A intercessão de Cristo, o pacto da redenção e a nossa felicidade eterna

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Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7.25).

Eu fico impressionado com quão pouco paramos para meditar a respeito da maravilhosa verdade da continuidade da obra sacerdotal de Jesus Cristo, no céu, em nosso benefício. Durante o seu ministério terreno, como sacerdote, Jesus foi o sumo sacerdote perfeito, que ofereceu a si mesmo como sacrifício todo-suficiente para a nossa salvação. Após a sua ascensão, o Senhor continua a desempenhar o ofício sacerdotal, nas palavras do autor aos Hebreus, “vivendo sempre para interceder” por aqueles por quem entregou a sua vida como sacrifício agradável a Deus.

Em Hebreus 4.14-15, o autor diz: “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. Por volta de 1645 algumas pessoas chegavam até o puritano Thomas Goodwin e diziam: “Esse texto coloca um problema diante de nós. Ele diz que Cristo penetrou os céus. Ele está exaltado no lugar mais alto e distante. Como é possível que ainda lembre de nós?” A resposta de Goodwin era que esse texto também apresenta a solução, a resposta, pois esse que penetrou os céus se compadece de nossas fraquezas. Goodwin afirmava que essa passagem “por assim dizer, pega as nossas mãos e as coloca no peito de Cristo, e nos deixa sentir como o seu coração bate e suas afeições anseiam por nós” (The Heart of Christ. p. 48).

Assim, de acordo com Goodwin, as nossas fraquezas inspiram a compaixão de Cristo. E ao trabalhar a passagem, ele argumentou que o termo “fraquezas” envolve tanto o mal das aflições quanto o mal dos nossos pecados, pois Hebreus 5.2 diz que Jesus “é capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram”. Assim, mesmo a nossa tolice e nossas escolhas pecaminosas despertam a compaixão do nosso meigo e doce Redentor.

Quando o autor aos Hebreus nos diz que Jesus, estando á destra do Pai, vive sempre para interceder pelos seus, precisamos compreender que essa intercessão tem como alvo as nossas fraquezas, o que envolve, as nossas dores e também os nossos pecados.

Muitas vezes entendemos errado o que significa a intercessão de Jesus. É como se ele se colocasse diante do Pai e começasse a argumentar, a nos defender, a tentar convencer um Pai indisposto que não deseja nos perdoar. Não! Jesus não argumenta com base em nosso esforço. Ele não tenta lembrar ao Pai que, mesmo ainda cometendo pecados, temos nos esforçado para fazer o que é correto (Rm 7.21). Como afirma Richard D. Phillips: “Jesus não precisa falar nada disso. Ele só precisa identificar você como um daqueles que pertencem a ele” (Reformed Expository Commentary: Hebrews. Posição 3168. Edição Kindle).

A intercessão de Jesus é feita a partir da sua obra em nosso benefício, não do nosso esforço. O apóstolo João nos dá um vislumbre dessa verdade: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1Jo 2.1). O nosso advogado é o Justo. Sua intercessão em nosso benefício é feita com base na sua morte na cruz.

Tente imaginar o Filho apresentando ao Pai as marcas nas suas mãos, nos seus pés e no lado do seu corpo, e dizendo: “Foi por ele! Ele é meu!” Não há outra consequência senão perdão e desfrute prático do amor trinitário que é derramado em nossos corações.

Mas, como Jesus pode se dirigir ao Pai, dizendo: “Ele é meu!”?

João, em seu Evangelho, registrou a mais bela oração já feita, a oração sacerdotal do Senhor. E nessa oração, várias vezes Jesus afirma que lhe fomos dados pelo Pai: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra […] É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (vv. 6,9). Além disso, no famoso cântico do Servo Sofredor, nós encontramos a seguinte declaração: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (Is 53.11-12). Percebam: o Servo, o Senhor Jesus Cristo, como recompensa da sua obra perfeita, da sua obediência perfeita recebeu “muitos”.

A passagem acima e muitas outras nas Escrituras nos falam de um acordo prévio entre o Pai e o Filho, não de forma explícita, é verdade, mas, ainda assim, de forma muito clara. Quando fomos dados pelo Pai ao Filho? Quando foi que muitos foram prometidos pelo Pai ao seu Servo como a sua parte na obra da Redenção? Pense também nas várias passagens em que o Filho declara que veio tão somente para fazer a vontade daquele que o enviou (Jo 4.34; 5.30; 6.38,39).

Considere, por exemplo, Lucas 22.29: “Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio”. As palavras de Jesus aos seus discípulos são uma espécie de testamento. Por duas vezes neste versículo Jesus usa um verbo cujo significado é “fazer um pacto”. Literalmente, o Senhor Jesus afirmou: “Assim como meu Pai me confiou, por meio de um pacto, um reino, eu o confio a vocês também por meio de um pacto”. O Filho fala de um Pacto feito entre ele e o Pai. Quando tal Pacto foi feito? Com toda certeza, Jesus está se referindo àquilo que na teologia é chamado de “Pacto da Redenção”, a aliança entre Pai e Filho, na qual todos os detalhes da nossa salvação são acertados. Nesse pacto o Pai, representando a Trindade, apresenta todas as exigências da lei e toda a penalidade que o Filho deveria assumir sobre si. Por sua vez, o Filho recebe as promessas em caso de obediência perfeita. Uma dessas promessas foi um povo, uma Noiva, um rebanho.

Pense nas implicações dessa verdade gloriosa!

Na eternidade passada teu nome foi pronunciado pelo Pai como fazendo parte daqueles que foram dados ao Filho. O Pai se dirige ao Filho, o fiador da Nova Aliança e diz algo como: “O Alan será teu”. Hoje, no tempo presente, teu nome continua a ser pronunciado pelo Filho em sua intercessão. O Filho se dirige ao Pai e diz: “O Alan é meu! Tu mo deste!”. E teu nome continuará a ser pronunciado no céu até à eternidade futura, pelos séculos dos séculos, como alguém que é amado pelo Filho, mas não apenas por ele, mas também pelo Pai e pelo Espírito Santo.

Nossos pecados são tratados completamente por nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós e por nós intercede. Nossas aflições também são alvo da intercessão do Senhor. É por causa dele que temos recebido bênção sobre bênção. É por causa dos seus méritos que somos abençoados com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais (Ef 1.3).

De nenhum modo tais conceitos devem nos lançar à inércia na busca pelo crescimento na piedade. Muito pelo contrário, como expressão de nossa gratidão, não nos resta outra coisa a fazer senão lutar, pelo Espírito, para mortificarmos os feitos do corpo (Rm 8.13).

Somos fracos, é verdade. Mas, uma vez que ele é tudo aquilo de que necessitamos, podemos bradar com Richard Sibbes: “Somos fracos, mas somos dele” (The Bruised Reed. p. 62). Somos vacilantes, fracos, tímidos, mas pertencemos a ele; fomos comprados com o seu sangue precioso, puro, sem mácula. Por esta razão, aborreçamos toda dúvida, toda incerteza, todo pensamento que nos leve a imaginar que não há mais esperança, sejam quais forem os nossos problemas e pecados.

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Autor: Rev. Alan Rennê
Fonte: Jovem Reformado
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