O perigo de negar a presciência de Deus acerca das escolhas dos Homens

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Por John Piper

Deteriorando a Nova Aliança

Um dos ensinos falsos mais antigos que ressurge periodicamente, na história da igreja, é o ensino de que Deus não pode saber de antemão as escolhas responsáveis dos homens. A argumentação é esta: as escolhas são livres, e “livres” significa criadas pela própria pessoa, e “criadas pela própria pessoa” significa fora da capacidade de conhecimento, antes de as escolhas serem criadas. Nem mesmo Deus pode conhecer o “nada”. E “nada” é o que as escolhas são antes de serem criadas.

As pressuposições filosóficas nesta argumentação são: 1) liberdade significa capacidade de criar por si mesmo; 2) as escolhas humanas são livres neste sentido; 3) um Deus infinito não pode saber aquilo que ainda não foi criado, e assim por diante. Esse antigo ensino falso parece ser motivado pela filosofia. Não é prescrito pelas Escrituras. Um recente exponente desse antigo erro falou sobre as “mudanças doutrinárias que a lógica exigiu e, conforme creio, as Escrituras me permitiram fazer” (Clark Pinnock, The Grace of God, the Will of Man: A Case for Arminianism, Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990, p. 18-19 – ênfase acrescentada). Você percebe a ordem: a lógica exige, e as Escrituras permitem. Algo está fora de ordem, quando a ordem é o rei exigente e as Escrituras fornecem o endosso.

Negar a presciência de Deus acerca das escolhas responsáveis dos homens jamais foi afirmado pela igreja como parte legítima da ortodoxia cristã histórica. Tanto calvinistas como arminianos têm afirmado, historicamente, a presciência exaustiva e específica de Deus. João Calvino escreveu: “[Deus] prevê os acontecimentos futuros somente devido ao fato de que Ele já decretou que eles aconteçam” (Institutes of the Christian Religion, III, 23, 6). Jocobus Arminius escreveu: “[Deus] sabia desde a eternidade que pessoa creria... e que pessoa perseveraria mediante a graça subseqüente” (Carl Bangs, Arminius, Nashville: Abingdon Press, 1971, p. 219, 352). Negar a presciência de Deus a respeito das escolhas humanas não tem sido uma parte da ortodoxia cristã.

Entre as muitas razões para evitar esse erro antigo está o fato de que ele tende a destruir os fundamentos da nova aliança. A nova aliança foi profetizada por Moisés, Jeremias e Ezequiel. Foi inaugurada e adquirida pela morte de Jesus (Lucas 22.20). E Paulo era um ministro da nova aliança (2 Coríntios 3.6).

A essência da nova aliança é que Deus trabalha para que o povo da aliança cumpra as suas condições de fé e obediência. Na antiga aliança da Lei, dada no monte Sinai, a graça foi oferecida (Êxodo 34.6-7) e a obediência que procede da fé foi exigida. Mas para a maioria das pessoas não foi dada a graça transformadora. “O senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Deuteronômio 29.4).

Na nova aliança, a promessa é: “O senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração... para amares o senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30.6). “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem... Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ezequiel 11.19-20; 36.27). “Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jeremias 31.33). “Porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim” (Jeremias 32.40).

Em outras palavras, a nova aliança é a base de nossa esperança de que — frágeis e instáveis como somos — perseveraremos na fé e seremos salvos. É a base de nossa segurança de que Deus nos guardará “de tropeços” e nos apresentará “com exultação, imaculados diante da sua glória” (Judas 24).

Considere, porém, em que se torna esta precisa esperança da nova aliança, se Deus não conhece de antemão as escolhas responsáveis dos homens. Toda a estrutura da nova aliança se desfaz. O seu fundamento se desintegra. A nova aliança é a promessa de que Deus trabalhará para garantir a santidade de seu povo. Isso significa que Ele produzirá escolhas santas em seu povo. Ele está agindo em nós para querermos e realizarmos a sua boa vontade. Deus está trabalhando para produzir em nós “o que é agradável diante dele” (Hebreus 13.21; Filipenses 2.13). Mas aquele antigo erro destrói esta esperança, por dizer que Deus não pode fazer isso, pois, se o fizesse, conheceria antecipadamente nossas escolhas, o que, conforme é afirmado, Ele não pode conhecer.

Portanto, visto que nossa salvação final depende do cumprimento das promessas da nova aliança, e visto que o sangue de Jesus obteve o cumpri mento dessas promessas, a deterioração da nova aliança é uma injúria à cruz de Cristo e um enfraquecimento da obra do Espírito em nossa vida. Que Deus nos proteja do ressurgimento desse velho erro e nos ajude a valorizar as pro messas fortalecedoras e preciosas da nova aliança.


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