As falácias da doutrina benção e maldição.
Uma resenha do livro "benção e maldição" de Jorge Linhares.
Uma resenha do livro "benção e maldição" de Jorge Linhares.
Criticar uma Doutrina dentro do evangelicalismo não é uma tarefa fácil. Essa dificuldade está no temor de criar-se um clima de competição, mágoas e estar apto a esperar até uma retaliação daqueles que assumiram ou adotaram como verdade determinado ensino. Principalmente quando se trata de um colega renomado, de ministério profícuo e de bom testemunho; porém, Deus sempre será a prioridade e a sua Palavra ainda terá sempre a primazia. A Bíblia dá base para que se possa questionar tudo, analisar com cautela qualquer doutrina estranha que não se coloque dentro do escopo hermenêutico e teológico. Isto quer dizer que toda Doutrina genuinamente bíblica deve estar dentro de princípios de interpretação histórico-gramatical, levando em conta o que o autor realmente tinha a intenção de ter falado, incluindo os contextos imediato, cultural e histórico, como também levando as peculiaridades gramaticais de exegese. O teológico, no que diz respeito ao desenvolvimento da Revelação Especial de Deus, que é a sua Palavra, mostrando que uma Doutrina Bíblica jamais poderá quebrar o vínculo teológico ensinado nos 66 livros da Bíblia, seja a Teologia Bíblica como a Teologia Sistemática.
Algumas considerações são necessárias.
A primeira: Não se questiona o trabalho desse amado pastor e de como tem contribuído no Reino de Deus através da sua igreja; não se questiona nenhum aspecto na sua área espiritual, mas na sua área de ensino desse tema.
Segundo: O motivo maior dessa resenha é uma resposta àqueles que têm dúvidas e ainda não viram uma refutação a respeito, não levando em conta os perigos, as contradições, as negligências teológicas e conclusões simplistas.
O livro “Benção e Maldição”, que tem sido best-seller, é de uma linguagem muito simples e muito objetiva. Um livro que uma pessoa leiga se dá muito bem, mas que causa questionamentos e inquietações àqueles que se aprofundam mais nas Escrituras. É um livro que demonstra vir de suas pregações no Brasil proclamando esse tema. Tem nove capítulos bem sucintos e sempre citando versos das Escrituras; porém, longe de seus contextos e sem nenhuma explicação exegética, desconhecendo as contradições de seu tema nos próprios contextos dos capítulos desses versos citados, que serão mostrados nessa resenha.
A base de sua doutrina é como toda Doutrina duvidosa se manifesta, dá-se mais valor às experiências que às Escrituras, pois o livro busca nos pilares de experiências que ouviu e que ele passou no seu ministério. Ele mesmo diz na pág. 13: “Ouvi certa vez um testemunho que me deixou ainda mais convicto do poder das palavras.” Na pág. 45 escreve: “Recebi uma carta que de certa forma constata esse triste fato”. Assim como asseverou, a sua doutrina está firmada sobre a areia dos testemunhos volúveis das pessoas e não totalmente nas Escrituras Sagradas.
O Pr. Jorge Linhares começou até equilibrado no capítulo primeiro, pois ele diz na pág. 10: “As palavras têm o poder de encorajar ou abater as pessoas. Elas despertam alegria ou levam à angústia. Por causa de palavras não medidas, duras e desprovidas de misericórdia, lares são destruídos, filhos abandonando os pais, travam-se grandes conflitos entre colegas de trabalho, amizades são rompidas”. Ele na pág. 11 ainda diz que “preferia ficar calado a ofender alguém, pois sabia que as palavras podem tanto aproximar as pessoas, como afastá-las uma das outras”.
Se o Pr. Jorge Linhares terminasse seu livro nessas palavras estaria dando uma grande mensagem ao Reino de Deus e à Igreja, porque realmente o que a Escritura fala da bênção e maldição faladas pelas pessoas é o que diz respeito às conseqüências psicológicas e de relacionamentos, não de uma forma mística, como preconizam as seitas esotéricas e a Seicho-no-iê.
A maioria dos textos citados nesse primeiro capítulo é correto, pois cita a importância de saber falar às pessoas evitando palavras torpes e ofensivas, mas precisa-se saber que todos os textos que o autor citou, se forem direcionados para palavras faladas propriamente ditas, serão mal interpretados, como por exemplo o texto citado de 1 Co 15.33 “as más conversações corrompem os bons costumes”.
O Pr. Citou até um testemunho de uma mulher que caiu em adultério por que ouviu palavras de suas amigas. A palavra grega que Paulo usa em 1 Co 15.33 é o substantivo homilia que quer dizer associação, companhia. Essa palavra só aparece uma única vez no N.T. Apesar do verbo relativo homileö significar “conversar, falar em discurso”, mas o seu substantivo quer dizer associação. Na verdade, Paulo estava advertindo sobre as más companhias, não propriamente dizendo palavras faladas. Algumas traduções já corrigiram essa tradução que a R.A. fez. Seguiram a King James em Inglês que diz: “Evil associations corrupt good manners”, acompanhando a Linguagem de Hoje e a NVI.
Isso não implica que as palavras têm um poder místico, pois a conversação diz respeito a uma comunicação, não propriamente por palavras. Os surdos-mudos, se nas suas companhias conversarem nos seus sinais conversas vãs, terão maus costumes. Hoje, temos os famosos chats na Internet. Não se precisa falar palavras para dialogar entre amigos. Se houver uma conversa má pelos chats, com certeza, terão maus costumes. Portanto, o Pr. Jorge Linhares falou um texto sem olhar o seu real significado como todos os textos citados em seu livro.
No Segundo capítulo o Pr. Jorge ousa dar um significado de Maldição diferente do escopo das Escrituras Sagradas, pois ele diz na pág. 16: “Maldição é a autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre outrem para causar dano à vida do amaldiçoado”. A palavra maldição segundo as escrituras só podem caber dois significados. O restante é pura invenção desse amado escritor.
A primeira diz respeito da maldição vinda da quebra da Lei, pois segundo o costume da época para se fazer uma aliança ter-se-ia que falar as bênçãos e as maldições. Como nos contratos hoje em dia, têm-se as cláusulas de direitos e multas caso quebre o contrato. Deus trouxe essa linguagem ao seu povo e deu a sua Lei chamando-a de “palavras da Aliança” diberey haberit (Ex 34.28). Antes da palavra berit tem o artigo definido ha mostrando que Deus estava falando com Moisés levando em conta as normas da Aliança, tornando-se maldito aquele que transgredir a sua lei e esperando o Cordeiro que viria na Plenitude dos Tempos para tirar a maldição. Paulo confirmou isso quando disse em Gálatas 3.10, dizendo que a quebra da Lei traria maldição esperando somente na graça de Jesus Cristo. Ele continua que Cristo nos libertou da Maldição da Lei (Gl 3.13).
Quando os patriarcas falavam uma benção como Isaque a Jacó, era a bênção da aliança que Deus fizera com Abraão perpetuando. Tanto que quando Esaú pediu para Isaque abençoá-lo, ele não fez (Gn 27.33-38). Ele poderia ter abençoado assim mesmo, mas não aconteceu, pois foi Isaque que Deus escolheu (Rm 9.10-13), ou seja, o poder da palavra da Bênção de Isaque não estava em si nas suas palavras, mas na promessa de Deus como diz Paulo em Romanos 4.16-18. Paulo fala com ênfase sobre a promessa, que tinha a primazia, não as palavras em si. Se havia uma outra maldição e Paulo não falou esperando somente quando o Pr. Jorge e outros escritores da Palavra Positiva escrevessem seus livros, Deus deixou de falar a muita gente, inclusive aos apóstolos e pais da Igreja e aos discípulos dos apóstolos. É melhor ficar com o óbvio: Paulo não deixou de falar nenhuma maldição hereditária. O que acontece dessa maldição de palavras é da simples cabeça desses amados e queridos pastores, somente isso.
A segunda acepção bíblica das palavras bênção e maldição é o que elas querem dizer literalmente: dizer coisas boas ou más. Tanto as palavras hebraicas e gregas querem dizer isso. O que a Escritura nos adverte é que não devemos amaldiçoar, ou seja, falar coisas más ao nosso próximo. Isso é falado não tanto por causa da pessoa que ouve, mas por causa da pessoa que diz, porque quem fala coisas más é por que o seu coração está contaminado pelo pecado de inveja, homicídio, sujeira. Jesus advertiu sobre isso: Em Mt 5.21,22; Mc 7.20-23. É isso que Tiago quis dizer quando fala no seu capítulo que ensina sobre o cuidado da língua (Tg 3.9,10). Tiago usa no verso 9 que não podemos abençoar o Senhor e depois amaldiçoar os homens. Ele usa a mesma palavra vinda da raiz grega do verso 9. Isso quer dizer que se fosse como um feitiço, Tiago estaria falando uma bobagem, pois como poderíamos falar uma palavra positiva para acontecer para Deus? Não. Tiago estava falando que não podemos falar coisas boas a Deus e depois falar coisas más ao nosso próximo. Isso confirma pelo que ele ensina mais adiante (Tg 4.13-15).
Tiago joga por terra essa doutrina nesses versos, pois ele diz que não podemos DIZER hoje e amanha iremos a tal cidade, mas devemos dizer SE DEUS QUISER. Ele usa no verso 13 o verbo legö, que quer dizer “falar, dizer”, no particípio presente, mais enfático ainda mostrando uma projeção constante. Isso demonstra que não está nas nossas palavras o destino das coisas, mas nas mãos de Deus; embora que se admita que as palavras influenciam e trazem conseqüências sérias à auto-afirmação das pessoas. Principalmente aos filhos e subordinados.
Para não se prolongar muito, precisa-se analisar pelo menos três textos apenas citados pelo Pr. Jorge Linhares e que não foram analisados exegeticamente. O primeiro texto é o Salmo 109.17.
Esse salmo, geralmente, o Pr. Jorge Linhares se baseia seu engenhoso e esotérico ensino dizendo que aqueles que amam a maldição ela o apanha e aquele que não quer a benção ela se aparta, levando o seu significado para palavras faladas. Mais uma vez o Pr. Jorge Linhares negligenciou fortemente a interpretação das Escrituras. Note-se que Davi não está falando de palavras faladas como uma maldição de feitiço, pois o próprio Davi, no mesmo salmo, disse que ele estava AFLITO E NECESSITADO (v.22). O adjetivo hebraico ´aniy é muito forte, sendo traduzido até para pobre como traduz a King James em inglês e a Linguagem de Hoje. Pois se fosse assim, Davi estaria se amaldiçoando? Quando Davi fala de maldição e benção era no contexto de aliança quebrada, pois aqueles que quebravam as alianças teriam punição severa. Davi estava dizendo que aqueles que não queriam o Senhor, houvesse o julgamento de Deus sobre eles. É isso que fala em todo o salmo, imprecações a seus inimigos.
O segundo texto mais controverso está em Provérbios 18.21. Esse verso é o mais usado pelos proclamadores dessa doutrina esotérica. Eles negligenciam fortemente a hermenêutica bíblica, pois segundo a poesia hebraica a segunda parte do verso não rimava nas palavras, mas no sentido contrário ou de uma forma sinonímia. Nesse caso o autor usou a segunda parte do verso para explicar a primeira. A morte e a vida estão no poder da língua. Na segunda parte o autor explica melhor: o que bem a utiliza come do seu fruto. Isso quer dizer que essa morte e vida aqui dizem respeito a conseqüências sérias através das palavras e essas conseqüências o autor já tinha falado no capítulo: ira, traumas, mágoas, contendas, mas não uma ação mística através das palavras.
Outro fator importante nessa interpretação é que se a morte é literal como diz esse autor, por que a vida não seria? Uma pessoa que tem uma inteligência mínima sabe que as palavras não dão vida a nada. Se não houver uma fecundação, uma semente não adianta o timbre da voz e as palavras que forem. Então essa interpretação de dizer que é literal não é inteligente.
O terceiro texto é uma explicação apenas do que Jesus disse em Mateus 15.11, como sempre, mal interpretado pelo Pr. Jorge Linhares, pois segundo o contexto, Jesus está falando de contaminação espiritual por causa da falta de lavar as mãos como ensinavam os fariseus. Jesus afirma que o que entra não contamina, que fica subentendido que esse entrar é pela boca, claro, pois Jesus está falando de contaminação espiritual, que para os fariseus acontecia quando comiam sem lavar as mãos.
Jesus ensina que a contaminação espiritual vem do que sai da boca. A ênfase não é a palavra boca, mas o verbo ekporeuomai no particípio com artigo definido mostrando que Jesus falava de algo interior que se manifestava no nosso corpo, não propriamente da boca. Marcos explica melhor em seu Evangelho mostrando que a intenção de Jesus mesmo era ensinar que de dentro do coração do homem que sai os pecados (Mc 7.20,21). Portanto, Jesus não está falando de palavras nem enfatizando a boca do homem, mas o que Jesus ensinou é que o pecado vem do coração do homem, do seu interior, não da sua boca. Ela é somente um órgão que se manifestará, pois Jesus falou que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6.45).
No capítulo oito, o Pr. Refuta a si mesmo sem notar, pois toda falta de verdade há contradições irreconciliáveis, que, às vezes, manifestam-se naturalmente. Nesse capítulo o autor trata do tema “Maldições que não se cumprem”. Ele começa citando, como sempre, um testemunho que ele recebera várias pragas de uma pessoa e não aconteceu. Ele cita o texto: A Maldição sem causa não se cumpre (Pv 26.2). Ele coloca inadvertidamente o exemplo de Balaão que quis amaldiçoar o povo no deserto e Deus falou a ele que não amaldiçoasse porque o povo era abençoado (Nm 22.6). Ora, se esse povo que foi considerado incrédulo pelo próprio Deus, causando juízo e ficando prostrados no deserto, foi considerado abençoado, quanto mais aqueles que estão debaixo do sangue de Jesus.
Realmente a única causa da maldição é a alienação de Deus e de sua palavra, mas aqueles que têm a Cristo FORAM ABENÇOADOS COM TODA A SORTE DE BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS NAS REGIÕES CELESTIAIS EM CRISTO JESUS (Ef 1.3).
Portanto, mesmo que alguém tenha falado palavras fortes e terríveis não significa que irão acontecer. O próprio Davi foi amaldiçoado pelos seus inimigos como por Golias e não se viu uma repreensão de Davi pelas palavras de Golias e nem houve alguma conseqüência por isso, mas vitória, pois a sua vida estava nas mãos de Deus.
Nesse penúltimo parágrafo é necessário falar das conseqüências dessa doutrina esotérica da palavra da maldição positiva. Uma das conseqüências é elevar o homem à condição de um deus.
O Pr. Jorge Linhares na pág. 51 afirma: “Foi pela palavra que Deus criou a terra, o firmamento, os animais, as aves, as plantas, o homem. Disse Deus: haja. E houve. Nós também temos o poder de trazer à existência muita coisa boa, através de nossas palavras”. Essa declaração é perigosa, porque coloca o homem no lugar de um deus. O homem não pode absolutamente nada fora de Cristo. Jesus disse: sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5).
A palavra do homem é destruição e miséria, como disse Paulo aos romanos (Rm 3.14-16), pois Paulo está falando ao homem na condição de natureza caída. Se Deus deixasse para que se cumprisse o que falamos, estaríamos perdidos e terrivelmente frustrados, pois a Bíblia diz que enganoso é o coração do homem e terrivelmente corrupto (Jr 17.9,10). Se a boca fala o que o coração está cheio, então, Deus é sábio em deixar o homem na condição de homem apenas.
A outra conseqüência é que essa doutrina gera falta de humildade, pois as pessoas terão medo de confessar seus medos, suas fraquezas, seus perigos, pois se alguém falar isso, segundo o Pr. Jorge Linhares, pode acontecer. Com isso, as pessoas entram em uma falta de humildade dizendo que vai tudo bem, não mostrando realmente como a sua alma está. A Bíblia alerta que precisamos falar o que somos, até mesmo para sermos curados (Tg 5.16). O próprio Paulo disse que era fraco e o principal dos pecadores e não houve nenhuma ameaça que Paulo se tornou mais pecador por causa disso (2 Co 12.9,10; 1 Tm 1.15,16).
A última conseqüência que se comenta e mais grave é por que essa doutrina coloca por baixo o pecado original, da expiação e do próprio Deus, já que tira a soberania de Deus e a coloca nos lábios das pessoas e nega o que Cristo operou na cruz.
Autor: Francisco Mário Magalhães.
Pastor da Igreja Batista Nacional de Balsas, Teólogo e Pensador Cristão
Fonte: http://reflexoes-e-teologia.blogspot.com
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Algumas considerações são necessárias.
A primeira: Não se questiona o trabalho desse amado pastor e de como tem contribuído no Reino de Deus através da sua igreja; não se questiona nenhum aspecto na sua área espiritual, mas na sua área de ensino desse tema.
Segundo: O motivo maior dessa resenha é uma resposta àqueles que têm dúvidas e ainda não viram uma refutação a respeito, não levando em conta os perigos, as contradições, as negligências teológicas e conclusões simplistas.
O livro “Benção e Maldição”, que tem sido best-seller, é de uma linguagem muito simples e muito objetiva. Um livro que uma pessoa leiga se dá muito bem, mas que causa questionamentos e inquietações àqueles que se aprofundam mais nas Escrituras. É um livro que demonstra vir de suas pregações no Brasil proclamando esse tema. Tem nove capítulos bem sucintos e sempre citando versos das Escrituras; porém, longe de seus contextos e sem nenhuma explicação exegética, desconhecendo as contradições de seu tema nos próprios contextos dos capítulos desses versos citados, que serão mostrados nessa resenha.
A base de sua doutrina é como toda Doutrina duvidosa se manifesta, dá-se mais valor às experiências que às Escrituras, pois o livro busca nos pilares de experiências que ouviu e que ele passou no seu ministério. Ele mesmo diz na pág. 13: “Ouvi certa vez um testemunho que me deixou ainda mais convicto do poder das palavras.” Na pág. 45 escreve: “Recebi uma carta que de certa forma constata esse triste fato”. Assim como asseverou, a sua doutrina está firmada sobre a areia dos testemunhos volúveis das pessoas e não totalmente nas Escrituras Sagradas.
O Pr. Jorge Linhares começou até equilibrado no capítulo primeiro, pois ele diz na pág. 10: “As palavras têm o poder de encorajar ou abater as pessoas. Elas despertam alegria ou levam à angústia. Por causa de palavras não medidas, duras e desprovidas de misericórdia, lares são destruídos, filhos abandonando os pais, travam-se grandes conflitos entre colegas de trabalho, amizades são rompidas”. Ele na pág. 11 ainda diz que “preferia ficar calado a ofender alguém, pois sabia que as palavras podem tanto aproximar as pessoas, como afastá-las uma das outras”.
Se o Pr. Jorge Linhares terminasse seu livro nessas palavras estaria dando uma grande mensagem ao Reino de Deus e à Igreja, porque realmente o que a Escritura fala da bênção e maldição faladas pelas pessoas é o que diz respeito às conseqüências psicológicas e de relacionamentos, não de uma forma mística, como preconizam as seitas esotéricas e a Seicho-no-iê.
A maioria dos textos citados nesse primeiro capítulo é correto, pois cita a importância de saber falar às pessoas evitando palavras torpes e ofensivas, mas precisa-se saber que todos os textos que o autor citou, se forem direcionados para palavras faladas propriamente ditas, serão mal interpretados, como por exemplo o texto citado de 1 Co 15.33 “as más conversações corrompem os bons costumes”.
O Pr. Citou até um testemunho de uma mulher que caiu em adultério por que ouviu palavras de suas amigas. A palavra grega que Paulo usa em 1 Co 15.33 é o substantivo homilia que quer dizer associação, companhia. Essa palavra só aparece uma única vez no N.T. Apesar do verbo relativo homileö significar “conversar, falar em discurso”, mas o seu substantivo quer dizer associação. Na verdade, Paulo estava advertindo sobre as más companhias, não propriamente dizendo palavras faladas. Algumas traduções já corrigiram essa tradução que a R.A. fez. Seguiram a King James em Inglês que diz: “Evil associations corrupt good manners”, acompanhando a Linguagem de Hoje e a NVI.
Isso não implica que as palavras têm um poder místico, pois a conversação diz respeito a uma comunicação, não propriamente por palavras. Os surdos-mudos, se nas suas companhias conversarem nos seus sinais conversas vãs, terão maus costumes. Hoje, temos os famosos chats na Internet. Não se precisa falar palavras para dialogar entre amigos. Se houver uma conversa má pelos chats, com certeza, terão maus costumes. Portanto, o Pr. Jorge Linhares falou um texto sem olhar o seu real significado como todos os textos citados em seu livro.
No Segundo capítulo o Pr. Jorge ousa dar um significado de Maldição diferente do escopo das Escrituras Sagradas, pois ele diz na pág. 16: “Maldição é a autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre outrem para causar dano à vida do amaldiçoado”. A palavra maldição segundo as escrituras só podem caber dois significados. O restante é pura invenção desse amado escritor.
A primeira diz respeito da maldição vinda da quebra da Lei, pois segundo o costume da época para se fazer uma aliança ter-se-ia que falar as bênçãos e as maldições. Como nos contratos hoje em dia, têm-se as cláusulas de direitos e multas caso quebre o contrato. Deus trouxe essa linguagem ao seu povo e deu a sua Lei chamando-a de “palavras da Aliança” diberey haberit (Ex 34.28). Antes da palavra berit tem o artigo definido ha mostrando que Deus estava falando com Moisés levando em conta as normas da Aliança, tornando-se maldito aquele que transgredir a sua lei e esperando o Cordeiro que viria na Plenitude dos Tempos para tirar a maldição. Paulo confirmou isso quando disse em Gálatas 3.10, dizendo que a quebra da Lei traria maldição esperando somente na graça de Jesus Cristo. Ele continua que Cristo nos libertou da Maldição da Lei (Gl 3.13).
Quando os patriarcas falavam uma benção como Isaque a Jacó, era a bênção da aliança que Deus fizera com Abraão perpetuando. Tanto que quando Esaú pediu para Isaque abençoá-lo, ele não fez (Gn 27.33-38). Ele poderia ter abençoado assim mesmo, mas não aconteceu, pois foi Isaque que Deus escolheu (Rm 9.10-13), ou seja, o poder da palavra da Bênção de Isaque não estava em si nas suas palavras, mas na promessa de Deus como diz Paulo em Romanos 4.16-18. Paulo fala com ênfase sobre a promessa, que tinha a primazia, não as palavras em si. Se havia uma outra maldição e Paulo não falou esperando somente quando o Pr. Jorge e outros escritores da Palavra Positiva escrevessem seus livros, Deus deixou de falar a muita gente, inclusive aos apóstolos e pais da Igreja e aos discípulos dos apóstolos. É melhor ficar com o óbvio: Paulo não deixou de falar nenhuma maldição hereditária. O que acontece dessa maldição de palavras é da simples cabeça desses amados e queridos pastores, somente isso.
A segunda acepção bíblica das palavras bênção e maldição é o que elas querem dizer literalmente: dizer coisas boas ou más. Tanto as palavras hebraicas e gregas querem dizer isso. O que a Escritura nos adverte é que não devemos amaldiçoar, ou seja, falar coisas más ao nosso próximo. Isso é falado não tanto por causa da pessoa que ouve, mas por causa da pessoa que diz, porque quem fala coisas más é por que o seu coração está contaminado pelo pecado de inveja, homicídio, sujeira. Jesus advertiu sobre isso: Em Mt 5.21,22; Mc 7.20-23. É isso que Tiago quis dizer quando fala no seu capítulo que ensina sobre o cuidado da língua (Tg 3.9,10). Tiago usa no verso 9 que não podemos abençoar o Senhor e depois amaldiçoar os homens. Ele usa a mesma palavra vinda da raiz grega do verso 9. Isso quer dizer que se fosse como um feitiço, Tiago estaria falando uma bobagem, pois como poderíamos falar uma palavra positiva para acontecer para Deus? Não. Tiago estava falando que não podemos falar coisas boas a Deus e depois falar coisas más ao nosso próximo. Isso confirma pelo que ele ensina mais adiante (Tg 4.13-15).
Tiago joga por terra essa doutrina nesses versos, pois ele diz que não podemos DIZER hoje e amanha iremos a tal cidade, mas devemos dizer SE DEUS QUISER. Ele usa no verso 13 o verbo legö, que quer dizer “falar, dizer”, no particípio presente, mais enfático ainda mostrando uma projeção constante. Isso demonstra que não está nas nossas palavras o destino das coisas, mas nas mãos de Deus; embora que se admita que as palavras influenciam e trazem conseqüências sérias à auto-afirmação das pessoas. Principalmente aos filhos e subordinados.
Para não se prolongar muito, precisa-se analisar pelo menos três textos apenas citados pelo Pr. Jorge Linhares e que não foram analisados exegeticamente. O primeiro texto é o Salmo 109.17.
Esse salmo, geralmente, o Pr. Jorge Linhares se baseia seu engenhoso e esotérico ensino dizendo que aqueles que amam a maldição ela o apanha e aquele que não quer a benção ela se aparta, levando o seu significado para palavras faladas. Mais uma vez o Pr. Jorge Linhares negligenciou fortemente a interpretação das Escrituras. Note-se que Davi não está falando de palavras faladas como uma maldição de feitiço, pois o próprio Davi, no mesmo salmo, disse que ele estava AFLITO E NECESSITADO (v.22). O adjetivo hebraico ´aniy é muito forte, sendo traduzido até para pobre como traduz a King James em inglês e a Linguagem de Hoje. Pois se fosse assim, Davi estaria se amaldiçoando? Quando Davi fala de maldição e benção era no contexto de aliança quebrada, pois aqueles que quebravam as alianças teriam punição severa. Davi estava dizendo que aqueles que não queriam o Senhor, houvesse o julgamento de Deus sobre eles. É isso que fala em todo o salmo, imprecações a seus inimigos.
O segundo texto mais controverso está em Provérbios 18.21. Esse verso é o mais usado pelos proclamadores dessa doutrina esotérica. Eles negligenciam fortemente a hermenêutica bíblica, pois segundo a poesia hebraica a segunda parte do verso não rimava nas palavras, mas no sentido contrário ou de uma forma sinonímia. Nesse caso o autor usou a segunda parte do verso para explicar a primeira. A morte e a vida estão no poder da língua. Na segunda parte o autor explica melhor: o que bem a utiliza come do seu fruto. Isso quer dizer que essa morte e vida aqui dizem respeito a conseqüências sérias através das palavras e essas conseqüências o autor já tinha falado no capítulo: ira, traumas, mágoas, contendas, mas não uma ação mística através das palavras.
Outro fator importante nessa interpretação é que se a morte é literal como diz esse autor, por que a vida não seria? Uma pessoa que tem uma inteligência mínima sabe que as palavras não dão vida a nada. Se não houver uma fecundação, uma semente não adianta o timbre da voz e as palavras que forem. Então essa interpretação de dizer que é literal não é inteligente.
O terceiro texto é uma explicação apenas do que Jesus disse em Mateus 15.11, como sempre, mal interpretado pelo Pr. Jorge Linhares, pois segundo o contexto, Jesus está falando de contaminação espiritual por causa da falta de lavar as mãos como ensinavam os fariseus. Jesus afirma que o que entra não contamina, que fica subentendido que esse entrar é pela boca, claro, pois Jesus está falando de contaminação espiritual, que para os fariseus acontecia quando comiam sem lavar as mãos.
Jesus ensina que a contaminação espiritual vem do que sai da boca. A ênfase não é a palavra boca, mas o verbo ekporeuomai no particípio com artigo definido mostrando que Jesus falava de algo interior que se manifestava no nosso corpo, não propriamente da boca. Marcos explica melhor em seu Evangelho mostrando que a intenção de Jesus mesmo era ensinar que de dentro do coração do homem que sai os pecados (Mc 7.20,21). Portanto, Jesus não está falando de palavras nem enfatizando a boca do homem, mas o que Jesus ensinou é que o pecado vem do coração do homem, do seu interior, não da sua boca. Ela é somente um órgão que se manifestará, pois Jesus falou que a boca fala do que o coração está cheio (Lc 6.45).
No capítulo oito, o Pr. Refuta a si mesmo sem notar, pois toda falta de verdade há contradições irreconciliáveis, que, às vezes, manifestam-se naturalmente. Nesse capítulo o autor trata do tema “Maldições que não se cumprem”. Ele começa citando, como sempre, um testemunho que ele recebera várias pragas de uma pessoa e não aconteceu. Ele cita o texto: A Maldição sem causa não se cumpre (Pv 26.2). Ele coloca inadvertidamente o exemplo de Balaão que quis amaldiçoar o povo no deserto e Deus falou a ele que não amaldiçoasse porque o povo era abençoado (Nm 22.6). Ora, se esse povo que foi considerado incrédulo pelo próprio Deus, causando juízo e ficando prostrados no deserto, foi considerado abençoado, quanto mais aqueles que estão debaixo do sangue de Jesus.
Realmente a única causa da maldição é a alienação de Deus e de sua palavra, mas aqueles que têm a Cristo FORAM ABENÇOADOS COM TODA A SORTE DE BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS NAS REGIÕES CELESTIAIS EM CRISTO JESUS (Ef 1.3).
Portanto, mesmo que alguém tenha falado palavras fortes e terríveis não significa que irão acontecer. O próprio Davi foi amaldiçoado pelos seus inimigos como por Golias e não se viu uma repreensão de Davi pelas palavras de Golias e nem houve alguma conseqüência por isso, mas vitória, pois a sua vida estava nas mãos de Deus.
Nesse penúltimo parágrafo é necessário falar das conseqüências dessa doutrina esotérica da palavra da maldição positiva. Uma das conseqüências é elevar o homem à condição de um deus.
O Pr. Jorge Linhares na pág. 51 afirma: “Foi pela palavra que Deus criou a terra, o firmamento, os animais, as aves, as plantas, o homem. Disse Deus: haja. E houve. Nós também temos o poder de trazer à existência muita coisa boa, através de nossas palavras”. Essa declaração é perigosa, porque coloca o homem no lugar de um deus. O homem não pode absolutamente nada fora de Cristo. Jesus disse: sem mim nada podeis fazer (Jo 15.5).
A palavra do homem é destruição e miséria, como disse Paulo aos romanos (Rm 3.14-16), pois Paulo está falando ao homem na condição de natureza caída. Se Deus deixasse para que se cumprisse o que falamos, estaríamos perdidos e terrivelmente frustrados, pois a Bíblia diz que enganoso é o coração do homem e terrivelmente corrupto (Jr 17.9,10). Se a boca fala o que o coração está cheio, então, Deus é sábio em deixar o homem na condição de homem apenas.
A outra conseqüência é que essa doutrina gera falta de humildade, pois as pessoas terão medo de confessar seus medos, suas fraquezas, seus perigos, pois se alguém falar isso, segundo o Pr. Jorge Linhares, pode acontecer. Com isso, as pessoas entram em uma falta de humildade dizendo que vai tudo bem, não mostrando realmente como a sua alma está. A Bíblia alerta que precisamos falar o que somos, até mesmo para sermos curados (Tg 5.16). O próprio Paulo disse que era fraco e o principal dos pecadores e não houve nenhuma ameaça que Paulo se tornou mais pecador por causa disso (2 Co 12.9,10; 1 Tm 1.15,16).
A última conseqüência que se comenta e mais grave é por que essa doutrina coloca por baixo o pecado original, da expiação e do próprio Deus, já que tira a soberania de Deus e a coloca nos lábios das pessoas e nega o que Cristo operou na cruz.
Autor: Francisco Mário Magalhães.
Pastor da Igreja Batista Nacional de Balsas, Teólogo e Pensador Cristão
Fonte: http://reflexoes-e-teologia.blogspot.com
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4 comentários
]ninguém comentou o artigo?
ResponderBom o artigo!
Mas... a ausência dos textos bíblicos que envolvem a mística do tema enfraquece a fundamentação. O autor conhece os textos que os ortodoxos se "embananam" e evitam?
Até que enfim alguém que não tem medo de "peitar as heresias protegidas".
ResponderDurante muitos anos vejo pessoas sofrendo demais por causa desse pensamento do "PODER" das palavras.
Sei que a única palavra que tem PODER é a de DEUS que cria coisas através da PALAVRA. Na verdade, a ênfase que é dada em "PODER" traz consigo um peso místico a respeito de tudo o que é dito por qualquer pessoa. Criando assim uma espécie de "Superstição Gospel", onde cada palavra é uma profecia, tornando assim cada pessoa em um profeta...
O que as palavras têm, na verdade não é PODER mas sim: INFLUÊNCIA (psicológica) sobre quem as ouve.
O texto está no novo endereço: http://fcomario.blogspot.com.br/2007/10/as-falacias-da-doutrina-bencao-e.html
ResponderAchei que o artigo desprega!!!A lógica do livro que é um alerta...Mas retive o que foi bom e proveitoso.
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