INTRODUÇÃO
“Creio no Espírito Santo”.
O Espírito Santo vem sendo mal
compreendido em inúmeros arraiais evangélicos, tanto a sua pessoa como a sua
atuação se resumem a demonstração de um mover que não encontra base na
Escritura Sagrada. Enquanto que outros setores do evangelicalismo parecem
ignorar a atuação do Espírito em nossos dias.
Para evitar este desequilíbrio,
precisamos mergulhar nas páginas da Bíblia para dela tirar um conceito legítimo
sobre a pessoa e a obra do Espírito Santo. É bem verdade que no Antigo
Testamento, ao fazermos uma leitura superficial, parece que nada há em seu
conteúdo que nos mostre o Espírito em ação. Mas, ao fazer um estudo mais
apurado, veremos que Ele se revela desde o relato da criação. Afinal, é o
próprio Espírito de Deus que conduz o processo de escrituração, e graças a Ele
temos em mãos o livro sagrado. Assim sendo, difícil seria se Ele não revelasse
a si mesmo.
O objetivo deste texto é fazer
com que entendamos que o Espírito é Deus, sendo um componente da Santíssima
Trindade. E também veremos a sua atuação por todo registro da Escritura.
O ESPÍRITO NO ANTIGO TESTAMENTO
Percorrendo o Antigo e o Novo Testamento,
o conteúdo traz luz sobre a atuação daquele que é comumente chamado na teologia
de a “terceira pessoa da Trindade”, pois, muitos estão apenas familiarizados
com os outros dois componentes da Santa Tríade que são Deus-Pai e Jesus Cristo,
Deus-Filho. No início da revelação, o termo hebraico ruach é usado para designar o Espírito Santo no Antigo Testamento.
Energia e poder ativo seriam as palavras que melhor se aproximam da ideia
concernente a ruach. A conotação do
termo não enfatiza a imaterialidade, mas sim a presença poderosa do Espírito
que ao descer sobre os indivíduos faz com que os mesmos adquiram uma energia
não natural, isto é, sobrenatural (Jz 14.6). A primeira aparição do termo está
em Gênesis 1.2. Em outras 107 ocorrências, ruach
vai se referir à atividade de Deus (Elohim) no mundo. Só que há um erro
frequente de achar que o Espírito Santo é apenas uma energia. A ideia que ruach traz consigo é a de Deus
envolvendo-se pessoalmente com a sua criação, por isso que as Escrituras tratam
o Espírito como um agente criador, presente em toda a etapa da construção do
cosmos. Isso coloca o Espírito Santo ao lado dos demais componentes da Trindade
realizando a obra de criar o mundo ex
nihilo, dando sentido assim a expressão que se encontra no plural em Gênesis
1.26: “façamos”.
O Espírito de Deus é responsável
por dar ordem a matéria criada, tal como ele foi o sustentador do povo
escolhido, isto é, Israel, lhes concedendo leis justas e um governo para que
seu povo não emergisse no caos. Moisés, Josué e outros líderes tinham o
Espírito do SENHOR (Nm 11.16-17 e 27.18). Também foi de sua incumbência
conceder dons artísticos aos homens (Ex 31.2-6). Ele é o Espírito da ordem e da
beleza. Além de criador, o Santo Espírito também é recriador, pois, Ele atua no
homem caído, regenerando-o e dando-lhe um norteamento moral, isto é,
santificador. Ele é quem aplica a salvação pela graça no coração do homem. Como
está escrito em Ezequiel 11.19-20: "E
lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da
sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne; Para que andem
nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por
povo, e eu lhes serei por Deus".
O ESPÍRITO NO NOVO TESTAMENTO
Em todo o Antigo Testamento a
atuação distinta do Espírito não ficou muito clara para o povo de Israel. Toda
ação divina era atribuída a Adonai, o SENHOR. Embora Ele tenha atuado
intensamente, inclusive na inspiração dos autores que formariam o cânon
bíblico, é apenas no Novo Testamento que o povo eleito passa a ter informações
mais precisas acerca do seu ser e de sua obra. Na revelação neotestamentária, o
Espírito é o parakletos, apresentado
pelo próprio Cristo (Jo 14.16). Ele seria a testemunha em prol de Jesus.
Testemunha melhor não há, uma vez que o Espírito se fez presente em todo o
momento do ministério messiânico. Da concepção até a morte na Cruz, o Espírito
Santo testificou que aquele homem vindo de Nazaré era o Filho de Deus prometido
em todo o Antigo Testamento - desde Gênesis 3.15.
Já no momento da chegada do
Cristo ao mundo, Maria concebeu virgem, milagrosamente, pela obra do Espírito.
A presença do Espírito Santo neste momento é de suma importância para
referendar a profecia de que a glória de Deus no segundo templo seria maior (Ag
2.7-9). A glória do antigo templo era o próprio Espírito Santo - a fumaça que envolvia
o sumo-sacerdote no lugar Santíssimo. Quando Cristo nasce dessa concepção
sobrenatural realizada pelo Espírito, a glória maior profetizada por Ageu se
cumpre. Além disso, o Espírito teve como função preservar a santidade do Deus
que se encarnava, sustentando a sua impecabilidade.
No Batismo (Mt 3.16-17), a voz
audível do Pai e o Espírito Santo em sua aparição na forma de uma pomba selam o
início do ministério de Jesus, endossando-o como um profeta enviado pelo próprio
Deus para apregoar as boas novas (Lc 4.18). Após ser batizado, Cristo é levado
pelo Espírito a ser tentado no deserto por Satanás (Lc 4.1). Diferente de Adão,
Jesus resiste e derrota o diabo, confirmando-o como o segundo Adão, capaz de
redimir a humanidade caída. Foi o Espírito Santo quem preservou Jesus nos momentos
de aflição antes da sua morte terrível para expiar os pecados. Ele conduziu o
Cristo até a cruz, mesmo quando Satanás tentou de várias maneiras fazer com que
Jesus não a encontrasse. E embora a ressurreição e ascensão sejam obras
atribuídas ao Pai, podemos afirmar que existe a atuação poderosa e efetiva do
Santo Espírito também nestas coisas, pois, é em Seu poder ativo que os milagres
acontecem.
O ESPÍRITO E O POVO DO LIVRO
A Igreja é capacitada pelo
Espírito para apregoar o Evangelho. Jesus é quem diz isso antes de subir aos
céus (1.8). E em pentecostes (Atos 2), vemos que a Igreja que era um grupo de
centenas, passa a ter três mil pessoas inclusas após o Espírito Santo descer
sobre o seus. É a era da plenitude do Espírito. O apóstolo Paulo fala
claramente que o Evangelho é a pregação resultante do poder do Santo Espírito
(1 Ts 1.5), e o Parakletos mata o velho homem e faz com que o mesmo viva agora em
novidade de vida. As Escrituras atestam que é Ele quem convence o homem do
pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), fazendo com que o mesmo vá até Cristo
para salvar-se do inferno.
Ademais, aquilo que foi
registrado no Novo Testamento são Palavras do próprio Espírito Santo, trazendo
a revelação messiânica a todos os povos. Ele que lembraria aos escritores do NT
as palavras de Jesus e ensinaria também o que haveriam de escrever (Jo 14.26).
Para a Teologia isto é chamado de doutrina da inspiração. Pedro e Paulo atestam a inspiração de toda a Escritura em
suas cartas (1Tm 3.16 e 1Pd 1.21). Por isso não há fonte mais apropriada do que
a Bíblia para conhecermos o Espírito Santo, o Pai e o Filho, que formam a
Santíssima Trindade, a divindade cristã.
O povo de Deus, isto é, a igreja,
pode ser chamada de “povo do Livro”, pois é na Escritura que baseiam o seu estilo
de vida. Cabe ao Espírito ajuntar este rebanho do SENHOR e fazê-los santos a
partir do entendimento e da aplicação do conteúdo bíblico. Conteúdo que, como
já foi dito, é inspirado - e neste processo de inspiração – o Espírito Santo
conduziu os escritores canônicos a não cometerem nenhum erro na redação da
palavra revelada.
Quanto a isso, vejamos o que nos
diz a Confissão de Fé de Westminster, Capítulo 1, artigo V:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço da Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações.
I Tim. 3:15; I João 2:20,27; João 16:13-14; I Cor. 2:10-12.
CONCLUSÃO
Para sermos computados como
cristãos, é necessário crer que o Espírito Santo é Deus. É uma pessoa, com atributos
eternos e imutáveis. Assim diz o Credo de Atanásio:
O que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo. (...) Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. Contudo, não há três Deuses, mas um só Deus. Portanto o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. Contudo, não há três Senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como compelidos pela verdade cristã a confessar cada pessoa separadamente como Deus e Senhor; assim também somos proibidos pela religião universal de dizer que há três Deuses ou Senhores.
Soli Deo Gloria
***
Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos
Leia também:
Série Credo Apostólico - Parte 1: Um Símbolo da Fé Cristã
Série Credo Apostólico - Parte 2: Pai, Todo Poderoso, Criador
Série Credo Apostólico - Parte 3: Jesus Cristo é o Senhor
Série Credo Apostólico - Parte 4: O Redentor no Espaço-Tempo
Série Credo Apostólico - Parte 5: O Padecimento do Cristo
Série Credo Apostólico - Parte 6: A Vitória do Cristo
1 comentários:
Ótimo texto!
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