O que dizer do apóstolo Paulo? À semelhança de Pedro, ele também foi alguém dotado de maneira incomum. E, com certeza, passou por experiências espantosas, como a conversão súbita na viagem para Damasco. Viu uma luz tão brilhante que o cegou. Ouviu uma voz. Caiu ao chão. Num instante, ele foi transformado de assassino de cristãos em escravo do Senhor Jesus Cristo (At 9).
Quando Paulo começou a pregar e ensinar, fez de sua experiência o ponto central da mensagem? O texto de Atos 17.2 e 3 torna clara a origem bíblica de seu discurso: “Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio” (ênfase acrescentada).
Mesmo depois que Paulo foi levado ao terceiro céu (2 Co 12.1-4), Ele não teve permissão de falar o que viu. Evidentemente, que Deus não achava que essa experiência causaria mais impacto ou credibilidade à mensagem do evangelho do que a simples pregação de sua verdade. Isso contrata profundamente com a abordagem do movimento contemporâneo de sinais e maravilhas (ver Capítulo 6).
Perto do final de sua vida, Paulo teve uma argumentação sobre a Palavra de Deus. Enquanto era mantido preso em Roma, “vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência. Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas” (At 28.23).
É lastimável que muitos carismáticos não sigam os passos de Paulo. Em vez disso, seguem a trilha dos teólogos liberais e neo-ortodoxos, existencialistas, humanistas e pagãos. É inquestionável que a maior parte dos carismáticos faz isso de modo involuntário. Eles diriam: “Cremos na Bíblia. Não queremos contradizer as Escrituras; desejamos defender a Palavra de Deus”. Apesar disso, os carismáticos são vítimas de uma terrível tensão, enquanto tentam defender a Bíblia e, ao mesmo tempo, fazem da experiência a autoridade prática. Os conceitos dos líderes e teólogos carismáticos demonstram esse conflito.
Por exemplo, Charles Farah tentou harmonizar a tensão entre a palavra de Deus e as experiências. Atentando ao fato de que existem dois vocábulos gregos traduzidas por “palavra”, ele criou a teoria de que logos é a Palavra objetiva e histórica, e rhema é a Palavra pessoal, subjetiva. O problema com essa conceituação é que nem o significado do grego nem o uso neotestamentário fazem qualquer distinção desse tipo. Logos, disse Farah, transforma-se em rhema quando se dirige a você. O termo logos é forense, ao passo que rhema é experimental. Farah escreveu: “O logos nem sempre se transforma em rhema, a Palavra de Deus para você”. Ou seja: o logos se transforma em rhema quando fala pessoalmente a você. O logos histórico e objetivo, no sistema de Farah, carece de impacto transformador, até transformar-se em rhema — a palavra divina pessoal para você.
Isso soa perigosamente semelhante ao que os teólogos neo-ortodoxos têm dito há anos: a Bíblia se torna a Palavra de Deus apenas quando se dirige a você. Todavia, a Palavra de Deus é a Palavra de Deus, quer alguém experimente o seu poder, quer não. A Bíblia não depende da experiência de seus leitores, para que se torne a Palavra de Deus inspirada. Paulo afirmou que a Escritura era capaz, em e por si mesma, de tornar Timóteo “sábio para a salvação” (2 Tm 3.15). Ela não precisava da experiência de Timóteo para validá-la.
E Paulo acrescentou: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (3.16). Ele declarou que as Escrituras eram inspiradas e úteis, e não que elas se tornariam inspiradas e úteis, dependendo da experiência do leitor. Evidencia-se que a Palavra de Deus é completamente suficiente.
Fonte: O Caos Carismáticos, John MacArthur Jr., Editora Fiel, págs. 46-48.
Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]
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