Como discutir teologia sem parecer um débil mental: minha jornada ao uso da razão

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Por Yago Martins

Por incrível que pareça, tive meu encontro com Cristo em uma igreja bem neopentecostal. Lá, aprendi cedo o jargão que teologia esfria o crente e fui introduzido ainda neófito aos mistérios do Espírito. Fui convencido que o uso da razão para explicar a fé era algo quase pecaminoso, uma vez que a letra mata. Argumentar com o texto bíblico? Observar premissas? Considerar axiomas? Coisa de crente cru, que não conheceu o fogo de Jeová.


Minha caminhada rumo ao uso da mente possuiu três marcos principais. Ela começou quando pude conhecer John Piper e as chamadas Doutrinas da Graça. Com Piper, aprendi que os textos possuem argumentos, ideias e significado. Eu não deveria simplesmente ler a Bíblia, mas argumentar com ela. Eu precisava entender qual a ideia do autor e quais as verdades que estão sendo transmitidas. Com o calvinismo, aprendi que o texto diz o que ele diz. Aprendi que eu não posso florear passagens bíblicas ou pôr “palavras em sua boca”. Aprendi que minhas revelações espirituais sobre determinada passagem de nada serviam: o Espírito me guiaria, na verdade, através de hermenêutica, exegese e aplicação.
Depois, aprouve a Deus que eu fosse introduzido aos debates de William Lane Craig. Com ele, aprendi o que significa lógica, axiomas básicos, premissa maior, premissa menor, conclusão, non sequitur e falácias em geral. Observando a perícia argumentativa deste cristão em combate ao modo ateísta de argumentar, vi que existia um mundo por detrás do meu: um mundo onde tudo finalmente fazia sentido.
Então, fui presenteado com a amizade de dois irmãos muito queridos, o casal André Venâncio e Norma Braga. Nos seis meses (mais ou menos) em que eles moraram em terras fortalezenses, pude observar como o crente é obrigado a dialogar com o pensamento de seu século e influenciar sua cultura. Vi que a teologia encontra pontos de contato na política, na ciência, na filosofia, na arte e na medicina. Além disso, fui alertado sobre os perigos racionalistas de dar à razão uma autoridade que ela muitas vezes não possui, entendendo os efeitos do pecado na mente humana.
Durante esta caminhada, constantemente me vi imerso em debates sobre doutrina e prática cristã – muitos deles sem qualquer propósito, confesso. Nessas discussões, pude conferir como somos ruins de entender o que o outro escreve, em atacar os argumentos e não as pessoas e em raciocinar logicamente. Percebi que somos como analfabetos lógicos – e assim como qualquer analfabeto, nosso problema não é desinteresse pela Bíblia, mas não possuímos aquilo que é pré-requisito para entendermos a Bíblia. O pior, esse tipo de analfabetismo funcional é, em certo sentido, pior do que o analfabetismo total. Neste, sabemos que não sabemos ler; naquele, por entendermos os símbolos que formam frases e orações, pensamos que sabemos entender o significado de um texto.
Nesta série de posts, pretendo lidar com os erros mais frequentes que cometemos em nossos debates teológicos. Mantenham seus membros dentro do veículo, pois vamos fazer uma viagem pelo mundo do raciocínio lógico – e observaremos que Cristo morreu para apagar nossos pecados, e não nosso cérebro.
Até a próxima.
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1 comentários:

Por favor continue e rápido fiquei interessadíssima!
Parecia ler sobre mim com a diferença que Piper veio depois o "abre alas" foi meu querido reverendo, professor e acima de tudo amado irmão, Augustos Nicodemos. Preciso mesmo que compartilhe sua experiencia! Abraço Dani Lima

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