O que é masculinidade biblicamente qualificada?

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Vivemos numa época em que a noção de masculinidade é completamente ignorada e terrivelmente distorcida. Não são poucas as vezes em que vemos na TV, os homens, especialmente os pais, como tolos, incompetentes e fracos, enquanto seus filhos parecem fontes de sabedoria. Ou então, os homens são vistos como valentões que usam de sua força para ameaçar e intimidar. Na verdade, as estrelas masculinas de Hollywood no esporte e na música, não são diferentes disso na vida real. A maioria destes famosos não parece ter o desejo de cuidar de sua mulher nem de suas próprias crianças. São abusivos, imaturos; adolescentes presos em corpos de homens-feitos; são efeminados e fracos – física, psicológica e espiritualmente. Hoje em dia, infelizmente, modelos de masculinidade são raros na sociedade em geral.

Até mesmo na igreja, muitos de nós, mesmo sendo homens que pertencem a Deus, não sabemos como nos comportar como homens. Começando pelo fato de que, nossa tendência natural é buscar querer os benefícios da masculinidade, e rejeitar suas responsabilidades. Além disso, não temos exemplos para seguir, principalmente se nossos pais são descrentes. Sem contar que somos pressionados a nos conformar ao padrão do mundo, onde muitas pessoas acreditam que a masculinidade bíblica é antiquada e até perigosa. Existe também muita pressão dentro de nós, por parte de nossa natureza pecaminosa, para não realizarmos a nossa tarefa como homens, pois somos naturalmente preguiçosos e egoístas.

Neste contexto histórico, podemos ter dificuldades com exortações como esta: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos” (1 Coríntios 16.13). E o nosso problema com esta instrução não é somente com a raridade da palavra varonilmente” e talvez uma dificuldade com entendimento deste conceito, mas também a realidade ao redor de nós, e dentro de nós. 

Mas temos em nosso Senhor Jesus Cristo o exemplo brilhante de masculinidade perfeita. Durante a encarnação, Ele nos mostrou o que um homem deve ser, e o que realmente significa masculinidade verdadeira. O Rei dos reis e Senhor dos senhores, demonstrava liderança e o exercício de autoridade com perfeição, ao longo de seu ministério público. E o exemplo d'Ele nos surpreende, porque muitas vezes nós pensamos em liderança como o uso de força para realizar as nossas metas. Pensamos nos líderes como homens carismáticos e com habilidade de influenciar e comandar outras pessoas com a força de personalidade ou de armas. O homem com uma arma de fogo maior, com músculos maiores, maiores habilidades de persuasão, com o exército mais poderoso, ou com mais dinheiro é o homem respeitado neste mundo. Todavia, não era assim que Jesus liderava, e um homem que o segue também não deve ser assim – seja no contexto familiar ou na igreja. Os atributos de Jesus devem ser encontrados em um homem de Deus – como pai, marido, bispo (pastor ou presbítero) ou como diácono.

Em 1 Timóteo 3, o apóstolo Paulo fornece uma lista dos atributos dos bispos e diáconos. E na verdade, estas características não são apenas dos homens em posições de autoridade na igreja, como também atributos que todo homem cristão deve possuir. Esta lista mostra que a masculinidade bíblica é bem diferente da masculinidade deste mundo. 

Quais são as características do bispo? Entre outras coisas, ele deve ser irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, e não avarento. O bispo deve governar bem a própria casa, e deve criar os filhos sob disciplina, com todo o respeito. E finalmente, ele deve ter bom testemunho dos de fora. As características do diácono, ainda no mesmo capítulo, são semelhantes, e o apóstolo deu uma lista de qualificações semelhante em Tito 1, onde ele escreve que o bispo não deve ser arrogante, nem irascível, nem dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe ganância, hospitaleiro, amigo do bem, sóbrio, justo, e piedoso. 

Os homens estão sempre realizando uma função de liderança, na maioria das vezes. Deus nos colocou na posição de liderança no casamento e também na igreja. Desde a queda, é fácil abusar nossas funções. Lord Acton disse no Século XIX: “O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente.” É fácil utilizar mal o nosso poder e nos comportar como ditadores na família e na casa de Deus em lugar de sermos líderes semelhantes a Cristo. Em vez de liderar como Ele, nós lideramos como gerentes comerciais ou como lideres políticos.

Podemos dizer algo como: “Você deve se comportar nesta maneira. Faça isso, e não faça aquilo.” E quando eles fazem a pergunta, “Por quê?” simplesmente respondermos: “Porque eu sou o chefe, e você deve me obedecer.” Porém, o cristão não deve ser assim, pois ao fazer isto é bem possível causarmos problemas para o rebanho de Cristo. Em vez de ensinarmos que a vida cristã é o oposto da vida mundana, nós ensinaremos que a igreja é uma organização como as outras. Em lugar de ensinarmos a graça de Cristo, ensinaremos legalismo, e conformidade às normas e aos regulamentos externos.

Nossa primeira tarefa, de acordo com 1 Timóteo 3 e em Tito 1, é a liderança pelo exemplo. Nossa família, nosso relacionamento com as nossas esposas e com nossas crianças, devem ensinar o estilo de vida cristão. Nossa conduta no lar e na igreja deve espelhar Cristo, que lavou os pés dos discípulos, que se humilhou, ao longo da sua vida terrestre; que entregou sua própria vida por causa do seu povo; que exerceu seu poder no contexto de auto-sacrifício.

O poder que temos nesta vida foi dado a nós por Cristo, e deve ser exercido como Ele o exerceu. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Fp 2. 5-8)

Como Cristo, devemos ser “não violento, porém cordato”; devemos ser “inimigos de contendas,” e devemos governar as nossas próprias casas desta maneira também. Como Cristo, devemos liderar humildemente, não com uma atitude arrogante. Ao fazermos isto, a comunidade verá nosso estilo de vida e teremos “bom testemunho dos de fora.” Não porque buscamos elogios dos outros, ou porque queremos o respeito dos homens. Mas quando vivemos como Cristo, eles verão que não somos como o mundo – somos bem diferentes. Somos seguidores de Cristo, o Rei que serve.

Isto não significa covardia e fraqueza, nem que seremos sempre agradáveis sem nunca abrir a boca para corrigir alguém. Pelo contrário, devemos falar a verdade em amor como Cristo fez. Ele nunca hesitou em confrontar os fariseus, inimigos do Evangelho, usando a expressão “raça de víboras” e chamava-os ao arrependimento. Mas, ao mesmo tempo, Ele comia com os pecadores, era paciente, longânimo e amoroso com aqueles que admitiam precisar de Sua graça. Por outro lado, podemos cometer este erro quando queremos viver em humildade. Ter medo de ofender alguém não é liderança, e sim, covardia; ter medo do que os outros vão pensar, medo de sermos rejeitados, de não sermos respeitados se não mostrarmos que nosso poder e masculinidade são parecidos com o deles.

Para sermos homens de Deus, no lar ou na igreja, como pais ou pastores, presbíteros ou diáconos, precisamos de coragem e força, que vêm somente da raiz da verdadeira humildade. E esta, nós só conhecemos por meio do Senhor. Força e coragem são frutos da fé e não de poder pessoal. Muitas vezes, a covardia é disfarçada em uma expressão de masculinidade. Quanto mais inseguros e assustados, mais valentões. Precisamos das características verdadeiras, pois as falsificações nos levarão ao desastre. Somente a fé de verdade poderá nos manter firmes e corajosos, sabendo que não devemos lutar por nossos próprios interesses, pelo contrario, devemos nos colocar em segundo lugar, priorizando sempre os outros e seus direitos.

Precisamos de Cristo e do Seu Espírito Santo, para realizarmos nossa tarefa nos ofícios da igreja. Cristo se comportava com masculinidade verdadeira. Ele enfrentou Seus acusadores em silêncio, Ele não fugiu do destino horrível que Ele sabia que teria de enfrentar; Ele era verdadeiramente forte e corajoso, confiando que seu Pai estaria com Ele.

Para realizarmos nosso chamado em ofícios na família ou na igreja precisamos de fé. É nossa obrigação passar muito tempo com a Palavra de Deus, em oração, em comunhão com a família de Deus, a comunidade da Aliança. A menos que o Espírito Santo esteja operando, será impossível viver a masculinidade verdadeira que Cristo ensina. Não conseguiríamos manter o equilíbrio entre mostrar amor e paciência aos pecadores fracos e manter justiça e disciplina na Igreja. Sem o Espírito, podemos tentar realizar, mas, com certeza, falharemos. Todavia, em Cristo e no poder do Espírito Santo podemos lutar pela unidade da igreja; podemos encorajar uns aos outros, podemos ensinar, exortar e amar o nosso próximo como a nós mesmos. Podemos oferecer uma liderança que serve, assim como nosso Salvador. Mesmo parecendo extremamente anticultural, é esse tipo de liderança que a Igreja de Cristo precisa. E quando homens vivem como Cristo, eles são o exemplo que o mundo precisa também. É para isto que fomos chamados, e esse é o exercício da masculinidade verdadeira e bíblica.

***
Autor: Pr. JIM WITTEVEEN é ministro da Palavra e dos Sacramentos servindo como missionário da Igreja Reformada em Aldergrove (Canadá) em cooperação com as Igrejas Reformadas do Brasil.
Fonte: Revista Diakonia, edição Nº 01, janeiro/2018, págs. 11-14

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