O João Calvino dos calvinistas (parte 1)

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Por Rev. Misael Nascimento


Caminhamos para finalizar nossa análise do primeiro capítulo do livro Calvinismo Recalcitrante, de João Flávio Martinez. Eu já mencionei que a obra apresenta dificuldades metodológicas para conceituar o Calvinismo. Além disso, critiquei pormenores do retrato “sombrio” de João Calvino apresentado no livro. Alister McGrath sugere que “os grandes estereótipos do passado, retratando Calvino como um ditador sanguinário e o Calvinismo como um rigorismo moral sem sentido, ficaram — apesar de serem ocasionalmente ressuscitados em escritos polêmicos — para trás”.[1] Calvinismo Recalcitrante ressuscita estes estereótipos e os assume como história ou fato.

Pretendo apresentar João Calvino como este é normalmente compreendido e acolhido pelos calvinistas. A ideia inicial era fazer isso em um único post, mas não consegui finalizar nesta semana a última seção, Um João Calvino Que Nem Todos Conhecem. Se Deus permitir, farei isso na semana que vem. Ademais, nos próximos dias eu provavelmente atualizarei o presente post, especialmente enriquecendo as referências bibliográficas. Um mal-estar físico prejudicou meu ritmo de leituras e estudos.

O perigo da calvinolatria

Escrevo como cristão bíblico, repudiando toda idolatria em torno da pessoa ou obra de João Calvino. Dito de outro modo, eu não sou calvinólatra. Calvino era cheio de falhas; ele não foi um “super-herói”, mas um pecador salvo pela graça. Louvo a Deus por sua vida, ao mesmo tempo em que enxergo o perigo da calvinolatria, ou da arminiolatria ou de qualquer outra “latria” que porventura ameace a sã doutrina, culto e serviço cristãos. Quando consideramos homens ou instituições infalíveis, o ajuntamento de “crentes” deixa de ser igreja de Cristo.

Digo isso para que se saiba que o presente post é escrito com honestidade e respeito. A imparcialidade é impossível porque escrevo discordando do retrato de João Calvino fornecido por Calvinismo Recalcitrante. O texto é honesto e respeitoso porque não há, de minha parte, qualquer falsidade ou espírito beligerante. Meu intuito não é brigar, mas discordar honesta e humildemente de Martinez, sempre disposto a mudar de posição caso sejam fornecidas fontes bibliográficas confiáveis (explicarei isso na próxima seção).

Opiniões e fontes divididas

A celeuma em torno de Calvino não é recente; o organizador da Reforma em Genebra sempre foi um divisor de opiniões. Como afirma Van Halsema, desde os tempos em que ele era ainda vivo, “as pessoas ou seguiam a sua liderança com entusiasmo ou o odiavam amargamente”.[2] Só pra termos ideia do grau desta resistência:

Na sua cidade Natal de Noyon, os cônegos da catedral organizaram uma procissão pública para celebrar sua morte, quando dela ouviram um rumor falso em 1551. Mais tarde, a residência da família Calvino na praça do mercado foi incendiada pela raiva de seus inimigos. [...] Na cidade francesa de Lyons, a notícia da morte de Calvino foi dada “mais de dez vezes”, tão ansiosos estavam os seus opositores de que fosse eliminado. A Igreja de Roma o considerava como seu maior inimigo.[3]

Alguns contemporâneos de Calvino que o odiavam escreveram sobre ele. Sebastião Castellio publicou “um livro denunciando a queima de Servetus”.[4] Foi Calvino quem nomeou o jovem Castellio como diretor do ginásio de Genebra.[5] Tudo ia bem até o momento em que este último escreveu uma tradução popular do Novo Testamento e pediu a Calvino que a recomendasse. Considerando a tradução “tosca e, em alguns pontos, inexata”[6] e sem tempo para discutir com Castellio cada ponto, Calvino recusou recomendá-la. Castellio irritou-se sobremaneira.

Para Gonzalez, Calvino fez Castellio ser expulso de Genebra porque este último interpretou o Cântico dos Cânticos “como um poema de amor”.[7] O problema foi muito mais sério. Castellio assumia uma concepção heterodoxa das Escrituras, afirmando que o Cântico dos Cânticos era apenas um escrito romântico, ou seja, “não era um livro inspirado da Bíblia”.[8] Ademais, Calvino não fez Castellio ser expulso de Genebra, como sugere Gonzalez. A expulsão de Castellio foi iniciativa do Pequeno Conselho.[9]

Além da concepção errada sobre a inspiração de Cântico dos Cânticos, havia outras discordâncias doutrinárias entre Castellio e não apenas Calvino, mas a ortodoxia abraçada por Genebra (como pastor fiel, Calvino era guardião da sã doutrina nas igrejas e cidade sob sua jurisdição). Castellio repudiava parte do Credo dos Apóstolos (“desceu ao Hades”), bem como a doutrina da eleição. Calvino tolerou tais desacordos até o momento em que Castellio pediu ao Pequeno Conselho para ser ordenado ao Sagrado Ministério, alegando “que o salário de diretor era baixo demais”.[10] O Pequeno Conselho aprovou, mas o conselho da igreja, liderado por Calvino, vetou a ordenação, ao mesmo tempo em que solicitou “aos conselhos da cidade que aumentassem o salário do diretor”.[11]

Com raiva pela recusa de sua admissão ao ministério, Castellio demitiu-se da direção do ginásio. Calvino ofereceu-lhe cartas de recomendação a Viret em Lausanne. “Estou verdadeiramente preocupado com ele”, escreveu Calvino. “Ajude-o no que for possível”.[12]

Não obtendo trabalho em Lausanne ou outra cidade, Castellio voltou a Genebra.

Numa tarde de 1544, apareceu numa reunião semanal de ministros e leigos [...]. [...] levantou-se de repente e interrompeu a palestra. Os ministros de Genebra não são como Paulo, disse sarcasticamente. [...] Calvino nada respondeu. Controlando-se, fechou a Bíblia e saiu da sala.[13]

Isso provocou uma reação no Pequeno Conselho, que decidiu expulsar Castellio de Genebra. “Saiu com cartas de recomendação de Calvino e dos ministros, os quais estavam prontos a recomendá-lo como professor embora não aprovassem sua admissão ao ministério”.[14] Tempos depois Castellio escreveu condenando Calvino pela queima de Servetus.

Uma busca rápida no Google revela que Castellio é tido atualmente como “reformado liberal”, “humanista” e “erudito”. Na obra A Ficção Cética, Gustavo Bernardo menciona elogiosamente seu legado, como segue:

A intolerância da Reforma se confirma quando Calvino, o sucessor de Lutero [isso não é historicamente exato; o sucessor de Lutero é Felipe Melanchton], ajuda a condenar o trinitário Miguel Servetus à morte na fogueira como herege [Servetus não era trinitário, pelo contrário, ele era antitrinitário]. O único defensor de Servetus entre os protestantes, o erudito Sebastião Castellio de Basileia, argumentou contra a condenação atacando a pretensão à certeza dos calvinistas. Em seu De Haereticis, escrito em 1554, Castellio mantinha, com base na obscuridade das Escrituras e no constante desacordo em torno delas, que ninguém pode estar tão certo da verdade em questões religiosas de modo que se justifique queimar alguém por isso.[15]

Eis Castellio, um ferrenho opositor contemporâneo de Calvino. Qualquer historiador que consultar suas obras obterá um retrato muito negativo do reformador de Genebra.

Um segundo opositor foi Jerome Bolsec, mencionado na longa citação de Dave Hunt, em Calvinismo Recalcitrante.[16] Hunt nos informa que Bolsec “ousou discordar [da] doutrina da predestinação de João Calvino. Ele [...] foi preso e banido de Genebra com a advertência [de] que se ele retornasse seria açoitado”.[17] Hunt é mais exato do que Suffert, que sugere o seguinte dado falso: “Bolsec, um ex-carmelita que recusa a doutrina de Calvino sobre a predestinação, é queimado em 1553”.[18]

O ataque da Bolsec à doutrina da predestinação é destituído de qualquer originalidade.

Transformais Deus num tirano. E se Deus decidiu tudo desde o princípio, ele mesmo é responsável pelo pecado. Esse Calvino, que vos ensinais tais coisas, é um impostor. Sois loucos se seguis sua liderança.[19]

Calvino refutou Bolsec e o Pequeno Conselho decidiu expulsá-lo de Genebra. Bolsec assumiu seu lugar na fila dos inimigos mortais de Calvino. Como nos informa Van Halsema:

Na sua velhice, e com o seu ligeiro contato com Calvino, Bolsec produziu um livro sobre a vida do reformador de Genebra. De todos os livros escritos pelos inimigos de Calvino, este é provavelmente o que está mais cheio de mentiras maliciosas, acusações e invencionices.[20]

De acordo com McGrath:

Calvino, de acordo com Bolsec, era irremediavelmente aborrecido, malicioso, violento e frustrado. Ele considerava suas próprias palavras como se fosse palavra de Deus e se permitia ser adorado como Deus. Além de, frequentemente, ser vítima de suas tendências homossexuais, ele tinha o hábito de flertar com qualquer mulher que se aproximasse dele. De acordo com Bolsec, Calvino abriu mão de seus benefícios, em Noyon, em razão de terem vindo a público suas atividades homossexuais. A biografia de Bolsec é uma leitura muito mais interessante do que as de Teodoro de Beza ou de Nicolas Colladon; no entanto, sua obra se baseia, predominantemente, em relatos orais, anônimos e inconsistentes, provenientes de “pessoas dignas de confiança” (personnes digne de foy), que pesquisas mais recentes consideraram de valor questionável. A despeito desse fato, a reconstituição de Calvino, traçada por Bolsec, tem influenciado muitas outras descrições, bastante desfavoráveis, a respeito da vida e das ações do Reformador, que apresentam uma linha divisória, cada vez mais nebulosa, entre fatos e ficção.[21]

McGrath menciona também Stephan Zweig, o escritor austríaco que morreu no Brasil, em 1942, e que descreveu Calvino — provavelmente em Castellio ou Contra Calvino: Uma Consciência Contra a Violência (1936) — como “o grande ditador de Genebra, [...] governando aquela cidade desafortunadamente com mãos de ferro”.[22] McGrath entende que a obra de Zweig:

[...] deve ser julgada pela ampla falta de qualquer fundamento histórico substancial como sendo, de modo geral, inconsistente com fortes evidências históricas e baseada em um entendimento inadequado a respeito das estruturas de poder e dos procedimentos de tomada de decisão operantes em Genebra.[23]

Deve ser ressaltado que exatamente Stephan Zweig, desconstruído por McGrath, é usado como fonte de pelo menos parte da citação de Dave Hunt, em Calvinismo Recalcitrante.[24]

Outro livro recente explica a Reforma em Genebra em uma seção intitulada A Reforma Pela Marreta,[25] ou seja, não faltam detratores da pessoa e obra de João Calvino em Genebra. Uma pesquisa nos escritos acerca de Calvino, do 16º século até agora, revelará opiniões e fontes divididas.

Isso significa que o leitor ou pesquisador tem de decidir: Qual fonte é confiável? Qual conjunto de dados ou informações — e qual leitura ou interpretação destes dados — corresponde aos fatos? Os favoráveis a Calvino sublinham que os escritos contrários (contemporâneos de Calvino) foram produzidos por pessoas que discordavam do seu ensino ou gestão em Genebra, especialmente que sentiram-se diminuídas, limitadas ou prejudicadas por ele. De modo geral, os calvinistas assumem como confiáveis os escritos doutrinários, os comentários bíblicos, os registros das atas dos conselhos de Genebra e as correspondências de Calvino. Também é tida como acreditável a biografia de Beza, sucessor de Calvino na liderança da igreja genebrina.

Não gostarão de Calvino aqueles que lerem sobre ele com os óculos do presente século. Especialmente no Brasil dominado pela cultura inclusiva, esquerdista-materialista e afetada pelo conceito “politicamente correto”. As ideias ou possibilidades de exclusão, de aplicação de disciplina social com base em convicções religiosas sobre uma minoria (rotulada pelos “detentores da autoridade religiosa” como “hereges”) são inconcebíveis no ideário compartilhado ocidental deste século. Basta folhear os escritos atuais para constatar que teólogos irenistas, tais como Erasmus de Roterdã — que abraçou o protestantismo, depois retornou à Igreja de Roma e era absolutamente contra qualquer uso de violência — são elogiados e academicamente recomendados.

Também não gostarão de Calvino os articuladores da supremacia da vontade humana, e aqui eu não me refiro estrita e necessariamente aos arminianos, pois conheço arminianos que ressaltam a soberania divina e respeitam João Calvino, considerando-o um homem de Deus, apesar de discordar dele em alguns pontos de doutrina. É o caso de Roger Olson, que apesar de refutar o Calvinismo[26] oferece também uma reconstituição séria e confiável da vida e ideias do reformador de Genebra.[27]

A estrutura de poder em Genebra

Calvino detinha poder absoluto sobre Genebra? Cabe a ele a designação de “déspota” ou “ditador” tanto da igreja quanto da cidade? McGrath nos informa com acerto:

A frase “A Genebra de Calvino” é carregada de implicações potencialmente enganosas, resultando, talvez, em interpretações incorretas acerca do status e do âmbito de liberdade de ação de que Calvino gozava em Genebra”.[28]

A “Genebra de Calvino” era regida por três conselhos. O primeiro, o Pequeno Conselho, era composto por vinte e cinco homens, dentre eles, “quatro síndicos, os mais importantes oficiais da cidade, porquanto eleitos pelo povo”[29] (tabela 01).

Tabela 01. O Pequeno Conselho

          • Principal instância de governo | 25 integrantes
          • 4 integrantes eleitos pelo povo — os síndicos, o tesoureiro da cidade
          • 20 integrantes eleitos pelo Conselho dos Duzentos

O segundo conselho era o Conselho dos Duzentos, eleito pelo Pequeno Conselho (tabela 02).[30]

Tabela 02. O Conselho dos Duzentos

          • Segunda instância de governo
          • Homens eleitos pelo Pequeno Conselho

O terceiro conselho “era o Conselho Geral, ao qual pertenciam todos os homens de Genebra. Este era convocado somente para assuntos de suma importância”[31] (tabela 03).

Tabela 03. O Conselho Geral

          • Terceira instância de governo
          • Todos os homens (cidadãos) de Genebra


Hunt, citado por Martinez, menciona Zweig, sugerindo que quase todo dia, antes de tomar uma decisão, o “Conselho da Cidade” consultava Calvino.[32] Isso é admissível se considerarmos a época de 1556 a 1564, mas em suas primeiras quase duas décadas em Genebra, Calvino sofreu contestação e até humilhação por parte dos Conselhos, nos quais constavam seus grandes opositores, denominados Libertinos.[33] Quando John Knox chegou a Genebra a fase mais difícil havia passado. Sua declaração, de que “existe aqui a mais perfeita escola de Cristo desde os dias dos apóstolos”,[34] só pode ser entendida no contexto de uma Genebra pacificada e reformada.

Mesmo depois de consolidada a Reforma, e por conseguinte, a influência de Calvino, este não agia como um “ditador”. Suas ideias tinham de ser aprovadas primeiramente pelo Conselho de Ministros, depois, pelos outros Conselhos genebrinos. Só pra exemplificar, a Academia de Genebra, “o sonho de Calvino”, só foi estabelecida em junho de 1550, dezoito anos depois do início da segunda fase de seu ministério.[35] O livro de cânticos da igreja, o Saltério de Genebra, só foi publicado em 1562, depois de vinte e um anos de ministério![36] Algumas propostas de Calvino eram acolhidas e acatadas. Outras não. Trocando em miúdos, ele trabalhou sob a autoridade de outros pastores e membros dos Conselhos de Genebra. Destarte, algumas coisas que são atribuídas a Calvino não ocorrem apenas por causa dele, de fato, em determinadas situações, ocorreram a despeito dele.

Outro detalhe a considerar é o ethos que conduz as cidades e reinos a aplicar a pena de morte no 16º século. Suffert explica que “em Genebra, condena-se à morte por motivo religioso”[37] — uma declaração anacrônica por desconsiderar o contexto histórico e cultural de Calvino. A pena de morte por questão religiosa era prática comum não apenas em Genebra, mas virtualmente em todas as culturas desde a antiguidade até a aurora renascentista. Politicamente, não havia nítida distinção entre Religião e Estado. A Europa Cristã (incluindo Genebra) abraçava e submetia-se ao “Codex de Justiniano, o livro legal padrão ainda seguido no Santo Império Romano”.[38] Apenas pra exemplificar, de acordo com o Codex, “pelo crime de negar a Trindade [...] a penalidade é a morte”.[39]

Quem não reconhece tais coisas extrapola os limites de poder de Calvino em Genebra e atribui a ele uma vileza injustificada. A compreensão adequada do ethos daquela época nos ajuda a compreender melhor muitas coisas, inclusive a execução de Servetus.

O episódio de Miguel Servetus

Olhemos mais de perto para a execução de Miguel Servetus, explicada laconicamente por Suffert, como segue:

Era um médico espanhol que residia em Lyon e negava a Trindade e a divindade de Cristo. Ele é denunciado, por intermédio de Calvino, à Inquisição católica de Lyon. Tratava-se de um sábio — sem dúvida, foi ele quem descobriu a circulação do sangue. Servet — que se correspondia há muitos anos com Calvino — fugiu de Lyon para Genebra. Reconhecido, ele é preso enquanto assiste a um sermão de Calvino. Este organiza o processo de seu amigo, manda condená-lo e queimá-lo em 1553.[40]

Servetus foi queimado na colina Champel com quarenta e dois anos de idade, em 27 de outubro de 1553, acorrentado a uma estaca e com um livro amarrado debaixo do braço.[41] Os calvinistas não celebram sua morte. Como registra Van Halsema:

Hoje existe uma pedra no lugar onde Servetus morreu. [...] Há uma inscrição francesa na pedra: “Como filhos reverentes e agradecidos de Calvino, nosso grande Reformador, repudiando seu erro, que foi o erro da sua época, e, de acordo com os verdadeiros princípios da Reforma e do Evangelho, apegando-nos à liberdade de consciência, erigimos este monumento de reconciliação neste 27º dia de outubro de 1903”. 
Olhando para trás, [...] lamenta-se que Calvino, na maneira de tratar Servetus, tenha agido como outros homens de seu tempo. Lamenta-se, especialmente, porquanto nos seus escritos e nos seus atos Calvino estava muito além da sua época, apontando o caminho para a tolerância e a liberdade, a separação entre a igreja e o estado, ao direito de cada homem crer em Deus conforme a sua consciência.
O milagre consiste em que Deus tenha usado um servo pecador como João Calvino de maneira tão poderosa para edificar sua igreja e influenciar seu mundo.[42]

E como Calvino agiu? Tentarei responder retornando à citação de Suffert que sugere um Calvino maligno, um “amigo” que se corresponde por muitos anos com Servetus e, no fim das contas, o trai e mata.[43]

Não é bem assim.

Desde os dezoito anos de idade, Miguel Servetus declara sua descrença na doutrina da Trindade. Para ele Jesus não é divino e o Espírito Santo não é um ser distinto. Seu primeiro livro com tais ideias é publicado quando ele tem apenas vinte anos de idade e é rejeitado tanto pelos líderes protestantes (os conselhos de Estrasburgo e Basel, bem como Lutero, Melanchton, Bucer, Bullinger e Zwinglio) quanto pelo Supremo Conselho da Inquisição Espanhola.[44]

Servetus altera seu nome para Michel de Villeneuve e dedica-se a muitas coisas. Aos vinte e dois anos de idade, marca um encontro com João Calvino em Paris, mas não comparece.[45] Naquela cidade ele edita “uma geografia do mundo”, estuda medicina (descobrindo como “o sangue circula nos pulmões”) e dá palestras “sobre geografia e astrologia”, aventurando-se “a prognosticar pelas estrelas” o que acontecerá “a homens e nações”. É julgado pelo parlamento francês por insolência a um professor. Consegue escapar e muda-se para Vienne, onde vive doze anos pacíficos, editando livros, praticando medicina, conquistando a amizade do arcebispo e fazendo-se de católico fiel a Roma.[46] Ali ele se dedica a outro livro que intitula As Restitutas, que considera uma “restauração” ou “resgate” do Cristianismo primitivo e puro.[47]

Assim que completa trinta e cinco anos (em 1546 e 1547) Servetus escreve a Calvino, que lhe responde com cortesia e envia-lhe “uma cópia de suas Institutas”. Servetus devolve a cópia “com anotações insultantes” e prossegue remetendo mais cartas longas, tratando Calvino com “condescendência e aspereza”. Considerando perda de tempo debater com ele, Calvino deixa de responder-lhe. Observe-se que Calvino, “apesar de saber a identidade real de Servetus, não tomou nenhuma providência para revelá-la às autoridades católico-romanas em Vienne”.[48]

Seis anos depois, as Restitutas são publicadas. “No lugar de seu nome Servetus usou somente as iniciais M. S. V. (Miguel Servetus Villeneuve) na página titular. Mas incluiu as trinta cartas a Calvino no apêndice do livro”.[49]

Na cidade vizinha, Lyon, cinco pastores protestantes são presos. Depois de um ano, em maio de 1553, eles são “acorrentados em grupo e queimados vivos”.[50] A situação provoca indignação nos protestantes. Entre a prisão e execução destes pastores, um morador de Genebra escreve a um primo que mora em Lyon, criticando-lhes porque estão maltratando verdadeiros servos de Deus, ao mesmo tempo em que suportam, próximo a eles, um “herege [...] que blasfema contra a Trindade e que acaba de escrever um novo livro cheio de heresias. [...] O herege de quem falo é Servetus, o espanhol, conhecido em Vienne como Miguel de Villeneuve”. Para comprovar, o protestante envia ao primo católico “as quatro primeiras páginas” do livro de Servetus.[51]

O primo católico-romano de Lyon foi logo às autoridades eclesiásticas com a notícia. Convocaram Servetus, o qual jurou por tudo que era somente Miguel de Villeneuve, um fidelíssimo seguidor de Roma. As autoridades precisavam de mais provas. Pediram ao primo católico-romano que escrevesse a Genebra solicitando-as.[52]

Este primo protestante é amigo de Calvino e pede que este lhe forneça algumas cartas de Servetus. Estas são enviadas ao primo católico-romano com uma observação: “Mas preciso dizer-lhe que não foi pouca a dificuldade em receber de Calvino o que lhe estou remetendo”.[53] Como prossegue Van Halsema:

Será que Calvino sabia que as cartas originais de Servetus seriam entregues às autoridades para serem usadas para Servetus? O próprio Calvino negou mais tarde que tivesse participado na entrega de Servetus à Igreja de Roma, e não temos motivo para duvidar da sua palavra. Mas as cartas, afinal de contas, tornaram-se as provas finais contundentes contra Servetus, não importando os motivos por que foram remetidas. Não adiantaram os esforços de Servetus para eximir-se da culpa. As provas estavam ali. Foi colocado na prisão em abril de 1553 para aguardar sentença.[54]

A prisão de Vienne não o segura. Servetus foge. As autoridades, indignadas, queimam solenemente uma efígie cheia de palha, representando-o.[55] Quatro meses depois, ei-lo em Genebra, hospedando-se na Estalagem da Rosa Dourada e encomendando “um barco para atravessar o lago em direção a Zurique”.[56]

No domingo seguinte, 13 de agosto, ele comparece a um culto. Alguém o reconhece e comunica Calvino, que pede aos conselhos que o prendam. Eis o que consta nas atas:

Miguel Servetus foi reconhecido por alguns irmãos, e parecia conveniente fazer dele um prisioneiro para que o mundo não mais fosse infectado pelas suas heresias e blasfêmias, porquanto é conhecido como incorrigível.[57]

Inicia-se um julgamento de dois meses e meio. Calvino escreve um documento com trinta e nove acusações e confronta Servetus face a face. É então que os Libertinos dos Conselhos — incluindo Ami Perrin, presidente do Pequeno Conselho — demonstram apoio a Servetus. Este percebe a oposição crescente a Calvino e o trata com insolência e desprezo,[58] chamando-o de “criminoso, assassino, desgraçado, mentiroso, anão ridículo, [...] acha que tem a capacidade de ensurdecer os ouvidos dos juízes com o seu latido de cão?”[59]

Calvino prossegue com sua argumentação — muitas vezes raivosa e áspera — consolidando doutrinariamente suas trinta e nove acusações e finalizando com a exigência de punição de Servetus, nos termos do Codex de Justiniano.[60]

A partir de então, a sentença tem de ser proferida pelo Pequeno Conselho que, como dissemos é presidido por um opositor de Calvino favorável a Servetus. Como afirma Van Halsema, “nunca foi tão pouca a influência de Calvino sobre o Conselho como nos meses em que Servetus esteve na prisão”.[61] De fato, paralelamente ao problema de Servetus ocorre uma celeuma em torno da excomunhão de Berthelier, o líder Libertino. O Pequeno Conselho assume o poder da igreja e, à revelia do Conselho de Ministros e desafio a Calvino, restaura Berthelier e o autoriza a participar da Santa Ceia.[62] O protesto de Calvino é veemente, mas rejeitado pelo presidente do Pequeno Conselho. No sábado anterior à Ceia ele diz aos vinte e cinco homens: “Assevero que prefiro morrer do que ver desonrada a Ceia do Senhor [...]. Preferia estar morto cem vezes do que cometer tão terrível escárnio contra Cristo”. No domingo seguinte, orientado pelo Pequeno Conselho, Berthelier não comparece ao culto de Ceia.[63]

Tudo disso deixa Servetus altivo e bem-humorado.

A sua ousadia chegara ao ponto de escrever ao Pequeno Conselho: “Portanto, meus senhores, exijo que o meu falso acusador seja punido, [...] que sua propriedade me seja outorgada em recompensa pela minha [...] e que seja ele conservado prisioneiro assim como eu até que o julgamento seja decidido pela sua morte ou por qualquer outra punição”. É interessante que mesmo Servetus esperava que o veredito do julgamento fosse a morte, mas não esperava que seria ele quem iria morrer.[64]

Ocorre um fato novo que muda tudo. Ao invés de proferir imediatamente sua sentença, o Pequeno Conselho decide consultar “igrejas e conselhos de representantes de quatro cidades suíças. [...] Apoiados por uma provável repetição de respostas moderadas, o Pequeno Conselho poderia então libertar Servetus”.[65]

[...] as respostas de Zurich, Bern, Basel e Schaffhausen foram surpreendentes — um abalo, mesmo, para o Libertinos. [...] Cada conselho e cada igreja denunciou Servetus, afirmando que as suas blasfêmias precisavam ser cortadas antes que pudessem prejudicar ainda mais a igreja de Cristo. Em nossa cidade, disse Bern, a penalidade seria a morte pelo fogo.[66]

Ami Perrin tergiversou, protelou a decisão e tentou passá-la ao Conselho dos Duzentos, onde haviam mais opositores de Calvino, mas o Pequeno Conselho entendeu que deveria proferir a sentença, condenando Servetus à morte pela fogueira.

Foi um veredito unânime porquanto até os Libertinos perceberam que não poderiam ignorar as opiniões de quatro influentes cidades. Calvino ouviu a sentença e imediatamente pediu ao Conselho que substituísse a estaca pela espada, porquanto a decapitação era mais misericordiosa do que a queima na estaca. Mas o Pequeno Conselho, rápido para recusá-lo, recusou-lhe esse pedido também.[67]

É interessante um registro deste incidente por Van Halsema:

Calvino foi visitá-lo. Servetus pediu-lhe perdão. Calvino respondeu [...]: “Creia-me, jamais tive a intenção de processá-lo por causa de alguma ofensa pessoal contra mim. Há dezenove anos, colocando em perigo a minha vida, quis encontrar-me com você em Paris para ganhá-lo para o nosso Senhor. E depois, quando você vivia como um fugitivo, quis novamente mostrar-lhe o caminho certo pelas minhas cartas até que você começou a odiar-me por causa de minha firmeza [...] Mas [...] peça perdão ao Deus perene que você blasfemou [...]. Seja reconciliado ao Filho de Deus [...] ao Salvador”.[68]

Farel também foi a Genebra e visitou Servetus, mas este permaneceu irredutível — apegado às suas crenças até o fim.[69]

Calvino foi responsável pela morte de Servetus? Do ponto de vista jurídico, a execução decorreu de uma deliberação do Pequeno Conselho influenciado pelos conselhos da regiões protestantes da Suíça. Na ocasião, o Pequeno Conselho não estava sob a influência de Calvino, pelo contrário, era-lhe oposto. No entanto, como afirma Van Halsema:

Calvino havia participado da morte de Servetus. Tinha pedido aos Conselhos que prendessem o espanhol. Tinha feito acusações contra ele. Tinha debatido perante o Pequeno Conselho para provar que as heresias deste homem estavam ameaçando a igreja de Cristo. E apesar de Calvino não ter participado na sentença, ele a aprovou, embora não pelo fogo.[70]

A fim de não incorrermos em anacronismo, entendamos que:

Outros líderes protestantes estavam a favor da pena de morte. O brando Melanchton, sempre inclinado à paz e à transigência, escreveu a Calvino: “A igreja de Cristo ficar-lhe-á grata. [...] O seu governo, de acordo com todas as leis, providenciou a morte desse blasfemo”. A época era de estacas, [...] quando os homens ainda acreditavam ser do seu dever julgar as crenças que outros tinham de Deus.[71]

Isso não confere a Calvino inocência, mas nos ajuda a compreendê-lo em seu contexto. O triste fato é que “a partir de então esse incidente se tornou o símbolo do dogmatismo rígido que reinava na Genebra de Calvino. E não há dúvida de que há muito de verdade nisso”.[72] Gonzalez prossegue afirmando que:

Em todo caso, depois da execução de Servetus, a autoridade de Calvino em Genebra não teve rival, sobretudo porque os teólogos de todas as demais regiões da Suíça protestante lhe tinham dado apoio, ao mesmo tempo em que seus opositores se colocaram na difícil situação de defender um herege condenado tanto pelos católicos como pelos protestantes da Suíça.[73]

O que se enxerga no episódio de Servetus? Os detratores de Calvino encontram um monstro. Os calvinistas encontram um homem que, como Moisés ou Davi, a despeito de seus pecados, não deixa de ser homem de Deus.

Notas biográficas e legado de João Calvino

Não pretendo alongar sobremaneira esta postagem. Eu imagino que somente uma minoria conspícua se dispõe a ler meus posts do início ao fim. Sendo assim, não é meu propósito (muito menos tenho capacidade para) fornecer uma biografia de João Calvino. Martinez já nos brinda com um resumo útil ao citar o texto sobre o reformador publicado no web site do Instituto Presbiteriano Mackenzie.[74] Ademais, os leitores interessados em mais informações serão beneficiados compulsando os livros e links mencionados nas notas deste post.

Cinco fases da vida de Calvino

Basicamente, a vida de Calvino pode ser dividida em cinco fases (tabela 04), sendo a primeira, sua infância e pré-adolescência, de 1509 a 1523, quando obteve status de menino clérigo de Noyon e destacou-se pela inteligência privilegiada, obediência aos pais, hábitos disciplinados e ares de aristocrata (devido ao convívio com amigos nobres).[75]

A fase seguinte é a de João Calvino antes de Genebra, de 1523 a 1536, abarcando sua mudança para Paris, sua iniciativa como escritor humanista, sua conversão, sua fuga de Paris, viagens sob perseguição, publicação da primeira edição das Institutas e primeiras experiências de pregação, ensino e serviço aos cristãos protestantes de fala francesa.[76]

A terceira fase remete ao primeiro tempo de Calvino em Genebra, de 1536 a 1538. Esta fase começa como uma tempestade (com o apelo dramático de Farel para que Calvino permaneça em Genebra) carregada de promessas e termina como um terremoto (a trágica expulsão de Calvino e seus amigos). Calvino é recebido festivamente e a cidade assume compromissos de Reforma, mas não deseja, de fato, implementá-las. No fim, Calvino, Farel e o cego Corault são escoltados para fora de Genebra, em 25 de abril de 1538.[77]

Segue-se a quarta fase da vida de Calvino, seu abençoado exílio em Estrasburgo, de 1538 a 1541. Ali ele amadurece teologicamente e na prática pastoral e se casa com Idelette de Bure. Ele não tem planos de sair da cidade, até ser novamente convocado a Genebra.[78] É quando inicia a quinta e última fase, que corresponde ao seu estabelecimento definitivo em Genebra, de 1541 até sua morte, em 1564. Esta fase pode ser subdividida em duas, um difícil período de consolidação (os primeiros quinze anos, de 1541 a 1556) e o ponto alto da reforma em Genebra, de 1556 a 1564.[79]

Tabela 04. Cinco fases da vida de João Calvino


Prosseguiremos no próximo post, quando aprenderemos sobre Um João Calvino Que Nem Todos Conhecem. Até lá. Fiquem na paz do Senhor.
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Notas:
[1] MCGRATH, Alister. A Vida de João Calvino. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 13.
[2] VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino Era Assim. São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968, p. 148. Enquanto eu preparava este post, descobri com alegria que há uma nova edição em português. Os dados atualizados são VAN HALSEMA, Thea B. João Calvino Era Assim. São Paulo: Editora Os Puritanos, [201-?]. Disponível em:<http://loja.livrariareformada.com.br/puritanos/joao-calvino-era-assim.html> Acesso em: 25 Set. 2014. As citações deste post correspondem à edição de 1968.
[3] VAN HALSEMA, op. cit., loc. cit. Grifo nosso.
[4] Ibid., p. 165.
[5] Ibid., p. 163.
[6] Ibid., p. 164.
[7] GONZALEZ, Justo L. E Até Os Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 116. v. 6.
[8] VAN HALSEMA, op. cit., loc. cit.
[9] Ibid., p. 165.
[10] Ibid., p. 164. Grifo nosso.
[11] Ibid., loc. cit.
[12] Ibid., loc. cit.
[13] Ibid., p. 164-165.
[14] Ibid., p. 165.
[15] GUSTAVO, Bernardo. A Ficção Cética. São Paulo: Editora Annablume, 2004, p. 146. Grifos nossos.
[16] HUNT, Dave. O Lado B do Calvinismo em Genebra. In: Instituto Teológico Gamaliel: Onde Cada Aluno é um Discípulo e Cada Discípulo é um Irmão. Disponível em:
<http://www.institutogamaliel.com/portaldateologia/o-lado-b-do-calvinismo-em-genebra/teologiaAcesso em: 18 Set. 2014, apud MARTINEZ, op. cit., p. 23-28. Endereçamento de fonte corrigido.
[17] HUNT, apud MARTINEZ, op. cit., p. 26.
[18] SUFFERT, Georges. Tu És Pedro: Santos, Papas, Profetas, Mártires, Guerreiros, Bandidos: A História dos Primeiros 20 Séculos da Igreja Fundada Por Jesus Cristo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 268.
[19] VAN HALSEMA, op. cit., p. 173.
[20] Ibid., p. 174. O título do livro é Histoire de La Vie, des Moeurs … De Jean Calvin, publicado em Lyon e Paris em 1577. A obra teve edições em Latim (1580) e alemão (1581).
[21] MCGRATH, op. cit., p. 33-34.
[22] Ibid., p. 13.
[23] Ibid., p. 13-14. Grifos nossos.
[24] HUNT, apud MARTINEZ, op. cit., p. 25.
[25] FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe; WILSON, Derek. Reforma: O Cristianismo e o Mundo 1500-2000. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 144-147.
[26] OLSON, Roger. Contra o Calvinismo. São Paulo: Editora Reflexão, 2013; OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. São Paulo: Editora Reflexão, 2013.
[27] OLSON, Roger. História da Teologia Cristã: 2000 Anos de Tradição e Reformas. São Paulo: Vida, 2001, p. 407-423.
[28] MCGRATH, op. cit., p. 13.
[29] VAN HALSEMA, op. cit., p. 79.
[30] Ibid., loc. cit.
[31] Ibid., loc. cit.
[32] HUNT, apud MARTINEZ, op. cit., p. 25.
[33] VAN HALSEMA, op. cit., p. 163-190.
[34] Ibid., p. 191.
[35] Ibid., p. 193-197.
[36] Ibid., p. 193.
[37] SUFFERT, op. cit., loc. cit.
[38] VAN HALSEMA, op. cit., p. 183.
[39] Ibid., loc. cit.
[40] SUFFERT, op. cit., loc. cit.
[41] VAN HALSEMA, op. cit., p. 188.
[42] Ibid., p. 189.
[43] SUFFERT, op. cit., loc. cit.
[44] VAN HALSEMA, op. cit., p. 176-177.
[45] Ibid., p. 177.
[46] Ibid., loc. cit.
[47] Ibid., p. 177-178.
[48] Ibid., p. 178.
[49] Ibid., loc. cit.
[50] Ibid., p. 178-179.
[51] Ibid., p. 179.
[52] Ibid., loc. cit.
[53] Ibid., p. 180.
[54] Ibid., loc. cit.
[55] Ibid., p. 180-181.
[56] Ibid., p. 181.
[57] Ibid., loc. cit.
[58] Ibid., p. 182.
[59] Ibid., p. 183.
[60] Ibid., loc. cit.
[61] Ibidem.
[62] Ibidem.
[63] Ibid., p. 185.
[64] Ibid., p. 186.
[65] Ibid., p. 187.
[66] Ibid., loc. cit.
[67] Ibidem. Os mesmos fatos são mencionados, com menos detalhes, por GONZALEZ, op. cit., p. 116.
[68] Ibid., p. 188.
[69] Ibid., loc. cit.
[70] Ibidem.
[71] Ibid., p. 189.
[72] GONZALEZ, op. cit., loc. cit.
[73] Ibid., p. 117.
[74] MATOS, Alderi Souza de. João Calvino: Síntese Biográfica. Disponível em:<http://www.mackenzie.com.br/7034.html>. Acesso em: 25 Set. 2014, apud MARTINEZ, op. cit., p. 20. Endereçamento de fonte corrigido.
[75] Os detalhes desta fase podem ser obtidos em VAN HASELMA, op. cit., p. 10-14.
[76] Rápidos detalhes extraídos de ibid., p. 14-70: Formação em Paris, Orleans (conversão?) e Bourges. Novas amizades. Publicação de comentário sobre Sêneca. Fuga de Paris. Noyon, Angoulême e Nérac. Retorno a Noyon; em 21 de maio de 1534, abriu mão de seu benefício clerical. Reuniões secretas em Paris, visita à região dos urzais, próxima a Poitiers. Fuga para Angoulême e Orleans, viagem sob perseguição até a fronteira germânica. Desejo de ir até Estrasburgo. Estabelecimento em Basel. Primeira edição das Institutas com carta a Francisco I e viagem frustrante à Itália. Retorno a Paris nos seis meses de isenção aos protestantes, em 1536. Decisão para ir a Estrasburgo. Retorno passando por Genebra.
[77] Rápidos detalhes extraídos de ibid., p. 70-93: Apelo de Farel. Aulas em Saint Pierre. Versão francesa das Institutas. Debate em Lausanne. Confissão de Fé. Pedido de quatro reformas ao Pequeno Conselho: (a) Celebração contínua da Ceia do Senhor e liberdade para a igreja aplicar a excomunhão (não é bem recebida pelo Conselho); (b) Estudo e atualização das leis matrimoniais de acordo com a Palavra de Deus; (c) Instrução das crianças utilizando-se um catecismo; (d) Que os Salmos sejam cantados na igreja. Debate com os anabatistas (Caroli). Imposição dos ritos de Bern, eliminados antes por Farel. O Pequeno Conselho e a população fazem oposição a Calvino, Farel e ao cego Corault. Estes se recusam a celebrar a Ceia do Senhor no culto de Páscoa. Na Igreja de Rive, homens desembainham espadas durante a pregação de Calvino. Os síndicos reúnem-se após o culto da noite e o Conselho dos Duzentos na manhã de segunda-feira. Decisão: Calvino, Farel e Corault devem ser imediatamente expulsos de Genebra.
[78] Rápidos detalhes extraídos de ibid., p. 94-125: Calvino, Farel e Corault são ouvidos no sínodo em Zurich. Aceitam os ritos de Bern, mas sugerem uma separação da igreja (questões litúrgicas e poder de excomunhão pertencem à primeira e não ao segundo). Genebra insiste em não recebê-los de volta. Viagem até Basel. Farel vai pastorear em Neuchâtel. Calvino segue até Estrasburgo, retorna para Basel e daí, novamente para Estrasburgo. Em 8 de setembro de 1538, prega como pastor dos refugiados franceses. Torna-se amigo e é mentoreado por Martin Bucer. Amadurece teologicamente e na prática pastoral. Casa-se com Idelette de Bure. Firma amizade com Melanchton e escreve a Lutero. Publica o Pequeno Tratado Sobre a Santa Ceia do Nosso Senhor. Participa das dietas de Worms e, ali, recebe carta dos síndicos e conselhos de Genebra, convidando-o a retornar. Toma conhecimento de que Estrasburgo é tomada pela peste. Reluta em aceitar o pedido de Genebra. Viaja a Ratisbon, para nova dieta, que abandona ao perceber que não produzirá resultados. Mais uma vez admoestado por Farel, aceita o convite de Genebra, chegando à cidade em 13 de setembro de 1541.
[79] Rápidos detalhes extraídos de ibid., p. 127-206: Período de consolidação; os primeiros quinze anos, de 1541 a 1556. Bem-recebido em Genebra. Presenteado com um toga de veludo preto. Instalado na casa na Rua do Canhão, perto da Catedral. Novo púlpito em Saint Pierre. Uma carruagem vai buscar Madame Calvino em Estrasburgo. Registra-se na ata do Pequeno Conselho: “Resolve-se conservar Calvino aqui para sempre”. Proposta de planos. Auxiliado por Viret. Escrita, aprovação e execução das Ordens Eclesiásticas da Igreja de Genebra — estabelecimento de quatro funções na igreja (ministro, professor, presbítero e diácono) e organização das atividades eclesiásticas (cultos, sermões, batismos, casamentos, Ceia do Senhor e visitações). As Ordens foram aprovadas em dois meses e demorou catorze difíceis anos para colocá-las em prática. Compilação das leis da cidade. Em 1542, o primeiro filho de Calvino, Jacques, morre duas semanas após o nascimento. Três anos depois nasce e falece uma filha. Dois anos adiante, espera-se uma terceira criança que morre ao nascer. Idellete adoece e morre em 29 de março de 1549. Embates com os Conselhos de Genebra, além de Sebastião Castellio, Pierre Ameaux, a família Favré, Philibert Berthelier, Pierre Vandel, Jacques Guet (Gruet), Bolsec, Zeraphin Trolliet e Miguel Servetus. Última tentativa de oposição dos Libertinos em 1555.

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Fonte: Somente pela Graça

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