O câncer da corrupção

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As denúncias que se acumulam na imprensa sobre irregularidades no uso de recursos públicos por parte da administração do Senado Federal demonstram que no Brasil a corrupção é um tumor maligno cujas metástases não cessam de se multiplicar. A agravante da impunidade contribui para deixar a população cada vez mais indignada e descrente. Para piorar tudo, o principal partido governista, que na oposição exigia punição e mudanças em face de episódios muitos menos graves do que os de agora, barganhou a alma pelo criminoso aparelhamento do Estado e por uma suposta governabilidade que no fundo não passa de pretexto para a permanência no poder a qualquer custo. As repetidas operações da Polícia Federal contabilizam muitas prisões, que, em virtude das falhas na lei ou do comprometimento dos juízes, acabam se reduzindo a meros shows de exibição midiática.

Uma situação como esta lembra o Israel do oitavo século, podendo ser descrita com precisão pelo texto do profeta Oséias (4.2): “O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios”. Considerando o pacto que havia entre Deus e o povo eleito, os devastadores efeitos do juízo divino anunciado pelos profetas nada mais era do que a repreensão que corrige para conduzir à reabilitação. No caso brasileiro, não existindo tal aliança, idêntico juízo opera por outros meios, ligados ao consciente exercício da democracia na vigência do Estado de direito. Para o cristão, combater a corrupção é, portanto, prestar um serviço a Deus praticando a cidadania responsável.

Isso começa pela atenção que se deve prestar ao fato de que, no interior das muitas quadrilhas que comandam a corrupção e a impunidade no país, encontram-se vários lobos em pele de ovelha. Trata-se daqueles que, ao contrário dos cínicos que afirmam ignorar o clamor da opinião pública, prestam-lhe as devidas homenagens da boca para fora, mas nos bastidores continuam corrompendo e sendo corrompidos. Se forem políticos que dependem de mandato eletivo, o exercício da cidadania consiste em impedir, pelo voto, que tenham como prosseguir em sua carreira de meliantes patrocinados por aqueles a quem prejudicam.

O voto é a principal arma do cidadão, mas não a única. O contato direto com os que exercem mandato eletivo é uma outra possibilidade de chamá-los à responsabilidade moral e política. Hoje isso está muito facilitado pelos meios eletrônicos. É preciso lançar mão desses e outros recursos, sob pena de pagar o preço da omissão em face de ações que, se não podem resolver direta e terminantemente as questões, podem contribuir para isso. Na pior das hipóteses, livram o interessado do peso de consciência de não ter feito tudo a seu alcance no combate ao mal. Uma outra forma de agir a propósito é pela denúncia via meios de comunicação. Não são raros na história brasileira os episódios em que cidadãos comuns tornam públicos fatos decisivos para o desbaratamento de quadrilhas constituídas pelos que se consideram acima do bem e do mal.

Nunca, como no atual momento histórico, a fórmula de Tiago 1.27 foi tão indispensável na vida das pessoas e grupos que se orgulham de serem chamados povo de Deus. É preciso praticar a justiça defendendo a causa dos fracos e oprimidos - o que não significa cooptá-los pela via do assistencialismo, que os torna ainda mais pobres e dependentes. No Brasil, ser corrupto e corruptor não impede a prática de um varejo de benefícios inócuos que apenas contribuem para manter as coisas como sempre estiveram. E o segundo elemento da fórmula é a busca continuada por uma vida pessoal de integridade pessoal a qualquer custo. Quem tem fome e sede de justiça, luta, antes de qualquer coisa, por ser pessoalmente justo. A partir daí, está plenamente habilitado a combater pela justiça nas estruturas sociais e políticas dentro das quais vive.

Da redação
Fonte: [ CBB
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