O Ministério Pastoral e a Tarefa Apologética

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Pastorear não é uma tarefa simples. Estar num contexto em que várias pessoas estão inseridas com suas experiências de vida, variedade de formação educacional, intelectual, acadêmica é algo no mínimo complexo.


O trabalho do pastor, de fato, deve contemplar a exposição da Bíblia, ensino sólido da teologia, aconselhamento, instrução individual, disciplina eclesiástica e visitação aos membros da igreja. No entanto, o pastor além de ter que obrigatoriamente ser versado em teologia deve ler o mundo com as lentes do Sagrado Evangelho. Diante de tantas ideologias, que de forma subversiva seduz cristãos moldando sua cosmovisão a algo completamente oposto ao Evangelho de Cristo.

Mesmo em meio a muito trabalho e muitas leituras teológicas o pastor deve conhecer o que acontece em sua volta. Tendo conhecimento sólido da tradição cristã histórica, da cosmovisão reformada, da filosofia, da política e seus desdobramentos básicos como cultura, alta cultura, literatura, economia, arte, acontecimentos atuais.

Um pastor não pode estar alienado do mundo, pois vive e ensina pessoas que estão neste mundo. Um pastor emprega esforços grandiosos para preparar discípulos de Jesus que o estarão representando na economia, no direito, no jornalismo, na arte, na medicina...

Obviamente não é necessário um pastor ter todas essas formações para poder instruir suas ovelhas, mas, deve ser um homem capaz de guiá-las a pensar biblicamente em todos os contextos.

Um pastor deve ter uma vida de leitura considerável. Deve ser um homem de oração, da Bíblia e dos livros. A piedade cristã na vida do ministro envolve seu ser por completo, amando ao seu Senhor de toda mente e coração. Isso mostra a grande responsabilidade intelectual que tem um ministro. Como dizia o falecido e quase esquecido filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos, "não se pode fazer sacerdotes como se fazem salsichas". A preparação intelectual de um pastor deve ser intensa e incessante. Sua vida intelectual é parte de sua vida espiritual, de seu culto, de sua piedade.

Essa intelectualidade e estudo deve ser regada pela humildade cristã, o saber ouvir com paciência qualquer pessoa. O saber responder com mansidão e temor a todos que pedirem a razão da nossa esperança.

O pastor conhece bem os nutrientes do alimento que dá as suas ovelhas. O pastor emprega seu labor por amor a Deus, ao Evangelho e ao rebanho. Um pastor deve ser um evangelista, um apologista, que apresenta o Evangelho aos que não creram e aos que se opõe a fé.

Um pastor deve ser um homem preparado, não preguiçoso, não pode ser mole, covarde, pretensioso. Não pode olhar para o rebanho simplesmente como seu meio de vida. Um pastor devota-se e consagra-se ao serviço pastoral com compromisso e dedicação constante. Pastorear envolve: Chamado, amor, serviço, fé, preparação, força espiritual e intelectual, graça e paixão. Um pastor é um pregador que fala com a boca e com a vida.

Um dos grandes desafios para um pastor em nosso tempo é a abolição dos valores. Em filosofia o estudo e a investigação dos valores é chamado de axiologia. Em tempos líquidos a solidez do que era anteriormente parte constituinte de um viver correto toma proporções diversificadas, a relativização do que é valoroso, a aversão a qualquer autoridade, a prática e busca imediatista, pragmática, de fato, são desafios grandiosos.

Nosso tempo está chagado pelo secularismo, pelo hedonismo, pelo ideologismo, pela guerra de classes e propósitos ressurgentes disfarçadamente implantados como o comunismo em roupas novas. Temos uma guerra cultural, ideológica. E como pastores devem encarar isso?

Primeiro. Conhecer bem a doutrina. Sem nossos pressupostos doutrinários não poderemos, nem conseguiremos ler corretamente nosso tempo.

Segundo. As Escrituras não devem ser lidas pelas lentes da sociologia, antropologia, ciência secular. A Escritura é a lente pela qual devemos ler todas as ciências. Se essa ordem é alterada o pressuposto também é alterado.

Terceiro. Conhecer o mundo. No sentido de estar ciente do nosso momento histórico. Para responder com mansidão e temor a todos os que pedirem a razão da nossa esperança (1 Pedro 3.15). Temos respostas, muitas respostas. Mas, sem a investigação e a preocupação em sermos inteligíveis perdemos e muito.

Quarto. A epístola de Judas versículo 3 nos ensina a batalharmos pela fé. Isso tem para nós uma importância vital. A fé cristã não se restringe ao âmbito particular como ensina as modernas teorias de Estado laico. A fé cristã é persuasiva, confrontadora. Os valores espirituais, morais, intelectuais, artísticos, são motivos para lutarmos pela nossa fé. A privatização da fé leva a morte do conceito de comunidade. Ninguém foi salvo por Jesus para viver sua vida isolado e desolado. Somos instados a congregarmos. Isso fala de edificação mútua pelos dons dados a igreja, isso fala de cuidado mútuo, fala de zelo mútuo, fala de fé compartilhada.

Quinto. Num mundo líquido e tenso, o pastor leva seu rebanho a pastos verdes e águas tranquilas, solidificando e aplicando o evangelho de Cristo. O pastor leva as ovelhas a verdadeira comida e a verdadeira bebida. O verdadeiro pastor não quer que seu rebanho beba lama em lugar de água, nem coma palha em lugar de pasto verde.

Os desafios são muitos, a graça que nos salvou também nos sustenta para obra do Evangelho.

A pós-modernidade traz liquidez a cultura. Isso então promove uma série de mutações culturais. No âmbito ocidental a mudança de paradigma, onde antes tínhamos a cultura cristã, hoje temos relativismo, pragmatismo, hedonismo e ideologismo.

Os desafios que estão frente a Igreja são muitos. Esses desafios ultrapassam, de fato, muito do limite que antes era respeitado tanto pelo homem civil, político e jurídico. Isso interrompe o avanço de uma cultura que tem por fundamento pressupostos cristãos, ainda que não professe o cristianismo ortodoxo e muito menos sua prática.

Na verdade, como dizia Schaeffer, vivemos numa era pós-cristã. Nosso contexto, de fato, é estranhamente niilista. A falta de sentido, a falta de propósito para vida humana na atualidade, é fruto de esforços de pensadores e filósofos que tentaram achar o sentido na falta de sentido. Que tentaram achar a verdade na subtração da verdade e mais, na morte da verdade. A defesa do irracionalismo e o salto da fé, conforme dizia Kierkegaard, é presente em nossos arraiais. A falta de discernimento filosófico (que só se obtém, de fato, em submissão a revelação de Deus) ou desconstrutivismo dos valores são problemas pós-modernos que muitos ministros não tem atentado.

Interessante dizer que muito da prática do nosso mundo no que se refere ao comportamento libertino, profano e irreligioso é fruto de militância filosófica e que ignoramos como algo insignificante, não requerendo resposta apologética. Isso é um grande erro. Se como pastores não lermos corretamente a cultura com as lentes do Evangelho, seremos indolentes em dar resposta ao nosso tempo (1Pe 3.15,16).

De fato, o pastorear, principalmente numa zona urbana, requer fazer o que dizia Stott "ouça o Espírito, ouça o mundo". Nossa visão discernidora virá, de fato, por uma mente forjada na teologia, mas, amadurecida no pastoreio, que requer de nós questões que estão além de práticas terapêuticas, se requer do ministro que ele seja fiel. Essa fidelidade está, de fato, em sua santidade de vida. Esta santidade não está limitada a moral do ministro, mas, ao fato de que o pastor é portador dos oráculos divinos dados por sua Palavra.

A tarefa apologética do ministério pastoral estende-se a uma apologética cultural. O mundo muda, mas, enquanto não for ele restaurado o pecado transitará de várias formas, inclusive nas falsas filosofias. Paulo nos diz algo interessante:

"...derrubando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo..." (2 Co 10.5).

Um texto poderoso e demolidor. A tarefa apologética no ministério compreende respostas a questões culturais, visto que toda manifestação cultural carrega uma carga religiosa.

O ministério do pastor como apologeta é de grande importância cultural, espiritual e pactual. A apologética pactual é aquela que parte de uma cosmovisão aliancista e esta se estende por toda a vida humana. Por isso o pastor como teólogo é algo simplesmente fundamental para a igreja. Todo pastor deve ser um teólogo.

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Autor: Rev. Thomas Magnum
Divulgação: Bereianos
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2 comentários

Excelente texto para o nosso contexto. Queira o Senhor que seus ministros sejam diligentes.

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Numa er pós- Cristã, um grande desafio. Que Deus dê pastores desse quilate a sua igreja. Esselente artigo.

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