Quando sua vocação não é ser Pastor

image from google

O ministério pastoral é uma tarefa extremamente difícil. Seria difícil para qualquer um encontrar um pastor que não tenha parado para pensar em como sua vida seria se ele tivesse que fazer alguma outra coisa da vida. O amor a Deus, à Sua igreja e ao Seu povo é um pré-requisito fundamental para todo pastor, mas se o pastor não ama a obra do ministério, ele logo perderá a esperança e a motivação necessárias para perseverar. Pastores sem vocação, sem dons e qualificações são os principais candidatos a fracassarem tragicamente. Existem inúmeros livros e artigos disponíveis para ajudar a convencer os homens a se ingressarem ou a continuarem no ministério. Mas, não há muita coisa escrita para ajudar um homem a discernir se é hora de deixar o ministério. Vamos apresentar agora algumas coisas a serem consideradas ao se procurar discernir se é hora ou não de seguir em frente no ministério:

QUESTÕES SOBRE A PREGAÇÃO

A princípio, entre os meios comuns da graça, a pregação é extremamente importante. Pregadores honestos admitirão que todos nós temos sermões bons e ruins; mas, se nossos dons espirituais verdadeiramente são o que nós afirmamos que eles são, devemos prover com mais frequência conhecimento útil da Palavra de Deus que inspire mais estudos e uma devoção mais profunda para aqueles que nos ouvem. Nem tudo o que faremos será como um “golaço”, mas, se não tivermos pelo menos um resultado consistente, talvez devamos considerar se o ministério pastoral é aquilo no qual melhor nos encaixamos. Em um dia em que muitas igrejas estão sem pastor, é fácil ignorar indícios sérios de que um homem possa não ser apto para a pregação regular. Isso de forma alguma tem a ver com dizer algo sobre sua piedade, sua busca pela santidade, ou sobre seu entendimento e o amor pelas Escrituras. Nem mesmo tem a ver com questionar seu zelo pela pregação e pelo ensino. Por exemplo, embora eu tenha grande zelo pelas qualificações de um jogador profissional de golfe, meus dons nessa área em particular são, no mínimo, insuficientes,

Muitos líderes da igreja não estão dispostos a dizer aos jovens que aspiram ao ministério que eles simplesmente não possuem os dons. As igrejas devem ser mais exigentes ao enviar um homem ao seminário, e os professores do seminário também devem ser honestos com eles sobre se eles devem considerar servir em outras áreas. Muitas vezes se assume que falar tais coisas é difícil ou ser crítico demais - ou, um homem pode até ser um pregador ou um mestre ruim agora, mas com tempo suficiente, ele irá melhorar. Talvez ele faça avanços, mas o melhor ambiente para fazê-los está em uma classe de homilética ou ocupando púlpitos como um seminarista, e não depois de ter recebido da sua própria congregação o chamado para estar no púlpito todos os domingos. Às vezes, as igrejas assumem que, que só porque um homem é um professor talentoso de escola dominical ou um líder de um pequeno grupo, ele é qualificado para ser um pregador. A pregação semanal no púlpito é uma tarefa muito diferente do que dar aulas de Escola Dominical. Sugerir o contrário é ser desonesto tanto com o homem quanto com a congregação na qual ele é chamado a servir. 1 Timóteo 3.1 diz: “Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja.” E, desde que um homem seja piedoso, muitas vezes não se está disposto a considerar se suas aspirações para o ministério são compatíveis com o ser “apto para ensinar” (1 Timóteo 3.2). Às vezes, é difícil dizer a alguém que ele não é o que ele pensa que é. No entanto, as ruínas de um ministério fracassado são muito piores do que sentimentos feridos e são um apelo a uma séria autoavaliação.

O CUIDADO COM O CORPO DE CRISTO

Um homem pode ter o dom de falar com grande eloquência num púlpito, e não possuir os dons necessários para cuidar do povo de Deus na gama mais ampla da obra pastoral, como aconselhamento e visitas. Muito poucos pastorados são voltados apenas à pregação, e poucos são aqueles que não exigem que um homem dispense uma quantidade significativa de tempo cuidando do corpo de Cristo. Pastores que não estão dispostos e que não são capazes de se encontrar com pessoas na igreja para fornecer aconselhamento bíblico, visitá-las no hospital, sentar-se ao lado delas no leito da morte, ou se alegrar com elas diante do nascimento de uma criança ou diante de um importante marco da vida é provável que não sejam bons para o ministério pastoral. Repito, isso não quer dizer nada de negativo em relação à sua piedade e à sua aspiração, mas diz respeito a como Deus tem ou não tem lhe dado esses dons.

PASTORES AUXILARES

Alguns homens podem não ter dons para serem pregadores, mas são hábeis professores de estudos bíblicos, conselheiros bíblicos habilidosos e possuem excelentes habilidades organizacionais. Infelizmente, esses dons importantes são muitas vezes minimizados - tornando a função de um pastor auxiliar muito menos desejável para um homem do que a tarefa de subir ao púlpito semanalmente. Jason Helopoulus explicou que “bons pastores auxiliares são difíceis de encontrar”[1]. A maioria dos que formam no seminário não se candidatam às igrejas com a intenção expressa de assumir e permanecer em uma função de auxiliar. Muitas posições de pastor auxiliar são consideradas como que uma espécie de estágio probatório para que o pastor auxiliar eventualmente substitua o pastor titular ou para que ele seja enviado para outro ministério. Mas para alguns homens, ser um pastor auxiliar é a melhor forma de servir a igreja. Na realidade, muitas igrejas falhariam miseravelmente sem a atenção cuidadosa aos detalhes e habilidades organizacionais que um bom pastor auxiliar geralmente oferece.

A RECUSA EM DEIXAR O PASTORADO

Todo pastor tem dias, semanas, meses e anos ruins de ministério e pode ser tentado a sair. A resposta nem sempre é “você não deve sair”. Alguns homens podem ter um forte senso de que, na verdade, não são qualificados para o ministério pastoral. No entanto, eles se recusam a sair. Uma das razões pelas quais muitos dos que devem deixar o pastorado permanecem é porque foram investidos muito tempo e dinheiro para ajudá-los a ingressar no pastorado. Além disso, muitos se perguntarão o que mais eles estão qualificados a fazer? As igrejas confiaram as almas das pessoas a este homem e dependem dele para perseverar. A igreja não precisa dele? E quem já não ouviu a ideia de que ministério pastoral é diferente de qualquer outra carreira porque é um “chamado”? E, uma vez que um homem tem um “chamado”, como pode abandoná-lo? Outros se fecham no pastorado por medo dos outros ou porque têm uma compreensão não bíblica do chamado ao ministério.

SERÁ QUE É A HORA?

Durante uma fase particularmente difícil de ministério, um mentor aconselhou-me com sabedoria a nunca tomar grandes decisões quando as coisas são as piores possíveis. Às vezes, um pastor só precisa passar pelo fogo da provação, pois ele é o meio que Deus para nos tornar mais parecidos com Cristo. Então, antes de decidir sair, siga alguns passos primeiro:

1. Ore, pedindo a Deus a sabedoria que você precisa. Todo pastor deve ter alguma senso de que Deus o chamou para o ministério; mas, podemos facilmente interpretar mal um desejo ou interesse pelo ministério com ser apropriadamente dotado de dons e vocacionados por Deus ao ministério. Acima de tudo, precisamos que Deus nos esclareça o que podemos fazer para ser o mais útil possível para a Sua igreja, mesmo que isso signifique servir em outra competência.

2. Fale com sua esposa e com anciãos - eles devem ser os mais honestos com você. Estas são as pessoas que Deus chamou para ajudá-lo a navegar pelas águas difíceis do ministério e da vida. E, se seus anciãos são o tipo de homens que Deus quer que eles sejam, eles avaliarão amorosamente, graciosamente e honestamente seus dons com você para ajudá-lo a determinar se você está ou não fazendo o que é certo. Talvez você seja mais adequado para ser um pastor auxiliar ou a servir em outro ministério dentro da igreja.

3. Certifique-se de que não está se afastando só porque é difícil. Você nunca será um Charles Spurgeon no púlpito - só existiu um Charles Spurgeon. Mas, só porque pregar semanalmente é uma tarefa difícil, e só porque as sessões de aconselhamento nem sempre saem como você espera, e só porque as pessoas deixam a igreja e dizem coisas desagradáveis ao sair não significa que seus dons estejam em falta. Os ministérios em que Deus chamou seus homens para servir serão repletos de dificuldades. Afinal, as pessoas que nós pastoreamos são muito semelhantes a nós - pecaminosas, quebradas e carentes de muito perdão e graça. Além disso, haverá muitos desafios exteriores por cauda do mundo e do diabo. Quando Paulo queria dar a Timóteo uma ilustração para o ministério, ele usou a figura de um campo de batalha (1 Timóteo 6.12) por causa da força que ele teria que suportar.

4. Tente discernir se você está ou não deprimido e precisa de uma pausa. Encontre um conselheiro bíblico que você possa confiar e deixe-o ajudá-lo a “percorrer” os caminhos dos seus pensamentos. No final, você pode achar que seu problema não é o ministério, mas algo mais sobre o qual você não tomou tempo para pensar. Você simplesmente precisa de tempo livre ou de férias para ajudá-lo a ser realinhado. Mesmo Charles Spurgeon teve que ir ao litoral para passar longos períodos por cauda de deficiências de saúde e vigor (para mais informações sobre as aflições de Spurgeon, leia o livro, “A Depressão de Spurgeon” de Zack Eswine).[2]

Se você fez essas coisas e ainda tem a sensação de que é hora de se afastar, faça isso de uma maneira gentil, paciente e sábia perante Deus e Seu povo. Não importa quão óbvio seja para os outros que seja hora de você seguir em frente, inevitavelmente haverá alguns que ficarão surpresos e outros que ficarão magoados pela sua decisão. Embora você não possa viver para agradar a todos, você pode trabalhar para ajudá-los a entender por que se afastar não é apenas bom para você, mas para toda a igreja. Sempre que possível, procure ser uma benção para o homem que ocupará o púlpito depois de você. Fazendo assim, talvez você ache que Deus usa sua humildade para trazer uma grande colheita no tempo que se segue.

______________________
Notas:

[1] Jason Helopoulos. A good assistant pastor-easier said than done. Disponível em: http://www.christwardcollective.com/christward/a-good-assistant-pastor-easier-said-than-done#.WmNuoh_Qc2z
[2] Zack Eswine. A Depressão de Spugeon. Disponível para comprar em: https://www.editorafiel.com.br/vida-crista/146-a-depressao-de-spurgeon.html

***
Autor: Nicholas Kennicott
Fonte: Reformation 21
Tradução e notas: Bruno dos Santos Queiroz
Divulgação: Bereianos
.
Imprimir ou salvar em PDF

Postar um comentário

Política de moderação de comentários:

1 - Poste somente o necessário. Se quiser colocar estudos, artigos ou textos grandes, mande para nós por e-mail: bereianos@hotmail.com

2 - A legislação brasileira prevê a possibilidade de se responsabilizar o blogueiro pelo conteúdo do blog, inclusive quanto a comentários; portanto, o autor deste blog reserva a si o direito de não publicar comentários que firam a lei, a ética ou quaisquer outros princípios da boa convivência. Comentários com conteúdo ofensivo não serão publicados, pois debatemos idéias, não pessoas. Discordar não é problema, visto que na maioria das vezes redunda em edificação e aprendizado. Contudo, discorde com educação e respeito.

3 - Comentários de "anônimos" não serão necessariamente postados. Procure sempre colocar seu nome no final de seus comentários (caso não tenha uma conta Google com o seu nome) para que seja garantido o seu direito democrático neste blog. Lembre-se: você é responsável direto pelo que escreve.

4 - A aprovação de seu comentário seguirá os nossos critérios. O Blog Bereianos tem por objetivo à edificação e instrução. Comentários que não seguirem as regras acima e estiver fora do contexto do blog, não serão publicados.

Para mais informações, clique aqui!

Blog Bereianos!