Karl Marx e a sua dialética racionalista-irracionalista

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Por John Frame


Karl Marx (1818 - 1883) provavelmente exerceu mais influência na política e na história mundial do que qualquer outro filosofo dos últimos duzentos anos. Muitas pessoas se tornam marxistas, a meu ver, por razões éticas. Encontram em Marx um pensador que se importa com os pobres e tem um plano para fazer algo por eles.

Contudo, é importante lembrar que Marx é um subjetivista rematado. Ele pensa que os padrões éticos são relativos à classe de cada um. Na sua visão, os sistemas éticos são recursos dos movimentos políticos para promover os interesses de uma classe contra outra. Há uma ética para a burguesia (os donos dos meios de produção) e outra para o proletariado (os trabalhadores nas fábricas). Quando o proletariado inicia a revolução, tudo que promove a revolução é bom, o que atrapalha é mau. Quando a revolução se torna vitoriosa, o que leva em direção a uma sociedade sem classes (o eschaton marxista) é bom, o que retarda é mau.

Padrões éticos específicos podem mudar á medida que os interesses da classe mudam. O que é bom hoje pode ser mau amanhã. Os comunistas americanos louvaram Hitler quando ele fez um pacto com Stalin. Quando Hitler quebrou o pacto, tudo que passou a fazer era mau.

Qual é a ética correta? Para Marx, não há retidão objetiva na ética, embora valorize muito a objetividade cientifica ao formular seu determinismo econômico. Quando jovens idealistas são atraídos ao marxismo por motivos éticos, é pastoralmente importante lembra-los de que para o marxismo a ética é negociável. Os interesses da classe são supremos, e a ética é um instrumento deles. Quando percebemos o marxismo dessa perspectiva, ele parece menos nobre.

No entanto, muitas vezes Marx fala como se seus julgamentos éticos fossem objetivos. Por exemplo, é famosa sua condenação do cristianismo como "o ópio do povo". Ele o considera uma ideologia maquinada pelos ricos para subjugar os trabalhadores, fazê-los satisfeitos com a miserável atual e com a recompensa celestial, de modo que não pensem em revolução. Os cristãos protestarão que o evangelho contribuiu muito ao longo do século para o bem-estar dos pobres e da sociedade em geral. Porém, Marx replica que também se deve fazer oposição a esse cristianismo "profético", pois causa mais mal do que bem. Gera esperanças falsas de reforma, pacífica as massas e, portanto, retarda a revolução necessária para uma mudança real.

Isso soa como uma critica ética ao cristianismo. Marx diz que o cristianismo é a ética religiosa que uma classe particular usa para oprimir outra classe. Mas devemos lembrar que a ética alternativa de Marx é apenas a ética de outra classe particular projetada, uma vez que aquela classe chegar ao poder, para oprimir qualquer classe rival. Marx não dá motivos - exceto pela lealdade à classe - para preferir essa ética à ética cristã.

Podemos perceber em Marx a dialética racionalista-irracionalista. Marx nega a ética objetiva (irracionalismo), mas prega uma alternativa moralista e critica seus oponentes com certeza dogmática (racionalismo).[1]

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Nota:

[1] Veja Karl Marx e Friedrich Engels. O manifesto comunista (1848); Marx, O capital (1887)

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Fonte: FRAME, John. A Doutrina da Vida Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2013. Pags. 95-96
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