Gordon Lyons corrobora que
a regeneração é um ato completamente de Deus, e uma demonstração de sua
onipotência. É o mesmo tipo de onipotência que Deus exerceu quando, por Sua
palavra de comando, Ele criou o universo; ou quando, por uma semelhante palavra
de comando, o Senhor ressuscitou os mortos. É requerido um poder onipotente
para criar o universo ou ressuscitar os mortos, assim, é requerido o mesmo
poder onipotente para ressuscitar aqueles que estão espiritualmente mortos. É
este poder divino e onipotente que Deus exerce na regeneração quando, por seu
Espírito Santo, ele ressuscita um pecador da morte espiritual, fazendo-o uma
nova criação (Jo 5.25; 2Cor 5.17).1
John Gill salienta que a
regeneração pode ser considerada de forma mais ampla, incluindo a chamada
eficaz, a conversão e a santificação; ou de forma mais restrita, designando o
primeiro princípio de graça infundido na alma. Isto faz da alma um objeto
preparado para a chamada eficaz, um vaso apropriado à conversão, sendo também a
fonte daquela santidade que é gradualmente desenvolvida na santificação e
aperfeiçoada no céu.2
Em vista disso,
alguém poderia perguntar: “A regeneração acontece “antes, durante ou após” a
pregação do evangelho”?
De fato, o
Espírito Santo regenera uma pessoa “antes, durante e depois da exposição do
evangelho”. Como assim? A fim de compreendermos melhor esta questão, é
necessário, a despeito da regeneração, esboçarmos as suas três fases que estão
estritamente relacionadas, que, por sinal, não é muito enfatizado. Senão
vejamos:
1. Vivificação – Esta
primeira fase é um ato exclusivo de Deus, no qual ele opera sem meios e sem a
cooperação humana, e se refere ao chamado externo que resulta no chamado
interno quando o Espírito Santo vivifica o espírito morto (Ef 2.1-3) e abre o
ouvido surdo do pecador eleito (veja Mc 4.9, 23; 7.16; Ap 2.7, 11, 17, 29; 3.6,
13, 22, onde a expressão “quem tem ouvidos para ouvir” se refere à pessoa
regenerada que tem a capacidade de ouvir o evangelho no sentido de compreendê-lo
e obedecê-lo) “implantando a faculdade da fé”, antes da exposição das
Escrituras para que ele possa ouvir [espiritualmente] e compreender as suas
implicações para, assim, crer e se arrepender. Logo, esta primeira fase
“precede” ou ocorre antes da pregação do evangelho. Temos como exemplo nas
Escrituras o caso de Lídia, descrito em At 16.14, onde o Senhor "abriu o
seu coração" antes da pregação de Paulo para que pudesse
culminar no próximo passo que veremos a seguir.
2. Conversão – Esta
segunda fase além de ser um ato primário de Deus, conta também com a participação humana em um certo sentido, onde Deus emprega o meio da pregação do evangelho. Após o pecador eleito ter sido
ser vivificado ou ter nascido de novo, ele, agora, recebe o “poder da fé” que o
capacita a ouvir e compreender o evangelho e suas implicações (Rm 10.17). Em
seguida, é dado ao pecador eleito o dom da fé (Ef 2.8-10) e do arrependimento
(At 11.18; Rm 2.4; 2Tm 2.25), onde ele é capacitado pelo Espírito Santo a crer
e se arrepender de seus pecados. Acerca disso, Hoekema afirma com maestria que
a conversão é obra de Deus e obra do homem. É preciso que Deus nos converta e,
ainda assim, nós precisamos nos converter a ele.3
3. Santificação – Esta terceira
fase é o resultado e a evidência da conversão. Após ter crido e se arrependido
dos seus pecados, o pecador eleito recebe a “operação da fé”, o qual demonstra
a sua conversão abandonando o velho estilo de vida outrora campeado pela
prática do pecado através de um novo estilo de vida caracterizado pelo temor
[respeito e reverência] a Deus e obediência a sua vontade descrita nas
Escrituras por meio de mandamentos. Se os dois estágios anteriores [vivificação
e conversão] são atos exclusivos de Deus mediante o Espírito Santo, no qual o
homem não participa [com exceção da conversão, onde há uma certa participação do homem], sendo passivo, contudo, na santificação, Deus torna o
homem ativo para que este, agora, coopere juntamente com ele neste processo que
envolve a participação de ambas as partes. Deus age no homem onde ele busca a
santificação que emana do Espírito Santo (Fp 2.12-13).
____________________
Notas:
2 - John
Gill. Os termos bíblicos para o novo nascimento. Citação extraída do site: www.monergismo.com
2 comentários
Especificamente sobre a Conversão, em certo sentido ela é 100% executada por Deus, pois o "crer pela fé" é dado por Ele ao recém-nascido espiritual; ou seja, a iniciativa é dEle.
ResponderPor outro lado, na perspectiva humana, uma vez habilitado a "crer", a pessoa responde à mensagem do Evangelho justamente crendo e se arrependendo. Neste sentido, o homem tem "participação" na Conversão.
Particularmente, prefiro a 1ª explicação, pois acaba sendo mais coerente com o ensino de que a Salvação é uma obra exclusivamente planejada, consumada e aplicada pela Trindade Santíssima. A 2ª explicação, mesmo não sendo "errada", pode ser incorretamente compreendida no sentido de que o Homem pode "ajudar" a Deus, ou ainda que pode "recusar" o Chamado do Espírito, algo que vai contra a doutrina da "Graça Irresistível".
Na minha opinião, não existe graça irresistível, se houvesse as na regeitariam o Evangelho.
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