Uma Avaliação Crítica de “Sob os Céus da Escócia”, de Renato Cunha - Parte 1

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SERIA A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER
UM DOCUMENTO CONTINUÍSTA?

Introdução

No ano de 2006 o autor Brian D. McLaren publicou uma das suas obras mais conhecidas, intitulada The Secret Message of Jesus. A tese de McLaren neste livro é a de que ao longo de quase dois mil anos de história os cristãos ou compreenderam de maneira equivocada a mensagem de Jesus Cristo, ou então flagrante e intencionalmente a distorceram. Ao longo de milênios a cristandade estaria vivendo no engano por não ter atentado para a verdadeira mensagem propalada pelo Filho de Deus. Talvez o trecho mais inquietante da obra apareça quando McLaren sugere, ao fazer uma citação do filósofo Sören Kierkegaard, que a erudição cristã deliberadamente distorceu a mensagem do evangelho:

A Bíblia é muito simples de se entender. Mas nós, cristãos, somos um bando de caloteiros intrigantes. Fingimos ser capazes de compreendê-la porque sabemos muito bem que, no instante que a compreendermos, estaremos obrigados a agir de acordo com ela [...] Eis, portanto, o verdadeiro propósito da erudição cristã. A erudição cristã é a invenção mais prodigiosa para se defender da Bíblia, a fim de garantir que podemos continuar sendo bons cristãos sem que a Bíblia se aproxime demais de nós.[1]

O exegeta da reforma e seu zelo pelas Escrituras Sagradas

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João Calvino ainda é um personagem na história do cristianismo muito mal interpretado. Por muito, João Calvino tem caído no tão famigerado método interpretativo que classifico como “Histórico Auditivo”, é aquele que a pessoa interpreta um personagem a partir do que se fala dele, mas nunca do que o próprio personagem deixou registrado. Calvino, além de seus comentários Bíblicos, nos deixou outras obras que são de suma importância para quem quiser lhe compreender – Assim são suas cartas, seus sermões e As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, esta última figurando como sua obra magna. Além disso, Calvino confeccionou um vasto material litúrgico, por exemplo, um manual de culto que publicou entre o final de 1539 e início de 1540, completo em língua francesa e contendo diversos salmos e versos acompanhados de suas respectivas melodias para o canto congregacional.

Posteriormente, em meados de 1536 – 1537, Calvino elabora uma espécie de Catecismo que posteriormente receberia o nome de “Instrução e Confissão de Fé, Segundo o Uso da Igreja de Genebra”. Segundo muitos estudiosos do pensamento calvinista, essa obra possuía um caráter mais didático em relação a outros catecismos, pois a mesma não era composta de perguntas e respostas, mas sim de um modo que Calvino julgou acessível aos fiéis. Ainda em 1539, João Calvino elabora aquele que seria conhecido como o Saltério de Genebra, onde traduzira alguns salmos (19 inicialmente). Esta obra fora iniciada por Calvino, mas concluída por Thèodore de Bèze e outros expoentes da cultura musical francesa desse período. O Saltério de Genebra “tornou-se um dos livros mais importantes da reforma” LEITH (1997, apud MAIA, 2000, p. 59). Esta obra teve “um verdadeiro ‘dom de línguas’, já que foi traduzido para o alemão, holandês, italiano, espanhol, boêmio, polonês, latim, hebraico, malaio, tamis, inglês etc., e usado por católicos, luteranos e outras denominações” LEITH (1997, apud MAIA, 2000, p. 60)

Com estas obras, Calvino não só nos mostra sua preocupação com a correta liturgia cristã, mas também seu zelo e cuidado no manuseio para com as Escrituras Sagradas. Assim o faz por conta da pesada herança litúrgica medieval cuja qual estava recebendo. Este corpus litúrgico produzido por João Calvino circulou nas igrejas de Genebra e de Estrasburgo guiando suas respectivas liturgias. Calvino era um homem que tinha receio que as atenções humanas no decorrer da liturgia do culto cristão fossem desviadas do que realmente é mais importante, a saber: as Escrituras Sagradas. A salmodia exclusiva é outro bom exemplo do cuidado e zelo bíblico-litúrgico deste reformador; entendia que o livro de salmos era uma espécie de anatomia de todas as partes da alma, uma espécie de compêndio teológico mais que salutar à igreja. Nada mais justo que cantá-los de forma congregacional. Calvino era um apreciador da harpa (instrumento musical), mas optava pela liturgia da antiga sinagoga judaica. Ou seja, sem o acompanhamento instrumental. Possuía o receio de que quaisquer outras cousas, que não fosse a essência das Sagradas Escrituras, atraísse mais atenção de quem estava cultuando. Assim, imaginemos que se um salmo era cantado com muito floreio musical, ênfase harmônica ou vocal etc., e a beleza de sua harmonia melódica chamasse mais atenção que sua letra em específico, isso seria um pecado grave para com as Escrituras Sagradas no entendimento deste reformador. Calvino nos fala sobre isso:

“Nem contudo, aqui condenamos a voz ou o canto, se não que antes, muito os recomendamos, desde que acompanhem o afeto da alma. Ora, assim exercitam a mente na cogitação de Deus e a retêm atenta, a qual, como é escorregadia e versátil, facilmente se afrouxa e a variadas direções se distrai, a menos que seja de variados adminículos sustentada. Ademais, como em cada parte de nosso corpo, uma a uma, deve luzir, de certo modo, a glória de Deus, convém especialmente seja a língua, que foi criada peculiarmente para declarar e proclamar o louvor de Deus, adjudicada e devotada a este ministério, quer cantando quer falando [...]” (CALVINO, As Institutas da Religião Cristã, III.20.31.)

Para Calvino havia um “elemento central no culto” e este não podia ser outro que não fosse a Palavra de Deus. Esta ideia fora propagada até na organização e na construção das igrejas reformadas na Europa: “As igrejas Reformadas simbolizaram isso nos edifícios que ergueram durante a Reforma, ao colocar o púlpito à frente e no centro do templo” REID (1976, apud MAIA, 2000, p 57). Um bom material para se saber com mais detalhes e informações acerca do culto histórico dos reformados, a expansão do Saltério Genebrino nas mais diversas línguas que fora traduzido, e até a possibilidade de fazer downloads dos salmos cantados, encontra-se no site Westminster hoje (em espanhol) cujo link está disponível aqui. O site reproduziu uma série de sete Artigos do Pastor John Sawtelle sobre o tema.

Conhecido como o “exegeta da reforma”, assim pela riqueza hermenêutica vista em seus comentários, como também por sua forma peculiar de expor as Escrituras Sagradas, Calvino possuía um zelo admirável pela Bíblia. Havia em seu entendimento uma regra sacra: “Que esta seja nossa regra sacra: não procurar saber nada mais se não o que as Escrituras nos ensinam. Onde o Senhor fecha seus próprios lábios, que nós igualmente impeçamos nossa mente de avançar sequer um passo a mais" (CALVINO, Exposição de Romanos (9.14), p. 330). Assim como o salmista no Salmo 139:6, João Calvino entendia que o homem possui um limite intelectual no que tange à interpretação das Escrituras Sagradas e do Deus ali revelado. Ou seja, o limite é justamente até onde Deus quis se revelar. Após isso, a mente humana, além de não ter como, não deve querer avançar. João Calvino conseguia transitar entre a erudição e a espiritualidade sem se manter polarizado em um dos dois de forma extremada. Conseguia entregar às suas ovelhas um alimento sólido, consubstanciado e extraído dos mais finos recursos exegéticos, mas com o compromisso de que todos pudessem compreendê-lo. Afinal, esta deve ser a função principal de todo e qualquer teólogo – traduzir a teologia para a linguagem popular sem que esta sofra mutilações. Não era em vão que lhe recaía outro epíteto, a saber: “Príncipe dos Expositores”. De certa forma, Calvino: “Fugia [...] e de certos refinamentos exegéticos que quando muito só servem para revelar erudição, mas não contribuem para esclarecer o texto e edificar o povo de Deus” CALVINO (1959, apud MAIA, 2000, p. 39). 

É muito importante que se destaque a real preocupação dos reformadores como um todo no que concerne à ênfase do “Sola Scriptura”, bem como a disponibilização das Escrituras Sagradas para a população em geral. Por isso a forte atividade de tradução da Bíblia para os respectivos e diversos idiomas dos países em que a reforma se deu com maior ênfase. Logo, essa era uma preocupação de todos os reformadores, uma vez que a Bíblia fora oculta por muitos anos dos olhares do povo em geral. 

A teologia de João Calvino pode, de fato, ser reconhecida como sistemática, mas também bíblica ao mesmo tempo. Tendo em vista que o trabalho do “Exegeta da Reforma” se concentrou mais em comentar o Livro Sagrado, sua teologia é bíblica. Porém, Calvino também é conhecido como um grande sistematizador das Escrituras Sagradas. Não adentraremos aqui nas nuances da complexidade da expressão “Teologia Bíblica”, uma vez que tudo que se extraí da Bíblia é bíblico, logo a Teologia Sistemática também é bíblica, pois fora extraída da Bíblia. Acreditamos que a expressão de Geerhardus vos, em seu livro “Teologia Bíblica; Antigo e Novo Testamento”, direcionada às Escrituras Sagradas como sendo “A História da Revelação Especial” seja mais adequada. Mas, discussões à parte, queremos destacar que, como poucos, Calvino consegue unir em sua teologia pontos aparentemente opostos e marcados pela tensão – Teologia Bíblica e Teologia Sistemática é um deles. 

A Teologia Exegética era, de fato, uma marca na vida de Calvino, mas que de forma única conseguia unir isso à sua teologia prática. Ele não era um teólogo puramente teórico e sem a parte prática da coisa em si. Ele conseguia converter teoria em prática e prática em teoria. E, como já falamos, conseguia transitar entre o erudito e o espiritual, e o produto disso era visto na sua teologia prática. Um bom exemplo sobre este caráter minimizador de tensões visto na teologia de Calvino é sua posição acerca da Ceia do Senhor junto aos oficiais de sua Igreja em Genebra. É sabido que na alta idade média havia o costume de se celebrar a Ceia do Senhor apenas em caráter anual – uma única vez –, mas João Calvino combate essa ideia com ênfase no costume primitivo da igreja cristã que corriqueiramente desfrutavam de momentos de comunhão “junto à mesa” (Atos 2: 44-47). O epicentro da tensão na Igreja de Genebra recai entre Calvino, que entende que a Ceia do Senhor deve ser semanalmente realizada, e os oficiais da igreja que entendem que a Ceia do Senhor deveria ser ministrada apenas quatro vezes por ano e em datas específicas. Esta tensão, se fosse em dias atuais, com toda convicção, teríamos o assunto resolvido pelo víeis da tirania ou do terrorismo proféticos que são realizados por alguns líderes que fazem de suas igrejas verdadeiros quartéis militares. Porém, a tensão entre João Calvino e seus oficiais na Igreja de Genebra foi resolvida por meio da condução do Espírito Santo, que concedeu a Calvino uma estratégia salutar para resolução da problemática. O “Exegeta da Reforma” fez acordos entre as mais diversas igrejas vizinhas em relação à data da Ceia do Senhor, conseguiu variar estas datas entre cada igreja da cidade e proporcionar que houvesse culto de Ceia semanalmente – não na sua igreja em específico –, mas entre as igrejas da cidade. Com isso, avisava aos membros de sua própria igreja que eles deveriam visitar as outras igrejas nos cultos de Ceia especificamente, e assim estimular a comunhão entre os irmãos e as igrejas vizinhas junto à mesa de Cristo. Com isso, João Calvino conseguiu estabelecer seu ideal de que a Ceia do Senhor fosse ministrada semanalmente, sem desavenças ou perseguições. Seu trabalho sempre foi em prol do crescimento harmônico do corpo de Cristo.

Percebemos em tudo isso que João Calvino era, de fato, um servo de Deus no sentido mais estrito da palavra. Um homem que possuía um zelo imenso pelas Escrituras Sagradas. Um homem a ser estudado e entendido, um exemplo de erudição e espiritualidade isento de polarizações e extremismos nessas áreas. Um reformador que transitava entre os mais refinados recursos exegéticos, mas que tudo isso desembocava numa teologia prática piedosa e que sempre apontava para um alvo cristocêntrico. Dizem que reformar dar mais trabalho que construir. Com certeza, reformar a igreja foi um trabalho árduo, mas também exitoso e que custou tempo, dedicação e a vida de muitos homens comprometidos com Deus. As bases foram refeitas e postas – Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Sola Deo Glória – devemos permanecer sempre sobre o alicerce desta tradição. 

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Bibliografia:
CALVINO, João. As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. São Paulo, CEP, 1985
 CALVINO, João. Comentário de Romanos, Editora Fiel, Edição Virtual Autorizada (Biblioteca de Calvino)
 MAIA; LEMBO; QUADROS; GOUVEIA. O Pensamento de João Calvino. São Paulo, Mackenzie, 2000
 MCGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo, Cultura Cristã, 2004

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Autor: Thiago Azevedo
Divulgação: Bereianos
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10 perguntas para os simpatizantes da ICAR

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Na semana passada eu recebi o seguinte e-mail e senti que seria melhor compartilhar a resposta aqui no blog.

Caro Sr. White, Para alguém que esteja considerando se converter ao catolicismo romano, quais seriam as perguntas que o senhor faria a fim de discernir se esse alguém examinou ou não a situação o suficiente? Digamos, uma lista Top 10 de perguntas. Obrigado.

Quando eu postei isso em nosso canal de bate-papo, um grande número de pessoas comentou que essa era, de fato, uma ótima pergunta, e nós começamos a elaborar algumas possíveis respostas. Aqui está minha lista Top 10:

10) Você ouviu os dois lados? Isto é, você fez algo mais do que simplesmente ler “Todos os caminhos levam a Roma” e ouvir algumas histórias emotivas de conversão? Você realmente separou um tempo para buscar respostas sérias às reivindicações de Roma, respostas essas que vem sendo oferecidas por escritores desde a época da Reforma, como Goode, Whitaker, Salmon, e alguns escritores modernos? Em especial, quero excluir desta lista qualquer coisa que tenha sido escrita por Jack Chick e Dave Hunt.

9) Você já leu alguma análise histórica objetiva da Igreja Primitiva? Refiro-me a uma que explicaria a grande diversidade de pontos de vista encontrados nos escritos dos primeiros séculos, e que explicaria, com precisão, as controvérsias, lutas, sucessos e fracassos desses primeiros crentes?

8) Você já olhou atentamente para as afirmações Roma sob uma luz histórica? Sendo mais específico, você já examinou as reivindicações de Roma sobre o “consentimento unânime” dos Padres e todas as evidências que se opõem não só à suposta aceitação universal do papado, mas especialmente ao conceito de infalibilidade papal? Como você explica, de forma consistente, a história da igreja primitiva, à luz das afirmações modernas feitas por Roma? Como você explica coisas como a Pornocracia e o Cativeiro Babilônico da Igreja sem assumir a veracidade do mesmo sistema que você está abraçando?

7) Você aplicou os mesmos padrões que os apologistas católicos romanos usam para atacar o Sola Scriptura para, igualmente, testar as alegações de suprema autoridade de Roma? Como você explica o fato de que as respostas que Roma dá para suas próprias objeções são circulares? Por exemplo, se Roma afirma que precisa da Igreja para estabelecer um cânone infalível, como é que isso pode responder à pergunta, uma vez que agora você tem que perguntar como Roma chega a esse conhecimento infalível. Ou, se argumentam que o Sola Scriptura produz anarquia, por que é que o magistério de Roma não produz unanimidade e harmonia? Se alegam que existem 33.000 denominações devido ao Sola Scriptura, e sabendo que esse número escandaloso foi repetidamente refutado (veja o livro Upon This Rock Slippery do Eric Svendsen para uma análise mais detalhada), você já se perguntou por que eles são tão desonestos e desleixados em suas pesquisas?

6) Você já leu o Sílabo dos Erros e a Indulgentiarum doctrina (doutrina das indulgências)? Alguém pode seriamente ler a descrição de Graça encontrada no último documento e fingir por um segundo sequer que essa é a mesma doutrina da Graça ensinada por Paulo aos romanos?

5) Você já considerou as ramificações de Roma acerca das doutrinas sobre o pecado, o perdão, os castigos eternos e temporais, o purgatório, a tesouraria do mérito, transubstanciação, o sacerdócio sacramental, e indulgências? Você realmente se deu ao trabalho de fazer uma análise séria de passagens pertinentes como Efésios 2, Romanos 3-5, Gálatas 1-2, Hebreus 7-10 e todo o capítulo 6 de João, à luz do ensinamento romano?

4) Você já se perguntou o que significa abraçar um sistema que ensina que você pode se aproximar do sacrifício de Cristo milhares de vezes em sua vida e que ainda assim pode morrer impuro e como um inimigo de Deus? E você já se perguntou porque embora os ensinamentos históricos de Roma sobre estas questões sejam facilmente identificáveis, a grande maioria dos católicos romanos hoje, incluindo padres, bispos e eruditos, não acreditam mais nessas coisas? O que isso significa?

3) Você já parou para pensar o que significa chamar um ser humano de Santo Padre (que é um nome divino, usado por Jesus unicamente acerca de Seu Pai) e Vigário de Cristo (que, por sua vez, é o Espírito Santo)? Você realmente pode encontrar algo nas Escrituras que o levariam a acreditar que a vontade de Cristo era que um bispo em Roma (ou seja, numa cidade centenas de milhas de distância de Jerusalém) não só fosse o cabeça de Sua igreja, mas que fosse tratado como um rei na terra, com pessoas se prostrando a ele, como o Pontífice Romano é tratado?

2) Você já parou para pensar o quão antibíblico e quão a-histórico é todo o conjunto de doutrinas e dogmas relacionados a Maria? Você realmente acredita que os Apóstolos ensinavam que Maria havia sido concebida imaculadamente, e que ela permaneceu perpetuamente virgem (de tal maneira que ela viajou sobre a Palestina com um grupo de jovens que não eram seus filhos, mas sim primos de Jesus, ou meio-irmãos, filhos de um casamento anterior de José)? Você acredita que dogmas definidos quase 2.000 anos depois do nascimento de Cristo realmente representam os ensinamentos dos apóstolos? Você está ciente de que doutrinas como a Virgindade Perpétua e a Assunção Corpórea têm sua origem no gnosticismo, não no cristianismo, e que elas não têm nenhum fundamento na doutrina ou prática apostólica? Como você explica o fato de que você deve acreditar nessas coisas de fide, isto é, pela fé, quando gerações de cristãos viveram e morreram sem nunca sequer ter ouvido falar de tais coisas ?

E a pergunta número um que eu gostaria de fazer a tal pessoa é:

1) Se você afirma que em certo dia tenha abraçado o evangelho da Graça, no qual confessava que a sua única posição diante de um Deus três vezes santo era a túnica inconsútil da justiça imputada de Cristo, de modo que você não tinha mérito algum, apenas a perfeita justiça dEle e com isso obteve paz diante de Deus, sobre quais possíveis razões você poderia vir a abraçar um sistema que, em seu coração nega-lhe essa paz que se encontra em um Salvador perfeito que realiza a vontade do Pai e um Espírito que não pode falhar? Você realmente acredita que o ciclo infinito de perdão sacramental (o qual agora você irá se submeter) pode lhe fornecer a paz que a perfeita justiça de Cristo não pode?

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Autor: James R. White
Fonte: Alpha and Omega Ministries
Tradução: Erving Ximendes
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Dez maneiras como a apologética auxilia no aconselhamento bíblico

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O que se segue é uma lista do modo como a apologética em geral e pressuposicional em particular tem ajudado a me tornar um conselheiro bíblico melhor (não que eu já tenha alcançado, mas adiante...)

1) A apologética em geral tem me feito pensar mais claro e logicamente. Isso tem me ajudado a me tornar mais claro e preciso em como eu aconselho a outros. 

2) A apologética em geral tem me feito ouvir aos outros mais cuidadosamente e fazer perguntas que esclareçam o que eles querem dizer, e por que eles pensam o que pensam e fazem o que fazem. 

3) A apologética em geral me levou a vê-la com uma ferramenta adicional ao meu aconselhamento: às vezes, o aconselhando faz algumas declarações preocupantes durante a abordagem, eu escrevo diversas das mais importantes e, então, assinalo-lhe a pensá-las através daquelas que podem ser problemáticas e não bíblicas. Então, quando nos encontramos, vejo que ele pode surgir com suas próprias conclusões, louvando a Deus porque ele pôde por si mesmo identificá-las, ao mesmo tempo em que ele aponta outras coisas que poderiam ter se perdido ou que precisam de mais elaboração. Esse exercício é logicamente rigoroso e eu creio que a aplicação da apologética seja útil para treinar essa aplicação.

4) Em particular, a apologética pressuposicional tem me tornado mais consciente que as pessoas frequentemente fazem coisas por causa de suas cosmovisões. Então, no aconselhamento eu estou agora mais consciente em identificar as pressuposições não bíblicas que as pessoas adotam e que podem estar conduzindo seus problemas. 

5) Em particular, a apologética pressuposicional tem me tornado mais consciente sobre assuntos de autoridade das Escrituras e a ênfase vantiliana sobre a Escritura reforça a importância de usar habilmente a Escritura aplicando-a à minha vida e à vida de outros no cuidado de nossos problemas. Ela me faz determinado a estudar a Escritura e ver suas implicações na abordagem de questões práticas

6) Do ponto 5, a apologética pressuposicional em particular também tem sido útil em me fazer perceber que, muitas vezes, pecados e comportamentos destrutivos são irracionais, de acordo com o pensamento cristão pareceriam “racionais” se suas consequências seguissem de suas cosmovisões. Por isso, é importante ver que a questão da idolatria (a raiz do problema) seja abordada (seja ela a busca pelo prazer a qualquer custo, orgulho etc), uma vez que ela dirige todas as coisas.

7) A apologética pressuposicional em particular relembra-me do efeito noético do pecado e que apelar ao que é racional ou razoável não é o suficiente se a vontade de alguém já está decidida. Isso me leva a ver a importância da oração, do uso da Lei de Deus para apelar à consciência e aplicar-lhe o Evangelho de modo a afetar as afeições do indivíduo.

8) A apologética pressuposicional em particular com sua ênfase sobre o efeito do pecado sobre todas as nossas faculdades também tem grandemente me humilhado e me guardado contra a auto-justiça quando aconselho a outros. Eu me percebo como um pecador que necessita da Graça: que, como conselheiro, eu posso cometer enganos e, então, eu preciso de muitas perguntas para que eu saiba o que realmente está acontecendo, em vez de assumir que já sei; ela também me faz perceber o meu próprio pecado e preciso me aplicar o mesmo remédio que estou oferecendo; me faz perceber que, se eu estiver errado na forma como aconselho, também devo confessá-lo ao meu aconselhando.

9) A apologética pressuposicional me faz perceber que na raiz de todos os nossos problemas nós precisamos de Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador.

10) A apologética pressuposicional me faz perceber que no centro de muitos problemas, tais como pecados sexuais, drogas etc. está a questão da adoração. A verdade de Deus faz-me querer adorar a Deus mais e mais por sua grandeza. A apologética pressuposicional e o perspectivalismo¹ de John Frame fazem-me adorar a Deus por ver a beleza da verdade de Deus como um todo coerente, complementando e tendo implicações para outras esferas da vida. O inter-relacionamento da apologética e aconselhamento bíblico é belo. Nós precisamos ter uma apologética doxológica. 

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Nota:    
[1] Veja http://frame-poythress.org/a-primer-on-perspectivalism/

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Autor: Jim Lee
Fonte: The Domain for Truth
Tradução: Rev. Gaspar Souza
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Atenção pais! Crianças de 6 a 10 anos estudarão Ideologia de Gênero em livros do MEC

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Crianças de escolas públicas e privadas que estudarem com os livros didáticos/2016 do MEC para a primeira fase do Ensino Fundamental serão informadas sobre arranjos familiares de gays e lésbicas, com adoção de filhos. Elas tomarão conhecimento também de bigamia, poligamia, bissexualismo e transsexualismo. Aprenderão a observar melhor os próprios corpos e os corpos dos outros através de exercícios em sala de aula, orientados pelo livro didático. Os livros também lhes dirão das doenças sexualmente transmissíveis e dos mais diferentes métodos anticonceptivos. A ministração desses conteúdos se inicia já no 1º ano, com alunos de 6 anos de idade e, numa gradação de complexidade, estende-se ao 5º ano, quando os alunos têm 10 anos. 

Para a produção deste artigo, foram verificados livros de apenas onze editoras, das dezenove que tiveram suas obras recomendadas pelo Programa Nacional do Livro Didático/2016, do Ministério da Educação. Constatou-se que as onze editoras observadas trazem em alguns de seus livros o tema da Orientação Sexual e Familiar, de acordo com a Ideologia de Gênero. 

A estratégia pedagógica para o ensino desse conteúdo durante essa fase de estudos obedece ao princípio da repetição exaustiva do conteúdo. Durante o mesmo ano letivo o aluno ouvirá, lerá e fará exercícios seguidas vezes sobre o referido tema com professores e disciplinas diferentes: Geografia, Ciências, História, Ciências Humanas e da Natureza, etc. O discurso único na diversidade de disciplinas e professores confere maior credibilidade ao conteúdo. Além das aulas expositivas, os próprios livros encaminharão os alunos para atividades complementares sob a orientação dos professores como: leitura de livros, filmes, músicas, debates e produção de cartazes. 

Trata-se da aplicação do princípio segundo o qual uma história, mesmo que fantasiosa, quando repetida várias vezes, adquire valor de verdade. Neste caso, o esforço do MEC é para atender os objetivos de desconstrução da heteronormatividade e do conceito de família tradicional previstos no Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH3), assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 21 de dezembro de 2009.  

O artigo 226 da Constituição é ignorado completamente pelo material didático produzido pelo próprio Governo, para referir-se à formação de família. Enquanto a Constituição elege como base da sociedade a família que é formada pelo casamento entre "um homem e uma mulher", os livros ensinam às crianças que não há um modelo padrão de família e que o casamento é a união de "duas pessoas", independente do sexo. 

Mas o MEC também desconsidera a vontade majoritária do povo expressa por meio de seus representantes nos três níveis parlamentares, quando das votações dos Planos Nacional, Estaduais e Municipais de Educação. Nessas ocasiões, a inserção da Ideologia de Gênero nos planos de educação foi severamente combatida e rejeitada pela maioria dos parlamentares. Como se não bastasse, esse tema para o ensino da moral sexual das crianças na escola é amplamente reprovado pela maioria esmagadora da população, como demonstram pesquisas universais de opinião.

Levando-se em consideração que os conteúdos em referência sejam puramente ideológicos, visto que eles carecem de experimentação e consenso científico, qual a justificativa e o respaldo legal do Governo para jogar por terra a vontade do legislativo e da maioria do povo para adotar uma ideologia como política pública para todos? De acordo com documentos do MEC esta política de orientação sexual e familiar para as crianças constitui-se em tema transversal da educação e visa criar no futuro uma sociedade idealizada que aceite com normalidade as diferenças de gênero e de arranjos familiares. 

Ao afastar compulsoriamente a família dessa responsabilidade educadora para assumir o seu lugar, o Governo alinha-se ao pensamento fundamente da Ideologia de Gênero para quem a família não está devidamente preparada para a orientação sexual e familiar dos filhos. Isto porque não acompanha as mudanças sociais, é portadora de tabus e preconceitos arraigados em função da influência que recebe da tradição familiar e da religião.

A educação das crianças na escola, não somente pública mas também privada e confessional, era a última barreira a ser vencida pela revolução sexual e de costumes que o Governo apadrinha. Pelo visto ela foi vencida agora com a chegada desses livros, a menos que haja uma reação incisiva e qualificada da sociedade civil, declaradamente contrária à esse projeto, que busque proteger à integridade física, moral, emocional e psicológica das crianças em idade escolar.

Deixando a formalidade textual para encerrar o artigo, a palavra se abre para os pais de crianças em idade escolar, de cada cidade do país. Têm direito também a ela os parlamentares que na Câmara dos Deputados, no Senado, nas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores debateram e votaram contra a inserção da Ideologia de Gênero nos planos de educação. Ao Ministério Público cabe o direito natural desse tipo de defesa pública. Que essas vozes se levantem contra a intenção de fazer das crianças da atual geração, cobaias para um projeto ideológico.

Para acessar às imagens de alguns desses livros, clique aqui!

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Autor: Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e mestrando em estudos teológicos (SPRBC).
Divulgação: Bereianos
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Não desperdice o seu câncer

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16 de Fevereiro de 2006

Estou escrevendo estas palavras na véspera da cirurgia do câncer na minha próstata. Creio no poder de Deus para curar — por meio de um milagre e da medicina. Sei que é certo e bom orar pelos dois tipos de cura. O câncer não é desperdiçado ao ser curado por Deus. Ele recebe a glória — e isto porque o câncer existe. Então, não orar pela cura pode desperdiçar seu câncer. Mas a cura não é o plano de Deus para todos. E existem muitas outras formas de desperdiçar seu câncer. Estou orando por mim e por você, para que não desperdicemos esta dor.

1. Você desperdiçará seu câncer caso não creia que isto foi planejado por Deus.

Não diga que Deus apenas usa nosso câncer, mas que não o planeja. O que Deus permite, ele o faz por uma razão. E está razão é sua vontade. Se Deus prevê desenvolvimentos moleculares tornando-se cancerígenos , ele pode deter isto ou não. Se não, ele tem um propósito. Por ser infinitamente sábio, é correto chamar este propósito de plano. Satanás é real e causa muitos prazeres e dores. Mas ele não é a causa última . Assim, quando ele atacou Jó com úlceras (Jó 2:7), Jó atribuiu-as a Deus (2:10), e o escritor inspirado concorda: “e o consolaram de todo o mal que o Senhor lhe havia enviado” (Jó 42:11). Se você não crê que seu câncer lhe foi planejado por Deus, você o desperdiçará.

2. Você desperdiçará seu câncer caso creia que ele é uma maldição , e não uma bênção.

Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” ( Romanos 8:1). “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13). “Contra Jacó, pois, não há encantamento, nem adivinhação contra Israel” ( Números 23:23). “Porquanto o Senhor Deus é sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não negará bem algum aos que andam na retidão.” (Salmos 84:11)

3. Você desperdiçará seu câncer caso procure conforto em suas chances em vez de procurá-lo em Deus.

O plano de Deus em relação ao seu câncer não é treiná-lo no cálculo de chances racionalista e humano. O mundo consegue conforto em estatísticas. Os cristãos não. Alguns contam seus carros (porcentagens de sobrevivência) e outros contam seus cavalos (efeitos colaterais do tratamento), mas nós confiamos no nome do Senhor, nosso Deus (Salmos 20:7). O plano de Deus é claro em 2Coríntios 1:9: “portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte , para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos”. O objetivo de Deus relativo ao seu câncer (entre várias outras coisas boas) é derrotar a autoconfiança em nosso coração para podermos descansar completamente nele.

4. Você desperdiçará seu câncer caso se recuse a pensar na morte.

Todos nós morreremos caso Jesus não retorne em nossos dias. Não pensar sobre como seria deixar esta vida e encontrar Deus é tolice. Eclesiastes 7:2 diz: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete ; porque naquela se vê o fim de todos os homens , e os vivos o aplicam ao seu coração”. Como você pode aplicar esta verdade a seu coração se não pensa nela? Salmos 90:12 diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios”. Contar seus dias significa pensar sobre quão poucos eles são e que terminarão. Como você conseguirá um coração sábio se você se recusa a pensar nisto? Que desperdício , caso não pensemos sobre a morte.

5. Você desperdiçará seu câncer caso pense que “vencê-lo” significa sobreviver e não aproximar-se de Cristo.

Os planos de Deus e os planos de Satanás para seu câncer não são os mesmos. Satanás deseja destruir seu amor por Cristo. Deus planeja aprofundá-lo. O câncer não vencerá se você morrer, apenas se falhar em aproximar-se de Cristo. O plano de Deus é privá-lo do alimento do mundo e satisfazê-lo com a suficiência de Cristo. Isto tem o objetivo de ajudá-lo a dizer e a sentir: “tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”. E saber, portanto, que “o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 3:8; 1:21).

6. Você desperdiçará seu câncer caso gaste muito tempo lendo sobre o câncer e não o suficiente a respeito de Deus.

Não é errado ler sobre o câncer. Ignorância não é virtude. Mas, o desejo de saber mais e mais, e a falta de zelo pelo conhecimento contínuo de Deus é sintomático no incrédulo. O objetivo do câncer é acordar-nos para a realidade de Deus, colocar sensações e força no mandamento “Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oséias 6:3), acordar-nos para a verdade de Daniel 11:32: “O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte, e fará proezas”, tornar-nos carvalhos indestrutíveis e firmes: “antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite. Pois será como a árvore plantada junto às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer prosperará.” ( Salmos 1:2,3). Que desperdício lermos dia e noite sobre o câncer e nada a respeito de Deus.

7. Você desperdiçará seu câncer caso se isole em vez de aprofundar seus relacionamentos manifestando afeição.

Quando Epafrodito trouxe os presentes enviados pela igreja de Filipos para Paulo, ele ficou doente e quase morreu. Paulo diz aos filipenses: “porquanto ele tinha saudades de vós todos, e estava angustiado por terdes ouvido que estivera doente” (Filipenes 2:26). Que reação maravilhosa! Não diz que estavam angustiados porque Epafrodito estava doente, mas que ele estava angustiado porque os filipenses ouviram que ele estava doente. Este é o tipo de coração que Deus pretende criar com o câncer: o coração profundamente afetivo e preocupado com as pessoas. Não desperdice seu câncer voltando-se para si mesmo.

8. Você desperdiçará seu câncer caso se entristeça como quem não tem esperança.

Paulo usa esta expressão para designar pessoas cujos entes queridos haviam morrido: “Não queremos, porém , irmãos , que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança” (1Tessalonicenses 4:13). Existe tristeza na morte. Mesmo para o crente que morre, há uma perda temporária — a perda do corpo, de entes queridos e do ministério terreno. Mas a tristeza é diferente — é permeada pela esperança: “desejamos antes estar ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor” (2Coríntios 5:8). Não desperdice seu câncer ficando triste como quem não tem esta esperança.

9. Você desperdiçará seu câncer caso trate o pecado tão normalmente quanto antes.

Seus pecados freqüentes permanecem tão atrativos quanto antes de você ter câncer? Se a resposta for afirmativa, então você está desperdiçando seu câncer. O câncer foi planejado para destruir o apetite pelo pecado. Orgulho, ganância, luxúria, ódio, falta de perdão, impaciência, preguiça, procrastinação — todos estes são adversários que o câncer deve atacar. Não pense apenas em lutar contra o câncer. Pense também em usá-lo. Todas estas coisas são piores que o câncer. Não desperdice o poder do câncer para esmagar estes adversários. Deixe a presença da eternidade tornar os pecados temporais tão fúteis como eles realmente são. “Pois, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se, ou prejudicar-se a si mesmo?” (Lucas 9:25).

10. Você desperdiçará seu câncer caso falhe em utilizá-lo como meio de testemunhar a verdade e a glória de Cristo.

Os cristãos nunca se encontram em determinado lugar por acidente. Existem razões para as quais somos levados onde estamos. Considere o que Jesus diz sobre circunstâncias inesperadas e dolorosas: “Mas antes de todas essas coisas vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome. Isso vos acontecerá para que deis testemunho” (Lucas 21:12-13). Assim também é com o câncer. Essa será uma oportunidade para testemunhar. Cristo é infinitamente digno. Aqui está uma oportunidade de ouro para mostrar que Jesus vale mais que a vida. Não a desperdice.

Lembre-se de que você não foi deixado sozinho; terá a ajuda necessária: “Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus” (Filipenses 4:19).

Pastor John

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Autor: John Piper
Fonte: DesiringGod
Tradução: Josaías Júnior
Revisão: Rogério Portella
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Por que devemos ser zelosos no exame de candidatos a membros?

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É esperado que a Igreja Visível cresça numericamente. Ela aumentará tanto pelas famílias da aliança e seus descendentes, como por conversões de pessoas que não têm convivência com a igreja local. Este desenvolvimento é resultado do testemunho da grande comissão de Jesus Cristo (Mt 28:18-20). A questão é: como devemos receber os novos membros da igreja? Devemos ser tão criteriosos quanto possível, ou, aceitar uma ampla afirmação de concordância como suficiente para a pública profissão de fé?

ONDE SURGE O PROBLEMA?

As pessoas com potencial de causar problemas, em geral, é resultado de má formação na recepção como membro. A prudência sempre é necessária, entretanto, nem sempre é assim. Não podemos negar que há alguns fatores que motivam o Conselho[1] no recebimento relapso de membros. A primeira causa é a pressa de integrá-los. Há situações em que novos convertidos, ou pessoas procedentes de outra comunidade evangélica desejam ser recebidas com poucos meses de frequência na igreja local. Este é um perigo, porque elas ainda não conhecem a identidade e estrutura da igreja, nem verdadeiramente podem responder as questões no exame público[2] que as vinculará à sua identidade confessional.

Segundo, a falta de um critério claro de recepção de membros. Infelizmente, há Conselhos que não tem um padrão muito definido no preparo e recebimento de novos membros. Essa falha criará um disparate na qualificação, bem como propiciará uma pluralidade doutrinária, e consequentemente resultará em infidelidade confessional. Por isso, a liderança deve planejar o treinamento dos novos membros para evitar possível confusão doutrinário entre os membros.

Terceiro, a falta de compromisso com a identidade confessional. A nossa igreja possuí uma identidade solidamente confessional.[3] Temos documentos que resumidamente expressam a nossa cosmovisão reformada. Entretanto, é possível que no exame a confessionalidade seja deixada de lado. Infelizmente isso pode acontecer nos seguintes casos. Primeiro, por subestimar que o novo membro seja capaz de assimilar o conteúdo da fé reformada. Segundo, por negligenciar a importância do calvinismo para toda a vida cristã. E por último, por desprezar a teologia reformada como parte de sua formação. Essas são perigosas falhas que um Conselho não pode cometer!

A descuidada admissão de membros aumenta a impureza da igreja local. A má formação bem como a recepção de membros heterodoxos fomenta danosos desvios doutrinários e éticos. A recepção de membros não convertidos, ou com falhas teológicas, ou desvios morais de conduta, é a porta para a corrupção de uma denominação inteira. Uma vez aceito como membro, ele tentará fazer com que as suas crenças e falhas morais sejam aceitas. É ele quem deve se modelar à identidade da Igreja de Cristo, e não o contrário.

A pureza doutrinária propicia a formação de pessoas piedosas. Os novos membros devem aprender a viver fielmente para Cristo. A vida cristã abrange uma inteligível obediência do evangelho coerentemente aplicado a todas as esferas da vida.

ALGUMAS PROPOSTAS PARA O EXERCÍCIO DE ZELO COM A PUREZA DA IGREJA

O Conselho da igreja deve adotar um programa para o recebimento de novos membros que envolva. Este treinamento e avaliação pode ser: 1) discipulado; 2) catecúmenos; 3) leituras extraclasse; 4) exame verbal pelo Conselho do candidato. É especificamente neste último ponto que este artigo se concentra. O exame verbal é parte do processo e ele precisa ser respondido satisfatoriamente. As questões devem ser calmamente respondidas com entendimento, sinceridade e verdade.

QUESTÕES DE CONVERSÃO

1. Você poderia explicar resumidamente o que é o evangelho?
2. Quando foi que você começou a entender o evangelho de Cristo Jesus?
3. Há algum momento específico que você fez um pacto/compromisso de seguir a Cristo como o seu Senhor?
4. Você tem certeza da sua salvação?
5. Quais são as evidências que você identifica de que é convertido a Cristo?

QUESTÕES DA VIDA CRISTÃ

1. Você sabe da necessidade de uma ininterrupta prática da oração?
2. Você sabe a oração do Senhor: o Pai nosso?
3. Você se compromete para preservar a verdade e a paz no meio do povo de Deus?
4. Você está convicto da necessidade de mortificar os seus pecados diariamente?
5. Você tem discernimento de como o sexo, dinheiro e poder podem se tornar ídolos em sua vida?
6. Deus usa o sofrimento em sua vida para manifestar o Seu divino amor?
7. Você se rebelaria contra Deus, diante da dor, enfermidades e até mesmo a morte de entes queridos?
8. Você sabe de cor os Dez Mandamentos? Consegue explica-los resumidamente?
9. A salvação é pelo seu esforço de obedecer perfeitamente a Lei de Deus?
10. Você acredita que os Dez Mandamentos são algo somente do Antigo Testamento, ou, nós cristãos devemos obedecê-los como nosso padrão ético?
11. Numa situação de contenda com algum irmão em Cristo, você se compromete em seguir os passos de Mt 18:15-20?
12. Você se compromete em denunciar ou, servir de testemunha, numa situação de disciplina eclesiástica?
13. Você se compromete em orar e apoiar a liderança da igreja local, enquanto ela permanecer fiel ao ensino da Escritura Sagrada?
14. Você entende a necessidade de respeitar a autoridade da liderança da igreja?
15. Você está comprometido em viver tudo para a glória de Deus?
16. Você anseia viver diante de Deus em tudo o que pensa, fala e faz?
17. Se você um dia se mudar para outra cidade procurará congregar noutra igreja reformada que seja comprometida com a centralidade da Escritura e submissa ao senhorio de Jesus Cristo?
18. Residindo numa localidade que não exista nenhuma igreja reformada, você se compromete de iniciar um grupo de reunião em sua residência? 

QUESTÕES FAMILIARES

1. Você entende que o namoro e casamento devem ser no Senhor, isto é, somente com outra pessoa que vive no pacto com Deus? Você entende que namorar ou casar com uma pessoa não convertida é uma decisão pecaminosa?
2. Você entende a necessidade de evitar a lascívia, a fornicação e qualquer imoralidade sexual durante o período antecedente ao casamento?
3. Você entende que o divórcio é algo odioso a Deus e indesejável para um cristão?
4. Você entende o seu dever de discipular os seus filhos no puro e completo evangelho de Cristo, ajudando-os a formar uma cosmovisão cristã para todas as esferas da vida?
5. Você entende o seu dever de disciplinar os seus filhos conforme o ensino das Escrituras? 
6. Você sabe do seu dever de proteger os seus filhos de predadores sexuais?
7. Você sabe do seu dever de advertir os seus filhos de más companhias?
8. Você sabe do seu dever de instruir os seus filhos a discernirem quanto ao que veem na TV, acessam na internet, redes sociais e mídia em geral?

QUESTÕES DE TESTEMUNHO PÚBLICO

1. O que a sua família pensa da sua decisão de tornar-se membro desta igreja?
2. Os seus amigos e conhecidos sabem que você é um cristão?
3. Você se compromete, se necessário, abrir as portas de sua casa para a implantação de uma nova congregação?
4. Você ora para que Deus te dê discernimento de que pessoas Ele quer que você evangelize?
5. Você está comprometido com a grande comissão de Cristo: fazer discípulos?
6. Você está decidido a viver o evangelho em suas conversações, pensamentos e atitudes?
7. Você está disposto a auxiliar os pobres e necessitados, com discernimento, quando for possível e realmente necessário?
8. Você sabe que deve usar com moderação e sem desperdício os bens e o sustento que Deus te dá, de modo a não se tornar inadimplente?
9. Você entende que a sua roupa não pode associá-lo ao desequilíbrio, falta de modéstia, ou a sensualidade, de modo a provocar desejos lascivos, ou escandalizando o próximo?

QUESTÕES DE CULTO

1. Você está comprometido de fazer de toda a sua vida um culto a Deus?
2. Você está convencido de que diariamente deve separar um tempo para orar e meditar na Palavra de Deus?
3. Você está ciente da necessidade de realizar o culto doméstico com regularidade?
4. Você concorda com o princípio regulador do culto? Resumidamente explique.
5. Você crê ser necessário guardar diligentemente o Dia do Senhor?
6. Você se compromete em não deixar de congregar nas reuniões e nos cultos públicos?
7. Você aceita a Pastoral de Liturgia da IPB?
8. Você entende que o culto solene não deve ter danças, coreografias e teatro? Por que?
9. Você entende que é desprezível o uso de imagens, quer pinturas ou esculturas, no culto ao Senhor?
10. Você rejeita o culto ecumênico?

QUESTÕES DOUTRINÁRIAS

1. Você já leu toda a Bíblia?
2. Você se compromete em continuamente estudar a Escritura Sagrada?
3. Para o exame no Conselho você leu atentamente os Padrões de Westminster [Confissão de Fé e Catecismos de Westminster]?
4. Você recebe e subscreve integralmente os Padrões de Westminster como fiel sistematização do ensino das Escrituras?
5. Você crê que os dons revelacionais [línguas, profecias, curas e apostolado] cessaram, por terem cumprido a sua função na história da redenção, e que não são para hoje, porque somente a Escritura Sagrada é a Palavra de Deus?
6. Você se compromete de continuamente ler literatura da fé reformada para o seu amadurecimento cristão?
7. Você se compromete abandonar toda crença e prática que contrarie o claro ensino da Escritura Sagrada?
8. Quantos livros doutrinários você leu desde a sua conversão?

QUESTÕES DO GOVERNO DA IGREJA

1. Você aprendeu e entendeu como se organiza a nossa igreja?
2. Você entendeu que o nosso sistema de governo eclesiástico é conforme o ensino do Novo Testamento?
3. Você se compromete a submeter ao governo dos presbíteros e diáconos enquanto estes forem fiéis ao ensino da Sagrada Escritura?
4. Você se compromete em servir nos cargos e funções que o Conselho poderá designá-lo dentro da estrutura da nossa igreja?
5. Você se compromete de contribuir com seus dízimos e ofertas conforme o ensino da Escritura Sagrada para o sustento da igreja?
6. Caso seja necessário você se submeterá à disciplina e acompanhamento pastoral?
7. Você se compromete com os projetos de crescimento de nossa igreja?

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NOTAS:
[1] Este artigo pressupõe um sistema de governo onde há a pluralidade de presbíteros. Entretanto, os problemas diagnosticados aqui são comumente encontrados na maioria das igrejas evangélicas brasileiras.
[2] Refiro às questões para a profissão de fé feitas pelo ministro durante o culto solene.
[3] A Igreja Presbiteriana do Brasil adota os Padrões de Westminster como documentos que representam a sua identidade doutrinária e fiel sistematização do ensino da Escritura Sagrada.

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Autor: Rev. Ewerton B. Tokashiki 
Fonte: Estudantes de Teologia
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Seriam as afirmações de nova revelação compatíveis com o Cânon do NT?

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“Deus falou comigo.

Existem poucas declarações que podem encerrar um debate tão rapidamente como essa. Se os cristãos discordam sobre uma doutrina, uma prática ou uma ideia, em seguida, a grande carta na manga costuma ser “Deus falou comigo acerca disso. Fim da discussão.

Mas, a história da igreja (para não mencionar as próprias Escrituras) demonstra que tais reivindicações de revelações privadas e diretas são altamente problemáticas. Claro, isso não significa que Deus não fala com as pessoas. A Escritura está cheia de exemplos disso. Mas essas pessoas geralmente eram indivíduos com uma vocação fora do comum (por exemplo, profeta ou apóstolo), ou então estavam presentes em um período único na história da redenção (por exemplo, a igreja primitiva em Atos).

Depois do fim do primeiro século, com os apóstolos já mortos, a igreja rejeitou amplamente a ideia de que qualquer pessoa poderia dar um passo a frente e afirmar ter uma revelação direta de Deus. Essa realidade é provavelmente melhor exemplificada no debate da igreja cristã primitiva sobre o Montanismo.

O Montanismo foi um movimento do século II cujo líder, Montano, afirmava receber revelações diretas de Deus. Além disso, duas de suas “profetisas”, Priscila e Maximila, também alegavam recebê-las. As revelações eram muitas vezes acompanhadas de um comportamento estranho. Quando Montano as tinha, “[Ele] se tornava obcecado, e de repente caia em convulsões e frenesi. Ele começava a ficar extático e a falar estranhamente (Hist. Ecl. 5.16.7).

Sem qualquer necessidade de mencionar isso, esse tipo de atividade causou grande preocupação nos líderes ortodoxos do segundo século. Parte dela estava na forma em que essas atividades proféticas estavam ocorrendo. Eles a condenaram, alegando que era “contrário ao costume que pertence à tradição e sucessão da igreja desde o princípio” (Hist. Ecl. 5.16.7).

Mas, a outra preocupação (e talvez a maior delas) era que essa nova revelação era inconsistente com as crenças da Igreja sobre os apóstolos. Os líderes do segundo século compreendiam que os apóstolos foram um canal exclusivo usado por Deus; de tal forma que eles não aceitariam qualquer revelação que não se podia demonstrar ser apostólica.

Como exemplo desse compromisso, a igreja primitiva rejeitou o Pastor de Hermas (um livro que supostamente continha revelações do céu) com base no fato de que ele havia sido escrito “muito recentemente, em nossos tempos” (Cânone Muratori). Em outras palavras, ele foi rejeitado por não ser um livro da era apostólica.

Esta questão chegou a um ponto onde os Montanistas começaram a escrever novas profecias, formando sua própria coleção de livros sagrados. Os líderes ortodoxos viram tal atividade como ilegítima porque, em sua compreensão, Deus já havia falado através de seus apóstolos, e as palavras dos apóstolos já haviam sido registradas nos escritos do Novo Testamento.

Alguns exemplos de como os líderes ortodoxos rejeitaram esses livros contendo “nova revelação”:

  1. Gaio de Roma, em seu diálogo contra o Montanista Proclo, repreendeu “a imprudência e audácia de seus adversários ao compor novas Escrituras” (Hist. Ecl. 6.20.3).
  2. Apolônio se opôs às novas “revelações” com base no fato de que os profetas montanistas estavam colocando suas “palavras vazias” no mesmo nível das palavras de Cristo e dos apóstolos (Hist. Eccl 5.18.5.).
  3. Hipólito reclamou que os montanistas “alegavam ter aprendido mais através desses escritos [os escritos montanistas] do que através da lei, dos profetas, e dos Evangelhos” (Haer. 8,12).
  4. A crítica anônima ao Montanismo registrada por Eusébio revela sua hesitação em escrever uma resposta a eles por medo de ser mal compreendido e visto como se estivesse cometendo o mesmo erro que eles ao “parecer, para alguns, estar acrescentando aos escritos ou injunções da palavra da nova aliança e do Evangelho” (Hist. Ecl. 5.16.3).

Quando você olha para essas respostas, alguns pontos importantes se tornam bastante claros. Em primeiro lugar, e isso é crítico, é óbvio que esses autores já tinham recebido e já conheciam uma série de escritos do Novo Testamento como Escrituras dotadas de autoridade. Assim, eles já tinham um cânone do NT (ainda que alguns livros permanecessem sob discussão). De fato, é a existência desses livros que formam a base para as suas principais queixas contra os Montanistas.


Em segundo lugar, e igualmente importante, a resposta desses escritores mostra que eles não aceitaram essas “novas revelações” na época. Para eles, o tipo de revelação que poderia ser considerada como “palavra de Deus” cessou no período apostólico.

Tratando da igreja moderna, há grandes lições a serem aprendidas aqui. Por um lado, devemos ser igualmente cautelosos sobre alegações extravagantes de pessoas recebendo nova revelação do céu. E, ainda mais do que isso, o debate montanista é um grande lembrete para irmos sempre de volta às Escrituras como orientação e padrão definitivo para a verdade. É na palavra de Deus escrita que a igreja deve permanecer firme.

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Autor: Michael J. Kruger
Fonte: Canon Fodder
Tradução: Erving Ximendes
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