Porque Abandonei a Igreja Sensível ao que Busca

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Comecei a pastorear em setembro de 1994 - bem no meio da loucura do movimento “seeker-sensitive” (sensível ao que busca). As duas primeiras igrejas em que trabalhei estavam 100% comprometidas com o programa. Nós éramos contemporâneos, tínhamos foco, boa sinalização e todos os nossos valores centrais começavam com a letra "G"¹ - éramos tão amigos dos interessados quanto era humanamente possível.


Ambas as igrejas fecharam e o próprio movimento parece estar em declínio terminal.

Foi um momento da minha vida, mas estou muito feliz por ter acabado.

Havia muitas pessoas boas no movimento e algumas motivações muito admiráveis por trás disso, mas quando eu reflito sobre a minha experiência, me parece que o modelo sempre esteve fadado ao fracasso por pelo menos 7 razões simples.

1. Porque você pesca o que estava querendo pescar

A lógica básica do movimento “sensível ao que busca” era que nós atrairíamos as pessoas tocando música contemporânea, cantando canções contemporâneas, falando o jargão contemporâneo e abordando questões contemporâneas. Então, em algum ponto não específico no futuro, faríamos a transição para coisas mais carnudas e substanciais.

Era uma operação básica de atrair para dentro para depois trocar a isca e, como você pode imaginar, nunca funcionou na prática.

Acontece que com aquilo que você ganha as pessoas é aquilo que você tem que manter as pessoas com. Se você se apresentar como uma igreja para pessoas que não gostam de igreja, então você não pode fazer coisas religiosas sem esperar um retorno significativo.

É por isso que a maioria das igrejas do movimento nunca conseguiram sair da rota de fusão teológica. Se você os der um cristianismo água com açúcar, então você precisa continuar a oferecer o mesmo cristianismo semana após semana após semana. A lógica da igreja buscadora prende você numa reconstituição espiritual de Waiting For Godot².

Me ponha fora dessa.

Eu gosto muito das portas da frente, mas também gosto das cozinhas, corredores e salas de jantar. Eventualmente você tem que chegar à parte carnuda, mas nas igrejas do movimento que eu fazia parte, parece que nunca chegávamos.

2. Porque pequenos grupos não são a igreja

Claro que a teoria era que iríamos chegar na carne dentro dos pequenos grupos. Esse foi o nosso mantra. Dizíamos que a igreja no domingo era agora para visitantes e que os Pequenos Grupos seriam para nós. Foi o que dissemos, mas na verdade não tenho certeza de quantos de nós acreditamos nisso.

Devo confessar que tive poucas experiências positivas em um pequeno grupo. A maioria dos Pequenos Grupos dos quais fui forçado a fazer parte seguiu o mesmo script básico. Nós nos reunimos, de algum modo a contragosto, uma vez a cada duas semanas, exceto durante o verão ou se a reunião caísse dentro de um feriado oficial de 5 dias. O que significava que nos encontrávamos praticamente 14-16 vezes por ano.

Passávamos de 15 a 20 minutos conversando e comendo biscoitinhos. Então haveria "um estudo". O estudo era geralmente conduzido por alguém que se preparara enquanto comíamos biscoitinhos. A liderança dele ou dela geralmente envolvia ler a passagem selecionada e, em seguida, fazer uma versão da pergunta: “Então, o que vocês pensam sobre isso?” O que as pessoas pensavam sobre isso era muitas vezes profundamente perturbador. Felizmente, parte do conteúdo era inevitavelmente interrompido pela pessoa com necessidade de ser ouvida que insistia em transformar cada reunião do Pequeno Grupo em uma sessão de terapia pessoal. Eu normalmente ficava de lado durante essa parte da reunião e ficava fantasiando sobre jogar na NHL³.

Depois disso, orávamos, comíamos mais biscoitos e íamos para casa.

Geralmente não era uma experiência transformadora e certamente não era uma experiência legítima da igreja.

Pequeno Grupo não é igreja.

O Pequeno Grupo é pequeno e seleto - a maioria dos Pequenos Grupos dos quais fiz parte eram organizados baseando-se na geografia e na demografia - o que significa que tínhamos a mesma idade e todos vivíamos nos mesmos bairros da classe média.

Isso não é igreja.

A igreja é jovem e velha, rica e pobre, negra e branca, bem educada e classe trabalhadora sentada lado a lado sob a palavra pregada de Deus e respondendo com louvor, oração e arrependimento.

Isso é mágico. O pequeno grupo, pelo menos para mim, era uma tortura.

Agora, talvez meu grupo não tenha feito isso corretamente. Talvez não estivéssemos comprometidos o suficiente. Só estou dizendo que, se a teoria é que a igreja no domingo vai se tornar um show de variedades voltado para os não-crentes e que meu crescimento espiritual será atendido no Pequeno Grupo, então me ponha fora dessa. Eu vou morrer com esta configuração - e eu quase morri.

3. Porque não estava alimentando nosso povo

Quando eu era um pastor associado à uma Igreja Buscadora, uma das conversas mais comuns que tive foi com pessoas que estavam se perguntando por que não pudemos cantar certas canções de adoração com as quais elas haviam crescido e que haviam ministrado profundamente às suas almas. A resposta da Associação que fui encorajado a dar seguiu as seguintes linhas: “Porque essas músicas são para cristãos e nossos serviços são para pessoas sem igreja. Precisamos pensar menos sobre o que queremos e mais sobre o que eles querem. Você pode cantar essas músicas no seu Pequeno Grupo.”

Eu freqüentemente tive a mesma conversa básica a respeito da comunhão. Não celebrávamos a comunhão em nossos cultos dominicais, mas incentivávamos as pessoas a celebrarem a Ceia do Senhor em um pequeno grupo, embora eu não me lembre de alguém que tenha feito isso.

Há algo de muito arrogante na idéia de que a adoração é para “outras pessoas”; de que eu não preciso fazer isso, mas meu vizinho não salvo precisa.

Eu rapidamente descobri que eu preciso muito disso.

Eu preciso me sentar debaixo da proclamada palavra de Deus no culto público.

Preciso de ajuda para elevar meus pensamentos e louvores ao Senhor.

Preciso de ajuda para lembrar o evangelho.

Eu preciso de ajuda para manter um espírito de gratidão.

Eu preciso de um culto público regular.

Essa é uma das principais razões pelas quais saí do Movimento. Ele parecia supor que nós, pessoas fortes, já havíamos recebido nossa porção de graça e agora precisávamos passar fome para alimentar os outros. Gostei da teoria até descobrir que não era tão forte quanto pensava. Acontece que a distância entre eu e meu vizinho ímpio não era tão grande ou considerável quanto o modelo parecia supor.

4. Porque era muito estreitamente focado

Na primeira Igreja Buscadora que eu fiz parte, o pastor titular costumava nos lembrar regularmente que não estávamos tentando ser todas as coisas para todas as pessoas. Nós estávamos tentando ser uma igreja para as novas gerações⁴ e seus filhos.

Nós éramos uma igreja focada.

A teoria era que já que você não pode ser bom em tudo e já que há sempre um monte de boas igrejas na cidade, fazia sentido focar nossos esforços e alcançar estritamente uma fatia específica da torta da comunidade.

Nós escolhemos as novas gerações.

No entanto, comecei a me perguntar se alguma dessas “boas igrejas na cidade” poderia ou não ter como alvo algumas das pessoas que escolhemos deixar para trás. Haveria alguém que focasse idosos deficientes mentais? Alguém focaria em imigrantes? Alguém visaria mães solteiras ou doentes terminais? De um modo geral, essas pessoas não têm dinheiro e capacidade voluntária.

E ainda.

Essas são as pessoas que Jesus estava particularmente interessado. Essas são as pessoas que mais se beneficiariam de fazer parte de uma igreja saudável.

Quando saí do Movimento, acho que esse foi o aspecto particular daquela cultura que mais me empolguei em deixar para trás.

5. Porque estava matando nossa equipe

Nas igrejas que eu fazia parte, a “excelência” era um conceito muito importante. Nós falávamos muito sobre honrar o Senhor com “excelência”. Queríamos honrar o Senhor com excelentes anúncios, excelente iluminação, excelente som, excelentes assentos, excelente sinalização e excelente programa - principalmente na manhã de domingo.

Tenho certeza de que o desleixo é um pecado, mas também tenho certeza de que uma obsessão pela excelência leva à profissionalização do ministério e do serviço. Voluntários quase nunca são excelentes. Tenho certeza de que eles são excelentes em tudo o que fazem para ganhar a vida, mas quase nunca são excelentes no que fazem com as 5-7 horas de precioso tempo voluntário que oferecem à igreja. Muitos deles estão comprometidos. Muitos são humildes. Muitos são generosos. Muitos são fiéis. Mas, em geral, eles não são excelentes. Se por excelente você quiser dizer “grau profissional”. É difícil ser profissional em algo que não é sua profissão. E então o que aconteceu ao longo do tempo é que mais e mais tarefas na igreja passaram a ser atribuídas a profissionais reais.

Mas na maioria das igrejas, nunca há profissionais suficientes para dar conta. Portanto, esperava-se que a equipe fizesse mais e mais do ministério. Isso não foi bom para as pessoas e não foi bom para a equipe.

6. Porque não era bíblico

Quanto mais eu tentava entender a filosofia da Igreja Buscadora e quanto mais eu lia a minha Bíblia, mais conflitante eu comecei a me sentir como um pastor nesse movimento em particular. Muitas das coisas que fizemos e muitos dos valores que adotamos pareciam completamente em desacordo com o que eu estava lendo nas Escrituras.

Uma das principais suposições do movimento buscador é que as pessoas sem igreja precisam de um tipo diferente de ministério do que as pessoas da igreja. As pessoas da igreja precisam da Bíblia (entrar em pequenos grupos), mas as pessoas que não são da igreja precisam de sermões serenos sobre tópicos de preocupação imediata. Entre no show de variedades da manhã de domingo.

Mas isso não é o que a Bíblia diz.

A Bíblia diz:

Então a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.” (Rm 10:17)

A Bíblia diz que as pessoas são convertidas ao ouvir a Bíblia lida e pregada com referência particular à obra salvadora de Jesus Cristo. Não por histórias engraçadas, dramas, vídeos ou conversas sobre dinheiro e casamento. Pessoas sem igreja se convertem ouvindo a Bíblia e como ela aponta e pertence a Cristo.

A Bíblia também parece indicar que é assim que as pessoas salvas crescem - Jesus orou por isso mesmo:

Santifica-os na verdade; a tua palavra é verdade. (Jo 17:17 ESV)

As Escrituras parecem dizer que os crentes e incrédulos precisam exatamente da mesma coisa. Eles precisam da Palavra de Deus que muda as vidas! Eles precisam ser ensinados sobre quem é Deus, quem somos e como Deus nos salvou através da pessoa e obra de Cristo. Quanto mais eles ouvem sobre isso, mais crescem sob isso.

Pareceu-me, ao ler a Bíblia, que um único culto na igreja onde a Palavra de Deus era pregada com referência particular à vida e ministério de Jesus Cristo, poderia satisfazer as necessidades de pessoas salvas e não-salvas.

Mas não era assim que fazíamos na Igreja Buscadora.

Isso por si só teria sido suficiente para me tirar do movimento.

Mas havia mais.

7. Porque não funcionou

Eu honestamente não me lembro de uma única história de sucesso verdadeira em todos os 5 anos que passei dentro do movimento da Igreja Buscadora. Não me lembro de encontrar alguém que tenha sido anteriormente desigrejado, que veio a um dos nossos cultos dominicais acessíveis e relevantes, se tornou um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo, que se transformou em um pequeno Grupo e que se tornou um discípulo multiplicador e ministrador.

No entanto, lembro-me de ter encontrado muitas pessoas anteriormente religiosas que haviam deixado suas igrejas mais tradicionais porque tínhamos música melhor, expectativas mais baixas e serviços mais curtos.

Na minha experiência, o Movimento Sensível era menos uma porta da frente e mais uma porta dos fundos. Foi um pouso suave para o voo dos cristãos nominais em seu caminho para fora da igreja evangélica.

Muito do que sou hoje como pastor é uma reação a essa experiência e, ao mesmo tempo, um retorno às raízes da minha infância. Eu me tornei um cristão em uma igreja que se deleitava no Cristo das Escrituras. Nós lemos a Bíblia juntos. Nós adoramos juntos. Nós comemos juntos. Vivemos e crescemos juntos e com os dons que tivemos e as oportunidades que o Senhor nos proporcionou, estendemos a mão juntos, para nossa comunidade e através de nossos parceiros, até os confins da terra.

Não é sexy.

Não é contemporâneo.

Mas é igreja.

Eu sou muito grato por isso e continuo a acreditar profundamente nisso.

Aqui estou e pela graça de Deus não sairei daqui. 

SDG

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Notas:

1 – Ou Core Values. São princípios que direcionam um propósito ou uma missão de uma empresa. Os com a letra G costumam identificar igrejas com propósitos, tais como:  Grounded (Assentados [na bíblia]), Glory (glória), Gospel (evangelho), Growth (crescimento), Groups (grupos ou células), Gifts (dons), Generosity (generosidade), Genuineness (sinceridade).
2 – Waiting for Godot é uma peça de Samuel Beckett , na qual dois personagens, Vladimir (Didi) e Estragon (Gogo), aguardam a chegada de alguém chamado Godot que nunca chega.
3 – National Hockey League, ou Liga Nacional de Hockey, um dos esportes mais populares do Canadá.
4 – O original traz a expressão Baby Boomer, que retrata alguém nascido nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, quando houve um aumento temporário expressivo na taxa de natalidade.

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Autor: Pastor Paul Carter
Fonte: The Gospel Coalition
Tradução: Caio Jorge
Divulgação: Bereianos
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