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“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo. 3.16-17)
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas. (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 1.6)
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura. (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 1.10)
A pedra fundamental da Reforma Protestante foi a doutrina do “Sola Scriptura” (Somente a Escritura). Os Reformadores tomaram como base a verdade de que a Bíblia, e somente a Bíblia, é a única revelação especial e redentiva de Deus, e, portanto, apenas a Escritura é a única regra infalível para a fé, prática e vida cristãs. Isso estava em contraste com a posição da Igreja Católica Romana, que ensinava que a Escritura e a Tradição eram as fontes infalíveis da Revelação Divina especial. Como o Dr. R.C. Sproul explica em seu excelente livro, Grace Unknown: The Heart of Reformed Theology [Graça Desconhecida: O Coração da Teologia Reformada] :
Católicos Romanos e outros que rejeitam o Sola Scriptura muitas vezes criticam a doutrina protestante afirmando que ela leva a um desdenho em relação ao papel da igreja e de seus concílios, e sustenta um posicionamento radicalmente individualista (“apenas eu, minha Bíblia e o Espírito Santo em minha oração privada, distante da igreja”) em relação à interpretação da Bíblia e à vida cristã. O criticismo pode ter razão se visto em relação a algumas distorções históricas e contemporâneas da doutrina do Sola Scriptura (como, por exemplo, o individualismo radical, o anti-autoritarismo e os desigrejados, encontrados com bastante frequência no evangelicalismo contemporâneo). Mas isso não é verdade em relação aos próprios Reformadores Protestantes, nem em relação às igrejas protestantes historicamente ortodoxas. Nem Lutero, nem Calvino, nem outro qualquer Reformador Protestante rejeitou a autoridade da igreja ou a validade dos credos ou dos concílios das igrejas. Eles diriam que a postura “apenas eu e minha Bíblia separados da igreja” em relação à Escritura e em relação à vida cristã é um fanatismo perigoso. Mais do que isso, eles reconheciam que as outras autoridades eram secundárias, e se sujeitavam ao julgamento e correção pela única infalível regra de fé e prática, nominalmente, as Escrituras inspiradas. Novamente, citando Sproul: “Protestantes reconhecem outras formas de autoridade, como oficiais da igreja, magistrados civis e credos e confissões da igreja. Mas eles enxergam essas autoridades como sendo derivadas e subordinadas à autoridade de Deus. Nenhuma dessas autoridades menores são absolutamente consideradas, porque todas elas são passíveis de erro. Apenas Deus é infalível. Autoridades falíveis não podem guiar absolutamente a consciência, esse direito é reservado para Deus e para Sua Palavra somente”.
Como eu espero que o leitor esteja percebendo, a doutrina do Sola Scriptura é fundamental para a Ortodoxia Protestante Histórica e é preciso que nós Cristãos Protestantes históricos a confessemos e nela acreditemos. Essa doutrina fundamental vai de encontro a um grande número de heresias e erros:
1. Sola Scriptura condena o Romanismo e outras formas de “Escritura mais Tradição”
Protestantes não são contra tradições embasadas na Bíblia, nem contra tradições legítimas que são permitidas pelas Escrituras e que não são contrárias ao seu ensino. “Tradição” em seu sentido legítimo é, simplesmente, “aquilo que é passado adiante”. Tradições na igreja podem desempenhar um papel importante, porém secundário, a medida em que elas não minem a autoridade ou as doutrinas da Sagrada Escritura, e, consequentemente, nem todas as tradições devem ser condenadas. (Por exemplo, muitas igrejas históricas protestantes procuraram passar a fé de geração em geração usando métodos pedagógicos conhecidos como “catecismos”. Ensinar os jovens e novos convertidos a memorizar os catecismos que são embasados na Bíblia e possuem sã doutrina é um exemplo de uma “tradição” protestante legítima, a medida que esses catecismos não são vistos como sendo divinamente inspirados ou em pé de igualdade com a Bíblia). Ao mesmo tempo, o Sola Scriptura protestante combate a noção de que qualquer tradição humana (até mesmo tradições eclesiásticas) são iguais à Divina Revelação ou são igualmente autoritativas. Crenças e práticas que contradizem a Bíblia devem ser rejeitadas e combatidas, mesmo se elas gozam de um “pedigree de tradição”.
2. Sola Scriptura condena a vertente Carismática e outras formas de Misticismo
A histórica doutrina protestante Sola Scriptura afirma a suficiência das Escrituras. Deus revelou Sua Palavra final em Jesus Cristo (Hebreus 1.1-2), e a igreja é fundamentada nos ensinamentos dos apóstolos e dos profetas (Efésios 2.20). A Palavra de Cristo e de Seus inspirados profetas e apóstolos da nova aliança é encontrada no cânon completo do Novo Testamento, no qual nada será adicionado sob o pretexto de “novas revelações do Espírito”. O último livro do Novo Testamento (o Apocalipse de João) anuncia uma solene maldição e aviso contra qualquer um que fosse retirar ou adicionar algo à Palavra de Deus (Apocalipse 22.18-19). A noção fanática e herética, comum em círculos pentecostais e carismáticos, de que Deus continua a conceder-nos novas revelações do Espírito é diretamente contrária a verdade do Sola Scriptura, e, portanto, é anti-protestante. Deus já falou Sua Palavra final. O cânon da Escritura está completo. Novas revelações cessaram. Nas palavras de um excelente hino: “Que firme alicerce, ó santos do Senhor, é firmado para sua fé em Sua excelente Palavra. O que mais Ele pode dizer além daquilo que Ele já disse?”.[1]
Alguns podem levantar uma objeção à essa implicação do Sola Scriptura dizendo: “Mas isso significa que Deus não mais fala conosco?”. Não, nós afirmamos que Deus continua a falar. Mas Ele fala por meio daquilo que Ele já falou (a saber, Sua infalível, inerrante, autoritativa Palavra, a Bíblia)! Nós também reconhecemos, como as Escrituras ensinam, que a iluminação do Espírito Santo é necessária para nos dar o entendimento salvífico das coisas que são reveladas na Palavra. Mas quando cristãos falam como se eles tivessem um canal de comunicação direto para Deus (“O Senhor me disse…”, “O Senhor falou ao meu coração…”, etc.), eles estão se desviando do Sola Scriptura e se dirigindo para o perigoso território do fanatismo carismático místico. O Espírito verdadeiramente fala conosco; mas Ele fala em e por meio de da Palavra escrita de Deus (corretamente interpretada e propriamente aplicada), a medida que o Espírito ilumina nossas mentes para o entendimento e compreensão da Palavra.
3. Sola Scriptura condena o Experimentalismo e o Hiper-Subjetivismo
A Teologia Modernista e Neo-ortodoxa frequentemente fala sobre ter uma “experiência do Cristo ressurreto” ou de ter um “encontro pessoal com Deus”. Ironicamente, esse tipo de sutil e enganosa linguagem ambígua é, algumas vezes, utilizada pelos heréticos que rejeitam a real e histórica ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo, e que veem a “ressurreição” de Jesus como algo que aconteceu dentro da consciência subjetiva dos discípulos – a “experiência da Páscoa” – ao invés de um evento histórico, real e literal que aconteceu ao corpo de Jesus no espaço-tempo histórico real aproximadamente 2000 anos atrás. Como um compositor de hinos escreveu uma vez: “Ele vive! Ele vive! Jesus Cristo vive hoje! Ele anda comigo e fala comigo durante o estreito caminho da vida. Ele vive! Ele vive! Salvação para transmitir. Você me pergunta como eu sei que Ele vive? Ele vive dentro do meu coração!”. Essa bobagem é pura bobagem subjetiva. Nós sabemos que nosso Senhor Jesus Cristo vive, não porque Ele vive dentro de nossos corações (apesar de, se somos salvos, ele realmente habita em nós pelo Seu Espírito Santo); mas porque nós temos o inspirado e histórico relato do evento de sua ressurreição escrito no Evangelho que é a infalível Palavra de Deus!
Protestantes históricos reconhecem que realmente há um lugar legítimo para a experiência religiosa na vida cristã. Por exemplo, arrependimento pessoal do pecado e fé salvífica no Senhor Jesus Cristo podem envolver experiências emocionais (apesar de nem toda experiência de conversão envolver uma crise arrasadora na vida do crente; algumas vezes conversão é gradual e relativamente “sem eventos” em nível emocional). Mas nossa fé não é baseada em sentimentos subjetivos ou experiências emocionais. Nossa fé cristã é baseada na realidade objetiva, sobre as intervenções objetivas, externas a nós e supernaturais de Deus na história para a salvação do Seu povo, como está registrado para nós na infalível Escritura (Sola Scriptura). A teologia moderna/liberal clássica atribui a autoridade religiosa última à experiência pessoal e eclesiástica (igreja), e, nesse aspecto, é muito similar ao misticismo. Por outro lado, a ortodoxia protestante histórica atribui a autoridade religiosa última à infalível Escritura apenas, e reconhece que a experiência religiosa é apenas uma autoridade secundária e derivada.
4. Sola Scriptura condena todas as formas de Racionalismo
Protestantes históricos não são contra a “razão” ou contra o pensamento racional. Nós, de todo o coração, afirmamos a importância das leis da lógica (como a lei da não-contradição), e reconhecemos a importância de amar o Senhor nosso Deus não apenas com o coração, alma e querer, mas também com nossa mente. Ao mesmo tempo, nós reconhecemos que nossa capacidade racional é distorcida e embaçada pelos efeitos do pecado sobre nossas mentes (o que os teólogos chamam de “efeitos noutéticos do pecado”). A queda de toda a humanidade em Adão impactou radicalmente nossas mentes, e portanto a razão humana não pode servir como a autoridade religiosa última na igreja. Ao invés, devemos confiar ultimamente na Revelação Divina. Divina Revelação Especial (Redentiva) é dada a nós em um lugar e ali apenas – na Bíblia, Palavra infalível de Deus.
5. Sola Scriptura se opõe ao conformismo da Fé às Tendências Culturais
A Palavra de Deus nunca muda porque o Deus que a inspirou nunca muda. A verdade de Deus não é historicamente relativa, e Sua lei moral continua a mesma durante todas as gerações. Certo e errado, bem e mal, verdade e erro, são fixos, realidade imutáveis, não importa se as gerações ou as tendências culturais dessa era digam o oposto. Isso significa que os protestantes históricos que aderem ao Sola Scriptura não vão ceder ou atender às tendências culturais que vão contra ou contradizem os claros ensinamento da Bíblia. Enquanto protestantes consistentes e confessionais buscarão comunicar o evangelho de maneira culturalmente relevante (uma que não crie barreiras desnecessárias a atenção dispensada pelos descrentes); ao mesmo tempo, protestantes históricos deixarão as Escrituras, não a cultura, determinar sua fé, ética, culto e prática.
Por exemplo, a Bíblia claramente condena o homossexualismo como um pecado sério (por exemplo, em Romanos 1.24-27); portanto, uma igreja verdadeiramente protestante (uma que adere ao Sola Scriptura) vai continuar ensinando a ética sexual presente na Bíblia, apoiando a virtude da pureza sexual, e, consequentemente, se opondo à legitimização do homossexualismo (enquanto que, ao mesmo tempo, procura trazer as boas novas de perdão e nova vida em Cristo para aqueles que são escravos do pecado da homossexualidade e atração pelo mesmo sexo). A Bíblia, enquanto afirma a completa igualdade espiritual entre homens e mulheres perante Deus e na igreja (Gálatas 3.28), claramente barra a mulher de exercer o ofício ordenado de ministro da Palavra (não porque a Bíblia é “sexista”, mas por causa da ordem criacional dada por Deus para homens e mulheres; veja 1 Timóteo 2.11-15). Portanto, a verdadeira igreja protestante que subscreve o Sola Scriptura irá restringir a ordenação desse ofício apenas aos homens, mesmo diante da pressão cultural feminista de abrir toda e qualquer vocação às mulheres. Na nossa sociedade pós-moderna, pluralista e relativista há uma grande pressão para se adotar a heresia pluralista que diz que existem muitos caminhos para a salvação. Porém, uma igreja verdadeiramente protestante continuará a confessar e proclamar que Jesus Cristo é o único caminho para a salvação, porque o próprio Cristo ensinou isso sobre ele mesmo (João 14.6), e a doutrina apostólica apoia isso como uma verdade essencial do evangelho (Atos 4.12). Muitos outros exemplos poderiam ser dados.
Tradição. Experiência. Razão. Cultura. Todas essas coisas podem ter valor e podem servir como autoridades secundárias para o cristão e para a igreja (desde que não haja contradição com as escrituras). Porém, somente a Bíblia é a Palavra de Deus, e portanto é a única regra infalível para a fé e prática do cristão. Essa é a fundação de nossa fé ortodoxa protestante. Querido leitor, eu espero que a Palavra de Deus seja a fundação sobre a qual você está construindo sua fé e vida.
_______
Nota: [1] - [N.T.]: Em português, esse é o hino “Que Firme Alicerce”, presente na compilação de Hinos SUD, porém essa versão não foi traduzida com a acurácia necessária.
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Fonte: Lake OPC
Tradução: Fernanda Vilela
Via: Reforma 21
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“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo. 3.16-17)
Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser observadas. (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 1.6)
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo em cuja sentença nos devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura. (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 1.10)
A pedra fundamental da Reforma Protestante foi a doutrina do “Sola Scriptura” (Somente a Escritura). Os Reformadores tomaram como base a verdade de que a Bíblia, e somente a Bíblia, é a única revelação especial e redentiva de Deus, e, portanto, apenas a Escritura é a única regra infalível para a fé, prática e vida cristãs. Isso estava em contraste com a posição da Igreja Católica Romana, que ensinava que a Escritura e a Tradição eram as fontes infalíveis da Revelação Divina especial. Como o Dr. R.C. Sproul explica em seu excelente livro, Grace Unknown: The Heart of Reformed Theology [Graça Desconhecida: O Coração da Teologia Reformada] :
“O termo sola Scriptura significa simplesmente “pela Escritura apenas”. Esse slogan declara a ideia de que apenas a Bíblia possui a autoridade de cativar a consciência dos crentes”. Ele continua dizendo, “Apesar de os Reformadores fazerem a distinção entre revelação geral e revelação especial, eles insistiam na ideia de que há apenas uma única fonte escrita da revelação especial, a Bíblia. Isso é o sola do sola Scriptura. A razão principal da presença da palavra apenas é a convicção de que a Bíblia é inspirada por Deus, enquanto os credos e pronunciamentos da igreja são trabalhos de homens. Esses trabalhos inferiores podem ser acurados e brilhantemente concebidos, capturando o melhor do conhecimento adquirido pelos eruditos, mas eles não são a inspirada Palavra de Deus”.
Católicos Romanos e outros que rejeitam o Sola Scriptura muitas vezes criticam a doutrina protestante afirmando que ela leva a um desdenho em relação ao papel da igreja e de seus concílios, e sustenta um posicionamento radicalmente individualista (“apenas eu, minha Bíblia e o Espírito Santo em minha oração privada, distante da igreja”) em relação à interpretação da Bíblia e à vida cristã. O criticismo pode ter razão se visto em relação a algumas distorções históricas e contemporâneas da doutrina do Sola Scriptura (como, por exemplo, o individualismo radical, o anti-autoritarismo e os desigrejados, encontrados com bastante frequência no evangelicalismo contemporâneo). Mas isso não é verdade em relação aos próprios Reformadores Protestantes, nem em relação às igrejas protestantes historicamente ortodoxas. Nem Lutero, nem Calvino, nem outro qualquer Reformador Protestante rejeitou a autoridade da igreja ou a validade dos credos ou dos concílios das igrejas. Eles diriam que a postura “apenas eu e minha Bíblia separados da igreja” em relação à Escritura e em relação à vida cristã é um fanatismo perigoso. Mais do que isso, eles reconheciam que as outras autoridades eram secundárias, e se sujeitavam ao julgamento e correção pela única infalível regra de fé e prática, nominalmente, as Escrituras inspiradas. Novamente, citando Sproul: “Protestantes reconhecem outras formas de autoridade, como oficiais da igreja, magistrados civis e credos e confissões da igreja. Mas eles enxergam essas autoridades como sendo derivadas e subordinadas à autoridade de Deus. Nenhuma dessas autoridades menores são absolutamente consideradas, porque todas elas são passíveis de erro. Apenas Deus é infalível. Autoridades falíveis não podem guiar absolutamente a consciência, esse direito é reservado para Deus e para Sua Palavra somente”.
Como eu espero que o leitor esteja percebendo, a doutrina do Sola Scriptura é fundamental para a Ortodoxia Protestante Histórica e é preciso que nós Cristãos Protestantes históricos a confessemos e nela acreditemos. Essa doutrina fundamental vai de encontro a um grande número de heresias e erros:
1. Sola Scriptura condena o Romanismo e outras formas de “Escritura mais Tradição”
Protestantes não são contra tradições embasadas na Bíblia, nem contra tradições legítimas que são permitidas pelas Escrituras e que não são contrárias ao seu ensino. “Tradição” em seu sentido legítimo é, simplesmente, “aquilo que é passado adiante”. Tradições na igreja podem desempenhar um papel importante, porém secundário, a medida em que elas não minem a autoridade ou as doutrinas da Sagrada Escritura, e, consequentemente, nem todas as tradições devem ser condenadas. (Por exemplo, muitas igrejas históricas protestantes procuraram passar a fé de geração em geração usando métodos pedagógicos conhecidos como “catecismos”. Ensinar os jovens e novos convertidos a memorizar os catecismos que são embasados na Bíblia e possuem sã doutrina é um exemplo de uma “tradição” protestante legítima, a medida que esses catecismos não são vistos como sendo divinamente inspirados ou em pé de igualdade com a Bíblia). Ao mesmo tempo, o Sola Scriptura protestante combate a noção de que qualquer tradição humana (até mesmo tradições eclesiásticas) são iguais à Divina Revelação ou são igualmente autoritativas. Crenças e práticas que contradizem a Bíblia devem ser rejeitadas e combatidas, mesmo se elas gozam de um “pedigree de tradição”.
2. Sola Scriptura condena a vertente Carismática e outras formas de Misticismo
A histórica doutrina protestante Sola Scriptura afirma a suficiência das Escrituras. Deus revelou Sua Palavra final em Jesus Cristo (Hebreus 1.1-2), e a igreja é fundamentada nos ensinamentos dos apóstolos e dos profetas (Efésios 2.20). A Palavra de Cristo e de Seus inspirados profetas e apóstolos da nova aliança é encontrada no cânon completo do Novo Testamento, no qual nada será adicionado sob o pretexto de “novas revelações do Espírito”. O último livro do Novo Testamento (o Apocalipse de João) anuncia uma solene maldição e aviso contra qualquer um que fosse retirar ou adicionar algo à Palavra de Deus (Apocalipse 22.18-19). A noção fanática e herética, comum em círculos pentecostais e carismáticos, de que Deus continua a conceder-nos novas revelações do Espírito é diretamente contrária a verdade do Sola Scriptura, e, portanto, é anti-protestante. Deus já falou Sua Palavra final. O cânon da Escritura está completo. Novas revelações cessaram. Nas palavras de um excelente hino: “Que firme alicerce, ó santos do Senhor, é firmado para sua fé em Sua excelente Palavra. O que mais Ele pode dizer além daquilo que Ele já disse?”.[1]
Alguns podem levantar uma objeção à essa implicação do Sola Scriptura dizendo: “Mas isso significa que Deus não mais fala conosco?”. Não, nós afirmamos que Deus continua a falar. Mas Ele fala por meio daquilo que Ele já falou (a saber, Sua infalível, inerrante, autoritativa Palavra, a Bíblia)! Nós também reconhecemos, como as Escrituras ensinam, que a iluminação do Espírito Santo é necessária para nos dar o entendimento salvífico das coisas que são reveladas na Palavra. Mas quando cristãos falam como se eles tivessem um canal de comunicação direto para Deus (“O Senhor me disse…”, “O Senhor falou ao meu coração…”, etc.), eles estão se desviando do Sola Scriptura e se dirigindo para o perigoso território do fanatismo carismático místico. O Espírito verdadeiramente fala conosco; mas Ele fala em e por meio de da Palavra escrita de Deus (corretamente interpretada e propriamente aplicada), a medida que o Espírito ilumina nossas mentes para o entendimento e compreensão da Palavra.
3. Sola Scriptura condena o Experimentalismo e o Hiper-Subjetivismo
A Teologia Modernista e Neo-ortodoxa frequentemente fala sobre ter uma “experiência do Cristo ressurreto” ou de ter um “encontro pessoal com Deus”. Ironicamente, esse tipo de sutil e enganosa linguagem ambígua é, algumas vezes, utilizada pelos heréticos que rejeitam a real e histórica ressurreição do nosso Senhor Jesus Cristo, e que veem a “ressurreição” de Jesus como algo que aconteceu dentro da consciência subjetiva dos discípulos – a “experiência da Páscoa” – ao invés de um evento histórico, real e literal que aconteceu ao corpo de Jesus no espaço-tempo histórico real aproximadamente 2000 anos atrás. Como um compositor de hinos escreveu uma vez: “Ele vive! Ele vive! Jesus Cristo vive hoje! Ele anda comigo e fala comigo durante o estreito caminho da vida. Ele vive! Ele vive! Salvação para transmitir. Você me pergunta como eu sei que Ele vive? Ele vive dentro do meu coração!”. Essa bobagem é pura bobagem subjetiva. Nós sabemos que nosso Senhor Jesus Cristo vive, não porque Ele vive dentro de nossos corações (apesar de, se somos salvos, ele realmente habita em nós pelo Seu Espírito Santo); mas porque nós temos o inspirado e histórico relato do evento de sua ressurreição escrito no Evangelho que é a infalível Palavra de Deus!
Protestantes históricos reconhecem que realmente há um lugar legítimo para a experiência religiosa na vida cristã. Por exemplo, arrependimento pessoal do pecado e fé salvífica no Senhor Jesus Cristo podem envolver experiências emocionais (apesar de nem toda experiência de conversão envolver uma crise arrasadora na vida do crente; algumas vezes conversão é gradual e relativamente “sem eventos” em nível emocional). Mas nossa fé não é baseada em sentimentos subjetivos ou experiências emocionais. Nossa fé cristã é baseada na realidade objetiva, sobre as intervenções objetivas, externas a nós e supernaturais de Deus na história para a salvação do Seu povo, como está registrado para nós na infalível Escritura (Sola Scriptura). A teologia moderna/liberal clássica atribui a autoridade religiosa última à experiência pessoal e eclesiástica (igreja), e, nesse aspecto, é muito similar ao misticismo. Por outro lado, a ortodoxia protestante histórica atribui a autoridade religiosa última à infalível Escritura apenas, e reconhece que a experiência religiosa é apenas uma autoridade secundária e derivada.
4. Sola Scriptura condena todas as formas de Racionalismo
Protestantes históricos não são contra a “razão” ou contra o pensamento racional. Nós, de todo o coração, afirmamos a importância das leis da lógica (como a lei da não-contradição), e reconhecemos a importância de amar o Senhor nosso Deus não apenas com o coração, alma e querer, mas também com nossa mente. Ao mesmo tempo, nós reconhecemos que nossa capacidade racional é distorcida e embaçada pelos efeitos do pecado sobre nossas mentes (o que os teólogos chamam de “efeitos noutéticos do pecado”). A queda de toda a humanidade em Adão impactou radicalmente nossas mentes, e portanto a razão humana não pode servir como a autoridade religiosa última na igreja. Ao invés, devemos confiar ultimamente na Revelação Divina. Divina Revelação Especial (Redentiva) é dada a nós em um lugar e ali apenas – na Bíblia, Palavra infalível de Deus.
5. Sola Scriptura se opõe ao conformismo da Fé às Tendências Culturais
A Palavra de Deus nunca muda porque o Deus que a inspirou nunca muda. A verdade de Deus não é historicamente relativa, e Sua lei moral continua a mesma durante todas as gerações. Certo e errado, bem e mal, verdade e erro, são fixos, realidade imutáveis, não importa se as gerações ou as tendências culturais dessa era digam o oposto. Isso significa que os protestantes históricos que aderem ao Sola Scriptura não vão ceder ou atender às tendências culturais que vão contra ou contradizem os claros ensinamento da Bíblia. Enquanto protestantes consistentes e confessionais buscarão comunicar o evangelho de maneira culturalmente relevante (uma que não crie barreiras desnecessárias a atenção dispensada pelos descrentes); ao mesmo tempo, protestantes históricos deixarão as Escrituras, não a cultura, determinar sua fé, ética, culto e prática.
Por exemplo, a Bíblia claramente condena o homossexualismo como um pecado sério (por exemplo, em Romanos 1.24-27); portanto, uma igreja verdadeiramente protestante (uma que adere ao Sola Scriptura) vai continuar ensinando a ética sexual presente na Bíblia, apoiando a virtude da pureza sexual, e, consequentemente, se opondo à legitimização do homossexualismo (enquanto que, ao mesmo tempo, procura trazer as boas novas de perdão e nova vida em Cristo para aqueles que são escravos do pecado da homossexualidade e atração pelo mesmo sexo). A Bíblia, enquanto afirma a completa igualdade espiritual entre homens e mulheres perante Deus e na igreja (Gálatas 3.28), claramente barra a mulher de exercer o ofício ordenado de ministro da Palavra (não porque a Bíblia é “sexista”, mas por causa da ordem criacional dada por Deus para homens e mulheres; veja 1 Timóteo 2.11-15). Portanto, a verdadeira igreja protestante que subscreve o Sola Scriptura irá restringir a ordenação desse ofício apenas aos homens, mesmo diante da pressão cultural feminista de abrir toda e qualquer vocação às mulheres. Na nossa sociedade pós-moderna, pluralista e relativista há uma grande pressão para se adotar a heresia pluralista que diz que existem muitos caminhos para a salvação. Porém, uma igreja verdadeiramente protestante continuará a confessar e proclamar que Jesus Cristo é o único caminho para a salvação, porque o próprio Cristo ensinou isso sobre ele mesmo (João 14.6), e a doutrina apostólica apoia isso como uma verdade essencial do evangelho (Atos 4.12). Muitos outros exemplos poderiam ser dados.
Tradição. Experiência. Razão. Cultura. Todas essas coisas podem ter valor e podem servir como autoridades secundárias para o cristão e para a igreja (desde que não haja contradição com as escrituras). Porém, somente a Bíblia é a Palavra de Deus, e portanto é a única regra infalível para a fé e prática do cristão. Essa é a fundação de nossa fé ortodoxa protestante. Querido leitor, eu espero que a Palavra de Deus seja a fundação sobre a qual você está construindo sua fé e vida.
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Nota: [1] - [N.T.]: Em português, esse é o hino “Que Firme Alicerce”, presente na compilação de Hinos SUD, porém essa versão não foi traduzida com a acurácia necessária.
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Fonte: Lake OPC
Tradução: Fernanda Vilela
Via: Reforma 21
1 comentários:
Olá irmãos, paz! Gostaria de sanar uma dúvida: creio que as escrituras são infalíveis, mas existem livros que foram escritos e não integraram o cânon protestante(apócrifos). como explicar para as pessoas que as escrituras são infalíveis, visto que sempre se argumenta que para a compilação dos escritos houve concílios de homens repletos de falibilidade na construção do cânon? como saber que esses livros são os escritos verdadeiros que Deus deixou para nós? e as traduções? não podem estar elas descumprindo o que está dito em apocalipse? Muito Obrigado! Deus os abençoe sempre!
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