Neopentecostalismo à brasileira: aspectos e dimensões

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Por Johnny Bernardo


Inspirado em movimentos de “cura divina” dos Estados Unidos, o neopentecostalismo que aqui se desenvolve surge da observância de aspectos locais, como a crendice popular e a baixa renda da maior parte da população brasileira. Neste quesito, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) destaca-se como um dos principais exemplos de adaptação religiosa. Leonildo Silveira Campos (1999) destaca que “o ponto de partida da IURD é o pentecostalismo de alguns televangelistas norte-americanos, porém a sua flexibilidade é própria de uma entidade que se posiciona bem num ambiente pluralista e concorrencial. A sua identidade é construída por meio de referências aos concorrentes, com os quais ela se envolve em renhidas lutas simbólicas”.

A guerra entre as forças do bem e do mal – adaptada pelo neopentecostalismo a partir do pentecostalismo – ganha nova dimensão com a Igreja Universal. Na verdade, como explica Campos, “a IURD oferece produtos simbólicos, dissimulando a ideia de ruptura, trocando-a por uma aparente continuidade com as culturas locais”. Em outras palavras, a igreja fundada por Edir Macedo aproveita aspectos dos concorrentes (católicos, afro-brasileiros e kardecistas) para desenvolver uma característica própria, voltada ao consumo. Assim, a cruz, as sessões de descarrego, as fitinhas azuis e demais apetrechos utilizados pela igreja em sua “guerra” contra o mal são adaptações criadas com o intuito de atrair adeptos das religiões concorrentes. Ao mesmo tempo, tenciona facilitar o acesso à nova fé com elementos do cotidiano do adepto.

As adaptações – ou “remasterizações” – feitas pela IURD também ocorrem nas demais igrejas neopentecostais do Brasil, com pouquíssimas alterações. Tais características e outras mais mostram que o neopentecostalismo disseminado a partir da IURD assume aspectos locais, nacionais, da situação financeira de cada adepto. O termo neopentecostal – frequentemente usado em referência a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renascer em Cristo, por exemplo – passou a ser utilizado como forma de distinção entre o pentecostalismo clássico do movimento que começa a se desenvolver a partir de fins da década de 70, e que é identificado por Paul Freston como a Terceira Onda Pentecostal Brasileira. Tão logo se percebeu, no entanto, que há uma imensa distância entre o neopentecostalismo aqui disseminado.

Apesar da existência de elementos comuns ao Neopentecostalismo, como a cura divina, o exorcismo, a Teologia da Prosperidade e o uso maciço de recursos audiovisuais, há inúmeras diferenças que separam as várias igrejas neopentecostais, notadamente entre àquelas situadas no eixo São Paulo – Rio. As diferenças locais, de formação religiosa ou acadêmica, explicam em parte as diferenças. A primeira das várias rupturas que ocorreriam no cenário neopentecostal brasileiro se deu em 1980 quando o missionário R.R.Soares – até então braço direito de Edir Macedo – funda a Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD). A prepotência e o espírito mercantilista de Edir Macedo foram alguns dos motivos que levaram R.R.Soares a se desligar.

Igrejas clones da Universal

Começando pela IIGD, deve-se ressaltar também o aparecimento do que Marion Aubree (pesquisadora francesa) chamou de “igrejas clones da Universal”. Isto é, ao longo dos 35 anos de sua história, a IURD vem enfrentando o ataque externo oriundo de novos movimentos neopentecostais que a imitam. Vale ressaltar, novamente, que às semelhanças se resumem aos aspectos básicos do Neopentecostalismo, descritos anteriormente. Os novos movimentos surgidos a partir da IURD se definem por experiências próprias, por diferenças que vão desde a liturgia até o público alvo.

As diferenças são perceptíveis quando comparamos, por exemplo, a IIGD com a IURD. Segundo R.R.Soares, a Igreja da Graça não tem bispos nem realiza campanhas em Israel. A Universal, por sua vez, não tem um missionário como presidente, nem pede às pessoas que se inscrevam como patrocinadoras para manter a veiculação de cultos de evangelização pela TV. A IIGD apresenta-se mais flexível com relação ao trato com as demais igrejas evangélicas do Brasil. Nas publicações da Igreja da Graça, como na revista Show da Fé, são comuns referências a trabalhos da AD. R.R.Soares também já teve passagem pela sede da AD Ministério Belém, onde ministrou a um colegiado de obreiros. Por outro lado, há de se ressaltar que a Igreja da Graça é a responsável pela publicação da maioria dos livros de Kenneth Hagin, autor com ampla rejeição por parte de líderes e pesquisadores brasileiros, como Paulo Romeiro.

As diferenças entre a Igreja Universal com as demais denominações “neopentecostais” aumenta à medida que a comparamos com igrejas como a Renascer em Cristo. A origem pentecostal do casal Hernandes – eram membros da Igreja Pentecostal da Bíblia – de certa forma explica a maneira eloquente como conduzem suas reuniões. As adaptações, comuns na IURD, também ocorrem na RC, mas com diferenças que nos remetem às igrejas batistas. Há, na RC, uma tentativa de tornar suas reuniões mais atraentes ao público jovem. Fundador da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, o bispo Robson Rodovalho teve sua primeira experiência na Igreja Presbiteriana do Brasil, aos 15 anos. Além da maneira despojada como conduz sua denominação, Rodovalho é autor de um livro sobre Física Quântica e pretende criar um instituto para explorar temas ligados à ciência e a espiritualidade. Apesar de criacionista, rejeita a noção de que o universo foi criado há seis mil anos, em seis dias de 24 horas, segundo revelou ao jornalista Márcio Campos, da Gazeta do Povo.

A Renascer em Cristo e a Sara Nossa Terra são exemplos de igrejas cujas características distanciam-se de denominações mais próximas do chamado Movimento Palavra da Fé. No entanto, mesmo entre as igrejas neopentecostais historicamente ligadas ao MPF há diferenças significativas.  A cura divina, característica comum às igrejas neopentecostais, é vista de forma diferente por frequentadores da Igreja da Graça e Mundial do Poder de Deus. Mariano (1995) declara que é “muito comum nos cultos da Igreja Internacional da Graça R.R. Soares pedir que os fieis coloquem as mãos em suas cabeças e determinem a cura divina. Com frequência, os testemunhos giram em torno do desaparecimento da dor de cabeça e do sumiço de caroços no peito, no estomago e em outras partes do corpo. Alguns ex-membros da IIGD e que hoje frequentam a IMPD são unânimes em dizer que lá, na Internacional, só viam sumiços de caroços, mas que na Mundial eles veem verdadeiros milagres, curas sobrenaturais”.

O surpreendente crescimento da Igreja Mundial do Poder de Deus – e que já foi palco de pelo menos quatro cisões que resultaram no surgimento de quatro diferentes igrejas, cada qual defendendo uma visão específica do Evangelho, sendo a Igreja Mundial Renovada a mais recente – tem sido motivo de preocupação e “guerra santa” por parte da Igreja Universal do Reino de Deus. Embora mantendo aspectos da igreja – mãe, o apóstolo Valdomiro Santiago criou uma marca ou estilo próprio de arregimentar adeptos. Com seu jeito matuto e linguagem carregada de expressões populares, Santiago conseguiu criar um canal de comunicação com as classes menos favorecidas da sociedade. A cura divina é um dos atrativos e porta de entrada para centenas de pessoas vítimas da falta de recursos assistenciais. Segundo Campos (1999) os “muito pobres são mais facilmente atingidos pela pregação dos milagres e dos prodígios. Nesse sentido, a Igreja Mundial, a Igreja do Evangelho Quadrangular ou mesmo a Deus é Amor levam vantagem nessas camadas sociais mais pobres onde a IURD perde a competitividade”.

Fonte: Gospel+
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1 comentários:

Uma observação "Movimento de cura divina","prodígios","milagres" e outras particularidades doutrinarias, não devem ser atribuídas somente ao "neopentecostalíssimo" mas tb ao pentecostalismo que muitos carinhosamente chama de "clássico".
Venho estudando, lendo e nem é preciso muito eles próprios ,pentecostais ateiam a banedeira das línguas,curas,e sinais.

Por amor da verdade que esta em nós e para sempre estará.

Ruth Rossini

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