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Todo escritor precisa organizar um enredo para escrever. Esse enredo pode ser apenas mental, ou pode ser escrito. O importante é manter os temas e subtemas, os questionamentos e as respostas em uma ordem lógica que leve o leitor a entender exatamente o que se deseja mostrar através da produção escrita.
Quando João escreveu seu evangelho, ele certamente tinha um enredo. Seu enredo organizava os eventos que envolviam Jesus de forma que o leitor pudesse chegar à conclusão que Ele era o Cristo. João mesmo deixou esse propósito bem claro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”[1]
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como os evangelhos sinópticos. Esses evangelhos recebem esse nome pela grande quantidade de histórias em comum, relatadas na mesma sequência e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras para contar a mesma história.
Lucas não foi testemunha ocular de nenhuma das histórias que escreveu em seu evangelho. Seu objetivo era relatar a Teófilo tudo quanto ouviu a respeito de Jesus, e seu trabalho assemelha-se a de um historiador. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.”[2]
Lucas deixa bem claro que seu objetivo era fazer um relato em ordem cronológica dos eventos, assim como muitos já haviam feito. Não acredito que João tivesse a mesma intenção ao escrever seu evangelho, e a narrativa única de seu evangelho pode ser mais uma evidência de que João não construiu seu enredo com base na ordem cronológica dos eventos, mas numa ordem teológica de argumentos.
Uma vez que o objetivo de João era levar as pessoas a crerem em Cristo através dos relatos de sinais que identificavam Jesus como o Filho de Deus, é bem provável que seu enredo ordenasse propositadamente tais eventos. É por esse motivo que o evangelho de João é tão diferente, não só na ordem cronológica, como também na própria seleção das histórias e como elas são interligadas.
Tendo dito isso, abordarei como a ordenação dos eventos no evangelho de João pode trazer luz à compreensão do versículo favorito da maioria dos ministros de música: “Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade”.[3]
João trabalha alguns temas recorrentes em seu evangelho e nas epístolas. Há fortes advertências contra os ensinos heréticos do gnosticismo e docetismo, origem dos maiores ataques contra a doutrina das igrejas em sua época. Ele relata com detalhes todos os diálogos e milagres de Cristo que mostram a sua divindade além de sua natureza humana. E ele também dá muita ênfase às mudanças que uma pessoa sofre depois da conversão. Leia sua primeira epístola e observe que esses assuntos são recorrentes; resumidamente nas epístolas, mas extensamente trabalhados em seu evangelho.
Quanto às mudanças sofridas pelas pessoas que se convertem, João sequencia duas conversas de Jesus de mesmo tema. A primeira é a conversa de Jesus com Nicodemos; a segunda, sua conversa com a mulher samaritana.
Inquestionavelmente a conversa de Jesus com Nicodemos tem ênfase na nova natureza que os filhos de Deus recebem pós-conversão, assunto que ele vem introduzindo desde a abertura de seu evangelho: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.[4] Ele passa também pelos símbolos de novo nascimento no batismo e na transformação de água em vinho até, finalmente, narrar a conversa de Jesus com Nicodemos no capítulo 3.
A parte chave da conversa com Nicodemos que nos interessa é: “Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.”[5]
Acredito que a última sentença, destacada acima em negrito, pode explicar como é possível alguém adorar a Deus em espírito.
Se João realmente estava elaborando o seu enredo privilegiando os elementos que conduzem a um pensamento ou entendimento teológico a respeito de Cristo e da nova natureza do convertido, a sequência das histórias de Nicodemos e da história da mulher samaritana é proposital. Precisamos considerar cada uma delas como parte de um todo, do entendimento que se pode ter dessas duas histórias em conjunto.
Quando a mulher samaritana questiona Jesus sobre qual seria o local correto para adorar a Deus, ele responde: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”.[6]
Em outras palavras, o que Jesus poderia estar dizendo era que não importa o lugar onde se deve adorar, o que realmente interessa é nascer de novo, pois só quem nasce de novo não é mais carne, mas espírito; somente quem nasceu de novo nasceu do espírito e poderá adorar o Pai em espírito em qualquer lugar.
Perceba a similaridade entre essas duas declarações de Jesus: 1) “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”; 2) “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Portanto, adoramos a Deus em espírito após recebermos a nova natureza espiritual na conversão e adoramos em verdade quando adoramos com sinceridade e de todo o coração.
Eu vejo a ligação entre as declarações de Jesus nas histórias de Nicodemos e da mulher samaritana como um paralelismo muito profundo e intencional da parte de João. Há uma teologia muito complexa entre essas histórias, e o que está exposto neste texto é apenas um vislumbre.
Espero que você também possa ver a importância da sua conversão, do nascer de novo, de sua nova natureza espiritual, e como ela faz toda a diferença na sua adoração a Deus!
________
Notas:
[1] João 20:30-31
[2] Lucas 1:1-4
[3] João 4:24
[4] João 1:12.
[5] João 3:6.
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Por André R. Fonseca
Todo escritor precisa organizar um enredo para escrever. Esse enredo pode ser apenas mental, ou pode ser escrito. O importante é manter os temas e subtemas, os questionamentos e as respostas em uma ordem lógica que leve o leitor a entender exatamente o que se deseja mostrar através da produção escrita.
Quando João escreveu seu evangelho, ele certamente tinha um enredo. Seu enredo organizava os eventos que envolviam Jesus de forma que o leitor pudesse chegar à conclusão que Ele era o Cristo. João mesmo deixou esse propósito bem claro: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”[1]
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são conhecidos como os evangelhos sinópticos. Esses evangelhos recebem esse nome pela grande quantidade de histórias em comum, relatadas na mesma sequência e, algumas vezes, utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras para contar a mesma história.
Lucas não foi testemunha ocular de nenhuma das histórias que escreveu em seu evangelho. Seu objetivo era relatar a Teófilo tudo quanto ouviu a respeito de Jesus, e seu trabalho assemelha-se a de um historiador. “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem. Para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.”[2]
Lucas deixa bem claro que seu objetivo era fazer um relato em ordem cronológica dos eventos, assim como muitos já haviam feito. Não acredito que João tivesse a mesma intenção ao escrever seu evangelho, e a narrativa única de seu evangelho pode ser mais uma evidência de que João não construiu seu enredo com base na ordem cronológica dos eventos, mas numa ordem teológica de argumentos.
Uma vez que o objetivo de João era levar as pessoas a crerem em Cristo através dos relatos de sinais que identificavam Jesus como o Filho de Deus, é bem provável que seu enredo ordenasse propositadamente tais eventos. É por esse motivo que o evangelho de João é tão diferente, não só na ordem cronológica, como também na própria seleção das histórias e como elas são interligadas.
Tendo dito isso, abordarei como a ordenação dos eventos no evangelho de João pode trazer luz à compreensão do versículo favorito da maioria dos ministros de música: “Deus procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade”.[3]
João trabalha alguns temas recorrentes em seu evangelho e nas epístolas. Há fortes advertências contra os ensinos heréticos do gnosticismo e docetismo, origem dos maiores ataques contra a doutrina das igrejas em sua época. Ele relata com detalhes todos os diálogos e milagres de Cristo que mostram a sua divindade além de sua natureza humana. E ele também dá muita ênfase às mudanças que uma pessoa sofre depois da conversão. Leia sua primeira epístola e observe que esses assuntos são recorrentes; resumidamente nas epístolas, mas extensamente trabalhados em seu evangelho.
Quanto às mudanças sofridas pelas pessoas que se convertem, João sequencia duas conversas de Jesus de mesmo tema. A primeira é a conversa de Jesus com Nicodemos; a segunda, sua conversa com a mulher samaritana.
Inquestionavelmente a conversa de Jesus com Nicodemos tem ênfase na nova natureza que os filhos de Deus recebem pós-conversão, assunto que ele vem introduzindo desde a abertura de seu evangelho: “Mas, a todos quantos o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus”.[4] Ele passa também pelos símbolos de novo nascimento no batismo e na transformação de água em vinho até, finalmente, narrar a conversa de Jesus com Nicodemos no capítulo 3.
A parte chave da conversa com Nicodemos que nos interessa é: “Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.”[5]
Acredito que a última sentença, destacada acima em negrito, pode explicar como é possível alguém adorar a Deus em espírito.
Se João realmente estava elaborando o seu enredo privilegiando os elementos que conduzem a um pensamento ou entendimento teológico a respeito de Cristo e da nova natureza do convertido, a sequência das histórias de Nicodemos e da história da mulher samaritana é proposital. Precisamos considerar cada uma delas como parte de um todo, do entendimento que se pode ter dessas duas histórias em conjunto.
Quando a mulher samaritana questiona Jesus sobre qual seria o local correto para adorar a Deus, ele responde: “Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”.[6]
Em outras palavras, o que Jesus poderia estar dizendo era que não importa o lugar onde se deve adorar, o que realmente interessa é nascer de novo, pois só quem nasce de novo não é mais carne, mas espírito; somente quem nasceu de novo nasceu do espírito e poderá adorar o Pai em espírito em qualquer lugar.
Perceba a similaridade entre essas duas declarações de Jesus: 1) “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”; 2) “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”
Portanto, adoramos a Deus em espírito após recebermos a nova natureza espiritual na conversão e adoramos em verdade quando adoramos com sinceridade e de todo o coração.
Eu vejo a ligação entre as declarações de Jesus nas histórias de Nicodemos e da mulher samaritana como um paralelismo muito profundo e intencional da parte de João. Há uma teologia muito complexa entre essas histórias, e o que está exposto neste texto é apenas um vislumbre.
Espero que você também possa ver a importância da sua conversão, do nascer de novo, de sua nova natureza espiritual, e como ela faz toda a diferença na sua adoração a Deus!
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Notas:
[1] João 20:30-31
[2] Lucas 1:1-4
[3] João 4:24
[4] João 1:12.
[5] João 3:6.
[6] João 4:22-23.
Fonte: Teologia et cetera
1 comentários:
ola ... ha pouco tempo vi um post onde cê coloca um comentário de ageu magalhães á homossexualidade...
ResponderAchei interessante eu refutar o post com os meus argumentos e, embora cê não seja o ageu,era muito bom que você contra-refutasse
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