Nada é mais comum na boca e na
literatura dos arminianos do que essa Escritura, prontamente apresentada por
eles em qualquer ocasião contra as doutrinas da eleição, redenção particular e
do poder irresistível de Deus na conversão; e em favor da graça suficiente e do
livre arbítrio e capacidade do homem; embora com pouquíssimo proveito, conforme
se patenteará, quando as observações a seguir forem expostas.
Por Jerusalém não
devemos entender a cidade, nem todos os habitantes dela, mas seus regentes e
governantes civis e eclesiásticos, especialmente o grande Sinédrio lá sediado,
ao qual cabia melhor o caráter descritivo de quem mata profetas e apedreja os
que lhe são enviados da parte de Deus, além de serem manifestamente
diferenciados de seus filhos; sendo o habitual referir-se aos cabeças do povo,
tanto civis como eclesiásticos, como pais (At 7.2 e 22.1), e
aos súditos e discípulos, como filhos (At 19.44; Mt 12.27; Is
8.16, 18).
Além disso, todo o discurso do Senhor,
na totalidade do contexto, é dirigido aos escribas e fariseus, os
líderes eclesiásticos do povo, aos quais os governantes civis davam especial
atenção. Fica, assim, evidente que os tais não são as mesmas pessoas que Cristo
queria ter reunido, os quais não quiseram. Não está dito:
Quantas vezes eu quis vos ter ajuntado,
e vós não quiseste, como o Dr. Whitby [oponente arminiano
de John Gill], mais de uma vez, cita o texto inadvertidamente; nem ele
queria ter ajuntado Jerusalém , e ela não quis, como o mesmo autor
transcreve em outra passagem; nem ainda, ele os teria ajuntado, os teus
filhos, e eles não quiseram; mas Eu queria ter ajuntado todo os
teus filhos, e vós não quisestes, cuja mera análise basta para destruir o
argumento encontrado nessa passagem em favor do livre arbítrio [...]
Para descartar e subverter a doutrina
da eleição, reprovação e redenção particular, seria necessário provar que
Cristo, como Deus, queria ter ajuntado, não Jerusalém e apenas os que nela
habitavam, mas toda a humanidade, ainda que ela não seja salva no futuro, e
isso num modo e processo de salvação espiritual peculiares a Deus mesmo, do qual
não há o mínimo indício nesse texto; e para determinar o caso de a graça de
Deus poder ser resistida pela vontade perversa do homem ao ponto de anulá-la,
dever-se-ia provar que Cristo queria ter convertido salvadoramente essas
pessoas e que elas não quiseram ser convertidas; e que ele concedeu a mesma
graça sobre elas e sobre outras pessoas convertidas.
Embora a essência dessa passagem reside
nessas poucas palavras, que Cristo, como homem, movido pela estima compadecida
pelo povo judeu, ao qual fora enviado, queria tê-lo ajuntado sob o seu
ministério, e os ensinado no conhecimento de si mesmo como o Messias;
conhecimento que, se tivessem recebido apenas nacionalmente, os teria protegido
com a pintos sob a galinha dos juízos iminentes que depois caiu sobre eles.
No entanto, seus governantes, e não
eles [os judeus], não quiseram, ou seja, não quiseram deixar que fossem
ajuntados dessa maneira e impediram-nos, o tanto que puderam, de dar-lhe
crédito como o Messias. Se ele tivesse dito – e eles não quiseram, teria
apenas sido um triste caso de perversidade da vontade do homem, a qual sempre
se opõe tanto ao seu bem temporal bem como ao espiritual.
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Fonte: Citado por Gordon Clark em seu livro – Deus e o Mal,o Problema Resolvido, págs 48-50. Editora Monergismo.
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