O que a história da igreja pode nos ensinar sobre os lobos?

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Semana passada (abr/17), Joe Carter (não o Joe Carter do beisebol) publicou um artigo perspicaz sobre o fascínio pelos lobos violadores. Isso me fez refletir sobre os falsos mestres na história da igreja.

Quando digo “falso mestre” ou “lobo” não quero dizer todos àqueles que discordam de mim num ponto de vista teológico. Como presbiteriano, penso que batistas, metodistas e pentecostais estão enganados sobre algumas questões importantes, mas desviar-se da confissão de fé de Westminster não faz de você um outro Ário ou um Pelágio. Um falso mestre ou um lobo é alguém que arrebata as ovelhas (João 10:12), afasta os discípulos do evangelho (Atos 20:28), opõe-se à verdade (2 Timóteo 3: 8) e leva as pessoas a naufragar na fé e abraçar a impiedade (1 Timóteo 1:19-20, 2 Timóteo 2:16-17).

Vários anos atrás, fiz uma série sobre heresias e hereges. O preparo das mensagens me ajudou a entender melhor a história da igreja e a articular com mais zelo a fé ortodoxa. Isso também me ajudou a perceber alguns padrões (e não-padrões) relacionados aos falsos mestres. Descobri que a história da igreja pode nos ensinar muito sobre os lobos.

1. Os lobos geralmente não sabem que são lobos.

Enquanto alguns falsos mestres seguem conhecendo hipócritas que tomam a linguagem religiosa a fim de tosquiar o rebanho, muitos erros na história da igreja têm sido promovidos por aqueles que acreditavam sinceramente que estes estavam realizando a obra de Deus. Até onde sabemos, Pelágio não foi um grande idiota. Os Donatistas eram inteiramente conscientes da fé. Não devemos pensar que os mestres lobos e os blogueiros estão tentando conduzir as ovelhas ao desvio. As pessoas podem ser inteiramente sinceras e ainda assim serem genuinamente enganadas.

2. Os lobos podem citar a Bíblia.

É difícil saber com certeza como eram os hereges antigos porque muito do que sabemos sobre eles vem do que os opositores ortodoxos escreviam contra eles. E, ainda, a julgar pelas controvérsias passadas, podemos supor que Ário conhecia sua Bíblia. Os debates trinitários e cristológicos da igreja primitiva, sem mencionar as controvérsias soteriológicas da Reforma, envolveram pessoas de ambos os lados citando as Escrituras. Isso não significa que todo o ponto de vista estava certo. Isso significa que a teologia pode vir com versículos da Bíblia e ainda estar errada.

3. Os lobos tendem a ser desequilibrados.

Desequilibrado pode não ser o termo certo. Não estou sugerindo que a verdade é sempre o significado áureo entre extremos óbvios. O que quero dizer é que os falsos mestres tendem a deixar os grandes temas das Escrituras silenciarem versos específicos. Os lobos ignoram todo o conselho de Deus. Eles gostam de pegar temas como amor, ou justiça, ou hospitalidade, ou lei, ou graça e, em seguida, aparar todas as arestas da Escritura para se adequar a um grande conceito. O problema não é alardear estas gloriosas verdades. O problema é que suas compreensões sobre a verdade ficam truncadas e a aplicação da verdade fica unidimensional. Isso muitas vezes leva à conclusões não bíblicas que acabam soando como bíblicas. Tal como: Se Deus é amor, então não podemos ter inferno ou exigências morais que fazem eu me sentir (ou a meus amigos) desconfortável ou insatisfeito. Se Jesus comeu com os pecadores, então não deveríamos estar exageradamente preocupados com o pecado. Se Deus é soberano sobre todas as coisas, então não deveríamos evangelizar. As verdades gerais pressionam as conclusões antibíblicas.

4. Os lobos são impacientes com demandas de clareza verbal.

O falso ensino cresce em ambiguidade. Ele afasta da cuidadosa atenção às palavras e definições. Os Arianos estavam dispostos a viver com imprecisão doutrinária. Foi Atanásio e o partido ortodoxo que insistiu na definição dos termos. E eles insistiam em dizer não apenas o que era certo, mas também o que era errado. Bons pastores estão dispostos a definir e delimitar. Não confie em mestres que gostam mais de atacar do que os que gostam de transparência.

5. Os lobos vêm em diferentes formas e tamanhos.

Não há uma abordagem única para a resolução de disputas teológicas. Não vamos discernir se imaginarmos que os falsos mestres são sempre fariseus ou sempre libertinos. Ou se vamos supor que são sempre muito rígidos ou muito liberais. Às vezes, a verdade também é / ou é: há apenas um Deus, a salvação é apenas pela fé, não há outro nome abaixo do céu. Mas às vezes, a verdade é ambos / e: um Deus em três pessoas, plenamente Deus e plenamente homem, soberania divina e responsabilidade humana. Às vezes, o erro ocorre porque não prestamos atenção o suficiente a uma importante questão. Outras vezes, o problema está em desperdiçar tempo em “controvérsias tolas”.

Não podemos resolver todos os nossos problemas da mesma forma. Não podemos sempre supor que a resposta mais conservadora é a melhor, ou que a resposta liberal é sempre verdade. Se nós somos flexíveis em algumas áreas, não significa que devemos ser flexíveis em todas elas. Se nós somos rígidos lá, isso não significa que precisamos ser tão rígidos com essa questão aqui. Lobos e falsos mestres não sabem como usar a sabedoria para resolver diferentes questões de diferentes maneiras.

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Autor: Rev. Kevin DeYoung
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução: Anderson Rocha
Via: NAPEC
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