desta visão, que largamente influenciou este artigo, é o trabalho de Jonathan Edwards chamado On the Freedom of the Will (Na liberdade da vontade).
Depois de dada evidência para o compatibilismo e mostrar como é consistente com o senso comum (e, como nós vimos acima, que isso é assumido pelas Escrituras), nós iremos, então, ver como a visão oposta da liberdade, chamada Arminianismo (que acredita que os humanos têm poder de autodeterminação), é contraditória e impossível.
Tudo que acontece tem uma causa
Uma causa é uma coisa que faz algo acontecer do jeito que é. X é a causa de Y se X é a razão de Y acontecer. Além disso, causas são necessariamente conectadas aos seus efeitos. Em outras palavras, se X faz certo que Y irá ocorrer, X é dito ser a causa de Y. Se a ocorrência de X não faz certo a ocorrência de Y, nós não dizemos que X causa Y. Particularmente, nós poderíamos meramente dizer que X faz Y possível.
Nós todos sabemos que tudo que acontece tem uma causa. Nós vivemos vidas baseadas sobre esta suposição, sem ela, o mundo poderia não fazer sentido. Se seu carro não quer ligar, você tenta encontrar o porquê. Se você fica extremamente doente, você vai ao médico para encontrar o que está causando sua enfermidade. Ninguém espera um tigre enfurecido vir à existência no meio da sala por nenhuma razão. Isso é absolutamente oposto ao senso comum, pensar que algo pode vir a ser sem alguma causa por de trás disto.
Outro bom argumento é que “se um acontecimento não tem causa, então este pode ter sido diferente na forma que ele aconteceu, mesmo se tudo anterior a ele era exatamente o mesmo. Desde que a observação mostra que não importa o que seja, há formas diferentes no modo como as coisas habitualmente acontecem, há também diferenças nas condições primárias, nós podemos concluir que tudo que acontece tem causas”.
Todas as nossas escolhas têm uma causa – isto é, foram feitas por alguma razão
Se todas as coisas têm uma causa, então está claro que nossas escolhas devem ter causas também. Elas não acontecem sem razão. Isso é, na verdade, a concepção que todos nós temos. Freqüentemente nós dizemos um ao outro: “Por que você fez aquilo?” Isso é o mesmo que dizer: “Qual é a razão por de trás de sua escolha? O que fez você agir dessa forma?” A pessoa irá frequentemente responder: “Eu fiz por causa de x, y e z”.
Todas as nossas escolhas são feitas de acordo com as razões que nós pensamos serem as melhores
Mas não existem frequentemente várias razões a favor de várias escolhas? Por exemplo, que tal quando você está entre fazer o dever de casa e ficar com os amigos? Como nós decidimos, então? A resposta é que em toda escolha nós sempre escolhemos a coisa que é mais apelativa a nós. Em outras palavras, nossas escolhas não são apenas feitas por uma razão, elas são feitas de acordo com a razão que nós pensamos ser a melhor. Agora, isso não significa que nós sempre escolhemos o que é mais lógico. Nossas emoções, bem como nossa lógica, participam de nossas decisões. Assim, talvez seja melhor expressar dessa forma: nós sempre escolhemos a opção que nós temos uma grande preferência por ela. Outros dois caminhos para expressar isso são que nós escolhemos de acordo com nosso grande desejo, ou que nós sempre escolhemos o que nós pensamos ser melhor. Mas parece que o caminho mais claro para expressar esta verdade é dizendo “grandes preferências”, porque isso parece conduzir mais claramente ao fato que há uma combinação da lógica e fatores emocionais nas razões de nossas escolhas.
Eu irei dar três razões para sustentar o fato de que nós sempre escolhemos o que preferimos. Primeiro, isso é auto evidente, negar isso é correr para absurdos. As alternativas seriam: “nós sempre escolhemos o que é pior”, ou “nós freqüentemente escolhemos o que nós não queremos”. Segundo, se escolhermos contrários a nossa grande preferência, então, isso significará que uma influência fraca pode sobrepor a influência mais forte – o que é uma contradição.
Terceiro, escolher contrário a sua grande preferência seria igual a escolher sem razão (o que vimos ser impossível). Por que isso? Porque, então, não há explicação por que a pessoa veio a escolher o que ela escolheu. Deixe-me escrever o dilema dessa forma: se você pode escolher contrário a sua grande preferência, você terá uma razão para agir dessa forma, ou não teria. Se há uma razão para você agir dessa forma, então, isso significa que você está realmente fazendo a escolha porque era mais razoável que outra. Mas, isso é o mesmo que dizer que você escolheu de acordo com sua preferência – sua grande preferência sendo a coisa mais razoável. Mas, se havia razões para essa escolha que eram contrárias a sua grande preferência, então a escolha foi essencialmente feita sem causas porque nenhuma razão poderia ser dada para o porque de você escolher uma coisa ao invés de outra. Nessa situação, você poderia ser inclinado a uma certa escolha, e ainda, sem razão alguma, escolher alguma outra coisa. Como vimos anteriormente, é impossível fazer uma escolha sem uma causa.
Mas o que dizer, por exemplo, quando alguém opta por estudar para um teste quando essa pessoa realmente teria encontrado maior prazer em ir ao cinema? Nesse caso, a pessoa desejou os benefícios de longo alcance através da boa nota que o estudo poderia trazer, mais do que o prazer de curto prazo que um bom filme teria trazido. Em si, o filme teria sido mais agradável. Mas considerando todas as coisas, estudar era mais preferível.
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Continua nos próximos dias...
***No último artigo, nós vimos como pode ser que o Deus de toda eternidade ordenou “tudo quanto acontece” e ainda assim não é “o autor do pecado” (Confissão de Fé de Westminster III.I). Tendo mostrado isso, o assunto que nós iremos focar nesse artigo é: como o controle de Deus sobre todas as coisas não destrói a responsabilidade humana. Como a Confissão de Fé de Westminster prossegue dizendo, a soberania de Deus não violenta a “vontade da criatura”.
Muitas coisas que nós dizemos no último artigo lançam luz nesse assunto da responsabilidade humana sob a providência de Deus. Por exemplo, o fato que o pecado não é um resultado de Deus injetar o mal no coração de alguns, mas mais um problema dele conter sua graça que impediria a pessoa de pecar, é uma coisa que preserva nossa responsabilidade moral e torna claro que Deus não é o autor do pecado. Nós iremos, agora, olhar mais de perto como Deus determina a vontade, que irá primariamente mostrar por que sua soberania não destrói a responsabilidade moral, e secundariamente dar adiante prova do fato que Deus não é o autor do pecado.
Para ser específico, esta análise irá responder duas perguntas para nós. Primeira, como nós podemos sustentar a responsabilidade por nossas ações pecaminosas quando elas são pré-determinadas por Deus? Segunda, como podem nossas escolhas boas serem genuínas quando elas todas foram pré-determinadas e trazidas a tona por Deus?
O Ensino das Escrituras
A primeira coisa que eu gostaria de ressaltar é que as Escrituras vêem a soberania divina como consistente com a responsabilidade moral. Elas ensinam tanto que nós somos responsáveis por nossos atos e que Deus, no final das contas, determina nossas escolhas. Como nós iremos ver em breve, isso nos dá um princípio que é essencial para resolver o mistério.
Em Êxodo 7.2-4 Deus diz a Moisés: “Tu falarás tudo o que eu te ordenar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó, para que deixe ir da sua terra os filhos de Israel. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó não vos ouvirá; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair as minhas hostes, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de julgamento.” Esta é uma passagem incrível! No verso 2, Deus diz que Moisés e Arão estão, na autoridade de Deus, para comandar ao faraó que deixe Israel ir. Mas no verso 3, Deus diz que ele irá endurecer o coração do faraó tanto que ele não deixasse Israel ir. No verso 4, nós lemos que Deus irá julgar o faraó e o Egito por sua desobediência. Desta forma, não vemos nas Escrituras a soberania de Deus destruindo a responsabilidade moral de faraó ao endurecer o coração dele, por Deus julgar faraó por sua desobediência. Nós sabemos que o faraó merecia este julgamento porque todos os julgamentos e caminhos de Deus são justos; “todos os seus caminhos são juízo; Deus é fidelidade, e não há nele injustiça; é justo e reto” (Deuteronômio 32.4). de fato, mais tarde na história, o próprio faraó reconheceu sua culpa: “Esta vez pequei; o SENHOR é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios” (Êxodo 9.27).
Igualmente, no livro de Atos nós lemos que o ato pecaminoso dos judeus, gentios, Heródoto e Pôncio Pilatos que resultaram na morte de cruz de Cristo, foram todos predestinados por Deus (Atos 4.28). Todavia, eles foram considerados moralmente culpados por esses pecados (2.23; 7.52). Jesus parece afirmar no mesmo sentido que a soberania de Deus sobre sua traição e a culpa moral daquele que o traiu: “Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!” (Lucas 22.22). Em 2 Tessalonicenses 2.9-12 nós lemos de um tempo quando, para aqueles que rejeitaram o Evangelho, “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça”. Muitas outras instâncias poderiam ser dadas, mas esta é suficiente para mostrar que as Escrituras crêem que a soberania de Deus é consistente com o fato que ele nos atribui toda responsabilidade por nossos pecados.
As Escrituras também crêem que nossas escolhas boas são genuínas, tanto quanto elas são trazidas por Deus. Em 2 Coríntios 8.16, Paulo diz que o amor e a solicitude de Tito pelos corintos foram colocadas por Deus em seu coração. Desse modo, Paulo considera a solicitude de Tito como genuína, dizendo “partiu voluntariamente para vós outros” (v.17). Ezequiel 33.27 ensina que a obediência dos cristãos é causada pelo Espírito de Deus: “Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos …”. Assim, quem ousaria dizer que sua obediência não é genuína! Igualmente, da fé é dita ser dada a nós vinda de Deus (Filipenses 1.29), ainda assim nossa fé agrada a Deus (Hebreus 11.6).
As Escrituras parecem claramente negar a crença comum que humanos são a causa última que determina suas próprias escolhas (“livre-arbítrio”). Jeremias 10.23 diz: “Eu sei, ó SENHOR, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos”.
De tudo isso, devemos concluir que de acordo com a Escritura, o controle de Deus não destrói a responsabilidade moral em considerar nossos atos pecaminosos, e nem destrói a genuinidade das boas escolhas que os cristãos fazem. Desde que as Escrituras ensinam, nós deveremos acreditar nisso, mesmo que não entendamos como isso se encaixa na lógica. Em outras palavras, nós deveremos acreditar que a soberania de Deus é consistente com nossa ação moral porque Deus diz que isso é assim, e Deus sempre fala a verdade.
Existem aqueles que param após este ponto, dizendo que o modo para ser entendido de como essas coisas são consistentes é um mistério. Isso é perfeitamente normal. Parece-me, porém, que a simples reflexão revela que as Escrituras resolvem muito desse problema. Como isso? Isso me parece desta forma: o fato que as Escrituras ensinam que nós somos responsabilizados pelo que Deus, em última instância causa em nós, ensina que o livre-arbítrio não é um pré-requisito para a responsabilidade moral. Em outras palavras, você não precisa ter o poder de autodeterminação como regra para ter responsabilidade por suas escolhas.
Você vê, a razão que podemos pensar que a relação entre soberania divina e responsabilidade humana é um mistério, é por causa de uma fixa pressuposição que temos: que responsabilidade moral requer que nós tenhamos autodeterminação – que nós tenhamos a palavra final sobre o que irá acontecer. Mas, desde que as Escrituras mostram que Deus, em última instância, determina o que irá acontecer, e ainda assim nós temos responsabilidade por nossas ações, nós devemos concluir que a crença comum que responsabilidade moral requer livre-arbítrio é falsa. Porém, responsabilidade moral é estabelecida por alguma outra coisa vinda da liberdade de determinação de Deus.
E sobre os versos de “escolha”?
Antes de olhar o que nos faz ter responsabilidade por nossas escolhas, há uma coisa que é importante para entender neste ponto. Muito freqüentemente, pessoas tentam refutar a soberania divina mostrando várias passagens onde humanos são ditos fazerem escolhas. O argumento é como este: “Olhe para todos esses versos que dizem que fazemos escolhas. Por exemplo, João 3.36 diz que quem crê no Filho tem a vida eterna. Isso significa que Deus deu-nos o poder de decisão última sobre o que irá acontecer. Ele não controla todas as coisas porque ele deixou muitas coisas sobre nós”.
Mas esse argumento vai além do texto. Aqueles que acreditam no controle de Deus sobre todas as coisas, reconhecem que nós fazemos escolhas. Eu repito: humanos fazem escolhas. Esse não é o assunto que é debatido. O assunto é este: Por que nós fazemos as escolhas que fazemos? Como nós viemos a fazer nossas escolhas? É Deus, talvez, aquele que, em última instância, causa-nos a escolha do que fazemos? As muitas passagens na Bíblia onde nos é dito escolher certas coisas não interessam a esse assunto, por elas não dizerem como é que nós fazemos as escolhas que fazemos. Tudo o que eles dizem é que fazemos escolhas. Com isso, a predestinação concorda. Mas os textos não dizem que nós temos autodeterminação. Eles não lidam com o assunto de se Deus é ou não a causa última atrás de nossas escolhas. Para esse assunto, nós devemos nos voltar para outros textos das Escrituras, que nós vimos que claramente ensinam o controle de Deus sobre todas as coisas. Assim, nós devemos concluir que humanos fazem, realmente, genuínas escolhas. Mas Deus é a causa última que determina o que nós iremos escolher.
Com esse entendimento, nós iremos agora examinar a visão chamada compatibilismo, que se esforça em explicar como a soberania divina é consistente com a responsabilidade humana. Talvez o melhor defensor desta visão, que largamente influenciou este artigo, é o trabalho de Jonathan Edwards chamado On the Freedom of the Will (Na liberdade da vontade).
Depois de dada evidência para o compatibilismo e mostrar como é consistente com o senso comum (e, como nós vimos acima, que isso é assumido pelas Escrituras), nós iremos, então, ver como a visão oposta da liberdade, chamada Arminianismo (que acredita que os humanos têm poder de autodeterminação), é contraditória e impossível.
Tudo que acontece tem uma causa
Uma causa é uma coisa que faz algo acontecer do jeito que é. X é a causa de Y se X é a razão de Y acontecer. Além disso, causas são necessariamente conectadas aos seus efeitos. Em outras palavras, se X faz certo que Y irá ocorrer, X é dito ser a causa de Y. Se a ocorrência de X não faz certo a ocorrência de Y, nós não dizemos que X causa Y. Particularmente, nós poderíamos meramente dizer que X faz Y possível.
Nós todos sabemos que tudo que acontece tem uma causa. Nós vivemos vidas baseadas sobre esta suposição, sem ela, o mundo poderia não fazer sentido. Se seu carro não quer ligar, você tenta encontrar o porquê. Se você fica extremamente doente, você vai ao médico para encontrar o que está causando sua enfermidade. Ninguém espera um tigre enfurecido vir à existência no meio da sala por nenhuma razão. Isso é absolutamente oposto ao senso comum, pensar que algo pode vir a ser sem alguma causa por de trás disto.
Outro bom argumento é que “se um acontecimento não tem causa, então este pode ter sido diferente na forma que ele aconteceu, mesmo se tudo anterior a ele era exatamente o mesmo. Desde que a observação mostra que não importa o que seja, há formas diferentes no modo como as coisas habitualmente acontecem, há também diferenças nas condições primárias, nós podemos concluir que tudo que acontece tem causas”.
Todas as nossas escolhas têm uma causa – isto é, foram feitas por alguma razão
Se todas as coisas têm uma causa, então está claro que nossas escolhas devem ter causas também. Elas não acontecem sem razão. Isso é, na verdade, a concepção que todos nós temos. Freqüentemente nós dizemos um ao outro: “Por que você fez aquilo?” Isso é o mesmo que dizer: “Qual é a razão por de trás de sua escolha? O que fez você agir dessa forma?” A pessoa irá frequentemente responder: “Eu fiz por causa de x, y e z”.
Todas as nossas escolhas são feitas de acordo com as razões que nós pensamos serem as melhores
Mas não existem frequentemente várias razões a favor de várias escolhas? Por exemplo, que tal quando você está entre fazer o dever de casa e ficar com os amigos? Como nós decidimos, então? A resposta é que em toda escolha nós sempre escolhemos a coisa que é mais apelativa a nós. Em outras palavras, nossas escolhas não são apenas feitas por uma razão, elas são feitas de acordo com a razão que nós pensamos ser a melhor. Agora, isso não significa que nós sempre escolhemos o que é mais lógico. Nossas emoções, bem como nossa lógica, participam de nossas decisões. Assim, talvez seja melhor expressar dessa forma: nós sempre escolhemos a opção que nós temos uma grande preferência por ela. Outros dois caminhos para expressar isso são que nós escolhemos de acordo com nosso grande desejo, ou que nós sempre escolhemos o que nós pensamos ser melhor. Mas parece que o caminho mais claro para expressar esta verdade é dizendo “grandes preferências”, porque isso parece conduzir mais claramente ao fato que há uma combinação da lógica e fatores emocionais nas razões de nossas escolhas.
Eu irei dar três razões para sustentar o fato de que nós sempre escolhemos o que preferimos. Primeiro, isso é auto evidente, negar isso é correr para absurdos. As alternativas seriam: “nós sempre escolhemos o que é pior”, ou “nós freqüentemente escolhemos o que nós não queremos”. Segundo, se escolhermos contrários a nossa grande preferência, então, isso significará que uma influência fraca pode sobrepor a influência mais forte – o que é uma contradição.
Terceiro, escolher contrário a sua grande preferência seria igual a escolher sem razão (o que vimos ser impossível). Por que isso? Porque, então, não há explicação por que a pessoa veio a escolher o que ela escolheu. Deixe-me escrever o dilema dessa forma: se você pode escolher contrário a sua grande preferência, você terá uma razão para agir dessa forma, ou não teria. Se há uma razão para você agir dessa forma, então, isso significa que você está realmente fazendo a escolha porque era mais razoável que outra. Mas, isso é o mesmo que dizer que você escolheu de acordo com sua preferência – sua grande preferência sendo a coisa mais razoável. Mas, se havia razões para essa escolha que eram contrárias a sua grande preferência, então a escolha foi essencialmente feita sem causas porque nenhuma razão poderia ser dada para o porque de você escolher uma coisa ao invés de outra. Nessa situação, você poderia ser inclinado a uma certa escolha, e ainda, sem razão alguma, escolher alguma outra coisa. Como vimos anteriormente, é impossível fazer uma escolha sem uma causa.
Mas o que dizer, por exemplo, quando alguém opta por estudar para um teste quando essa pessoa realmente teria encontrado maior prazer em ir ao cinema? Nesse caso, a pessoa desejou os benefícios de longo alcance através da boa nota que o estudo poderia trazer, mais do que o prazer de curto prazo que um bom filme teria trazido. Em si, o filme teria sido mais agradável. Mas considerando todas as coisas, estudar era mais preferível.
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Fonte: The Consistency of Divine Sovereignty and Human Accountability
Tradução: Rev. Ricardo Moura Lopes Coelho
Revisão: Ruy Marinho
Revisão: Ruy Marinho
Divulgação: Bereianos
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