Os Filhos de Deus e a Cultura Popular

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Quando Deus determinou criar a raça humana, ele estabeleceu alguns propósitos e parâmetros para um bom relacionamento entre criador e criatura. Esses propósitos e parâmetros são descritos pela Bíblia e por nossa teologia na forma de uma aliança. Deus fez uma aliança com a criatura e estabeleceu pelo menos três diferentes mandatos para a humanidade: o mandato espiritual (seu relacionamento com o Criador), o mandato social (seu relacionamento em família) e o mandato cultural (seu relacionamento com a sociedade). Não estarei surpreendendo ninguém se disser que quebramos os três! O homem negou seu Criador, desobedecendo suas ordens, quebrou os seus elos familiares com mentiras, acusações e esquivando-se de suas responsabilidades (Adão e Eva - marido e esposa - Caim e Abel -irmãos) e desenvolveu o mandato cultural da pior forma possível (poligamia, assassinato, brutalidade, etc.). Por curiosidade, verifique Gênesis 4:17-23. Coisas boas aconteceram, mas as ruins... prevaleceram.

Este artigo vai tratar do problema da quebra do terceiro mandato – o cultural. Como os cristãos podem e devem relacionar-se com o que tem acontecido no nosso mundo? Quais devem ser os nossos limites e a nossa influência na cultura em que vivemos? O que de fato tem acontecido com os cristãos na modernidade?

É fundamental que, antes de mais nada, o cristão conheça a sua cidadania: “Eles continuam no mundo... Eles não são do mundo...” (João 17:11,16). Nós somos cidadãos dos céus, mas as nossas passagens para lá ainda não chegaram, e enquanto estamos aqui temos muito o que fazer, sem no entanto esquecermos que somos de lá. O problema é que além de sermos muitos parecidos com o pessoal do lado de cá, muitas vezes nos deixamos influenciar com os erros do mundo, desobedecendo o mandato cultural.

Observando o que acontece nos Estados Unidos, de onde as missões que nos trouxeram o evangelho saíram, pode-se observar como as coisas estão se deteriorando rapidamente, e mais rápido ainda, chegando aqui. Ao contrário do nosso Brasil, os Estados Unidos nasceram de ideais religiosos, recebendo forte influência da Palavra de Deus. Hoje é proibido falar em Deus nas escolas públicas (professores que por ventura o façam correm o risco de ser demitidos); o mesmo povo que luta por salvar as baleias (o que se deve fazer), luta pela legalização do aborto e igualdade para os homossexuais (algo semelhante acontecendo no Brasil). Onde chegamos!? Ora, estes são apenas exemplos dos extremos. Muitas coisas bem pequeninas tem influenciado comunidades inteiras de cristãos (estou falando de verdadeiros cristãos e não dos que apenas se chamam assim), e essas pequenas influências vão se tornando imensos tropeços. Por favor não me entenda mal. Não estou defendendo nenhum isolacionismo cristão (a história já comprovou que os monastérios não funcionam). Isto é errado. Mas penso que os cristãos precisam conhecer melhor o terreno em que estão pisando.

Como esta influência nos assalta? Já que nos livramos dos perigos de imperadores malucos como Nero e de ameaças terríveis como o Coliseu (a propósito, não há evidências claras de que cristãos tenham morrido no Coliseu), como livrar-nos da má influência cultural? (por favor, não é livrar-se da cultura, mas do que é podre nela). Em primeiro lugar, entendendo-a (devo estas idéias ao Dr. Kenneth Meyer em seu livro All God's Children and Blue Suede Shoes [“Todos os Filhos de Deus e Sapatos Azuis de Veludo” esta última parte referindo-se a uma música muito popular cantada por Elvis Presley] e ao Dr. David Wells, preletor no Francis Schaeffer Institute, Covenant Theological Seminary, Saint Louis, EUA, em setembro de 1992).

O grande problema que temos ao enfrentar a chamada “cultura popular” é que na verdade somos moldados por ela, não só naquilo que pensamos e sentimos, mas na forma como pensamos e sentimos. Como isso aconteceu?

Primeiro, filosoficamente. O fato é que os “grandes filósofos” conseguiram destruir toda a base para que o homem continue crendo em verdades absolutas. Tudo é relativo tudo é meia-verdade (não meia-mentira). Nos meios sociais a ideia de contar uma mentirinha de vez em quando é muito comum, afinal, foi por uma boa causa, não é mesmo? A cultura moderna apresenta um boa oportunidade para muitos aproveitarem e serem 'meio-cristãos' (precisamos urgentemente de uma teologia da meia-salvação, se é que já não inventaram). Portanto, nosso primeiro grande problema diante da cultura popular é a relativização da verdade.

Em segundo lugar, a cultura popular especializou-se em oferecer-nos gratificação instantânea (depois da Polaroid, o que falta inventar - lembranças eternas reveladas instantaneamente - nem acabamos de viver o momento e já o trocamos pela foto). Nós, cristãos modernos, estamos mergulhados na nossa cultura sem perceber o que de mal ela pode nos fazer. Faça um auto-teste de QCP (Quociente de Cultura Popular).

Se você for comprar uma TV, você prefere com controle ou sem controle? Se for fazer compras, qual a loja lhe chama mais a atenção, a loja com entrega imediata ou sem entrega imediata? Se for a um restaurante, prefere um com bufê ou aquele demorado a la carte? O telefone, sem fio ou com fio? (eu sempre preferi os primeiros). Faça as contas de quantos aparelhos de TV, rádios, gravadores, vídeo cassetes, CDs, PCs, Fax, telefones e demais controles remotos você tem em casa. Por aí dá pra se tirar uma ideia. O ter estas coisas todas não é o mal, deixar que elas moldem seus desejos é muito ruim. Se eu posso ter isto imediatamente, por que deixar para amanhã? (a mesma ideia da cultura inflacionária). Ora, tudo isto que a cultura Pop nos oferece matou outros valores que certamente demandam mais tempo. Por exemplo, por que perder tempo lendo um livro se eu posso ver o filme? E o pior, por que fazer algo que demanda da minha mente se eu tenho quem pensa por mim?

Aqui está, creio eu, o grande perigo para todos os cristãos com alto QCP. A cultura popular não só se especializou em gratificação imediata como também em moldar a mente daquele a quem gratifica. Ela lhe diz o que é bom e você perde o direito de pensar e analisar o que é realmente bom e agrada a Deus.

A cultura da gratificação instantânea invadiu a igreja! Esta foi a última arma do inimigo para destruir os filhos de Deus, e tem funcionado bem. Já há algum tempo temos as igrejas instantâneas, os crentes instantâneos, as curas instantâneas, líderes instantâneos, tudo instantâneo. Nada pode esperar, e tudo tem que ser como eu quero. As consequências são óbvias: não só a igreja tem que ser como eu a quero, com todo o tipo de gratificação instantânea que a cultura popular oferece, mas o Deus desta igreja tem que ser também moldado à imagem e semelhança da minha cultura. Não é de se admirar que o nosso povo ande tão confuso.

Não sei se este artigo vai ajudá-lo a entender um pouco de si mesmo e das coisas que lhe cercam. Porém recomendo: não espere entender tudo instantaneamente... Pra terminar, posso dizer que as respostas a estes problemas todos não aparecem instantaneamente, mas somente quando observamos as palavras de Paulo em Romanos 12:2 - “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”.
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Autor: Rev. Mauro Meister
Fonte: Monergismo
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