A relação da Lei com o cristão é, até hoje, alvo de grandes debates. O cristão deve guardar a Lei? O cristão está sob a Lei? Não, mas em qual sentido? Todo? Só da maldição?
No vídeo abaixo, Mauro Meister, professor de Antigo Testamento no Andrew Jumper, fala sobre a perspectiva reformada clássica sobre a relação Lei e Graça.
Há três campos teológicos principais sobre as questões da lei, evangelho e a estruturação do relacionamento redentor de Deus com a humanidade: dispensacionalismo, teologia do pacto e teologia da nova aliança. Vale lembrar que mesmo dentro desses campos existem subdivisões e que algumas posições já não são nem mais aceitas (como o dispensacionalismo clássico – sim, tem mais de um tipo de dispensacionalismo). Se é a primeira vez que você ouve sobre esses assuntos, o conselho é que você leia e estude muito e, só depois, defenda sua posição. Não são assuntos fáceis, mais importantes. Abaixo, você pode ver um resumo dos três campos:
O texto abaixo foi retirado de: O que John Piper crê sobre dispensacionalismo, teologia do pacto e teologia da nova aliança?
Dispensacionalismo
Pode ser difícil sumarizar a teologia dispensacionalista como um todo, pois nos últimos anos têm se desenvolvido múltiplas formas da mesma. Em geral, há três distintivos principais.
Primeiro, o dispensacionalismo vê Deus como estruturando seu relacionamento com a humanidade através de vários estágios de revelação, que delimitam diferentes dispensações, ou arranjos de administração. Cada dispensação é um “teste” da humanidade para ser fiel à revelação particular dada naquele tempo. Geralmente, sete dispensações são distinguidas: inocência (antes da queda), consciência (Adão a Noé), promessa (Abraão a Moisés), Lei (Moisés a Cristo), graça (Pentecoste ao arrebatamento), e o milênio.
Segundo, o dispensacionalismo sustenta uma interpretação literal da Escritura. Isto não nega a existência de figuras de linguagem e linguagens não-literais na Bíblia, mas antes, significa que há um significado literal por detrás das passagens figuradas.
Terceiro, como resultado desta interpretação literal da Escritura, o dispensacionalismo sustenta uma distinção entre Israel (até mesmo o Israel crente) e a igreja. Nesta visão, as promessas feitas a Israel no AT não foram pretendidas como profecias sobre o que Deus faria espiritualmente para a igreja, mas seria literalmente cumprida pelo próprio Israel (principalmente no milênio). Por exemplo, a promessa da terra é interpretada como significando que um dia Deus restaurará plenamente Israel à Palestina. Em contraste, os não-dispensacionalistas tipicamente vêem a promessa da terra como pretendida por Deus para profetizar, na forma obscura do antigo pacto, a grande realidade de que ele um dia faria da igreja inteira, judeus e gentios, herdeiros de todo o mundo renovado (cf. Romanos 4:13).
Assim, em muitas formas é correto dizer que o dispensacionalismo crê em “dois povos de Deus”. Embora tanto judeus como gentios sejam salvos por Cristo através da fé, o Israel crente será o recipiente das promessas “terrenas” adicionais (tais como prosperidade na terra específica da Palestina, a ser concretizada plenamente no milênio) que não se aplicam aos gentios crentes, cuja herança primária, dessa forma, é “celestial”.
Teologia do Pacto
A teologia do pacto crê que Deus tem estruturado seu relacionamento com a humanidade por pactos, ao invés de dispensações. Por exemplo, na Escritura lemos explicitamente de vários pactos funcionando como estágios na história redentora, tais como o pacto com Abraão, a entrega da lei, o pacto com Davi, e o novo pacto. Esses pactos pós-queda não são novos testes da fidelidade do homem a cada novo estágio de revelação (como são as dispensações no dispensacionalismo); antes, são administrações diferentes do único e abrangente pacto da graça.
O pacto da graça é um dos dois pactos fundamentais na teologia do pacto. Ele estrutura o relacionamento pós-queda de Deus para com a humanidade; antes da queda, Deus estruturou seu relacionamento pelo pacto das obras. O pacto da graça é mais bem entendido na relação com o pacto das obras.
O pacto das obras, instituído no Jardim do Éden, foi a promessa de que a obediência perfeita seria recompensada com a vida eterna. Adão foi criado sem pecado, mas com a capacidade para cair no pecado. Tivesse ele permanecido fiel na hora da tentação no Jardim do Éden (o “período probatório”), ele se tornaria incapaz de pecar e teria assegurado uma eterna e inquebrável posição correta diante de Deus.
Mas Adão pecou e quebrou o pacto, e através disso, sujeitou a si mesmo e todos os seus descendentes à penalidade da quebra do pacto: a condenação. Portanto, Deus, em sua misericórdia, instituiu o “pacto da graça”, que é a promessa de redenção e vida eterna àqueles que creriam no Redentor (vindouro). O requerimento da obediência perfeita para a vida eterna não é anulada no pacto da graça; pelo contrário, ele é cumprido por Cristo em favor do seu povo, visto que agora todos são pecadores, e ninguém pode satisfazer a condição de obediência perfeita por seu próprio desempenho. O pacto da graça, então, não coloca o pacto das obras de lado; antes, ele o cumpre!
Como mencionado acima, a teologia do pacto enfatiza que há somente um pacto da graça, e que todos os vários pactos redentores sobre os quais lemos na Escritura são simplesmente administrações diferentes deste único pacto. Como prova, é apontado que um pacto é em essência simplesmente uma promessa dada soberanamente (frequentemente com estipulações), e visto que há somente uma promessa de salvação (a saber, pela graça através da fé), segue-se que há, portanto, somente um pacto da graça. Todos os pactos redentores específicos sobre os quais lemos (o Abraâmico, Mosaico, etc.) são várias e progressivas expressões do pacto da graça.
Teologia da Nova Aliança [Pacto]
A teologia da nova aliança tipicamente não sustenta um pacto das obras ou um pacto da graça abrangente (embora eles ainda argumentem em favor de um único caminho de salvação). A diferença essencial entre a Teologia da Nova Aliança (daqui em diante TNA) e a Teologia do Pacto (TP), contudo, diz respeito à Lei Mosaica. A TP sustenta que a Lei Mosaica pode ser dividida em três grupos de lei – aquelas regulando o governo de Israel (leis civis), as leis cerimoniais e as leis morais. A lei cerimonial e a civil não mais estão em vigor, pois a primeira foi cumprida por Cristo e a última aplicava-se somente à teocracia de Israel, que agora não existe mais. Mas a lei moral continua.
A TNA argumenta que ninguém pode dividir a lei dessa forma, como se parte da Lei Mosaica pudesse ter sido ab-rogada e o restante ainda permanece em vigor. A Lei Mosaica é uma unidade, dizem eles, e assim, se parte foi cancelada, tudo dela foi cancelado. Em adição, eles dizem que o Novo Testamento ensina claramente que a Lei Mosaica como um todo foi substituída em Cristo. Em outras palavras, ela não mais é nossa fonte direta e imediata de orientação. A Lei Mosaica, como uma lei, não mais é obrigatória para o crente.
Isto significa que os crentes não são mais governados por alguma lei divina? Não, pois a Lei Mosaica foi substituída pela lei de Cristo. A TNA faz uma distinção entre a lei moral eterna de Deus e o código no qual Deus expressa essa lei para nós. A Lei Mosaica é uma expressão da lei moral eterna como um código particular que também contém regulamentações positivas pertinentes ao propósito temporal particular do código, e, portanto, o cancelamento da Lei Mosaica não significa que a lei moral eterna em si foi cancelada. Antes, no cancelamento da Lei Mosaica, Deus nos deu uma expressão diferente da sua lei moral eterna – a saber, a Lei de Cristo, consistindo nas instruções morais do ensino de Cristo e do Novo Testamento. A questão chave que a TNA procura levantar é: Para onde olhamos para ver a expressão da lei moral eterna de Deus hoje – para Moisés, ou para Cristo? A TNA diz que devemos olhar para Cristo.
Há muitas similaridades entre a Lei de Cristo e a Lei Mosaica, mas isto não muda o fato de que a Lei Mosaica foi cancelada e que, portanto, não devemos olhar para ela a fim de conseguir orientação direta, mas antes para o Novo Testamento. Por exemplo, a Inglaterra e os Estados Unidos possuem leis similares (por exemplo, o assassinato é ilegal em ambos os paises). Todavia, os ingleses não estão sob as leis da América, mas da Inglaterra. Se um cidadão inglês assassina na Inglaterra, ele é culpado por quebrar uma lei da Inglaterra contra o assassinato, não uma lei Americana.
O benefício da TNA, argumentam seus defensores, é que ela soluciona a dificuldade de tentar compreender quais das leis de Moisés se aplicam hoje. Sobre o entendimento deles, visto que a Lei Mosaica não é mais uma fonte de orientação direta e imediata, devemos olhar para a Lei de Cristo a fim de obter nossa orientação direta. Embora a Lei Mosaica não seja mais um código de lei obrigatório na era do NT, ela ainda tem a autoridade, não de lei, mas de testemunho profético. Como tal, preenche e explica certos conceitos tanto na lei do antigo como do novo pacto.
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Como esse é um tema controverso, há uma grande probabilidade de debate. Isso é bom, desde que feito debaixo desta lei sob qual todos estamos: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
Fonte: Voltemos ao Evangelho
1 comentários:
Olá pessoal!
ResponderPrimeiramente parabéns pelo ótimo blog.
Por favor, quantas alianças Deus fez com seu povo?Eu ouvi alguém dizer,que os reformados admitem uma aliança, com várias administrações.. Isso procede? A bíblia fala da Nova e Eterna Aliança. Se é "nova" é porque existia uma antiga, certo?
Ferreira
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