A Páscoa não é coisa de cristão (postagem atualizada e ampliada)

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Por Fábio Correia, o Filósofo Calvinista

Vivemos num mundo onde tudo pode ser relativizado quando o assunto é dinheiro. Até mesmo as coisas que deveriam ser mais contraditórias acabam convergindo. O sagrado e o profano, por exemplo. Por definição, um deveria ser antítese do outro; um deveria negar e repudiar o outro. Mas, em prol do lucro, caminham de mãos dadas. Um bom exemplo disso é a famosa festa do Morro da Conceição, no Recife.

Cada vez mais, curiosamente, grandes comerciantes têm investido consideráveis somas de dinheiro na religiosidade do povo; mesmo sendo, muitas vezes, ateus ou alheios à fé. A descoberta desse promissor “mercado” acabou despertando a atenção também daqueles que vivem da e na religião, como se dissessem: “se os de fora ganham com a religiosidade do povo porque nós, que vivemos de dentro, não podemos também ganhar”? Assim, muitos (não todos), acabaram aderindo ao grande comércio da fé que vemos hoje.

A páscoa sempre teve um caráter eminentemente religioso, mas os números a seguir confirmam nossa argumentação acima. Segundo a Associação Brasileira da indústria de chocolates e derivados, em 2010, foram produzidos e consumidos 530 mil tolenadas de chocolates. A expectativa de crescimento para a páscoa de 2011 é de 10%, com um faturamento estimado em R$ 1,9 bilhão. O significado religioso da Páscoa quase desaparece por trás dessas incríveis cifras que negam qualquer existência de crise.

Não podemos negar, entretanto, que muitos grupos religiosos cristãos (católicos e evangélicos) tentam resgatar o significado espiritual da páscoa, o que é igualmente problemático: o que os cristãos têm a ver com a Páscoa, no que diz respeito à sua comemoração? Absolutamente nada.

A páscoa é uma festa “estritamente” judaica. É mais que uma festa: é um sacramento (ordenança) do judaísmo, instituído em Êxodo 12:1-28/43, para comemorar a libertação da escravidão do Egito (Dt 16:1-3) e o livramento da décima praga: morte dos primogênitos Egípcios (Ex 12:27).

E para os Cristãos, quais são os Sacramentos?

Para os cristãos Católicos Romanos existem 7 sacramentos: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.

Os cristãos Protestantes, por sua vez, consideram que só existe base bíblica para a observância de 2 sacramentos: Batismo e Santa Ceia (Eucaristia).

Percebam quem não existe, nos moldes como era observada no VT, pelos Judeus, e com os mesmos elementos, na lista dos Sacramentos Cristãos, nem da Igreja Católica Romana e muito menos da Igreja Protestante, a Páscoa como um Sacramento a ser observado.

Um conhecido Teólogo da IPB - Rev.Moisés Bizerril, num importante artigo intitulado "Sacramentos e Clericalismo: Sacramentos Bíblicos à Luz das Escrituras" faz a seguinte afirmação:

"A páscoa era somente para Israel e alguns peregrinos estrangeiros que deveriam ser circuncidados para participarem daquele sacramento [...]. Certamente a páscoa não foi continuada e sim a ceia, como celebração característica da nova aliança", publicado em: http://www.monergismo.com/textos/sacramentos/sacramentos_moises_bezerril.htm.

A "Páscoa Judáica" (permita-me a redundância) era e é (para os judeus) um ritual cheio de detalhes, significados e símbolos. Cada elemento que compõe a “ceia páscal” tinha e tem (para os judeus) seu significado: as ervas amargas, por exemplo, servem para lembrar os dolorosos anos de escravidão; os pães asmos (sem fermento), lembram a fuga repentina, além do cordeiro assado.

Judeu comemorando a Páscoa é coerente; é até obrigatório, pelo caráter sacramental envolvido, mas Cristãos insistindo em comemorar o “sacramento judaico” é no mínimo engraçado.

Claro que muitas transliterações têm sido sugeridas, com o objetivo de “cristianizar” a festa judaica, mas isso não justifica a comemoração. Não existe na Bíblia nenhuma recomendação para que os cristãos comemorem esse sacramento do VT. Será que essa insistência dos religiosos cristãos não é motivada simplesmente por fins comerciais? Uma resposta inconsciente aos apelos consumistas? Assim como a Páscoa, existem outros sacramentos judaicos. A circuncisão é um deles (Gn 17:9-14; Lv 12:3). Para ser coerente, todo cristão que quiser comemorar o sacramento judaico da páscoa também deveria cumprir o sacramento igualmente judaico da circuncisão.

Até mesmo a forma de observância da Páscoa - pelos cristãos - está completamente equivocada. Já viram algum cristão, que diz comemorar a Páscoa, comendo ervas amargas, pão sem fermento e cordeiro assado? Isso seria um requisito mínimo para uma comemoração coerente da Páscoa. Ao invés disso, chocolates. Percebe como tudo está relacionado com a questão do consumismo e absolutamente nada com o verdadeiro sentido sacramental instituído por Deus?

Esse erro (cristãos comemorando a páscoa) tem ocorrido porque a maioria deles desconhece que esses dois sacramentos judaicos do VT (páscoa e circuncisão) foram substituídos, no NT, pelo próprio Cristo, por outros dois novos (porém correlatos aos do VT) sacramentos:

A páscoa (que comemorava a libertação e a nova vida) foi substituída pela Santa Ceia ou Eucaristia (Lc 22:14-27; I Cor 11:23-28), que comemora a ressurreição de Cristo (o cordeiro Pascal da páscoa do VT era uma prefiguração do que aconteceria com Cristo), e a circuncisão (que era o rito externo de entrada no povo de Deus, no VT) pelo Batismo (Mt 28:19, Col 2:11), que igualmente é um rito de entrada na igreja visível do NT.

Paradoxalmente, muitos cristãos não fazem a menor questão de observar esses dois novos sacramentos instituídos pelo próprio Cristo, para sua igreja observar: Batismo e Santa Ceia ou Eucaristia.

Se você é Cristão, nunca deseje Boa Páscoa a outro Cristão, ele não tem nada a ver com essa comemoração!

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Nota do editor: esta postagem é uma ampliação da postagem do mesmo autor publicada aqui no Blog dos Eleitos no dia 02 de abril de 2010.
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