Princípios para um debate mais produtivo entre arminianos e calvinistas.

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Por Renato César


Dizem que debates existem com o propósito de se descobrir a verdade e permitir que os ouvintes possam formar opinião acerca de algum tema e decidir de que lado querem estar. Contudo, jamais vi algum debatedor mudar sua opinião durante um debate, mesmo não tendo argumentos para contrapor aos de seu oponente, e só muito raramente, creio eu, alguém que está inclinado para um lado deixa-se persuadir pelo outro a ponto de mudar de posição.

Costuma-se atribuir a vitória num debate àquela pessoa que é mais eloquente e até mais agressiva em sua maneira de se expressar, embora no final poucos se lembrem de sua argumentação. Em resumo, debates geralmente não servem para nada, exceto enaltecer o ego da parte que julga ter vencido o debate. 

Com debates teológicos não é diferente. Por isso, creio que só há uma maneira de se discutir qualquer assunto para que se possa chegar a algum consenso, embora este não seja o objetivo de quem entra em um debate. Deve-se estabelecer princípios.

Os princípios são o fundamento, a base para qualquer doutrina. Sem eles qualquer discussão pode não passar de pura perda de tempo. É preciso, então, saber qual o ponto de ruptura entre duas ideologias, filosofias ou doutrinas, para a partir daí, e somente a partir desse ponto, iniciar qualquer discussão.

Eis um exemplo:

Imagine um cristão discutindo sobre Cristo com um muçulmano. O cristão citará dezenas de versículos bíblicos para provar que Cristo é o Messias, ao passo que o muçulmano citará os textos do Alcorão para desacreditar esse argumento. Será que um dia eles chegarão a alguma conclusão? É evidente que não, pois o muçulmano não crê na Bíblia, e o cristão não crê no Alcorão. O ponto de ruptura aqui ocorre bem no começo: a Palavra Sagrada.

Com base nisso, quero propor alguns princípios para dois grupos específicos: calvinistas e arminianos. Não adianta você eximir-se dizendo que segue a Bíblia, pois os dois grupos também dizem seguir. Quando você se posicionar sobre a questão da salvação, muito provavelmente recairá em algum dos lados, mesmo não tendo consciência disso. Digo provavelmente porque existem ainda outros pontos de vista, mas que não nos interessam agora por serem minoria.

Antes de iniciar o debate, os arminianos e calvinistas precisam descobrir a partir de que ponto suas doutrinas tomam rumos diferentes. Comecemos, então, pelos atributos divinos, visto que o entendimento de suas implicações no comportamento divino pode ajudar a economizar bastante saliva e tempo.

Creio que ambos os grupos concordam que Deus é soberano (considerado um atributo) sobre tudo que existe no universo, material ou não, o que implica em três atributos bastantes populares, dentre aqueles ditos incomunicáveis: onipotência, onisciência e onipresença. Há outros atributos incomunicáveis que podem ser mencionados, como eternidade e imutabilidade.

Cristãos creem, quase sem exceção, que Deus tem poder ilimitado e absoluto (onipotência), podendo, logo, fazer tudo, exceto negar a si mesmo (2 Tm 2:13). Este “negar a si mesmo” dá bastante pano pra manga, pois é preciso definir o que implicaria Deus estar negando a si mesmo, além do proposto diretamente no texto, e aqui pode estar um ponto de ruptura entre calvinistas e arminianos.

A onisciência diz respeito ao conhecimento de Deus. Esse atributo implica que ele sabe e conhece tudo. Tudo, aqui, inclui passado, presente e futuro, bem como a mente do homem, o que pode trazer divergências se considerarmos o que pensam alguns defensores extremistas do livre arbítrio. Já a onipresença e a eternidade de Deus são atributos divinos pacíficos entre os cristãos. Finalmente, paz entre o homens. Mas vamos adiante.

Quanto à imutabilidade, pode haver aqui outro ponto de ruptura, visto ser preciso definir se a imutabilidade divina diz respeito tão somente à natureza de Deus ou engloba também o posicionamento divino quanto a determinadas questões, implicando a possibilidade de Deus mudar de opinião ou até mesmo rearranjar seus planos em função de outras variáveis, como o comportamento humano.

Existem, ainda, os atributos divinos comunicáveis. Entre eles, destaco o amor e a justiça, fundamentais para o entendimento da polêmica que envolve calvinistas e arminianos. São também pontos de ruptura entre os dois grupos, visto ser preciso definir que atos de de Deus poderiam ser contrários a esses atributos e, logo, impraticáveis por ele, visto que Deus não poderia negar a si mesmo, com vimos antes.

Assim, para economizar tempo e permitir que haja algum progresso num debate entre militantes dos dois lados, é imprescindível que, antes de se lançar mão dos tantos versículos bílicos sobre o assunto, defina-se o que cada um entende sobre os atributos divinos mencionados e suas implicações no comportamento divino. Certamente muitas divergências já surgirão a partir desse ponto, permitindo-nos perceber que o problema em questão é bem maior do que parece.

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Sobre o autor: Cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. 
Artigo enviado por e-mail. 
Contato com o autor: renatocesarmg@hotmail.com
Divulgação: Bereianos
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