A autoridade Bíblica

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“Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” (Atos 17.11)

Já me aconteceu de conversar com pessoas que se dizem cristãs e negam a Bíblia como única regra de fé e prática do crente em Jesus Cristo. Afirmam que uma certa "tradição apostólica" tem tanto valor quanto as Escrituras Sagradas e que em nenhum momento a Bíblia ensina sua própria autoridade sobre ensinamentos humanos. Este texto em Atos é apenas uma das diversas provas de que Deus nos entregou palavras que estão acima de qualquer tradição do homem.

Esta passagem de Atos trata da pregação de Paulo e Silas na sinagoga de Beréia. Repare que Lucas registra o caráter nobre destes cidadãos bereanos. Por que eles se destacam em relação aos tessalonicenses? A resposta está no próprio versículo - receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.

Ou seja, vemos aí um ensino apostólico tendo de passar pelo crivo da Bíblia antes de ser aceito. E o que é mais interessante: doutor Lucas apresenta esta atitude como algo positivo. Outro detalhe: quando esta pregação de Paulo aconteceu, é muito provável que poucos livros do Novo Testamento já estivessem escritos - talvez nenhum deles existisse ainda. Então, as Escrituras que os bereanos examinavam eram nada menos que textos do Antigo Testamento.

Daqui podemos tirar uma lição, se realmente cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, inspirada e suficiente para levar o homem à salvação e santificação. Lucas mostra claramente que, se o ensino dos apóstolos não batesse com os textos do Antigo Testamento (que eram examinados diariamente), os bereanos não aceitariam a mensagem do Evangelho. E mais – mostra que esta atitude é louvável!

Imagino às vezes se não seria por isso que não sabemos de uma carta de Paulo aos Bereanos, mas temos duas aos Tessalonicenses...

“Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso.” (Provérbios 30.5-6)

“E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição.” (2 Pedro 3.15,16)

Um dos maiores problemas que existe na igreja atualmente é um efeito colateral do acesso universal às Escrituras que os reformadores nos proporcionaram. Este grave problema é a livre interpretação das Escrituras. Ao contrário do que alguns afirmam, a Reforma Protestante não foi a grande responsável por isso. Lutero, por exemplo, era a favor do livre-exame da Bíblia e não da livre interpretação. Nas palavras do ex-monge, se fosse assim, “cada um inventaria sua própria forma de ir para o inferno”.

Hoje, porém, tantos pastores evangélicos (?) quanto grupos cristãos declaradamente não-evangélicos insistem em afirmar que os cristãos protestantes defendem o direito de cada um interpretar a Bíblia como bem entende. É quase impossível que existam duas pessoas que interpretem todos os textos bíblicos da mesma forma, mesmo tendo a mesma formação teológica. Não porque existam ambigüidades, mas por próprios pressupostos e motivos pessoais, em algum momento alguém pode entender de forma inexata o que algum texto está dizendo. Neste caso, se esta pessoa realmente viver a Palavra de Deus, ela estará atenta à repreensão e humildemente aceitará seu erro.

O perigo, portanto, não são pessoas que conhecem e vivem a Bíblia, mas algo parecido - pessoas que conhecem, mas não vivem a Palavra. Homens que preferem apegar-se à própria tradição ou necessitam comprovar um assunto de qualquer forma e se utilizam de um fragmento do texto sagrado para isto. Pelo menos sabemos que este problema não é recente. Já no primeiro século, Pedro alertava para pessoas que interpretavam mal e levianamente as cartas de Paulo, além das outras Escrituras. (Aproveito para destacar que Pedro acaba de colocar os escritos do Apóstolo Paulo, e não tradições apostólicas, com a mesma autoridade do Antigo Testamento).

Não sabemos ao certo como tais textos estavam sendo torcidos, mas vemos este mesmo problema hoje em dia. Ao mesmo tempo em que algumas igrejas “cristãs” afirmam que a Bíblia não ensina ser a única regra de fé e prática do crente, usam textos soltos para comprovar que ela ensina a guardar certas tradições - que, teoricamente, existem desde a igreja primitiva. Outras igrejas fazem uso disto para acrescentarem novas profecias e novos conceitos, tentando resgatar uma outra 'igreja primitiva', que hoje desapareceu. Por fim, até não-cristãos tentam provar que Jesus não pretendia fundar uma igreja primitiva, e que os seguidores de Cristo, em algum momento, resolveram criar este novo paradigma de religião.

Mesmo que gritem que não era assim que Jesus ou os primeiros cristãos agiam, uma acusação comum aos poucos cristãos que ainda tentam guardar a sã doutrina, a estes só resta agir, ironicamente, como a própria igreja primitiva e apostólica, fundada por Jesus Cristo. Nas palavras do próprio Mestre:

“E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês? Assim vocês anulam a palavra de Deus por causa da tradição de vocês. Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens.” (cf. Mateus 15.1-9)
“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17)

Provavelmente não existe texto mais claro quanto à autoridade das Escrituras quanto este. Acredito que ao chegar nestas palavras de Paulo, aquele que professa ou não a fé cristã tem apenas duas opções - aceitar toda a Escritura como inspirada por Deus e única suficiente como regra de fé e prática do crente ou rejeitá-la. Quem aceita isto positivamente é um verdadeiro seguidor de Cristo. Aquele que não aceita esta idéia simplesmente não é.

Alguns dizem que existem textos nas Escrituras que são declaradamente não-inspirados. Quase sempre são textos em que Paulo está no meio de uma argumentação, falando “como homem”. Ou seja, em seu próprio raciocínio, Paulo apresenta afirmações que ímpios fariam e as responde. Por exemplo: “Mas, se a nossa injustiça ressalta de maneira ainda mais clara a justiça de Deus, que diremos? Que Deus é injusto por aplicar a sua ira? (Estou usando um argumento humano.)” (Romanos 3.5, NVI). Se quisermos ignorar o versículo seguinte, e todo o contexto da carta aos Romanos, realmente teremos uma passagem “não-inspirada” na Bíblia. Porém, qualquer ser humano com o mínimo de inteligência perceberá que Paulo responde sua pergunta na continuação do texto, demonstrando que o argumento humano é falho.

Outra idéia, tolamente acatada pelos ateus, em especial, é um bizarro pensamento de que o texto bíblico foi pneumografado (neologismo usado pelo professor e pastor Marcos Alexandre), um equivalente a dizer que a Bíblia é algo psicografado, como se o Espírito Santo tomasse o corpo da pessoa, quando esta ia escrever e Ele próprio fosse o escritor. Assim, os pobres caçadores de falhas bíblicas tentam achar contradições, diferenças de um texto pra outro, entre outras coisas. Adoram encontrar erros astronômicos e geológicos em suas interpretações superficiais, mas dificilmente algum deles tenha se dado ao trabalho de pesquisar o Evangelho de Marcos no original grego, por exemplo. Se algum dia os acusadores do texto sagrado fossem além do que suas capacidades permitem, talvez dissessem “o Espírito Santo é analfabeto?”. Isto é apenas uma prova de sua argumentação limitada a buscas em sites da internet e leitura de reportagens sensacionalistas.

A seguir, desenvolverei mais o assunto, mas as duas citações abaixo já nos mostram quão antiga e, sinceramente, repetitiva é qualquer acusação contra a Palavra de Deus:

“Deve-se lembrar que Moisés não fala com perspicácia filosófica sobre mistérios ocultos, mas relata as coisas que são observadas em todos os lugares (...) A desonestidade daqueles homens é suficientemente repreensível, por censurarem Moisés por não falar com maior exatidão. Porque, como se tornou um teólogo, ele tinha mais respeito por nós do que pelas estrelas (...) Se o astrônomo indaga a respeito da dimensão real das estrelas, ele vai descobrir que a lua é menor que Saturno. Deixemos os astrônomos com seu conhecimento mais elevado; mas, nesse ínterim, aqueles que percebem pela lua o esplendor da noite são condenados por seu uso de perversa ingratidão, a menos que reconheçam a beneficência de Deus. Aquele que deseja aprender astronomia (...) deixe-o ir aonde quiser.”

“Pois quem, mesmo que de bem parco entendimento, não percebe que Deus assim conosco fala como que balbuciar, como as amas costumam [fazer] com as crianças? Por isso, formas de expressão que tais não exprimem, de maneira clara e precisa tanto o que Deus seja, quanto Lhe acomodam o conhecimento à paucidade da compreensão nossa.” (João Calvino)

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17)

O que significa dizer que a Escritura é inspirada? A idéia é a seguinte - suponha que eu deseje escrever uma carta para uma pessoa, mas minha linguagem usa muitas expressões peculiares, o que tornaria minha mensagem obscura. Por exemplo, suponha que esta pessoa seja um crente que more numa pequena aldeia lusófona em outro continente, aonde não chegou luz. Conto que digitei a carta no Word e depois imprimi na minha multifuncional, e que o Lula não pagou meu pai, por isso não revelei fotos tiradas com um repórter da TV Globo local. Provavelmente meu amigo não saberia o que é Word, multifuncional, TV Globo Local e talvez não teria idéia de quem é Lula ou o repórter citado. Sem contar possíveis gírias que por acaso eu usasse.

O que eu faria para resolver a situação? Como se trata de uma situação hipotética, suponha que eu conheça uma colega da mesma etnia, que faça intercâmbio no Brasil. Eu poderia ditar a carta para ela, e ela trataria de adaptar minhas novidades para que meu amigo pudesse entender. Ele poderia chamar o Lula de Chefe, por exemplo. Também poderia omitir o que fiz no Word e apenas dizer que escrevi a carta numa máquina. E o repórter da Globo se tornaria um mensageiro muito famoso em minha cidade. Suponha também que minha amiga não seja boa em ortografia. Assim, corro o risco de ter alguns erros de português. Mas como ela é uma pessoa de confiança, tenho a certeza absoluta que minha mensagem seria transmitida e analiso atentamente para saber se a idéia que queria passar foi perfeitamente adaptada à realidade do meu irmão estrangeiro.

A idéia é mais ou menos essa. É por isso que Moisés não cita a criação de todos os planetas do Sistema Solar, por isso que Marcos escreve seu Evangelho com alguns erros de grego, por isso que a Terra parece ser plana em certos textos. Eram homens com uma visão limitada do Universo sendo usados pelo próprio Deus Eterno para escrever sobre assuntos inefáveis para pessoas limitadas. E eles cumpriram sua missão. A mensagem foi transmitida, apesar de “erros”.

Os homens escreveram como escreveriam normalmente. Mas o Espírito Santo transmitiu a mensagem como aprouve a Ele. Muito provavelmente, alguns dos autores nem imaginavam que estariam sendo lidos 3000 anos depois. Mas o Espírito Santo sabia. E por isso Ele formou este Livro Santo, Perfeito e Único. Formado de dois testamentos, sessenta e seis livros, mas um único Livro com uma única história - a história da Salvação.

“Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador. Eu anunciei, e eu salvei, e eu o fiz ouvir, e deus estranho não houve entre vós, pois vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR; eu sou Deus.” (Isaías 43.11,12)

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17)

É estranho que "cristãos" digam que não existe um texto na Bíblia que prove a autoridade das Escrituras sobre qualquer outro ensinamento. Em primeiro lugar, é irônico que eles queiram que tal heresia seja comprovada por um texto bíblico. Temos uma discussão sem fim, porque se alguém não crê que a Bíblia tenha toda a autoridade sobre a vida do cristão, que diferença um texto bíblico fará? E se você não acha que a Bíblia tenha tal prioridade, por que basear seus argumentos justamente na própria Escritura?

Em compensação, aquele que crê pode perceber facilmente que um trecho como estes versículos da segunda carta de Paulo a Timóteo comprova o que aprendemos sobre a Bíblia. Proponho que examinemos lentamente a idéia que o Apóstolo quer passar sobre as Escrituras (quanto à autoridade de Paulo, veja a parte 2 desta reflexão).

Primeiramente, ele diz que Toda a Escritura é inspirada por Deus. Sendo a revelação escrita de Deus aos homens, um livro que teve a mão do Criador do Universo, é impossível que imaginemos a possibilidade de uma obra mais completa e perfeita aqui na Terra. Uma pessoa que tenta adicionar ou retirar algo da Palavra de Deus está claramente dizendo que o Senhor não foi capaz de transmitir sua mensagem muito bem e precisa de uma forcinha. Ora, um ateu ou não-cristão negar o valor da Bíblia já é algo reprovável, mas um suposto cristão que solapa a soberania e o poder divinos desta forma é, no mínimo, um blasfemo.

Dizer que tradição humana, revelações misteriosas ou apócrifos que contradizem a Palavra têm tanto valor quanto as Escrituras Santas é dizer que aquilo que o Senhor nos deixou está incompleto, é imperfeito, precisa de algo mais. Dizer que Deus poderia fazer uma obra melhor, ou pior, é simplesmente dizer que Deus está abaixo do homem. Afinal, se homens limitados foram capazes de notar que faltava algo no Livro inspirado pelo Espírito de Deus, então somos mais espertos que o Todo-Poderoso, que deixou essa passar...

Não me resta dúvida que tais pessoas em nada diferem da serpente do Éden, o primeiro exemplo de alguém que "aperfeiçoou" as palavras do Senhor.

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 - NVI)

Continuando a análise deste texto, nos deparamos com outra afirmação - “Toda Escritura é útil”. O que o texto quer dizer com isto? Parece-me claro que dentre as 66 subdivisões, que chamamos de “livros”, e os quase 1200 capítulos não existe um mínimo trecho que não tenha seu valor. Não importa o quanto você não goste de ler as imensas descrições de rituais de Levítico ou as grandes listas genealógicas - tudo isto é proveitoso e útil para a preparação do homem de Deus. Esta preparação Paulo divide em quatro ramos, que estudaremos a seguir.

Ensino

Mais do que qualquer comentário ou livro cristão, a Palavra de Deus é a bibliografia imprescindível para educarmos uma pessoa nos caminhos do Senhor. É incrível que hoje em dia tão pouca ênfase tem se dado ao ensino da Bíblia. As igrejas históricas muitas vezes oferecem escolas bíblicas descontextualizadas e ultrapassadas, que agradam normalmente apenas aqueles que têm muita vontade de aprender ou os crentes já acostumados com as aulas dominicais desde a infância.

A formação dos professores também deixa a desejar. Presenciei casos de professores ensinarem conceitos errados sobre Lei e Graça para os alunos - assunto que foi tratado em uma de minhas primeiras aulas na Faculdade Teológica! Antes que me acusem de esperar demais de pessoas que se oferecem para ensinar, aviso que se tratava de uma pessoa com formação em teologia. E mais - por que esperamos que nossos professores ou de nossos filhos em escolas “seculares” tenham excelentes formação e currículo, mas não exigimos o mínimo das pessoas que fazem um serviço bem mais importante, que é o ensino de verdades eternas?

Quanto a igrejas menos organizadas e mais modernas (para ser eufemístico), me assusta saber que muitas delas sequer têm uma preocupação com a formação dos santos. Quando se critica isto, utilizam-se do ridículo argumento que “a letra mata, mas o Espírito vivifica”. Como se não fosse o Espírito Santo o grande Autor da Palavra de Deus! Ou pior - alguns cristãos medíocres acreditam que deve haver uma separação entre razão e fé, como se Deus não fosse o Criador de Suas mentes, como se as cartas de Paulo estivessem lá para sentirmos apenas fortes emoções e não para também estudarmos. Defendem que não deve haver raciocínio sobre textos bíblicos. Eu pergunto - para que servem os livros sapienciais então? Como Paulo formaria sua teologia sem meditar sobre o texto do Antigo Testamento e perceber que a vinda de Cristo tinha realmente lógica quando os textos eram estudados?

Este trecho de 2 Timóteo deixa claro que um homem de Deus só estará plenamente apto para seu serviço, sua boa obra, quando for ensinado pela Escritura. Todo aquele que nega esta verdade, nega a Palavra de Deus. E quem nega a Palavra de Deus, nega ao Senhor.

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 - NVI)

Repreensão

A seguir, o apóstolo Paulo nos apresenta uma característica aparentemente negativa da Palavra de Deus - a função de repreender o homem de Deus. Ninguém gosta de ser repreendido, mas é importante notar que uma repreensão verdadeiramente baseada na Santa Escritura não deve nunca ser motivo de desgosto. Pelo contrário, apenas mostra a preocupação que o Senhor teve para conosco, a ponto de nos mostrar como não devemos agir se quisermos viver para Sua glória.

Infelizmente, nem todos pensam assim; um homem que utiliza a Palavra de Deus para diagnosticar e arrancar alguma doença da Igreja ou da vida de seu irmão não é recebido muito bem - com a exceção do caso de ele estar em cima de um púlpito, usando o título de “pastor”. Mesmo assim, existem casos em que sua repreensão não é bem recebida, como por exemplo, um jovem pregador criticando tradições sem sentido, ou um pastor visitante demonstrando que certas atitudes de namorados crentes não estão necessariamente corretas.

A verdade é que ninguém gosta de ser repreendido, seja por um homem, pela Palavra de Deus, ou pelo próprio Deus. A Bíblia nos mostra inúmeros casos de pessoas que não seguiram o conselho do Senhor e não se saíram muito bem seguindo seus próprios caminhos. Apenas para ilustrar, o primeiro pecado foi justamente este caso e o motivo do primeiro assassinato foi o desgosto por uma repreensão do Criador do Universo. Pessoas que não aceitam que sua dura cerviz seja amolecida sofrem uma repreensão ainda pior por conta de seu orgulho.

Não existe uma fórmula mágica para percebermos se uma palavra contra algum ato nosso é válida ou não, mas a Bíblia ainda é o melhor juiz quando se trata do assunto. Se a repreensão não teve um respaldo bíblico, provavelmente você poderá replicá-la com a própria Palavra. Se a repreensão veio da própria Palavra de Deus, aplicada à sua vida, só lhe resta abaixar a cabeça e aceitar tal confrontação.

Nos dois casos, um homem de Deus sábio só tem a ganhar.

“Com que purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra.” (Salmo 119.9)

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 - NVI)

Correção

Perceba que as funções bíblicas seguem uma lógica - primeiramente ensinamos, depois repreendemos. A partir daí podemos entrar no terceiro passo, que é corrigir o erro. Aparentemente, repreensão e correção parecem estar ligadas, mas o homem corrigido pelo Senhor é aquele a quem ele ama. Enquanto todos são repreendidos, a correção que vem da Palavra de Deus é reservada para pessoas especiais. Uma prova disso é que o diabo foi repreendido por Jesus (Mateus 4), e o anjo Miguel disse apenas “o Senhor te repreenda” para ele (Judas 9). É óbvio que uma repreensão ao demônio não inclui uma correção da parte de Deus. Então, quem são aqueles que recebem a correção de Deus?

a) Seu povo: Depois de todas aquelas provações e humilhações no deserto, o Deus de Israel traz estas palavras para os judeus: “Sabes, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o SENHOR teu Deus” (Deuteronômio 8.5). O motivo para isto é que o povo não deveria se esquecer nunca quem estava no comando e de quem vinha todas as bênçãos. Eles não deveriam cometer os erros que seus pais haviam cometido. “Antes te lembrarás do SENHOR teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia” (Deuteronômio 8.18).

b) Os felizes: “Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso” (Jó 5.17). Em algumas versões temos “bem-aventurado”, palavra que tem basicamente o mesmo significado de “como é feliz”. A pessoa que bem-aventurada não tem apenas uma felicidade dada por Deus, ela é feliz de uma forma indescritível, porque o Senhor, Criador do Universo, Todo-Poderoso, reserva um “tempo” para corrigi-la. Que privilégio é ser agraciado com a correção da Sabedoria de Deus. “O zombador não gosta de quem o corrige, nem procura a ajuda do sábio” (Provérbios 19.15)

c) Os humildes: Esta é, na verdade, uma conseqüência do item anterior. Um homem que aceita a correção é alguém que demonstra humildade para perceber que está errado. É alguém que reconhece sua total incapacidade de se guiar sozinho - “Eu sei, Senhor, que não está nas mãos do homem o seu futuro; não compete ao homem dirigir os seus passos. Corrige-me, Senhor, mas somente com justiça, não com ira, para que não me reduzas a nada” (Jeremias 10.23,24). Deus não quer pessoas que lutam para ser boas, mas pessoas que sabem que sem Ele é impossível ser bom. “Mas ele nos concede graça maior. Por isso diz a Escritura: 'Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes'” (Tiago 4.6).

d) Seus amados: “Filho meu, não desprezes a correção do SENHOR, E não desmaies quando por ele fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. Na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela” (Hebreus 12.5,6.11). Todos sabem o que é uma correção paterna e, fora casos de pais abusivos, só uma criança ou alguém imaturo não tem plena certeza que apanhou da mãe porque fez algo errada. Não há necessidade de dizer que nossos pais fazem isso por amor e devemos ser gratos por tanto. E tenho certeza que ninguém deixou de amar seus pais por causa de chineladas justas. É estranho que supostos cristãos não aceitem uma correção bíblica em suas preciosas doutrinas.

O mais interessante é notar que todos os pontos resumem numa coisa só - aqueles que são corrigidos pelo Senhor são os filhos escolhidos de Deus. Apenas estes reconhecem sua total incapacidade de seguir sozinhos, amam ao Senhor porque Ele primeiro os amou, são o povo de Deus e são bem-aventurados, pois foram alcançados pela Graça. Agora, pergunto - o que vem primeiro nestes quatro itens?

Poderia levar horas formulando uma boa resposta. Mas preciso resumir tudo em: Deus e Sua inexplicável misericórdia eterna. Que sejamos eternamente gratos pelo trabalho de nosso Pai em nossas vidas.

“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são” (1 Coríntios 1.27,28).

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 - NVI)

Instrução

A maioria das pessoas me olha de forma admirada quando digo que o melhor presente de aniversário - na verdade, o melhor presente de todos - que já recebi na vida foi uma pequena Bíblia dada por uma amiga. Os crentes não entendem por que esta Bíblia é diferente das outras; além de ela não ter anotações ou comentários, alguém que nasceu em lar cristão não deveria achar este presente tão sensacional assim. No caso dos incrédulos, apenas preciso dizer que eles acham uma coisa sem sentido.

O fato é que esta Bíblia foi a primeira que li completa, devocionalmente - e este é um dos motivos (além do fato de ter recebido o presente de uma pessoa querida) pelo qual o presente é tão importante. Não há professor, teólogo ou pastor que consiga abafar a Palavra de Deus, caso esteja falando dela. Quando a Bíblia fala através de alguém, para outras pessoas, sua infinita sabedoria e poder falam mais alto que o instrumento humano usado para isso.

A instrução (ou educação em algumas versões) é a última das quatro funções que Paulo lista neste texto. Como disse antes, é interessante notar que há uma lógica na seqüência de Paulo. Primeiramente, você é ensinado e, depois de repreendido pela Palavra de Deus, seus erros são corrigidos... até que um dia você completará a sua instrução na justiça. É claro que este é um alvo inatingível em nossa vida terrena, mas com certeza haverá um momento em que você é aquele que estará ensinando, repreendendo, corrigindo e instruindo.

E não é justamente isso que acontece entre Paulo e Timóteo neste trecho que estamos estudando?

“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3.16,17 - NVI)

Para concluir, lembremo-nos do motivo pelo qual iniciei este estudo - alguém disse que não existe qualquer texto na Bíblia que prove as Escrituras como única regra de fé e prática do crente. Depois de vários trechos confirmando esta idéia, que só não vê quem não quer, passamos um pouco de tempo neste versículo, que provavelmente é o mais usado para comprovar o que queremos. As conclusões até então:

a) Toda a Escritura é inspirada por Deus - Se quisermos adicionar ou retirar alguma coisa da Bíblia, teremos de admitir que o Senhor não foi capaz, através de seus instrumentos humanos, de produzir uma obra tão perfeita que não necessite de acréscimos para melhorá-la.

b) Toda a Escritura é útil para o ensino, repreensão, correção e instrução - Todo o texto bíblico serve como ferramenta para a completa formação de uma pessoa na justiça de Deus. Dos primeiros passos de discipulado até a maturidade espiritual, a Escritura tem seu valor.

Agora vejamos o que Paulo diz no final do verso 17. O texto explica melhor o que a formação bíblica pode fazer com um homem de Deus. Repare que não é um homem qualquer, mas um homem de Deus. É aquela pessoa lavada e remida no sangue do Cordeiro, que se entregou completamente ao Senhor, não todas as pessoas. É por isso que muitos não conseguem enxergar ensinamentos na Bíblia, a colocam no nível de um livro qualquer de sabedoria ou auto-ajuda ou precisam dar sua colaboração pessoal nos ensinamentos. O homem de Deus não tem essa necessidade, pois sabe que o Senhor proveu aquilo que é necessário para sua formação. Prova disso é a continuação do raciocínio de Paulo.

O Apóstolo diz que este aprendizado do homem de Deus o tornará apto e completamente pronto para qualquer boa obra. Ou seja, as Escrituras não apenas conferem aptidão para alguém fazer o trabalho do Senhor (acredito que "toda boa obra" é necessariamente qualquer ato que glorifique a Deus), como o deixam plenamente preparado (isto é, o máximo que o homem pode conseguir). Eu não vejo como não enxergar claramente que um cristão, um homem de Deus, não precisa de outra regra que não seja a Bíblia Sagrada.

Agora, se alguém acha que existe tal necessidade, precisa ler um pouco mais. Ou, simplesmente, não é um homem de Deus e, portanto, não vê a Palavra que nos foi entregue como a perfeita mensagem que ela é. Nos dois casos a única solução é que esta pessoa seja ensinada, repreendida, corrigida e instruída... pela Bíblia.

autor: Josaías Cardoso Ribeiro Júnior
Fonte: [ http://www.monergismo.com ]
Via: [ Amigos do Puritanismo ]

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3 comentários

Anônimo mod

A Autoridade Bíblica

por

Josaías Cardoso Ribeiro Júnior

Responder

É sempre bom poder acessar este blog. Parabéns!

Acesse meu novo blog, me adicione e siga-me novamente por favor. Será um privilégio tê-lo comigo.

http://moisespedrosa.blogspot.com/

Um grande abraço, amado.

No Senhor.

Pr. Moisés Carneiro

Responder
Anônimo mod

Não sou teólogo, mas pergunto.
Como seguir a autoridade bíblica sem seguir, reunir, aceitar, se filiar, exaltar e etc uma denominação?
A Igreja bíblica está somente na bíblia?
Almir

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