Por Diogo Henrique de Sá
Outro dia atrás eu estava conversando com uma pessoa amiga e ele me falou sobre o grande avivamento que está ocorrendo no Brasil e inclusive em sua igreja, ao que eu argumentei que não estava vendo este avivamento todo que ela estava falando. Ela então, um pouco irritada, disse que como eu não poderia estar vendo se o tal avivamento era notório. Eu então perguntei do avivamento na “igreja” dela, se eles liam a Bíblia e se isso fazia parte da rotina dos membros, se era algo de prioridade máxima para a direção da denominação a qual ela faz parte. A resposta foi não, mas que havia muita comunhão e que aqueles que lêem a Bíblia não fazem nada para o Senhor. Eu então perguntei: Como eu posso fazer qualquer coisa para Deus se eu não sei o que ele pede de mim? A resposta foi aquela clássica “a letra mata, mas o Espírito vivifica”. Eu expliquei tudinho pra ela, e acho que ela entendeu. Mas vamos pensar um pouco sobre avivamento.
Muito se fala sobre avivamento (principalmente no meio Pentecostal e Neo-pentecostal), mas será que estamos vivenciando realmente um avivamento? Há muito barulho, muito estardalhaço mesmo, mas será que temos um avivamento ocorrendo em nossos dias?
Para responder essa pergunta eu gostaria de analisar as Sagradas Letras e a história cristã, é lógico que eu não terei tempo para considerar essa questão em todos os seus pormenores, mas poderei fazer uma análise uma boa amostra dos avivamentos passados. Mas antes...
A palavra avivamento significa tornar a ter vida, ou seja, voltar a viver, reanimar. Desta forma é preciso que algo que esteja morto ou próximo a morte, seja reanimado. Nós precisamos disso, voltar ao primeiro amor, sempre que nos distanciamos de Deus, o Espírito Santo nos induz ao retorno, principalmente através da pregação bíblica, dessa forma podemos sentir a presença mística (não pense que eu estou falando de esoterismo, não me entenda mal) de Deus perto ou dentro de nós.
Se o avivamento está realmente acontecendo podemos verificar biblicamente, isto por que, de tempos em tempos Deus toma a iniciativa e atrai novamente o seu povo para Ele, a Bíblia e a história nos dá uma pista de como acontece o verdadeiro avivamento, então vejamos
Avivamento através de Moisés
Em se tratando de Moisés não podemos usar o termo avivamento no sentido estrito da palavra, mas não poderia deixar de mencioná-lo pois através dele Deus começou a forjar sua autocracia.
O povo de Israel embora reconhecido por Deus como seu povo, não sabia nada sobre o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, os quatrocentos anos no Egito lhes fizeram esquecer quem era El Shaday. Deus, para se fazer conhecido de seu povo, deu-lhes a Lei escrita, através da Lei, que deveria ser lida de dia e de noite, Israel conheceria o seu Senhor. Através da Lei Israel passaria a ter vida em Deus. Isso mudou completamente a relação entre os hebreus e Jeová. Agora havia uma regra escrita, não mais tradição oral, assim Deus registrava a sua vontade a nação.
Avivamento através de Josué
No livro de Josué nos capítulos 23 e 24, nós temos as tribos mais ou menos encaminhadas, a maior parte dos inimigos já havia sido destruída, e as tribos partem para tomar posse da parte que lhes cabia na herança, temendo que a nação viesse a se esquecer do Senhor, o substituto de Moisés, no final de sua vida, reúne a nação e traz um reascender levando o povo a se lembrar do que Deus fez e reafirmando a Lei, o que resultou em uma renovação da Aliança por parte de Israel.
Avivamento através de Josias (2º Reis 22 e 23)
Com o passar dos anos vieram os reis, Israel se dividiu em duas nações a nação do Norte manteve o nome de Israel e a nação do Sul com o nome Judá. Por se afastar irremediavelmente de Deus a nação do Norte foi-se levada pelos Assírios, que dizimaram a nação. O reino do Sul também se afastou, mas a administração de alguns Reis piedosos e tementes fizeram com que o castigo divino fosse protelado.
Um desses reis foi Josias, filho de um mal rei, Josias foi coroado muito jovem, mas logo começou uma reforma na nação. Deu-se início a uma reforma no Templo, então algo surpreendente aconteceu, o livro da Lei é encontrado (2º Reis 22:8). O livro chega até as mãos de Josias que rasga suas vestes em desespero. O rei, e a nação estavam sobre grande perigo, as Escrituras haviam sido negligenciadas e a morte pairava sobre a nação. O Senhor é consultado a respeito disso, mas Deus tem boa vontade para com o rei que se humilhara diante Dele, o castigo não virá logo, o rei pode descansar em paz. Mas a despeito do livramento que recebera o rei não se contem: a nação precisa ouvir o que está escrito no Livro do Concerto, e é isso que acontece. Todos os moradores de Jerusalém são reunidos no templo, e as Escrituras são lidas diante do povo. O Resultado foi um verdadeiro avivamento na fé judaica: os ídolos foram destruídos, os altares profanos foram derrubados, os feiticeiros caçados e extirpados, as casas de prostituição ritualística foram derrubadas, os sepulcros dos falsos profetas foram abertos e seus ossos queimados (uma grande ofensa para o judeu) e o pacto entre os judeus e Iahweh é renovado.
Avivamento através de Esdras (Neemias 8 e 9)
Após a morte de Josias, Judá tornou a se afastar de Deus, o que resultou no cativeiro babilônico. Com o passar do tempo determinado por Deus os judeus receberam permissão para retornar à Jerusalém. Mas após mais de 70 anos o povo de Judá não se lembrava da Lei. E nem mesmo conseguiam entender o que nela estava escrito, o hebreu já não era tão bem compreendido (as pessoas agora falavam e liam em aramaico, um idioma semelhante ao hebraico). Para superar essa dificuldade, já que a tradução do Antigo Testamento para outros idiomas não era visto como bons olhos (apesar de haver alguns textos escritos em aramaico), Esdras, a pedido dos filhos de Israel, leu o Livro do Senhor e os seus ajudantes iam explicando o sentido do texto de tal forma que todos podiam entender (cap. 8:8).
Isso abalou a estruturas dos israelitas, a leitura da Lei, por si só acarretou um dos maiores avivamentos da nação. As pessoas choraram pelos seus pecados, houve confissões e arrependimentos de pecados, houve adoração em gratidão a Deus. A nação como um todo voltou sua atenção para a vontade escrita de Deus. A aliança foi renovada mais uma vez.
O maior dos avivamentos: o Advento do Messias
O tempo se passou, e mais uma vez a nação de Israel se encontrava distante do Criador, mas chegada a Plenitude dos Tempos (Gl.4:4) Deus enviou a própria Palavra aos homens. Bom eu não preciso dizer que uma vez que Cristo era a própria Palavra, ele cumpriu em sua vida terrena toda a Lei, e revelou as “coisas que estavam ocultas desde a criação do mundo” (Mateus 13:35). Em Cristo Jesus o mundo teve vida, é exatamente isso que João fala em sua primeira epístola: “O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1ª João 1:1). Em Jesus a humanidade passou a ter vida, houve uma mudança estrutural na história, o que resultou no maior de todos os avivamentos, pois em Cristo o homem foi reconciliado para com Deus. Jesus explicou que todo o Antigo Testamento se cumpria Nele: “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lucas 24:27).
Em Jesus, Deus estabeleceu uma nova aliança, que alcança todos os homens. Eu poderia passar páginas e mais páginas escrevendo sobre o que Jesus realizou, tamanha a profundidade da obra de redenção. Na verdade a vinda de Cristo, foi tão marcante que podemos dizer que em toda a História não houve algo tão marcante. Tudo mais que ocorreu no Novo Testamento foi em decorrência da vinda do Messias, inclusive a descida do Espírito Santo, registrado no capítulo 2 de Atos, pois com Cristo “o povo que estava assentado em trevas viu uma grande luz; e aos que estavam assentados na região e sombra da morte a luz raiou.” (Mateus 4:16). João fala que se tudo o que Jesus fez fosse relatado não haveriam livros suficientes para acomodá-los (João 21:25).
Avivamento sob os Apóstolos
Com a disseminação do Evangelho vários grupos tentaram, em todo o período apostólico, perverter as Boas Notícias de Salvação: O judeus queriam dar um jeitinho para harmonizar a Lei e a Graça (como se isso fosse possível ser Salvo pela Graça e ainda cumprir a Lei); os gnósticos queriam perverter a mensagem evangélica diluindo-a em sua filosofia; Isso tudo regado com os aproveitadores (é já existiam naquela época) que volte-e-meia tentavam se beneficiar com a Igreja, é o caso de Simão (Atos 8:18) e Diótrefes (3ª João 9) a resposta dos apóstolos foi estabelecer aquilo que Cristo havia ensinado. As epístolas nada mais são do que a explicação dos Ensinos de Cristo e a aplicação destes na vida do crente. A firmeza da “Palavra é o Escudo que nos protege do erro” como disse Calvino, é a Espada do Espírito como disse o Apóstolo Paulo.
Reforma Protestante [1]
Com o passar do tempo os cristãos se afastaram dos princípios neo-testamentários, os cristão não tinham acesso a Bíblia, e por conta disso uma casta sacerdotal corrupta, dominava a sociedade ao seu bel prazer. As palavras dos clérigos tinha peso de vida e morte. Por desconhecer as Verdades que Libertam os chamados “cristãos” jaziam em seus pecados (algo muito parecido com os dias atuais). Isso perdurou até que alguns homens entenderam que era necessário um retorno para as Escrituras, o homem precisava ter acesso a Palavra de Deus, como era difícil ter acesso a Bíblia, e impossível no idioma do povo, estes homens começaram a traduzi-la, outros as lia para o povo, e lhes explicava isso causou um efervescer das idéias, o homem comum enfim pôde ter conhecer a Deus e assim se achegar a Ele, sem nenhum outro intermediário além de Cristo. Esse retorno a Palavra fez ruir o então inabalável império das trevas, e o homem se viu livre para entender a maravilhosa Graça de Deus. O que Lutero, Calvino, Ulrico Zuínglio, John Knox, Teodoro de Beza, Erasmo de Roterdã e outros fizeram foi entregar novamente a Palavra aos homens, estes reformadores da igreja estavam apenas imitando o exemplo do próprio Salvador, que simplesmente pregava de maneira fiel às Escrituras, trazendo um grande despertar aos cristãos de sua época e, inclusive, dos dias hodiernos.
O avivamento do século XVIII [2]
Para falar sobre este grande último avivamento eu gostaria de usar como base o relato de J.C. Ryle. Segundo ele, a condição moral deplorável em que se encontra o nosso país quase dispensa qualquer comentário. A impiedade e a perversão dos homens, que cada dia mais têm trocado a verdade de Deus pela mentira, mudando a glória do Deus incorruptível, adorando e servindo a criatura em vez do Criador, têm suscitado a ira de Deus sobre Portugal. Por isso, Deus tem entregue o nosso povo à imundície, pela concupiscência dos seus próprios corações. E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem toda a espécie de coisas inconvenientes e aprovarem os que assim procedem. A Inglaterra da primeira metade do século XVIII caracterizava-se pela impiedade, corrupção e imoralidade. As trevas espirituais assolavam todas as camadas sociais daquele país. A terra de muitos reformadores e dos puritanos decaiu tanto, que a corrupção, a desonestidade e o desgoverno nos altos postos era a regra, e a pureza, a exceção.
A Igreja da Inglaterra, na sua grande maioria, jazia inerte, sem nenhum vigor. Os sermões, meros ensaios morais, nada podiam fazer no sentido de despertar, converter e salvar os pecadores. As importantes verdades pelas quais os pré-reformadores tinham ido para a fogueira, e muitos dos puritanos, para a prisão, pareciam ter sido totalmente esquecidas e colocadas na prateleira. Um conhecido advogado cristão da época afirmou que visitou todas as igrejas mais importantes de Londres, e que não ouviu um único discurso que apresentasse mais Cristianismo do que os escritos de Cícero, e que lhe seria impossível descobrir, do que ouvira, se o pregador era um seguidor de Confúcio, de Maomé ou de Cristo! Os bispos e arcebispos da época, na sua grande maioria, eram homens mundanos; tão mundanos que houve casos em que o próprio rei teve de intervir para restringir a impiedade deles. Para se ter uma ideia da situação, conta-se que, quando a pregação de Whitefield começou a incomodar o clero, foi sugerido com seriedade pelo próprio clero que a melhor maneira de dar um fim à sua influência era torná-lo bispo. Quanto ao clero paroquial, Ryle afirma que os seus sermões eram tão indizível e indescritivelmente ruins, que é reconfortante lembrar que eram geralmente pregados a bancos vazios.
Nos Estados Unidos a situação não era diferente. No começo do século 18, era visível nas 13 colônias — que em breve seriam conhecidas como Estados Unidos — o declínio da fé evangélica, provocado pela influência do processo colonizador, com seu subseqüente aumento populacional, sucessão de guerras brutais e declínio da espiritualidade dos ministros.
Isso tudo mudou quando George Whitefield, John Wesley, William Grimshaw, William Romaine, Daniel Rowlands, John Berridge, Henry Venn, Samuel Walker, James Harvey, Augustus Toplady e John Fletcher começaram a pregar na Inglaterra e Jonathan Edwards nos EUA, estes foram divinamente inspirados, e trouxeram de volta um efervescer da Fé. Eles não pregaram modismos, não dominaram as pessoas ao seu bel prazer, nunca fizeram um “Ato Profético, mas todo o conselho de Deus, especialmente doutrinas como a suficiência e a supremacia das Escrituras, a total corrupção da natureza humana, a morte expiatória de Cristo na cruz, a justificação pela graça mediante a fé, a necessidade universal de conversão e de uma nova criação pelo Espírito Santo, a união inseparável da verdadeira fé com a santidade pessoal, o ódio eterno de Deus pelo pecado e o seu amor pelos pecadores. Eles não hesitavam em proclamar clara e diretamente às pessoas que elas estavam mortas e precisavam viver; que se encontravam culpadas, perdidas, desamparadas, desesperadas e em perigo iminente de destruição eterna, somente a Palavra bastava. Como disse J. I. Packer, "por toda a sua vida, Edwards alimentou a alma com a Bíblia; por toda a sua vida, alimentou o rebanho com a Bíblia". Isso mudou o mundo de então.
Esse grande despertar se manteve por quase duzentos anos, e quando parecia que iria se arrefecer, uma nova chama acendia, no século XIX Moody nos Estados Unidos e Spurgeon na Inglaterra mantiveram a chama acesa.
Conclusão
É muito interessante vermos em Israel que, apesar da renovação dos pactos, volte e meia a nação se afastava do Deus vivo. Isso perdurou durante toda o Antigo Pacto e não é diferente no Novo, Deus através das séculos vem atraindo providencialmente seu povo de volta para ele.
Em todos esses avivamentos duas coisas são padrões:
1ª Deus sempre tomou a iniciativa, nunca partiu do homem a busca, sempre foi Deus que atraiu o homem. Deus sempre foi em busca do perdido.
2ª Em todos os casos a Palavra de Deus foi o combustível usado por Deus para acender a chama no coração do homem.
Desta forma se não está havendo um retorno a Palavra de Deus, se as pessoas não estão buscando Deus no local correto, ou seja, em sua Palavra, então todo este barulho, todo este “suposto avivamento” não passa de falso fogo, de intenso barulho. E como diz um amigo meu: “lata vazia faz mais barulho e é levado por qualquer vento de doutrina”. Não existe avivamento. O homem hoje está tentando tomar a iniciativa no buscar a Deus, através de métodos não bíblicos, isso não tem resultado em ação do Espírito Santo. Mas, ao meditar na conversa que tive com minha colega (início do artigo), eu conclui que realmente Deus está lançando os fundamentos de um avivamento, o Senhor Jesus silenciosamente está atraindo novamente um pequeno, mas crescente, grupo de pessoas até a sua Palavra. Isto resultara em uma nova Reforma (ou avivamento se preferirem), Deus fará (sempre partiu Dele). O avivamento planejado por Deus, não tem nada a ver com os lenços suados, com as sementes, com as carteiras de trabalhos sobre uma mesinha, com os paletós mágicos, com os gritos, pulos, danças, transes, unções de risos, de leões, de colas, de sopros, de quedas. O avivamento que Deus esta trazendo tem a ver com Sua Palavra, com seu Evangelho Santo, outra marca do avivamento é que somente um é honrado no processo e este alguém não é o profeta, nem o apóstolo, nem o bispo, nem pastor algum, mas somente Jesus.
Se você caro leitor não está retornando a Bíblia, as doutrinas basilares, aos Estudos Bíblicos, lamento lhe informar, mas vocês está longe de Deus. Precisa ser Avivado.
A Jesus Cristo meu Senhor, seja a Glória para Sempre!!!
Nota:
[1] Propositalmente eu não falei dos Pré-reformadores e dos pais da Igreja, que também desempenharam um valioso papel ao manter sempre um remanescente fiel a Cristo. Fiz isso por motivos óbvios, isso é apenas um resumo, dos avivamentos durante a história.
[2] Para compor esta seção eu utilizei quase que exclusivamente citações de J.C. Ryle e foram retiradas do site: http://www.iqc.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1213, acesso em 17 de janeiro de 2011. A utilização das citações não tem valor comercial e não é minha intenção lucrar com elas
Autor: Diogo Henrique de Sá
Artigo enviado por e-mail ao Blog Bereianos
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