Por: rev. Fabiano Ramos Gomes
A sacra chamada cristã abarca uma série de obrigações que envolvem tanto ministros do evangelho, quanto todos os cristãos de um modo geral. É comum no chamado cristão observamos o envolvimento da igreja em áreas das mais diversas tais como ação social, ensino, política, entre outras. Mas talvez nenhuma outra área seja mais urgente para a igreja em todos os tempos como o sacro ministério da Palavra.
Este surge com a própria essência da mensagem, ou seja, não é temporal, findando-se em alguma época específica, mas atemporal, pois é a essência do ministério da igreja. Para ser um pregador da Palavra não basta apenas portar um dom retórico ou ser versado em algumas áreas do conhecimento, dominando algum poder persuasivo sobre o público, deve este ser imensamente capacitado de uma unção espiritual, que não pode ser conseguida sem o consentimento divino. Além do quê, aquele que se põe em frente de seus pares não pode ser um neófito, mas um cristão experiente, pois estará a ensinar a sacra doutrina a aqueles que são seus irmãos. Jamais um pregador se coloca acima da congregação que pastoreia. Não é comum a aqueles que têm seu chamado posto a prova arrogar tamanha pretensão. Sei que nesses dias é comum buscar-se títulos para se alcançar primazia frente ao povo de Deus. Mas este não é o procedimento daquele que se dedica fielmente a prediga. Este deve ser sempre voluntarioso e disposto a buscar o serviço de um conservo e não de um líder que se põe acima daqueles que estão ao seu lado.
O pregador da Palavra é, portanto um servo que busca a fidelidade. Não apenas no que se refere ao texto bíblico, mas o é também na vivência da fé cristã. Deve ele fornecer não somente o ensino, mas também a prática daquilo que está ensinando. Este pregador também é alguém intimamente ligado ao cotidiano da congregação que pastoreia, ou seja, ele vive todas as demandas daqueles que o escutam diariamente. Não pode se blindar como se nada acontecesse com ele. Deve viver, razoavelmente parecido no padrão de vida do seu povo, não buscando no poder econômico, que porventura consiga, uma certa diferenciação do povo. Pois, se assim for acabará se mostrando alheio a vida do povo, sendo mais um estrangeiro em meio ao seu povo que deveria admoestar.
Quanto à ministração da mensagem, esta deve ser clara e contundente. Não pode ser rebuscada com rodeios ou com peripécias retóricas para se camuflar o real sentido da Palavra. Deve também ser imensamente compreensível, evitando-se o uso de palavras que dificultem a assimilação por parte do povo. Deve-se buscar a excelência do significado, ainda que se deva ir geralmente a recursos mais rebuscados como o uso de léxicos das línguas estrangeiras que compunham o texto sagrado. Logo, ele é alguém que faz uso de um recurso imensamente erudito, mas que também em sua exposição torna o culto algo simples e inteligível. Os requintes ou a exposição de assuntos mais elevados devem ser guardados para os meios onde tais artifícios são compreendidos, mas isso não significa que a prediga é simplória.
Várias considerações vêem a mente do pregador quando este se põe a frente da igreja, mas a principal delas é que ele é apenas um instrumento da vontade divina. Ele edificará os santos e também convencerá os pecadores. Por meio dele alguns serão chamados, grandes trevas serão dissipadas e uma nuvem de testemunhas deverá atestar seu ensino.
Lamentavelmente nos dias atuais temos visto as mais bizarras figuras que se propõe instruir o povo de Deus. É certo que boa parte deles é exatamente aquilo que os seus ouvintes gostariam que eles fossem. Estes se comportam como se fossem meros funcionários do seu auditório e não profetas. Esta característica do pregador é inerentemente algo que ninguém deveria abrir mão, a não ser que deseje ser apenas uma marionete nas mãos de homens que desejam sentir “coceiras nos ouvidos”. O pregador verdadeiro não aceita comercializar sua pregação, seu envolvimento com o que prediga é altamente recíproco. Ele está tão envolvido com a mensagem que ele mesmo se confunde com ela. Portanto, essas caricaturas de pregadores que vemos hoje não são os genuínos ministros de Deus, são de fato uma aberração, dignos representantes de uma farsa que chamam erroneamente de evangelho, só que este não é outra coisa que não uma monstruosidade corruptora.
Se desejarmos ser aceitos neste ofício precisamos primeiramente do tratamento divino. Este não é uma colônia de férias, nem tão pouco tem lugar para principiantes aventureiros. É lugar para aqueles que foram provados pelo fogo, para aqueles que subiram ao terceiro céu da sublimidade de Cristo, para aqueles que são servos e não senhores. Ao meu modo de ver existem dois tipos de pregadores, aqueles que são forjados por Deus e aqueles que são forjados pela sua congregação. Os primeiros não temem sofrer as agruras do ministério, os últimos repudiam o escárnio da função preferindo as honras dos homens no lugar da de Deus.
Logo, como pregadores somos profetas e como profetas não nos movemos por conveniências ou por ganância. Pregamos o evangelho como disse Charles H. Spurgeon, “mais claro do que nunca”, um evangelho que é escândalo para judeus e loucura para os gentios, o evangelho do poder de Deus, que é mais sábia do que a sabedoria humana. Que não depende dos artifícios intelectualizantes e retóricos, mas do Cristo crucificado. Quem tem posto a mão no arado do ministério não olha para trás, mas avança firmemente na direção de Cristo e seu total empenho, ainda que seja extenuante e exaustivo não é nada daquilo que deveria ser, mas ainda falta muito para alcançar o prêmio da soberana vocação. Pregadores do Evangelho tremam diante do Santo e busquem a fidelidade.
Sola Gratia.
Fonte: [ Evangelismo e Reforma ]
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