Por Frank Brito
“Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:19)
“E ninguém toma para si esta honra, senão o que é chamado por Deus”. (Hebreus 5:4)
A minha primeira postagem sobre quem tem o direito de batizar foi escrita em resposta a um questionamento que o Yago Martins levantou sobre isso no Facebook. Ele respondeu à minha primeira postagem em seu blog. Esta minha segunda postagem é uma réplica à postagem do blog dele.
Em minha primeira postagem, eu defendi que a ordem de batizar não foi dada à todos os cristãos, mas somente aos oficiais que exercem o ministério da Palavra. O primeiro argumento do Yago Martins é dizer que todo crente é sacerdote:
“Ora, e uma vez que todo crente é um sacerdote (1 Pe 2:4-10), só podemos crer que está é uma verdade simples de ser crida: ‘E quando o Senhor entendeu que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos)’ (Jo 4:1,2)”.
Ele repete o mesmo argumento depois ao citar Vincent Cheung:
“os reformados [...] registraram em algumas de suas confissões que somente pessoas devidamente ordenadas poderiam batizar [...]. Trata-se de uma grande bobagem. Não existe base bíblica para isso. Antes, a Bíblia diz que todos os cristãos são sacerdotes em Cristo [...]. Por questão de ordem na igreja, alguns indivíduos, mais provavelmente ministros, são designados a batizar e servir a ceia, mas isso não significa que somente eles podem fazê-lo [...] ― como se houvesse uma elite entre os crentes, que é precisamente aquilo a que os reformados dizem se opor”.
Me surpreendi com esse ter sido argumento inicial do Yago Martins, pois já havia sido respondido em minha primeira postagem, sendo o mais frágil de todos. O Novo Testamento não estabelece nenhuma relação lógica entre o sacerdócio universal de todos os santos e o direito de fazer qualquer coisa na igreja. No Novo Testamento, o sacerdócio universal dos crentes não dá o direito das mulheres pregarem na igreja (I Co 14:34, 35; I Tm 2:12) e, no Antigo Testamento (Ex 19:6), não dava o direito de todos celebraram sacrifícios no templo. Infelizmente, muitos cristãos erradamente pensam que o sacerdócio universal dos santos foi uma inovação do Novo Testamento. A verdade é que, quando Pedro se refere ao sacerdócio universal dos santos, tudo o que ele faz é citar um texto do Antigo Testamento:
“E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel”. (Êxodo 19:6)
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, que em outro tempo não éreis povo, mas agora sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas agora alcançastes misericórdia”. (1 Pedro 2:9-10)
Se no Antigo Testamento já havia sacerdócio universal, mas isso não dava o direito de qualquer um administrar os sacrifícios no templo, porque deveríamos concluir que, no Novo Testamento, o sacerdócio universal dá o direito de todos administrarem os sacramentos, se não há qualquer texto do Novo Testamento que faz essa ligação? O fato é que boa parte dos protestantes hoje tem um entendimento equivocado sobre o significado do sacerdócio universal. Eu expliquei melhor o verdadeiro significado do sacerdócio universal dos santos aqui.
O segundo argumento do Yago Martins foi apelar para o registro histórico extra-bíblico:
“Franklin Ferreira e Alan Myatt elucidam que ‘na igreja primitiva era permitido que qualquer leigo batizado batizasse os novos convertidos; mas, aos poucos, o privilégio passou a ser reservado apenas aos clérigos’[1]. B. B. Warfield explica mais sobre isto [...] No entanto, com o tempo, o ministro natural do batismo tornou-se o bispo, principalmente na primeira parte do século II”.
Yago Martins apela para o testemunho de Franklin Ferreira, Alan Myatt e B. B. Warfield. Segundo Yago Martins, “o ministro natural do batismo tornou-se o bispo, principalmente na primeira parte do século II“. Ou seja, ele acredita que no primeiro século qualquer cristão batizava, mas que no segundo século isso mudou e só os ministros da palavra passaram a batizaram.
O primeiro problema com esse argumento é que o único documento confiável que nós temos sobre a prática na era apostólica é o Novo Testamento. No Novo Testamento, tudo o que temos é o batismo sendo administrado por oficiais ordenados ao ministério da Palavra. Portanto, não temos qualquer documento antes do segundo século, da era apostólica, descrevendo o batismo como sendo administrado por qualquer outro que não fosse um ministro ordenado.
Mas quais evidências ele apresenta dessa suposta mudança? A primeira evidência, dada por B.B. Warfield, é do Didaquê. Mas o Didaquê não diz absolutamente nada sobre quem deveria administrar o batismo. Tudo o que ele diz sobre o batismo é o seguinte:
“No que diz respeito ao batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água corrente. Se não tens água corrente, batiza em outra água; se não puderes em água fria, faze-o em água quente. Na falta de uma e outra, derrama três vezes água sobre a cabeça em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Mas, antes do batismo, o que batiza e o que é batizado, e se outros puderem, observem um jejum; ao que é batizado, deverás impor um jejum de um ou dois dias”.
E depois no capítulo sobre a Ceia do Senhor:
“No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: Primeiro sobre o cálice, dizendo: Nós te bendizemos, nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo, que tu nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém. Sobre o pão a ser quebrado: Nós te bendizemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo; a ti, a glória pelos séculos! Amém. Da mesma maneira como este pão quebrado primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim das extremidades da terra seja unida a ti tua igreja em teu reino; pois tua é a glória e o poder pelos séculos! Amém. Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor”.
Em nenhum lugar esses textos indicam que o batismo era administrado por qualquer outro que não fosse um ministro ordenado. Ele descreve o batismo, mas não diz por quem era administrado. Portanto, o Didaquê não dá qualquer suporte a essa opinião. A segunda evidência vem de Inácio de Antioquia:
“Inácio de Antioquia, escrevendo para igrejas que lutavam contra heresias e convencido de que um líder ortodoxo manteria a pureza da comunidade, ensinou que a única celebração válida da ceia do Senhor é aquela que um bispo preside, que o único casamento verdadeiramente cristão é o que ocorre com o consentimento dos bispos, além de, obviamente, defender que não era correto batizar sem a presença do bispo”.
Aqui Yago Martins não apresenta qualquer evidência de que esse ensinamentos de Inácio de Antioquia eram diferentes do que já era praticado no primeiro século. Simplesmente dizer que era isso que Inácio de Antioquia ensinava não é suficiente para provar que houve mudança. Nós poderíamos muito bem argumentar justamente o contrário, que Inácio de Antioquia defendia aquilo que já era defendido no primeiro século. Além disso, Yago Martins nem mesmo apresenta qualquer citação do próprio Inácio de Antioquia demonstrando que era isso mesmo que ele defendia. Isso é tudo o que Yago Martins apresenta como evidência da suposta mudança do primeiro para o segundo século, ou seja, nenhuma evidência.
Seu próximo argumento é dizer que “Não é muito difícil… percebermos que, no Novo Testamento e em toda igreja bíblica, o batismo nunca foi um privilégio de pastores ou bispos ordenados, mas um ato cumprido por todo evangelista. Aqueles que vão pregando o evangelho devem batizar os novos crentes”. Mas eu não defendi que a administração do batismo era “um privilégio de pastores ou bispos ordenados“, como Yago diz. O que eu defendi é que o privilégio era restrito aos ministros da Palavra. Havia quatro categorias que podemos citar de ministros da Palavra:
- Apóstolos
- Profetas
- Evangelistas
- Pastores/Bispos/Presbíteros
São todos citados por Paulo em sua epístola aos Efésios:
“Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”. (Efésios 4:10-14)
Aqui Paulo cita somente os ministros da Palavra. Os ministros da Palavra, sendo especialmente separados e enviados para anunciarem o Evangelho, são o meio estabelecido por Jesus Cristo para “que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente”.
Como eu demonstrei no meu primeiro artigo, a Bíblia explicitamente diferencia os cristãos comuns daqueles que são especialmente ordenados para pregar o Evangelho. Esses são os “ministros da Palavra” e a ordem de batizar não é dada, em Mateus 28, a ninguém além dos que foram especialmente ordenados para pregar o Evangelho. Além disso, no decorrer de Atos dos Apóstolos, não há qualquer menção de ninguém além deles administrando o batismo. Yago tenta citar exemplos do livro de Atos:
“Por que criar este tipo de regra, se a Escritura não a impõe? Em nenhum momento a Palavra diz que o batismo precisa ser realizado por pastores, e a indicação que possuímos é que os discípulos era quem o fazia. “Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos” (Jo 4:1,2). O próprio Paulo, após ter seu encontro com o Senhor, foi batizado por um simples discípulo chamado Ananias (At 9:10-18). Não há menção de que Ananias fosse um presbítero em Damasco. Da mesma maneira, vemos Felipe, que não era presbítero, mas apenas diácono (At 6:5), descer à Samaria para prega e batizar. Mais tarde, ele batizou também o eunuco no caminho de Jerusalém à Gaza (At 8:12-13, 38)”.
De fato Filipe era diácono e diáconos não são ministros da Palavra, como Atos 6:2-4 deixa claro. Mas, além de diácono, Filipe era também evangelista, como Atos 21:8 deixa claro. Portanto, Filipe batizou o eunuco no exercício de seu ofício de evangelista. Ele era, de fato, alguém especialmente separado e enviado para pregar o Evangelho (Rm 10:15). Sobre Ananias, ele recebeu a ordem por meio de uma visão da parte de Deus, o que significa que ele era um profeta, não um “simples discípulo”, tendo sido especialmente separado e enviado por Deus para batizar. Profetas não eram “simples discípulos”. Eles eram responsáveis por lançar o fundamento da Igreja (Ef 2:20), trazendo nova revelação especial anteriormente desconhecida na história da redenção (Ef 3:5). Ele pergunta:
“Por que criar este tipo de regra, se a Escritura não a impõe? Em nenhum momento a Palavra diz que o batismo precisa ser realizado por pastores, e a indicação que possuímos é que os discípulos era quem o fazia”.
Não precisa haver proibição explicita. Basta que a ordem não seja dada aos cristãos comuns, mas somente aos ministros da Palavra. Um dos grandes erros dos cristãos hoje é acha que se algo na Igreja não é explicitamente proibido, então é permitido. A Bíblia ensina o contrário, que o que não é permitido na Igreja, é proibido. Para maiores informações sobre isso, leia o artigo que escrevi aqui. O fato é que os únicos textos que falam sobre quem deveria batizar trazem ordens direcionadas aos ministros da Palavra e todos os exemplos de batismo que nós temos no Novo Testamento seguem este mesmo padrão, são administrados por ministros da Palavra. Não é possível apresentar qualquer evidência de que o batismo era administrado por quaisquer outros. Portanto, não temos autorização para quaisquer outros administrarem o batismo. Yago Martins tenta apresentar mais evidências:
“a indicação que possuímos é que os discípulos era quem o fazia. ‘Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos’ (Jo 4:1,2)”.
“Discípulo” é frequentemente usado no Novo Testamento para se referir somente aos doze apóstolos (Mt 10:1) e, além disso, pode se referir ao grupo estrito dos setenta evangelistas (Lc 10:1). Não há qualquer evidência no texto que mostre que eram cristãos comuns. Além disso, o mesmo capítulo deixa claro que aqueles discípulos foram especialmente ordenados para serem pregadores do Evangelho:
“Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer? Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem. Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa. Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho”. (João 4:33-38)
O texto paralelo deixa claro que ele estava se referindo a ministros ordenados, especialmente encarregados disso:
“E, vendo as multidões, teve grande compaixão delas, porque andavam cansadas e desgarradas, como ovelhas que não têm pastor. Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara”. (Mateus 9:36-38)
Yago Martins diz mais:
“Por que ignorar tal liberdade? Ora, se a ordem da Grande Comissão é entregue a todo crente e se o mandamento de batizar os discípulos está dentro deste mandato, porque o cristão leigo é proibido de obedecer tal parte do mandamento?”
Porque, como eu já demonstrei no primeiro artigo, a Grande Comissão não é entregue a todo crente. Se tornou tão natural em nossos dias acreditar que sim, que é difícil as pessoas entenderem que o Novo Testamento não coloca todos os crentes na categoria de pregadores. As vezes tenho a impressão de que os crentes modernos pensam que não há diferença entre os oficiais da Igreja e os crentes comuns, que tudo não passa de uma convenção humana. O fato é que há sim diferença, essa diferença foi ordenada pelo próprio Deus e, portanto, não podemos presumir que todos os crentes tenham os mesmos direitos e privilégios que os oficiais. Isso seria estabelecer a anarquia. Devemos cuidadosamente separar o que é dito aos oficiais do que é dito dos cristãos comuns.
“Alguém escreveu que a Grande Comissão – ou, pelo menos, o ensino e o batismo – “não se refere às obrigações de todos os cristãos, mas especificamente à função dos ministros da Palavra”. O problema é que este argumento não pode ser sustentado pelo texto, e sequer é a interpretação mais simples dele”.
Pode não ser a interpretação mais “simples” para cristãos que erradamente acreditam que o Novo Testamento coloca todos os crentes na categoria de pregadores, mas é a interpretação óbvia para quem se conscientiza que o Novo Testamento e classifica como “pregadores” somente os ministros ordenados e não qualquer cristão. O Novo Testamento inteiro se refere aos “pregadores” dessa maneira, como oficiais distinto dos cristãos comuns.
“E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”. (Romanos 10:15)
“Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho”. (I Coríntios 9:13-14)
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina”. (I Timóteo 5:17)
A Bíblia não estabelece o igualitarismo eclesiástico. Alguns ocupam o ofício de mestres/pregadores e outros não. A quem a Grande Comissão foi dirigida?
“Partiram, pois, os onze discípulos para a Galiléia, para o monte onde Jesus lhes designara. Quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. (Mateus 28:16-19)
“Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados à mesa, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado”. (Marcos 16:14-16)
Yago Martins tenta apresentar uma interpretação alternativa:
“Entre acreditar que provavelmente mais de 500 discípulos estavam, naquele momento, sendo ordenados para o ministério oficial ao invés de crer que aquela era uma ordem geral para todo o crente não é só muita vontade de impor as próprias ideias ao texto, mas deitar a Grande Comissão na cama de Procusto”.
O texto é claro: “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes…“ (Mt 28:17), “E disse-lhes…” (Mc 16:16). Nos dois casos, “lhes” está claramente se referindo “onze” da frase anterior. Claramente, eram os ministros da Palavra sendo enviados para pregar o Evangelho e batizar. Não há nenhuma imposição aqui. A imposição é negar o que o texto diz explicitamente, que a ordem foi dada aos onze, não à quinhentos e ignorar que por todo o Novo Testamento há uma distinção entre os cristãos comuns e os que são especialmente ordenados para pregar o Evangelho.
“Há, ainda, quem acredite que apenas os Onze Apóstolos vivos na época estavam ali, recebendo aquela ordem”.
Não há motivo para pensar o contrário, pois isso é o que o texto explicitamente diz.
“D. A. Carson nos dá um argumento textual claro, analisando o verso 10 de Mateus 28: “Então Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galileia, e lá me verão”. Alguns acham que “meus irmãos” nada mais é que um modo elevado de se referir aos Onze, mas isto ignora o uso do termo em Mateus, onde, com exceção do relacionamento natural, é usado como referência à irmandade dos que reconhecem Jesus como Messias (18:15;23:8; cf. 5:22-24; 7:3-5; 18:21,35). Nas duas outras passagens onde Jesus usou a expressão plena “meus irmãos” (12:49,50;25:40), ela refere-se a todos os discípulos de Jesus e não pode ser limitada aos apóstolos somente. Deste modo, Jesus estava conclamando todos os que estavam ligados a Sua causa a comparecerem no monte da Galileia, e não apenas os Onze.”
Essa interpretação ignora que o texto explicitamente diz quem são os “irmãos” no verso 16 e explicitamente identifica a quem Jesus se dirigiu para dar a Grande Comissão:
“Então Jesus disse-lhes: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão à Galiléia, e lá me verão… E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado”. (Mateus 28:10,16)
O texto não se refere à ninguém além deles. Não fala nada sobre os supostos quinhentos. Se havia outros além dos onze, não há qualquer base no texto para inferir. Pelo contrário, o texto diz que tudo o que é dito por Jesus, é dito aos onze:
“E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado. E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram. E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra”. (Mateus 28:16-18)
Quando o texto diz que eles “o viram”, ele está evidentemente se referindo ao grupo do verso anterior, “os onze”, já que o texto não menciona ninguém além deles. Ir além disso é especulação e não pode ser usado para firmar qualquer doutrina. Além disso, o texto em que há uma ordem paralela em Marcos 16 é igualmente enfático sobre quem estava lá recebendo a ordem:
“Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados à mesa, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado. E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”. (Marcos 16:14-15)
Para resumir:
1) O sacerdócio universal de todos os santos não tem nada a ver com o direito de administrar os sacramentos ou mesmo com o direito de pregar na Igreja.
2) Nenhuma evidência foi apresentada de que o segundo século trouxe inovação quanto ao direito de batizar. As evidências apresentadas nada dizem sobre isso.
3) Nenhum exemplo do Novo Testamento foi apresentado mostrando que qualquer pessoa, além dos ministros da Palavra, administravam o batismo.
4) Nenhuma evidência foi apresentada de que a Grande Comissão tenha sido dirigida à outros se não os ministros da Palavra, especialmente ordenados e separados para pregar, conforme o padrão que encontramos no resto do Novo Testamento.
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