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No debate secular contemporâneo sobre ética, a questão dos relacionamentos entre grupos obscurece quase todos os demais. Os grupos em debate são denominados por raça, gênero, nacionalidade, credo, preferência sexual, idade, habilidades (o que costumávamos denominar de "deficiência física"), etc., e são classificados, em termos quase marxistas, como grupos opressores e grupos de vítimas. O grupo opressor em geral é identificado como sendo de homens heterossexuais, cristãos, brancos e de classe média. A questão é o tratamento injusto ou desigual do grupo de vítimas pelo grupo opressor.
A maioria das demais questões éticas se reduz, no final das contas, a essa. Até entre grupos, é definida em termos de "escolha". E "escolha" é defendida com base na autonomia do gênero: restringir o aborto é sexista, é a opressão das mulheres pelos homens.
A atitude do grupo opressor contra o grupo de vítimas é descrita de maneiras variadas como racista, sexista, homofóbica, preconceituosa contra idade, peso, etc. Essas atitudes são vistas como a base de todos os problemas sociais e éticos.
Questões de tal importância para as pessoas deveriam ser debatidas não apenas com sensibilidade, mas também com cuidado e precisão. Infelizmente, a maioria dos tratamentos dessas questões é sobrecarregada de ambiguidades, confusão de questões distintas e substituição de argumentação pela retórica. Há muitas coisas que podem ser classificadas como racismo, sexismo, e assim por diante. E muitas práticas são condenadas como racistas ou sexistas sem uma análise cuidadosa. Nesta seção, espero contribuir para o esclarecimento desta questão.
Escreverei primariamente sobre o racismo, embora o que digo se aplique em geral aos outros "ismos", mutatis mutandis. A questão de preferência sexual é bem distinta das demais, contudo. Na visão bíblica, o homossexualismo é um pecado, mas não é pecado pertencer a uma raça ou gênero particular ou a outro grupo. O restante deste capítulo, portanto, não se aplica, na maioria dos casos, a questões de "homofobia".¹
O que o "racismo" significa? Quais são suas manifestações? Consideremos algumas possibilidades, a partir do debate atual.
1 - O racismo em geral é equiparado ao ódio, de modo que pode ser definido como "odiar pessoas por causa de sua raça ou cor". O ódio, obviamente, é algo interior.² Devemos ser rápidos em reconhecê-los em nós mesmos e vagarosos em acusar outros de tê-lo. Infelizmente, no debate atual, o contrário é geralmente verdadeiro. As pessoas rapidamente acusam outros de ódio racial, mas nunca admitem tal ódio nelas mesmas. Essa é uma das coisas erradas no debate atual sobre raças [Para ver um exemplo no Brasil, clique aqui].
Certamente é pecaminoso e irracional odiar alguém somente por causa de sua linhagem ou da cor da sua pele. Uma pessoa não pode mudar sua linhagem, e a linhagem em si nunca fez com que uma pessoa se torne merecedora de ódio.
Não duvido que esse ódio racial irracional exista, mas suspeito que seja mais raro do que muitos escritores éticos e comentaristas de noticiário supõem. Na maioria das vezes, o que chamamos de "ódio racial" é na verdade algo mais sutil, e com uma reivindicação inicial maior à racionalidade. Exploro estas possibilidades abaixo.
2 - Uma forma distinta de "ódio racial" é odiar membros de uma raça em particular por causa de erros claros cometidos por aquele grupo racial. Isso não é ódio racial puro e simples. Aqui o ódio não é direcionado contra pessoas somente por causa de sua linhagem, mas por causa de mágoas não resolvidas. Os afrodescendentes em geral continuam a guardar rancor dos brancos por causa do histórico de escravidão e segregação [o que geralmente no Brasil é colocado somente um lado da história e, muitas vezes, de maneira distorcida, veja aqui, aqui, aqui e aqui]. Os brancos em geral guardam rancor dos negros por causa do alto índice de crimes, ilegitimidade e uso de drogas nas suas comunidades, e por causa retórica de alguns líderes negros que põem a culpa desses problemas na sociedade dos brancos. O problema nos dois lados não está na linhagem ou na cor de pele em si; o problema é de comportamento.
Com um simples ódio racial (ponto 1 acima), a solução é óbvia: arrependimento bíblico. Neste segundo caso, encontrar soluções é mais difícil. É claro, como no caso anterior, precisamos descartar nosso ódio. Antes de mais nada, porque não é justo culpar uma raça inteira pelas atividades de alguns de seus membros, especialmente quando tais atividades foram feitas no passado, por membros de gerações anteriores.
Alguns dizem que, embora seja ilegítimo que um grupo opressor odeie ou guarde rancor contra um grupo oprimido, o contrário é legítimo. Porém, devemos rejeitar esse argumento. Se há algo errado no racismo, sexismo e similares, é que as pessoas são odiadas ou discriminadas ou julgadas, não pelo que fizeram, mas tão somente pelo fato de pertencerem a um grupo. Se esse princípio moral está correto, deve ser aplicado universalmente. É errado para qualquer grupo racial odiar outro grupo racial como um grupo, a despeito de mágoas do passado.
No entanto, como vimos antes, ódios e mágoas persistentes que remontam a muitos anos, até a séculos, provavelmente não serão superados por qualquer ação social ou política. A consideração de tais problemas insuperáveis deve nos levar a buscar ainda mais a graça divina em Cristo, pois somente ela pode produzir corações perdoadores. No final das contas, apenas o perdão de Cristo pode curar essas feridas.
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Notas:
[1] Em geral, minha opinião é que os cristãos devem se relacionar com os homossexuais como pessoas como eles mesmos, criadas à imagem de Deus e, portanto, preciosas, mas também caídas e, portanto, sob o julgamento de Deus à parte da graça de Cristo. Devemos apresentar Cristo de maneira amorosa de tal maneira que traga arrependimento de pecados sexuais e de outros pecados e que leve a um estilo de vida piedoso. Ao mesmo tempo, não devemos lutar por direitos especiais para os homossexuais. devemos ter o direito de proteger nossas crianças de influências homossexuais nas escolas e na cultura em geral.
[2] Considero ódio aqui como repulsa emocional. Reconheço que a Escritura usa tipicamente esse termo de modo diferente, para indicar oposição prática aos objetivos de outra pessoa. De acordo com essa definição, (a) o ódio não é inteiramente interior, (b) não é sempre errado, e (c) não é incomparável com o amor. Mas neste capítulo estou tentando usar o termo como é usado no debate contemporâneo.
A maioria das demais questões éticas se reduz, no final das contas, a essa. Até entre grupos, é definida em termos de "escolha". E "escolha" é defendida com base na autonomia do gênero: restringir o aborto é sexista, é a opressão das mulheres pelos homens.
A atitude do grupo opressor contra o grupo de vítimas é descrita de maneiras variadas como racista, sexista, homofóbica, preconceituosa contra idade, peso, etc. Essas atitudes são vistas como a base de todos os problemas sociais e éticos.
Questões de tal importância para as pessoas deveriam ser debatidas não apenas com sensibilidade, mas também com cuidado e precisão. Infelizmente, a maioria dos tratamentos dessas questões é sobrecarregada de ambiguidades, confusão de questões distintas e substituição de argumentação pela retórica. Há muitas coisas que podem ser classificadas como racismo, sexismo, e assim por diante. E muitas práticas são condenadas como racistas ou sexistas sem uma análise cuidadosa. Nesta seção, espero contribuir para o esclarecimento desta questão.
Escreverei primariamente sobre o racismo, embora o que digo se aplique em geral aos outros "ismos", mutatis mutandis. A questão de preferência sexual é bem distinta das demais, contudo. Na visão bíblica, o homossexualismo é um pecado, mas não é pecado pertencer a uma raça ou gênero particular ou a outro grupo. O restante deste capítulo, portanto, não se aplica, na maioria dos casos, a questões de "homofobia".¹
O que o "racismo" significa? Quais são suas manifestações? Consideremos algumas possibilidades, a partir do debate atual.
1 - O racismo em geral é equiparado ao ódio, de modo que pode ser definido como "odiar pessoas por causa de sua raça ou cor". O ódio, obviamente, é algo interior.² Devemos ser rápidos em reconhecê-los em nós mesmos e vagarosos em acusar outros de tê-lo. Infelizmente, no debate atual, o contrário é geralmente verdadeiro. As pessoas rapidamente acusam outros de ódio racial, mas nunca admitem tal ódio nelas mesmas. Essa é uma das coisas erradas no debate atual sobre raças [Para ver um exemplo no Brasil, clique aqui].
Certamente é pecaminoso e irracional odiar alguém somente por causa de sua linhagem ou da cor da sua pele. Uma pessoa não pode mudar sua linhagem, e a linhagem em si nunca fez com que uma pessoa se torne merecedora de ódio.
Não duvido que esse ódio racial irracional exista, mas suspeito que seja mais raro do que muitos escritores éticos e comentaristas de noticiário supõem. Na maioria das vezes, o que chamamos de "ódio racial" é na verdade algo mais sutil, e com uma reivindicação inicial maior à racionalidade. Exploro estas possibilidades abaixo.
2 - Uma forma distinta de "ódio racial" é odiar membros de uma raça em particular por causa de erros claros cometidos por aquele grupo racial. Isso não é ódio racial puro e simples. Aqui o ódio não é direcionado contra pessoas somente por causa de sua linhagem, mas por causa de mágoas não resolvidas. Os afrodescendentes em geral continuam a guardar rancor dos brancos por causa do histórico de escravidão e segregação [o que geralmente no Brasil é colocado somente um lado da história e, muitas vezes, de maneira distorcida, veja aqui, aqui, aqui e aqui]. Os brancos em geral guardam rancor dos negros por causa do alto índice de crimes, ilegitimidade e uso de drogas nas suas comunidades, e por causa retórica de alguns líderes negros que põem a culpa desses problemas na sociedade dos brancos. O problema nos dois lados não está na linhagem ou na cor de pele em si; o problema é de comportamento.
Com um simples ódio racial (ponto 1 acima), a solução é óbvia: arrependimento bíblico. Neste segundo caso, encontrar soluções é mais difícil. É claro, como no caso anterior, precisamos descartar nosso ódio. Antes de mais nada, porque não é justo culpar uma raça inteira pelas atividades de alguns de seus membros, especialmente quando tais atividades foram feitas no passado, por membros de gerações anteriores.
Alguns dizem que, embora seja ilegítimo que um grupo opressor odeie ou guarde rancor contra um grupo oprimido, o contrário é legítimo. Porém, devemos rejeitar esse argumento. Se há algo errado no racismo, sexismo e similares, é que as pessoas são odiadas ou discriminadas ou julgadas, não pelo que fizeram, mas tão somente pelo fato de pertencerem a um grupo. Se esse princípio moral está correto, deve ser aplicado universalmente. É errado para qualquer grupo racial odiar outro grupo racial como um grupo, a despeito de mágoas do passado.
No entanto, como vimos antes, ódios e mágoas persistentes que remontam a muitos anos, até a séculos, provavelmente não serão superados por qualquer ação social ou política. A consideração de tais problemas insuperáveis deve nos levar a buscar ainda mais a graça divina em Cristo, pois somente ela pode produzir corações perdoadores. No final das contas, apenas o perdão de Cristo pode curar essas feridas.
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Notas:
[1] Em geral, minha opinião é que os cristãos devem se relacionar com os homossexuais como pessoas como eles mesmos, criadas à imagem de Deus e, portanto, preciosas, mas também caídas e, portanto, sob o julgamento de Deus à parte da graça de Cristo. Devemos apresentar Cristo de maneira amorosa de tal maneira que traga arrependimento de pecados sexuais e de outros pecados e que leve a um estilo de vida piedoso. Ao mesmo tempo, não devemos lutar por direitos especiais para os homossexuais. devemos ter o direito de proteger nossas crianças de influências homossexuais nas escolas e na cultura em geral.
[2] Considero ódio aqui como repulsa emocional. Reconheço que a Escritura usa tipicamente esse termo de modo diferente, para indicar oposição prática aos objetivos de outra pessoa. De acordo com essa definição, (a) o ódio não é inteiramente interior, (b) não é sempre errado, e (c) não é incomparável com o amor. Mas neste capítulo estou tentando usar o termo como é usado no debate contemporâneo.
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Autor: John Frame
Fonte: A Doutrina da Vida Cristã, John Frame, págs. 634-636. Editora Cultura Cristã.
Acréscimos em [] feitos pelo editor do blog Bereianos.
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