É pecado beber vinho?

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Sou abstêmio convicto, motivado especialmente por caso de alcoolismo na família e por compreender o dano social causado pelo consumo de bebidas alcoólicas. Portanto, este texto não pretende ser uma apologia a nada, exceto talvez ao equilíbrio bíblico, tendo em conta a advertência: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando” (Dt 4:2). A obediência aos mandamentos começa por não ficar aquém nem ir além de onde a própria Bíblia vai.

Fiz uma busca rápida por vinho no Novo Testamento e a encontrei em cerca de 30 versículos. Algumas palavras importantes são estudadas a seguir.

Oinos

Esta palavra aparece 33 vezes em 25 versículos (em alguns versículos ocorre repetidamente), e é traduzida “vinho” em todas as ocorrências pela Revista e Atualizada. Que vinho [oinos] contém álcool fica claro na seguinte passagem: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). A Septuaginta usa oinos para traduzir os hebraicos yayin, chemer, ieqev, sove, asis, shekar, shemer e tirosh, indistintamente.

Quanto ao vinho usado na última ceia, não é dito de que tipo era, visto que a palavra vinho não ocorre nesse contexto. De qualquer forma, as igrejas apostólicas celebravam a ceia com vinho inebriante, pois é dito que “ao comerdes, cada um toma, antecipadamente, a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague” 1Co 11:21. Note que em suas repreensões à forma desordenada na qual a igreja corintiana celebrava a ceia do Senhor, Paulo não inclui o tipo de vinho utilizado.

Interessante notar, também, que Jesus foi acusado de bebedor de vinhos [oinopotes]:“Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” (Lc 7:34). Em uma passagem da primeira epístola de Pedro, bebedices é tradução de um termo derivado de oinos[oinophlugia]: “Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” 1Pe 4:3

A conclusão é de que o termo mais comumente traduzido vinho no Novo Testamento refere-se a uma bebida capaz de causar embriaguez se consumida em grande quantidade. É possível que o vinho feito por Jesus em Caná e o utilizado na última ceia fossem do mesmo tipo consumido comumente pelos judeus de seus dias, que bebido puro e em grande quantidade era embriagante. No caso da ceia em Corinto, é-nos permitido concluir que a mesmo continha álcool, pois ninguém se embriaga com suco de uva.

Gleukos

Em Atos 2:13 a Revista e Corrigida traduz gleukos como mosto, um suco doce de uva espremida: “Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados!” (At 2:13.) Tecnicamente, mosto é o vinho ainda não totalmente fermentado. De qualquer forma, deveria ser embriagante, visto que a Revista e Atualizada traduz “cheios de mosto” como “embriagados”. A própria expressão dos ouvintes requeria que eles estivessem alterados.

Oxos

Outra palavra traduzida por vinho é oxos: “deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber” (Mt 27:34). Era uma mistura de vinho azedo ou vinagre e água que os soldados romanos estavam acostumados a beber. De fato, a palavra só ocorre nos Evangelhos e somente no episódio da crucificação de Jesus (Mt 27:34, 48; Mc 15:36; Lc 23:36; Jo 19:29-30), sendo traduzida mais comumente como vinagre. Logo, este seguramente não era o vinho utilizado na última ceia, na ceia do Senhor da igreja primitiva e nem mesmo o vinho consumido normalmente pelos judeus nos dias de Jesus.

Sikera

É uma palavra traduzida como bebida forte na única vez que ocorre: “Pois ele será grande diante do Senhor, não beberá vinho nem bebida forte e será cheio do Espírito Santo, já do ventre materno” (Lc 1:15). Não era vinho, mas uma bebida forte e intoxicante. Era um produto artificial, feito de uma mistura de ingredientes doces, derivados de grãos ou legumes, ou do suco de frutas (tâmara), ou de uma decocção do mel.

Methe

A palavra beberrão, bêbado, bebedices, etc. deriva de methe que significa embriaguez bebedeira, intoxicação: “Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais” (1Co 5:11. Ver ainda 1Co 6:10). Methe e seus derivados estão associados ao consumo excessivo de bebidas. E este excesso é claramente proibido nas Escrituras, como por exemplo Ef 5:18 onde a proibição não é quanto ao consumo de vinho [oinos], mas à embriaguez [methusko], pois como demonstrado acima, Jesus bebia vinho (Lc 7:34, citado acima), mas o irmão beberrão deveria ser evitado (1Co 5:11, citado acima). Não há uma proibição do tipo “não beberás vinho”. Parece que o ensino bíblico é mais no sentido da moderação. Por exemplo, nas descrições dos requisitos para os oficiais da igreja, a proibição é quanto ao excesso: “É necessário, portanto, que o bispo seja... não dado ao vinho”(1Tm 3:2-3), “semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam... não inclinados a muito vinho”“quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam... não escravizadas a muito vinho” (Tt 2:3).

A proibição geral é quanto ao embriagar-se, não quanto ao consumo em si, feito com moderação. É neste sentido que temos advertências do tipo “não vos embriagueis com vinho” (Ef 5:18), “acautelai-vos por vós mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique sobrecarregado com as conseqüências da... embriaguez” (Lc 21:34),“Andemos dignamente... não em orgias e bebedices” (Rm 13:13), pois “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5:21).

Ao lado disso, há a recomendação do experiente Paulo ao jovem Timóteo para que este bebesse um pouco de vinho, devido a seus problemas de saúde. “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1Tm 5:23) É interessante aqui observar duas coisas, a quantidade e a finalidade. Era para tomar “um pouco” de vinho e “por causa” de seus problemas gástricos, ou seja, com finalidade terapêutica.

Concluindo, se alguém me perguntar o que eu acho sobre o crente beber com moderação, direi que o mesmo deve evitar, pelas razões que expressei na introdução. Mas se alguém me perguntar se a Bíblia proíbe ao crente beber de forma moderada, para ficar em paz com minha consciência, direi que não. Pois de fato ela não o faz. Ela proíbe a embriaguez, mas não o consumo moderado.

Soli Deo Gloria

Autor: Clovis Gonçalves
Fonte: [ Cinco Solas ]
Via: [ Web Evangelista ]
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9 comentários

sem duvidas a moderaçao nao faz mal porem tem pessoas que usam o argumento que jesus transformou agua em vinho para embriagar-se.
A questao DO vinho vale para todas as outras bebidas tambem ? tipo cachaça ,cerveja, etc ?

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Meu pai, crente fiel, atuante na igreja, presbítero, consumiu regularmente em sua vida, um copo de bom vinho por vez,e viveu até seus 94 anos de forma saudável. Nunca o vi embriagado.
A ciência também tem demonstrado os benefícios do vinho, quando consumido moderadamente.

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Anônimo mod

Fico imaginando a cena: Jesus transforma a água em vinho e diz: "Olha gente, beber vinho é pecado, eu não posso beber porque é pecado, mas eu vou transformar a água em vinho pra voces pecarem!
(é a logiquinha dos crentes!)

Reinaldo de Almeida

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A paz do Senhor!!!

Faço minhas as suas palavras, eu já tinha como opinião particular esse último parágrafo...

Muito obrigado por tornar público...

Deus te abençoe...

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Paz querido.
Achei incrível sua aboradagem sobre o assunto "bebida alcoolica na biblia".
Essas referencias sobre o vinho e suas traducoes esclarece muita coisa de forma magistral.
Ficaria muito honrado se vc pudesse dar sua opiniao em nosso post que trata exatamente do assunto ALCOOL-PALVRÃO-MÚSICA MUNDANA.
De ante mao já peço sua permissão para postar esse texto maravilhosso nos comentário desse post.
Mas ficaria muito feliz mesmo é saber sua opniao sobre os demais assuntos do post. Eis aí o link:

http://diariodoppastor.blogspot.com/2011/01/o-que-igreja-fala-sobre-alcool-palavrao.html#comments

Aguardo.
Paz.

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Gostaria que os entendidos das linguas originais das escrituras que comentassem o estudo sobre o vinho, contido na Biblia de estudo Pentecostal da CPAD.
O sentido para os originais da palavra vinho diferem do estudo postado aqui.
Grato,
Nei
exemplobereano.blogspot.com

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Anônimo mod

Prezado Nei, há dois estudos referente ao vinho na BEP (pág.1517 e 1573 - versão de 1995)no qual seu comentarista tenta provar de todas as formas que existia dois tipos de bebidas derivadas da uva nos tempos bíblicos. Entretanto, o que se pode observar é a tendência doutrinária costumeira defendida por sua denominação - no caso as Assembleias de Deus que proibe as bebidas alcólicas! Todavia a lógica dos textos sacros apresentados e as simples explicações do autor (simples, todavia eficaz) mostra a total irrelevância de se tentar distinguir o liquído que é extraído desse delicioso fruto - independente do processo não há como relutar - o álccoll está lá de qualquer jeito!

Agora, quem tem a cabecinha fraca - e não entende o que é moderação, maioria esmagadora do populacho canarinho, que fique bem longe até de tang de uva, pois do contrário, será escândalo na certa, iguais por exemplo de nossos patrícios ccbistas, que além de não saberem nada de Bíblia, também não sabem apreciar uma boa bebida!Esses devem se alienarem mesmo!

Abraços
souteologico.blogspot.com

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Muito boa abordagem do tema. Meus parabéns!
Semana passada encontrei com um irmão que se "desviou" da "igreja" porque lá ensinam que beber moderadamente é pecado. Como ele gosta de tomas umas (disse umas e não muitas) falou pra o pastor que ia sair da igreja pra não ser hipocrita. Numa conversa um pouco tensa na fila dum banco ele me disse: "não adianta, eu vou para o inferno mesmo, e por pensamentos como o seu é que a igreja de Jesus está um lixo!" A conversa foi maior e no final melhorou um pouco. Mas resultado, esse tipo de ensino justiceiro e tendencioso é sutilmente e altamente maligno.
Lucianno Di Mendonça
www.maisumpasso.com

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A páscoa era comemorada no mês de Nissan = Março/Abril
A festa da colheita/Tabernáculos era comemorada no mês de Tishrei = Setembro/Outubro
Logo o suco de uvas, ou vinho sem álcool estragaria até a Pascoa, pois não existiam, ainda, conservantes e embalagens a vácuo, assim sendo, o vinho da páscoa tinha que ser vinho e não suco.

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