 Por Andrew  Sandlin
Por Andrew  SandlinA  Reforma Protestante redescobriu  o evangelho da livre graça de   Deus,  que tinha sido obscurecido na igreja  medieval por um moralismo   que  ignorava a profunda depravação do homem, por um  sacerdotalismo que   se  colocava entre os homens e Deus, e por um eclesiasticismo  que    apagava a distinção Criador-criatura, tornado-se a própria igreja a nova     Encarnação. No cerne da Reforma estava uma ênfase renovada sobre o    evangelho  bíblico-paulinoagostiniano: salvação somente pela graça de    Deus, sobre a base  da obra expiatória de Cristo, recebida pela fé    somente. Os Reformadores e suas  igrejas tinham orgulho de serem    conhecidos como “evangélicos”, visto que viam a  si mesmos como pregando    o puro evangelho, a mensagem do evangelho. Esse é o  evangelicalismo    bíblico.
Mas o que se passa hoje por    evangelicalismo está, em muitos  pontos, bem longe do evangelicalismo da    Reforma, assim como está em  geral longe do ensino bíblico em outros   pontos.  Quando amigos perguntam  se sou evangélico, rapidamente digo   “Não”. Porque  freqüentemente eles  identificam “evangélico” com “crer   na Bíblia” e “pregar o  evangelho”,  tento explicar que é precisamente   devido ao fato do evangelicalismo  não  crer corretamente na Bíblia ou   pregar o evangelho fielmente, que não me   considero um evangélico e não   posso ser um membro de uma igreja  evangélica  (isso é grandemente   verdade do fundamentalismo moderno, que é  simplesmente uma  versão mais   restritiva e provincial do  evangelicalismo). O que talvez seja os    seus três principais distintivos  permanece em total contraste com a   crença e  prática bíblica e  reformada do Cristianismo.                    
Um Evangelho Subjetivo, e não Objetivo
Embora   os evangélicos modernos  professem uma crença firme na  Bíblia, no   centro de sua religião não está a sua  visão da Bíblia, mas  sua visão   do evangelho. O evangelicalismo orgulha-se sobre  a  centralidade do                                                                               evangelho e da salvação. É justamente aqui, contudo,  que o    evangelicalismo está mais poluído. Na verdade, ironicamente o    suficiente, a  visão evangélica do evangelho está mais perto daquela da    Roma medieval do que  do evangelho bíblico da Reforma. O Concílio de    Trento, a resposta católica  romana à Reforma, sustentou que a salvação  é   um empreendimento cooperativo  entre Deus e o homem. Deus coloca o    processo em movimento (no batismo), mas o  homem ajuda ao longo do    processo. De acordo com Roma, o livre-arbítrio do homem  desempenha uma    grande parte em sua salvação. Os Reformadores reconheceram    corretamente  que isso destruiu o evangelho da graça de Deus. Abriu o   caminho  para o  homem afirmar sua própria contribuição, bondade e   justiça. Para os   evangélicos, isso é quase uniformemente sua própria   “decisão”. Nesse  ponto,  eles são um com Roma.
Os  evangélicos  são defensores da  “regeneração por decisão”. O   evangelicalismo é  essencialmente uma deturpação do  novo nascimento, a    institucionalização da experiência de conversão. A coisa  importante    sobre a salvação é a experiência do homem, seus sentimentos sobre  ser    salvo. Uma dose pesada desse experiencialismo foi introduzida na  igreja   no  Wesleyianismo do século dezoito, e tem sido uma marca do    evangelicalismo desde  então. A experiência de Wesley foi a de ficar    “estranhamente aquecido” quando  ouviu o evangelho, e essa experiência    tornou-se uma peça central de sua  teologia. (Para ser justo, a    soteriologia de Lutero também era de certa forma  autobiográfica, mas    ela guiou-o em direção de uma salvação somente pela obra de  Deus.
Para  Calvino, em contraste, nossa  salvação reside na obra  objetiva  da  expiação de Cristo. Os homens não são  salvos pelo que  experimentam;   eles são salvos pelo que Cristo realizou. Em Sua  grande  obra   redentora sobre a cruz e em Sua ressurreição, Cristo assegurou a     salvação do Seu povo, cumprindo as exigências da lei ao substituir     judicialmente os pecados dos pecadores. Quando o evangelho é pregado,    ele atrai  eficaz e irresistivelmente aqueles a quem Deus escolheu. Eles    são conquistados  por Cristo, o seu Redentor. Eles são trazidos sob    seus joelhos em humilde  submissão, e não podem fazer nada senão  exercer   fé na obra redentora de Jesus  Cristo. Essa experiência,  embora   essencial, é um resultado da expiação objetiva  de Cristo e da  aplicação   do evangelho pelo Espírito Santo.
         Para os evangélicos isso é  muito  sofisticado e também   “intelectual”. O         fato realmente  central é que Deus perdoou os   seus pecados, aceitou-os  em Sua família,  tornou-os felizes, e   preparou-os um lar no céu. Para  evangélicos, o  evangelho centra-se na   vontade e prazer do homem; para os  Reformados, o  evangelho centra-se  na  vontade e prazer de Deus.
Porque ser um   evangélico  significa abraçar a sua forma de evangelho centrado no   homem, não podemos ser  evangélicos.                  
Uma Religião do Novo Testamento, e Não Bíblica
         A ala Reformada da Reforma  expressava a unidade do pacto de    Deus no Antigo e Novo Testamento. Os  evangélicos enfatizam a falta de    unidade entre esses pactos, pois para os  evangélicos o objetivo da Fé é    reproduzir “o Cristianismo do Novo Testamento”.  Os evangélicos crêem    em ¼ da Bíblia; os cristãos Reformados crêem numa Bíblia  inteira.    Evangélicos rotineiramente desprezam a autoridade do Antigo  Testamento.    A lei do Antigo Testamento, eles afirmam, é parte do “velho” pacto,  e    foi destinado somente para o antigo Israel; hoje ouvimos apenas as    palavras  de Jesus, João, Paulo e assim por diante. Os evangélicos estão    entre os mais  ruidosos em insistir sobre “crer na Bíblia de capa a    capa”, mas não crêem que ¾  do que aparece entre as capas tenha  qualquer   relevância para hoje. Eles falam  hipocritamente sobre  “estrita   inerrância bíblica”, mas isso em geral é  simplesmente  “conversa   piedosa”, pois eles negam que as provisões do novo pacto   estavam em   operação no Antigo Testamento (Gl. 4:22-31). Eles não vêem  muito do    evangelho, se é que algo, no Antigo Testamento. E porque o    evangelicalismo  centra-se no evangelho, isso significa que o Antigo    Testamento é largamente  irrelevante. Funcionalmente, portanto, o termo    “crente na Bíblia” não se aplica  a maioria dos evangélicos.
Um Evangelho Limitado, não a Fé Plena
Isso  leva diretamente à  característica final do  evangelicalismo, a  qual  os cristãos que crêem na Bíblia  devem repudiar  expressamente.  Para os  evangélicos, é o evangel, o evangelho  (limitada e  erroneamente   definido, é claro) que deveria impressionar nossas  vidas.  Para os   Reformados, é a soberania de Deus e Seu governo régio absoluto   na   Terra que é impressionante. O evangelho evangélico não é meramente     deturpado; é limitado. O evangelho evangélico é um fim em si mesmo.    “Manter  nossas         almas longe do inferno” é todo o significado da    vida sobre a Terra.  Para os Reformados, o significado da vida sobre a    Terra é a submissão absoluta  a Cristo, o nosso Redentor real, e o    trabalho diligente para estender o Seu  reinado na Terra. Evangelismo é    um meio essencial para esse fim, mas não o  próprio fim. Afirmar que o    evangelismo é um fim em si mesmo é expor uma  teologia deturpada e    centrada no homem. O fim é a glória de Deus e, com  referência ao Seu    plano para a Terra, a expansão gradual, porém inexorável do  Seu reino    (Mt. 6:33; 13:31-34).
Os evangélicos estão  intensamente   interessados no tipo de  evangelismo deles. Porque esse  evangelismo não é  apenas  deturpado, mas  também limitado, ele não se  relaciona com  muitos aspectos da  vida.  Porque o evangelismo é o  centro de sua  religião e por não se relacionar   com muitos aspectos da  vida, a  própria religião não se relaciona com  muitos  aspectos da  vida. Porque  sua religião não se relaciona com  muitos aspectos da   vida, eles tendem  a pensar como os humanistas  mundanos naquelas áreas  sem  relação com  sua religião limitada. Esse é o  porquê, em primeiro  lugar, o método   apologético evangélico compromete o  evangelho, como  Cornelius Van Til  tão  poderosamente demonstrou.
         Os evangélicos estão dispostos a   comprometer tudo, até Deus   mesmo, por causa de seu ídolo precioso, o  seu  evangelho deturpado e   limitado. Esse é o motivo da maioria deles  não ver nada  de errado em   enviar seus filhos para escolas do governo,  adotar uma psicologia    secular, ensinar uma ciência evolucionária,  eleger políticos ateus e   endossar  traduções errôneas da Bíblia. Essas  áreas estão além do   alcance de seu  evangelho limitado. Tudo além do  escopo de seu  evangelho  limitado é algo legal  para uma perspectiva  “neutra” (isto  é, violadora  do pacto).
Por essas razões,  onde  quer que o  evangelicalismo moderno  tenha florescido, ele tem   bombardeado a ortodoxia  bíblica histórica;  eviscerado uma fé forte e   teologicamente ancorada; e  castrado uma  religião robusta, vigorosa e   abrangente. Seu sucesso tem sido o   fracasso do Cristianismo bíblico.
Conseqüentemente, ser um  evangélico no sentido moderno é diluir e  eventualmente destruir a Fé.
Tradução: Felipe Sabino de  Araújo  Neto
Fonte: Faith for All of Life, Julho 2000
Via:Eleitos de Deus
Via: [ Ministério Batista Beréia ]
 








 
 
 
 
 
 
 
 
