.
O Primeiro Livro dos Reis, capítulo 22, contém um caso impressionante. Micaías, falando como profeta do Senhor, prediz que Acabe, o rei de Israel, cairia na batalha de Ramate-Gileade (1Rs 22. 20 – 22). Acabe disfarça-se na batalha para evitar ser um alvo especial para o ataque inimigo (v. 3). Mas o plano de Deus não pode ser frustrado. A narrativa descreve o evento crucial:
“Então um homem armou o arco, e atirou a esmo, e feriu o rei de Israel por entre as fivelas e as couraças; então ele [o rei] disse ao seu carreteiro: Dá volta, e tira-me do exército, porque estou gravemente ferido.” (v. 34)
“Um homem armou o arco, e atirou a esmo”. Ou seja, ele não mirou em qualquer alvo em particular. Uma tradução alternativa seria que ele puxou seu arco “em sua inocência” (ESV[1], leitura à margem). Uma tradução alternativa poderia ser que um homem acertou Acabe, mas ele não sabia que havia feito (ele era “inocente” de saber que era o rei). Qualquer que seja a interpretação que tomemos deste detalhe, devemos observar que a flecha atingiu o lugar correto. Acabe estava vestido de armadura. Se a flecha tivesse atingido a couraça de Acabe, simplesmente ele poderia ter ricocheteado. Se tivesse atingido as fivelas da armadura, a flecha não o teria ferido. Mas, aconteceu haver um pequeno espaço entre as fivelas e a couraça. Talvez, por apenas um momento, Acabe virou ou dobrou de tal modo que uma fina abertura apareceu. A flecha foi certeira, exatamente no lugar certo. Ela o feriu fatalmente. Ele morreu no mesmo dia (1Rs 22.35), tal como Deus o tinha dito.
Deus mostrou naquele dia que ele estava no comando dos eventos aparentemente aleatórios. Ele controlou quando o homem tirou o seu arco. Ele controlava a direção de seu alvo. Ele controlou o momento em que a flecha foi lançada. Ele controlou o voo da flecha. Ele controlou a maneira que Acabe colocou sua armadura no início do dia e a posição que Acabe ficou quando a flecha se aproximava. Ele controlou a flecha quando ela atingiu o exato lugar e entrou fundo o suficiente para produzir dano fatal os órgãos. Ele trouxe Acabe para sua morte.
Para não se sentir muito triste por Acabe, devemos lembrar que ele era um rei perverso (1Rs 21. 25, 26). Além disso, ao ir para a batalha, ele desobedeceu diretamente o aviso que o profeta Micaías dera em nome de Deus. Deus, que é Deus de justiça, executou justo juízo sobre Acabe. A partir deste julgamento deveríamos aprender a reverenciar e honrar a Deus.
A morte de Acabe era um evento de significado especial. Ele tinha sido profetizado de antemão, e o próprio Acabe era uma pessoa especial. Ele foi rei em Israel, um líder proeminente, uma pessoa importante em conexão com a história do povo de Deus no Reino do Norte de Israel. Mas, o evento ilustra um princípio geral: Deus controla os eventos aparentemente aleatórios. Um evento excepcionalmente único, como uma flecha voar em direção a Acabe, não foi narrado como uma exceção, mas como um peso particularmente importante do princípio geral, que a Bíblia ilustra em passagens onde ensinam o controle universal de Deus.
Coincidências
Nós podemos encontrar outros eventos na Bíblia onde o resultado depende de uma aparente coincidência ou causalidade.
Em Gênesis 24, Rebeca, que pertencia ao grupo de parentes de Abraão, aconteceu de ela sair [para buscar água] justamente depois que o servo de Abraão chegou [ao local]. O servo estava orando e esperando, procurando uma esposa para Isaque, filho de Abraão (Gn. 24.15). O fato é que Rebeca veio justamente no momento certo, era claramente a resposta de Deus à oração do servo. Rebeca, mais tarde, casou-se com Isaque e deu à luz a Jacó, um ancestral de Jesus Cristo.
Anos mais tarde, Raquel, que pertencia à mesma família, aconteceu de sair [para levar as ovelhas] exatamente depois que Jacó chegou (Gen. 29.6). Jacó a encontrou, caiu de amor por ela e casou-se com ela. Ela se tornou a mãe de José, a quem Deus mais tarde levantou para preservar a família inteira de Jacó durante os sete anos de fome (Gen. 41 – 46). Quando Deus preparou Raquel para Jacó, ele estava cumprindo sua promessa que ele cuidaria de Jacó e o traria de volta a Canaã (28.15). Além disso, ele estava cumprindo sua promessa de longo alcance que ele abençoaria os descendentes de Abraão (vv. 13, 14)
Na vida de José, depois que os seus irmãos o tinham jogado em um poço, aconteceu de passar uma caravana de Ismaelitas que estava viajando para o Egito (Gen. 37.25)
A falsa acusação da esposa de Potifar levou José a ser jogado em uma prisão (Gen. 39.20). Aconteceu de Faraó ter se irado com seu copeiro-chefe e seu padeiro-chefe, e aconteceu de eles serem lançados na prisão onde José agora tinha uma posição de responsabilidade (40.1 – 4). Enquanto eles estavam repousavando, aconteceu de o copeiro-chefe e o padeiro-chefe terem um sonho especial. A interpretação de seus sonhos por parte de José o levou, mais tarde, à oportunidade de interpretar os sonhos de Faraó (Gen 41). Esses eventos conduziram ao cumprimento o antigo sonho profético que Deus tinha dado a José em sua mocidade (37.5 – 10; 42.9)
Depois que Moisés nasceu, sua mãe o pôs em um cesto feito de junco e o colocou entre os juncos à margem do Nilo. Aconteceu da filha de Faraó descer ao rio e sucedeu de ela notar o cesto. Quando ela abriu o cesto, aconteceu do bebê chorar. A filha de Faraó teve compaixão e adotou Moisés como seu próprio filho (Êx. 2.3 – 10). Como resultado, Moisés foi protegido da sentença de morte aos filhos machos das hebreias (1.16, 22), e ele “foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (At. 7.22). Assim, Deus executou seu plano, de acordo com o qual Moisés seria, finalmente, o libertador dos israelitas do Egito.
Josué enviou dois espias a Jericó. Fora de todas as possibilidades, aconteceu de eles irem à casa de Raabe, a prostituta (Js. 2.1). Raabe escondeu os espias e fez um acordo com eles (vv. 4, 12 – 14). Consequentemente, ela e seus parentes foram preservados quando a cidade de Jericó foi destruída (6.17, 25). Raabe, então, tornou-se uma ancestral de Jesus (Mt. 1.5).
“Aconteceu de [Rute] ir para a parte do campo que pertencia a Boaz” (Rt 2.3).[2] Boaz observou Rute, e então uma série de eventos levaram Boaz a casar-se com Rute, que se tornou uma ancestral de Jesus (Rt 4.21, 22; Mt. 1.5).
Durante a vida de Davi, lemos o seguinte registro do que aconteceu no deserto de Maon:
“E Saul ia deste lado do monte, e Davi e os seus homens do outro lado do monte; e, temeroso, Davi se apressou a escapar de Saul; Saul, porém, e os seus homens cercaram a Davi e aos seus homens, para lançar mão deles. Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra. Por isso Saul voltou de perseguir a Davi, e foi ao encontro dos filisteus; por esta razão aquele lugar se chamou Rochedo das Divisões” (1Sm 23.26 – 28).
Davi escapou por pouco de ser morto, porque aconteceu dos filisteus conduzirem um ataque em um determinado momento, e o aconteceu de o mensageiro chegar a Saul quando ele estava pronto para atacar a Davi. Se nada tivesse acontecido para interferir na perseguição de Saul, ele poderia ter tido sucesso em matar Davi. A morte de Davi teria extirpado a linhagem de descendência que levaria a Jesus (Mt. 1.1, 6).
Quando Absalão articulou sua revolta contra o rei Davi, aconteceu de um mensageiro vir a Davi dizendo: “O coração dos homens de Israel tem seguido a Absalão” (2Sm 15.13). Davi, imediatamente fugiu de Jerusalém onde, se ficasse, teria sido morto. Durante a fuga de Davi, aconteceu de Husai, o arquita, vir encontrar com ele, “com roupa rasgada e cabeça coberta de terra” (v. 32). Davi falou a Husai para ele voltar a Jerusalém, alegando apoiar Absalão e derrotar o conselho de Aitofel (v. 34). Como resultado, Husai foi capaz de persuadir a Absalão a não seguir o conselho de Aitofel sobre a batalha, e Absalão morreu na batalha que, finalmente, aconteceu (18.14, 15). Assim, as coincidências contribuíram para a sobrevivência de David.
Quando Ben-Hadad, o rei da Síria, havia sitiado Samaria, a cidade foi privada de alimento. Eliseu predisse que no dia seguinte, a cidade de Samaria teria farinha e cevada (2Rs 7.1). O capitão permaneceu em expressa descrença, e então Eliseu predisse que ele “veria aquilo...mas...não comeria” (v. 2). No dia seguinte, aconteceu de o capitão ser atropelado, na porta, pelo povo que saiu e saqueou o acampamento atrás de alimento (v. 17). “Ele morreu, como o homem de Deus havia dito” (v. 17), vendo o alimento, mas não vivendo para participar do mesmo. Sua morte foi um cumprimento da profecia de Deus.
Quando Atalia estava prestes a usurpar o trono de Judá, ela se comprometeu em destruir todos os descendentes da família de Davi. Aconteceu de Jeoseba estar ali, e ela pegou Joás, o filho de Acazias e o raptou e o escondeu (2Rs 11.2). Assim, a linhagem da descendência de Davi foi preservada, o que tinha de ser o caso se o Messias deveria vir da linhagem de Davi, como Deus havia prometido. Joás foi um antepassado de Jesus.
Durante o reinado do rei Josias, aconteceu de os sacerdotes encontrarem o Livro da Lei, quando eles estavam reparando os recintos do templo. Josias o tinha lido e, então ele foi estimulado a inaugurar uma reforma espiritual.
A história de Ester contém muitas coincidências. Aconteceu de Ester estar entre as jovens mulheres que foram levadas ao palácio do rei (2.8). Aconteceu de ela ser escolhida para ser a nova rainha (v. 17). Aconteceu de Mardoqueu descobrir os planos de Bigtã e Teres contra o rei (v. 23), e aconteceu de o nome de Mardoqueu ser incluído nas crônicas do rei (v. 23). A noite antes de Hamã planejar enforcar Mardoqueu, aconteceu de o rei perder o sono (6.1). Ele pediu para um assistente ler as crônicas, e aconteceu do assistente ler a parte onde Mardoqueu tinha descoberto o plano contra o rei (v. 1, 2). Aconteceu de Hamã ter entrado no pátio do rei exatamente naquele momento (v. 4). Toda uma série de acontecimentos operou para conduzir a Hamã a ser enforcado, os judeus resgatados e Mardoqueu ser honrado.
O livro de Jonas também contém eventos que agiram juntos. O Senhor enviou uma tempestade no mar (Jn. 1.4). Quando os marinheiros lançaram sorte a fim de identificar a pessoa culpada, “a sorte caiu sobre Jonas” (v. 7). O Senhor deu ordens ao peixe para que engolisse Jonas (v. 17). O Senhor deu ordem ao peixe para que a planta crescesse (4.6), ao verme que atacou a planta (v. 7), e em seguida, a ardência do sol e do “vento oriental abrasador” (v. 8).
Aconteceu de Zacarias, o sacerdote, esposo de Elisabete, ser escolhido pela sorte a oferecer incenso no templo (Lc 1.9). O tempo era extremamente oportuno, pouco antes da concepção de João Batista e da vinda de Jesus (v. 24 – 38).
Quando Dorcas morreu em Jopa, aconteceu de Pedro estar próximo em Lida (At 9. 32, 38). Aconteceu de os discípulos em Jopa ouvir que ele estava ali. Então, eles enviaram a Pedro e, como resultado, Dorcas foi trazida de volta à vida.
Quando o Apóstolo Paulo estava na prisão, aconteceu de o filho da irmã de Paulo ouvir sobre os planos dos judeus para matar Paulo (At. 23.16). Ele transmitiu a notícia ao comandante romano, da tribuna, que tinha seus soldados levado Paulo para Cesárea. Paulo foi salvo de morto por causa uma causalidade.
Poderíamos multiplicar exemplos deste tipo. A tempestade e o peixe que o Senhor enviou a Jonas podem ser considerados miraculosos, mas a maior parte temos nos concentrado sobre incidentes em que um espectador pode notar nada de extraordinário. Em cada caso, a narrativa como um todo mostra que Deus estava realizando seu propósito. Ele esta no controle desses eventos aparentemente “coincidentes”. Poderíamos listar muitos incidentes na Bíblia de tipos muito mais extraordinários, onde Deus exerceu poder miraculoso. Ele enviou as pragas sobre o Egito, dividiu as águas do Mar Vermelho, deu maná no deserto.
Vemos uma suprema exibição do controle de Deus quando olhamos algumas dos eventos aparentemente “coincidentes” durante a crucificação e morte de Jesus.
Quando Jesus foi crucificado, aconteceu de os soldados lançarem sorte para dividir suas vestes. Eles, assim, cumpriram a Escritura,
“Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes.” (João 19.24; Sl 22.18)
Quando Jesus morreu, aconteceu de um dos soldados perfurar um lado com uma lança, cumprindo a profecia:
“Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.” (Jo. 19.34)
E outra vez diz a Escritura: “Verão aquele que traspassaram.” (Jo. 19.37, citado de Zac. 12.10)
Depois da morte de Jesus, José de Arimatéia, um homem rico (Mt 27.57), levou o corpo de Jesus e o colocou em seu próprio sepulcro, que aconteceu de ser ali próximo e que estava vazio. Ele, então, cumpriu a profecia:
“E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo.” (Mt 27. 59, 60)
“E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte;” (Is 53.9)
Em Atos, os crentes tomaram coragem quando eles refletiram sobre como Deus tinha controlado os eventos da crucificação de Jesus (At. 4. 25 – 28). Eles oraram para que Deus continuasse a agir com poder em suas vidas:
“Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.” (At. 4. 29 – 31)
Deus é o mesmo hoje. Podemos inferir que Deus está no controle em todos os eventos aparentemente coincidentes em nossas vidas. Todos nós temos de encarar eventos que não temos controles: “tempo e acaso acontecem a todos” (Ecl 9.11). É um grande conforto saber que Deus controla tais coisas, por Deus saber o que ele está fazendo. Romanos 8.28 relembra-nos que “para aqueles que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, para aqueles que foram chamados segundo seu propósito”. Louvemos a Deus por sua majestade. E confiemos o futuro a Deus, incluindo as “coincidências” e as “causalidades”.
________
Notas:
[1] English Standard Version.
[2] A Almeida 21 traduz: “por coincidência, aquela parte da plantação pertencia a Boaz”. A Almeida Fiel traduz: “caiu-lhe em sorte...”
Por Vern Poythress
O Primeiro Livro dos Reis, capítulo 22, contém um caso impressionante. Micaías, falando como profeta do Senhor, prediz que Acabe, o rei de Israel, cairia na batalha de Ramate-Gileade (1Rs 22. 20 – 22). Acabe disfarça-se na batalha para evitar ser um alvo especial para o ataque inimigo (v. 3). Mas o plano de Deus não pode ser frustrado. A narrativa descreve o evento crucial:
“Então um homem armou o arco, e atirou a esmo, e feriu o rei de Israel por entre as fivelas e as couraças; então ele [o rei] disse ao seu carreteiro: Dá volta, e tira-me do exército, porque estou gravemente ferido.” (v. 34)
“Um homem armou o arco, e atirou a esmo”. Ou seja, ele não mirou em qualquer alvo em particular. Uma tradução alternativa seria que ele puxou seu arco “em sua inocência” (ESV[1], leitura à margem). Uma tradução alternativa poderia ser que um homem acertou Acabe, mas ele não sabia que havia feito (ele era “inocente” de saber que era o rei). Qualquer que seja a interpretação que tomemos deste detalhe, devemos observar que a flecha atingiu o lugar correto. Acabe estava vestido de armadura. Se a flecha tivesse atingido a couraça de Acabe, simplesmente ele poderia ter ricocheteado. Se tivesse atingido as fivelas da armadura, a flecha não o teria ferido. Mas, aconteceu haver um pequeno espaço entre as fivelas e a couraça. Talvez, por apenas um momento, Acabe virou ou dobrou de tal modo que uma fina abertura apareceu. A flecha foi certeira, exatamente no lugar certo. Ela o feriu fatalmente. Ele morreu no mesmo dia (1Rs 22.35), tal como Deus o tinha dito.
Deus mostrou naquele dia que ele estava no comando dos eventos aparentemente aleatórios. Ele controlou quando o homem tirou o seu arco. Ele controlava a direção de seu alvo. Ele controlou o momento em que a flecha foi lançada. Ele controlou o voo da flecha. Ele controlou a maneira que Acabe colocou sua armadura no início do dia e a posição que Acabe ficou quando a flecha se aproximava. Ele controlou a flecha quando ela atingiu o exato lugar e entrou fundo o suficiente para produzir dano fatal os órgãos. Ele trouxe Acabe para sua morte.
Para não se sentir muito triste por Acabe, devemos lembrar que ele era um rei perverso (1Rs 21. 25, 26). Além disso, ao ir para a batalha, ele desobedeceu diretamente o aviso que o profeta Micaías dera em nome de Deus. Deus, que é Deus de justiça, executou justo juízo sobre Acabe. A partir deste julgamento deveríamos aprender a reverenciar e honrar a Deus.
A morte de Acabe era um evento de significado especial. Ele tinha sido profetizado de antemão, e o próprio Acabe era uma pessoa especial. Ele foi rei em Israel, um líder proeminente, uma pessoa importante em conexão com a história do povo de Deus no Reino do Norte de Israel. Mas, o evento ilustra um princípio geral: Deus controla os eventos aparentemente aleatórios. Um evento excepcionalmente único, como uma flecha voar em direção a Acabe, não foi narrado como uma exceção, mas como um peso particularmente importante do princípio geral, que a Bíblia ilustra em passagens onde ensinam o controle universal de Deus.
Coincidências
Nós podemos encontrar outros eventos na Bíblia onde o resultado depende de uma aparente coincidência ou causalidade.
Em Gênesis 24, Rebeca, que pertencia ao grupo de parentes de Abraão, aconteceu de ela sair [para buscar água] justamente depois que o servo de Abraão chegou [ao local]. O servo estava orando e esperando, procurando uma esposa para Isaque, filho de Abraão (Gn. 24.15). O fato é que Rebeca veio justamente no momento certo, era claramente a resposta de Deus à oração do servo. Rebeca, mais tarde, casou-se com Isaque e deu à luz a Jacó, um ancestral de Jesus Cristo.
Anos mais tarde, Raquel, que pertencia à mesma família, aconteceu de sair [para levar as ovelhas] exatamente depois que Jacó chegou (Gen. 29.6). Jacó a encontrou, caiu de amor por ela e casou-se com ela. Ela se tornou a mãe de José, a quem Deus mais tarde levantou para preservar a família inteira de Jacó durante os sete anos de fome (Gen. 41 – 46). Quando Deus preparou Raquel para Jacó, ele estava cumprindo sua promessa que ele cuidaria de Jacó e o traria de volta a Canaã (28.15). Além disso, ele estava cumprindo sua promessa de longo alcance que ele abençoaria os descendentes de Abraão (vv. 13, 14)
Na vida de José, depois que os seus irmãos o tinham jogado em um poço, aconteceu de passar uma caravana de Ismaelitas que estava viajando para o Egito (Gen. 37.25)
A falsa acusação da esposa de Potifar levou José a ser jogado em uma prisão (Gen. 39.20). Aconteceu de Faraó ter se irado com seu copeiro-chefe e seu padeiro-chefe, e aconteceu de eles serem lançados na prisão onde José agora tinha uma posição de responsabilidade (40.1 – 4). Enquanto eles estavam repousavando, aconteceu de o copeiro-chefe e o padeiro-chefe terem um sonho especial. A interpretação de seus sonhos por parte de José o levou, mais tarde, à oportunidade de interpretar os sonhos de Faraó (Gen 41). Esses eventos conduziram ao cumprimento o antigo sonho profético que Deus tinha dado a José em sua mocidade (37.5 – 10; 42.9)
Depois que Moisés nasceu, sua mãe o pôs em um cesto feito de junco e o colocou entre os juncos à margem do Nilo. Aconteceu da filha de Faraó descer ao rio e sucedeu de ela notar o cesto. Quando ela abriu o cesto, aconteceu do bebê chorar. A filha de Faraó teve compaixão e adotou Moisés como seu próprio filho (Êx. 2.3 – 10). Como resultado, Moisés foi protegido da sentença de morte aos filhos machos das hebreias (1.16, 22), e ele “foi instruído em toda a sabedoria dos egípcios” (At. 7.22). Assim, Deus executou seu plano, de acordo com o qual Moisés seria, finalmente, o libertador dos israelitas do Egito.
Josué enviou dois espias a Jericó. Fora de todas as possibilidades, aconteceu de eles irem à casa de Raabe, a prostituta (Js. 2.1). Raabe escondeu os espias e fez um acordo com eles (vv. 4, 12 – 14). Consequentemente, ela e seus parentes foram preservados quando a cidade de Jericó foi destruída (6.17, 25). Raabe, então, tornou-se uma ancestral de Jesus (Mt. 1.5).
“Aconteceu de [Rute] ir para a parte do campo que pertencia a Boaz” (Rt 2.3).[2] Boaz observou Rute, e então uma série de eventos levaram Boaz a casar-se com Rute, que se tornou uma ancestral de Jesus (Rt 4.21, 22; Mt. 1.5).
Durante a vida de Davi, lemos o seguinte registro do que aconteceu no deserto de Maon:
“E Saul ia deste lado do monte, e Davi e os seus homens do outro lado do monte; e, temeroso, Davi se apressou a escapar de Saul; Saul, porém, e os seus homens cercaram a Davi e aos seus homens, para lançar mão deles. Então veio um mensageiro a Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus com ímpeto entraram na terra. Por isso Saul voltou de perseguir a Davi, e foi ao encontro dos filisteus; por esta razão aquele lugar se chamou Rochedo das Divisões” (1Sm 23.26 – 28).
Davi escapou por pouco de ser morto, porque aconteceu dos filisteus conduzirem um ataque em um determinado momento, e o aconteceu de o mensageiro chegar a Saul quando ele estava pronto para atacar a Davi. Se nada tivesse acontecido para interferir na perseguição de Saul, ele poderia ter tido sucesso em matar Davi. A morte de Davi teria extirpado a linhagem de descendência que levaria a Jesus (Mt. 1.1, 6).
Quando Absalão articulou sua revolta contra o rei Davi, aconteceu de um mensageiro vir a Davi dizendo: “O coração dos homens de Israel tem seguido a Absalão” (2Sm 15.13). Davi, imediatamente fugiu de Jerusalém onde, se ficasse, teria sido morto. Durante a fuga de Davi, aconteceu de Husai, o arquita, vir encontrar com ele, “com roupa rasgada e cabeça coberta de terra” (v. 32). Davi falou a Husai para ele voltar a Jerusalém, alegando apoiar Absalão e derrotar o conselho de Aitofel (v. 34). Como resultado, Husai foi capaz de persuadir a Absalão a não seguir o conselho de Aitofel sobre a batalha, e Absalão morreu na batalha que, finalmente, aconteceu (18.14, 15). Assim, as coincidências contribuíram para a sobrevivência de David.
Quando Ben-Hadad, o rei da Síria, havia sitiado Samaria, a cidade foi privada de alimento. Eliseu predisse que no dia seguinte, a cidade de Samaria teria farinha e cevada (2Rs 7.1). O capitão permaneceu em expressa descrença, e então Eliseu predisse que ele “veria aquilo...mas...não comeria” (v. 2). No dia seguinte, aconteceu de o capitão ser atropelado, na porta, pelo povo que saiu e saqueou o acampamento atrás de alimento (v. 17). “Ele morreu, como o homem de Deus havia dito” (v. 17), vendo o alimento, mas não vivendo para participar do mesmo. Sua morte foi um cumprimento da profecia de Deus.
Quando Atalia estava prestes a usurpar o trono de Judá, ela se comprometeu em destruir todos os descendentes da família de Davi. Aconteceu de Jeoseba estar ali, e ela pegou Joás, o filho de Acazias e o raptou e o escondeu (2Rs 11.2). Assim, a linhagem da descendência de Davi foi preservada, o que tinha de ser o caso se o Messias deveria vir da linhagem de Davi, como Deus havia prometido. Joás foi um antepassado de Jesus.
Durante o reinado do rei Josias, aconteceu de os sacerdotes encontrarem o Livro da Lei, quando eles estavam reparando os recintos do templo. Josias o tinha lido e, então ele foi estimulado a inaugurar uma reforma espiritual.
A história de Ester contém muitas coincidências. Aconteceu de Ester estar entre as jovens mulheres que foram levadas ao palácio do rei (2.8). Aconteceu de ela ser escolhida para ser a nova rainha (v. 17). Aconteceu de Mardoqueu descobrir os planos de Bigtã e Teres contra o rei (v. 23), e aconteceu de o nome de Mardoqueu ser incluído nas crônicas do rei (v. 23). A noite antes de Hamã planejar enforcar Mardoqueu, aconteceu de o rei perder o sono (6.1). Ele pediu para um assistente ler as crônicas, e aconteceu do assistente ler a parte onde Mardoqueu tinha descoberto o plano contra o rei (v. 1, 2). Aconteceu de Hamã ter entrado no pátio do rei exatamente naquele momento (v. 4). Toda uma série de acontecimentos operou para conduzir a Hamã a ser enforcado, os judeus resgatados e Mardoqueu ser honrado.
O livro de Jonas também contém eventos que agiram juntos. O Senhor enviou uma tempestade no mar (Jn. 1.4). Quando os marinheiros lançaram sorte a fim de identificar a pessoa culpada, “a sorte caiu sobre Jonas” (v. 7). O Senhor deu ordens ao peixe para que engolisse Jonas (v. 17). O Senhor deu ordem ao peixe para que a planta crescesse (4.6), ao verme que atacou a planta (v. 7), e em seguida, a ardência do sol e do “vento oriental abrasador” (v. 8).
Aconteceu de Zacarias, o sacerdote, esposo de Elisabete, ser escolhido pela sorte a oferecer incenso no templo (Lc 1.9). O tempo era extremamente oportuno, pouco antes da concepção de João Batista e da vinda de Jesus (v. 24 – 38).
Quando Dorcas morreu em Jopa, aconteceu de Pedro estar próximo em Lida (At 9. 32, 38). Aconteceu de os discípulos em Jopa ouvir que ele estava ali. Então, eles enviaram a Pedro e, como resultado, Dorcas foi trazida de volta à vida.
Quando o Apóstolo Paulo estava na prisão, aconteceu de o filho da irmã de Paulo ouvir sobre os planos dos judeus para matar Paulo (At. 23.16). Ele transmitiu a notícia ao comandante romano, da tribuna, que tinha seus soldados levado Paulo para Cesárea. Paulo foi salvo de morto por causa uma causalidade.
Poderíamos multiplicar exemplos deste tipo. A tempestade e o peixe que o Senhor enviou a Jonas podem ser considerados miraculosos, mas a maior parte temos nos concentrado sobre incidentes em que um espectador pode notar nada de extraordinário. Em cada caso, a narrativa como um todo mostra que Deus estava realizando seu propósito. Ele esta no controle desses eventos aparentemente “coincidentes”. Poderíamos listar muitos incidentes na Bíblia de tipos muito mais extraordinários, onde Deus exerceu poder miraculoso. Ele enviou as pragas sobre o Egito, dividiu as águas do Mar Vermelho, deu maná no deserto.
Vemos uma suprema exibição do controle de Deus quando olhamos algumas dos eventos aparentemente “coincidentes” durante a crucificação e morte de Jesus.
Quando Jesus foi crucificado, aconteceu de os soldados lançarem sorte para dividir suas vestes. Eles, assim, cumpriram a Escritura,
“Repartiram entre si as minhas vestes, E sobre a minha vestidura lançaram sortes.” (João 19.24; Sl 22.18)
Quando Jesus morreu, aconteceu de um dos soldados perfurar um lado com uma lança, cumprindo a profecia:
“Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.” (Jo. 19.34)
E outra vez diz a Escritura: “Verão aquele que traspassaram.” (Jo. 19.37, citado de Zac. 12.10)
Depois da morte de Jesus, José de Arimatéia, um homem rico (Mt 27.57), levou o corpo de Jesus e o colocou em seu próprio sepulcro, que aconteceu de ser ali próximo e que estava vazio. Ele, então, cumpriu a profecia:
“E José, tomando o corpo, envolveu-o num fino e limpo lençol, e o pôs no seu sepulcro novo.” (Mt 27. 59, 60)
“E puseram a sua sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte;” (Is 53.9)
Em Atos, os crentes tomaram coragem quando eles refletiram sobre como Deus tinha controlado os eventos da crucificação de Jesus (At. 4. 25 – 28). Eles oraram para que Deus continuasse a agir com poder em suas vidas:
“Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.” (At. 4. 29 – 31)
Deus é o mesmo hoje. Podemos inferir que Deus está no controle em todos os eventos aparentemente coincidentes em nossas vidas. Todos nós temos de encarar eventos que não temos controles: “tempo e acaso acontecem a todos” (Ecl 9.11). É um grande conforto saber que Deus controla tais coisas, por Deus saber o que ele está fazendo. Romanos 8.28 relembra-nos que “para aqueles que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, para aqueles que foram chamados segundo seu propósito”. Louvemos a Deus por sua majestade. E confiemos o futuro a Deus, incluindo as “coincidências” e as “causalidades”.
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Notas:
[1] English Standard Version.
[2] A Almeida 21 traduz: “por coincidência, aquela parte da plantação pertencia a Boaz”. A Almeida Fiel traduz: “caiu-lhe em sorte...”
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Fonte: POYTHRES, Vern. Chance and the Sovereignty of God: A God-Centered Approach to Probability and Random Events. Wheaton, Ill: Crossway, 2014, p. 31 – 39).
Tradução: Rev. Gaspar de Souza
Via: Eis Nosso Tempo
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