“Eis que faço uma coisa nova, agora sairá à luz; porventura não percebeis? Eis que porei um caminho no deserto, e rios no ermo.” (Isaías 43.19)
Após meses de espera, foi publicada no último final de semana, na Revista Época, a matéria que fala a respeito da inconformidade de um grande número de evangélicos com a atual realidade da igreja brasileira.
Pode parecer coincidência, mas a matéria sai no mesmo instante em que um telepastor insiste em divulgar mais uma de suas heréticas campanhas financeiras.
O artigo publicado é bastante repercussivo. São inúmeros os blogs, sites que divulgaram o artigo.
Fui contatado pelo autor dias depois de nossa participação no protesto da última Marcha para Jesus. De uma forma bastante simples, fui entrevistado pelo autor, e pude expressar minhas opiniões a cerca do assunto, bem como indicar pessoas e oferecer material reflexivo aos meus pontos de vista. Só solicitei que meu nome não fosse inserido na reportagem. E aguardamos até sábado, com bastante ansiedade, a publicação.
A matéria reflete, de forma bastante clara, os porquês do descontentamento por parte das principais lideranças com o andamento do contexto neopentecostal, principalmente. É preciso ver que a matéria tem como alvo o público leigo. Em momento algum, tem um discurso aprofundado, principalmente nas bases e na essência do que realmente é o pentecostalismo e o neopentecostalismo. Isso se dá pelo fato de não termos uma teologia pentecostal. É preciso dizer que teologia da prosperidade não reflete uma teologia pentecostal. A teologia da prosperidade é uma forma “vulgar”, superficial, de um contexto não apropriado para a realidade brasileira e também sul-americana.
Essa falta de uma teologia pentecostal fez com que alguns pastores, após terem contato com a realidade de parte de alguns movimentos carismáticos americanos, se entusiasmasse com as facilidades decorrentes do pensamento de alguns teólogos americanos.
É preciso ter em mente que alguns desses teólogos viviam e vivem até hoje à margem de alguma representabilidade no contexto americano.
O objetivo da matéria é trazer luz, mesmo que de forma simples, descrevendo que o movimento neopentecostal necessita de limites éticos.
Outro ponto a ser destacado é trazer distinção entre o que é e quais são os protestantes históricos, pentecostais históricos e neopentecostais. Há uma grande distinção entre um grupo e outro. Diferenças bastante essenciais para entendermos a realidade da igreja brasileira. E é entendendo essas diferenças que se pode pensar em uma nova Reforma Protestante (termo esse já utilizado por mim há bastante tempo).
Uma nova Reforma Protestante se faz necessária para sairmos de antigos vínculos formados pelos teólogos da teologia liberal, como também da teologia da prosperidade. Ambas teologias têm seus pontos nocivos à Igreja. A teologia liberal, formada por pensadores que insistem em se distanciar da vivência espiritual, que insistem em ter uma orientação mais burguesa, confirmando isso com suas ligações com a Maçonaria, isso ocorrendo desde sua chegada ao Brasil.
Do outro lado, a teologia da prosperidade vem de forma emergente sendo provada a cada dia, por novos pastores, novas entidades eclesiásticas, e acontece de diferentes formas. Parece não ter limites. É uma bola de neve ladeira abaixo. É tão cheia de novidades que as lideranças se confundem em títulos: ora são pastores, ora bispos, apóstolos, e agora já têm até um patriarca, tudo no sentido de caminhar de forma emergente, nova. Até possuem um novo vocabulário. Em muitos casos, nem mais precisam da Bíblia.
A revelação e a ligação com Deus é pessoal. Isso faz com que tanto a teologia liberal como a teologia da prosperidade sejam pontos de referência de que a Igreja necessita de novos caminhos.
Primeiramente é preciso despertar a igreja pentecostal para que busque a sua teologia, busque através de seus sermões, sua liturgia, suas músicas, formas de reflexão. Que o povo pentecostal seja também um povo pensante, reflexivo.
Por outro lado, que as igrejas históricas sejam menos burocráticas, mais flexíveis, livres para que o povo leigo possa servir a Deus, assim como a Palavra determina. Que algumas igrejas históricas quebrem seu vínculo com a burguesia, e sejam abertas aos pobres, não de forma enrustida, mas de forma libertadora.
Aí sim poderemos limitar a ação do movimento neopentecostal, que a meu ver é a forma nociva da extensão da igreja. O movimento neopentecostal nasce do comodismo das igrejas históricas e do desequilíbrio organizacional dos pentecostais. Como uma erva-daninha, surge nos espaços ociosos, deixados tanto por pentecostais como por protestantes históricos.
Pensar teologia sem que essa teologia tenha fluxo cotidiano com a comunidade a cerca é uma grande perda de tempo. Assim, por muito tempo, protestantes históricos acumularam diplomas e mais diplomas, e pentecostais, anos após anos, endemonizaram a busca do conhecimento teológico. Essa lacuna foi preenchida pelas heresias e pelas fantasias neopentecostais.
Na matéria, não foi possível uma expressão de um teólogo pentecostal, pois esse teólogo referencial não existe. E neopentecostal seria algo imaginável. Com isso, fomos obrigados a ler velhos chavões do pensamento filosófico de vários teólogos das igrejas protestantes históricas.
A nova Reforma nasce a partir do momento em que uma nova consciência de igreja une passado, presente e futuro, ou seja, uma teologia que fuja de padrões teóricos e que seja cotidiana, produtora de vida, que interaja com ricos e pobres, que seja livre dos vícios antigos, mas que também tenha um espírito profético, capaz, de forma abundante, de trazer direções para um mundo moderno.
Tudo isso dentro da simplicidade e da pureza de um Evangelho livre de segundas intenções e da busca de glórias humanas. A nova Reforma nasce a partir do momento em que homens e mulheres abrirem vossos corações para que Deus faça algo novo a cada dia.
Fonte: [ As pedras clamam ]
Via: [ Uma estrangeira no mundo ]
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