Louvor e teologia: uma união inseparável

.

Por Fabio Correia


1 - Quando cantamos cânticos de louvor e adoração a Deus, qual nossa intenção? Reconhecemos seus atributos, sua divindade; dizemos o quanto Ele é grande e majestoso. Em fim, o que queremos, em última análise, AGRADAR a DEUS. Agradar a Deus: esse é o objetivo do louvor.

2 - Conseguiremos agradar a Deus dizendo ou cantando coisas que são contrárias ao que Ele diz sobre Si mesmo, sobre o homem e sobre o mundo, nas Escrituras?

3 - Há pelo menos três grandes cosmovisões acerca do entendimento sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo, que influenciará, necessariamente, no que se dirá a Deus nos louvores, sempre com a intenção de AGRADÁ-LO. São elas: a) Calvinismo; b) Arminianismo; c) Pentecostalismo e suas variantes neopentecostais.

4 - Esses pressupostos teológicos se contradizem em muitos pontos. Ou seja, não existe possibilidade lógica de todos eles estarem certos, ao mesmo tempo, em determinados assuntos, pois são opiniões autoexcludentes. Por exemplo: o arminiano diz que o homem tem livre-arbítrio. O Calvinismo diz que o homem não tem mais livre-arbítrio. O pentecostal, que é arminiano por natureza, acredita em novas revelações, sonhos, dons de línguas, etc, os calvinistas e arminianos tradicionais, não.

5 - Então, como Calvinistas, Arminianos e Pentecostais podem AGRADAR a Deus com seus louvores? Dizendo ou cantando aquilo que consideram correto acerca de Deus, do mundo e do homem. Ora, se o arminiano entende que a doutrina da eleição é errada, como poderá cantar louvores que ensinam essa doutrina? Se o calvinista entende que a doutrina do livre-arbítrio é errada, como poderá cantar louvores que tenham essa conotação? Se tanto arminianos tradicionais quanto calvinistas entendem que os dons revelacionais cessaram, como poderão cantar louvores que falam e sugerem a existência de novas revelações?

6 - Não existe neutralidade em louvores ou afirmações religiosas. Necessariamente elas estarão defendendo uma dessas três grandes cosmovisões, em suas características peculiares;

7 - Cantar louvores é cantar doutrina, inevitavelmente, como sugeria Lutero.

8 - Se o objetivo do louvor congregacional é AGRADAR a Deus, sua igreja só pode cantar aquilo que, no entendimento dela, representa a interpretação correta do que Deus disse acerca de Si mesmo, do homem e do mundo;

9 - Todos que são diretamente ligados ao louvor da igreja, especialmente os líderes, devem conhecer, de forma muito clara, qual é o entendimento doutrinário da sua igreja, sob pena de estar levando a congregação a cantar coisas que DESAGRADAM a Deus, do ponto de vista da cosmovisão doutrinária assumida por esta igreja. Por isso, os responsáveis pelo louvor no VT eram, via de regra, sacerdotes; portanto, conhecedores do entendimento doutrinário.

10 - Igrejas Calvinistas não devem cantar louvores com ensinamentos Arminianos. Igrejas Arminianas não devem cantar louvores com ensinamentos Calvinstas. Igrejas Calvinistas e Arminianas tradicionais não devem cantar louvores com ensinamentos Pentecostais. Igrejas pentecostais não devem cantar louvores com ensinamentos calvinistas e/ou tradicionais.

***
Fonte: Filosofia Calvinista
.

Alimentando ovelhas ou divertindo bodes?

.

Por Thiago Azevedo

Em dias atuais esta é a pergunta que não quer calar. Ela não é recente, Charles Spurgeon, mais conhecido como o príncipe dos pregadores, teceu-a em um artigo disponível no site Monergismo (acessado em 22/09/2014). Nunca se viu a igreja entretendo tanto o povo ao invés de pregar o evangelho, nunca se viu “pastores” que mais parecem animadores de auditórios ou comediantes de stand up comedy divertindo a massa. Nunca se viu tanta artimanha para atrair os bodes, e, enquanto isso, as ovelhas ficam numa dieta forçada, com pouco alimento consubstanciado e nutritivo – e em alguns casos, nem alimento tem. Estes líderes precisam entender conforme o velho jargão que há nos círculos cristãos “Comida de ovelha todo bode come, mas comida de bode, ovelha não come”.

Por que tanta preocupação em agradar os bodes, em atrair os incrédulos e em fazer o evangelho parecer algo divertido e pitoresco ao invés de alimentar as ovelhas em pastos verdejantes? Na atualidade, as igrejas realizam tantas festividades voltadas para o incrédulo que acabam se esquecendo das ovelhas que estão em seu ambiente. Em certa ocasião, tive acesso ao calendário anual de uma determinada igreja e lá constava mais cultos e festas voltadas para o lado de fora da igreja do que algo voltado para os fiéis daquela instituição. Não estou querendo dizer com isso que estas atividades externas não devam existir, mas a atenção maior, sem dúvida, deve ser dada aqueles que estão no lado de dentro da igreja, isso conforme o próprio texto bíblico de 1Tm 5:8. Deve haver uma preocupação primária com os da família da fé. A proposta-mor destes líderes do evangelho humorístico e banalizado, voltado apenas para o incrédulo é a aliança com o mundo. Eles baixam o nível do evangelho para que este seja visto como acessível, retiram a exclusividade de Cristo da pregação, entendendo que isso cria uma barreira para os incrédulos. Omitem preciosas doutrinas bíblicas só para que o evangelho pareça algo diferente daquele que foi pregado pelos apóstolos e pais da igreja.

O reverendo Renato Vargens, em seu livro “Reforma agora”, mostra a gama de falsos apóstolos que proferem interpretações bíblicas, se gabando destas interpretações particulares serem mais valiosas que os ensinos dos próprios apóstolos. Recentemente, um líder religioso de uma dessas igrejas, que mais parece um grande picadeiro, teceu a seguinte frase: “Paulo não compreendeu o que Deus quis dizer nesta passagem, e eu irei mostrar a todos o que de fato Deus queria aqui”. Perceba o tom de superioridade e a carga maligna destas palavras. Comportamento bem distinto dos apóstolos de Cristo do primeiro século que, além de humildes, tinham as Escrituras como sendo sua base Jo 3:30 / 2Tm 4:2. Por sinal, no texto citado de Timóteo a recomendação de Paulo é a pregação da palavra e não para contar piadas ou para entreter o povo. Inclusive, Paulo alerta o jovem pastor Timóteo dos tempos que surgiriam homens que iriam repudiar a sã doutrina e com coceiras no ouvido, segundo seus próprios desejos, juntarão mestres para si mesmos (2Tm 4:3).

A gama acachapante de homens que desejam que os holofotes e todas as atenções estejam voltadas para eles é realmente surpreendente. O princípio de Jo 3:30 cai por terra. Em Ef. 4:11 as Escrituras relatam que Deus deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. A Bíblia, em lugar nenhum, diz que Deus levantou um ministério do entretenimento ou da comédia, dando este dom a alguém – isso não passa de invenção do homem. Em certa ocasião, certo “pastor” pregou mais de 40 minutos e nem sequer a Bíblia abriu. Este homem contou toda sua história e trajetória de vida, aliando risadagem e contos engraçados. A plateia se deleitava enquanto eu voltava para casa – e eu ainda fiquei com fama de herege. Em outra ocasião, conversando com um amigo, este me disse que o verdadeiro pastor é aquele que abre a Bíblia, lê um texto, e depois disso fecha a Bíblia e prega com ela fechada. Em amor, lhe expliquei que isso não procede. A omissão da Bíblia é uma estratégia para que não se compare ou se avalie o que está sendo dito. Durante mil anos a humanidade sofreu com isso. O que muitas vezes contribui com este panorama é a própria falta de entendimento e ignorância do povo (Os 4:6). Pois, pautados pela a ideia de que julgar não é dever nosso, e este entendimento provém de uma interpretação pobre de Mt 7:1.

Alguns dão campo para atuação destes falsos mestres e, com isso, permitem que a igreja se torne um circo e uma fonte de entretenimento, direcionada mais para quem se encontra fora dos portões dela. A Bíblia nos traz vários textos que alertam acerca de falsos prodígios e sinais, mentiras e falsidade, são eles: (Mateus 24:4; 2 Coríntios 11:13-15; 2 Timóteo 3:13; Apocalipse 13:13-14; 16:13-14). Se acreditarmos na Bíblia, podemos esperar uma abundância de falsos milagres. Logo, como se deve avaliar se tudo isso é verdadeiro ou como se deve avaliar a postura de um líder? A resposta é JULGANDO DE ACORDO COM AS ESCRITURAS! João adverte para testar os espíritos em 1Jo 4:1. Também adverte acerca daqueles que não são de Deus (1 Jo 4:6). Era mais ou menos o comportamento dos cristãos de Bereia (At 17:10-11) que examinavam o ensinamento de Paulo e de quaisquer outros pela Escritura. As Escrituras são o crivo, e não se o sujeito é ou não cômico ou promove entretenimento. O final do versículo 11 do texto supracitado diz que os cristãos de Bereia examinavam diariamente as Escrituras para ver se os ensinos procediam. Deve ser por isso que cada vez mais as igrejas estão se tornando verdadeiros parques de diversão e as ovelhas estão famintas e desnutridas, em paralelo, os bodes estão cada vez mais robustos e cevados pelo fato de serem alimentados constantemente.

Não há mais o costume de examinar as Escrituras e confrontar o que está sendo dito e o que está errado. De certa forma, há um regresso aos tempos medievais, vive-se na atualidade uma nova idade média, onde a Bíblia tem - cada vez mais caído no esquecimento e na omissão. Isso é fruto da estratégia maligna de alguns líderes tendenciosos. Em Gálatas 1:8-9 Paulo diz que ainda que ele ou um anjo que venha do céu pregue algo diferente, seja este amaldiçoado. Como saberá se é diferente ou não? Por meio das Escrituras Sagradas. Em outras palavras, é como se Paulo estivesse dizendo que ele mesmo, o seu ensino, devia ser confrontado para ver se era ou não verdadeiro. Por que, na atualidade, não vemos os líderes fazendo esta proposta? Por que os pastores atuais não pedem para os fiéis procurarem na Bíblia onde constam estes tipos de ensino como: ungir objetos, dízimos astronômicos, correntes de fé, copo com água santificada ou vendas de objetos santos que transmitem graça? Ou ainda, por que os líderes da atualidade não pedem para os fiéis procurarem nas Escrituras onde existe o ensino de que é preciso fazer algo para alcançar a salvação? Muitos até têm atribuído graça salvífica a certos objetos. Ou seja, ou adquire e vai para o céu ou não adquire e vai para o inferno. É ou não é um medievo contemporâneo? Sim.

A resposta para as demais perguntas é a seguinte: Os “líderes e pastores” contemporâneos não pedem que os fiéis consultem a Bíblia à procura destas aberrações porque não há nenhuma passagem bíblica que corrobore com estes sacrilégios heréticos. Isso tudo não passa de ração para bodes, e este tipo de alimento ovelha não come. Na atualidade não se deve avaliar os líderes religiosos pelo o que os mesmos proferem, eles são adeptos de uma verborragia clássica, ou seja, dizem que amam as Escrituras, que creem na graça salvífica, que creem na justificação pela fé e na soberania de Deus na salvação. Mas, as práticas e as atitudes destes líderes os denunciam veementemente.

Há um dito puritano que se deve fazer uso no ambiente eclesiástico tupiniquim: “Aquilo que alguém faz fala mais alto que suas próprias palavras”. Alguns líderes têm um discurso bonito quanto às verdades bíblicas, mas os seus atos mostram que são filhos do Diabo. Estes líderes realizam campanha para que se alcance graça salvadora, uns ainda dizem que quem não contribui não vai para o céu e outros líderes chegam até a vender lugar no céu. Outros colocam um óleo perfumado em um patamar mais elevado que a própria oração etc. Estes líderes são, de fato, muito habilidosos quando o assunto é alimentar seus bodes e desprezar as ovelhas. Portanto, a convivência entre bodes e ovelhas não cessará tão cedo, os bodes podem muito bem se alimentar na comida das ovelhas – eles até gostam –, mas, infelizmente, alguns falsos pastores preferem privar as ovelhas de um bom alimento e alimentar tão somente os seus cabritos.

É por isso que as ovelhas andam desnutridas. Mas, com toda convicção, há pastos saudáveis e verdadeiros pastores que ainda se preocupam em alimentar suas ovelhas com alimento nutritivo, como fez o pastor do Salmo 23. Como ovelha, aconselho que haja uma procura por pastos saudáveis e por pastores comprometidos em alimentar primariamente seu rebanho, e, ao encontrá-los, possa de fato usufruir e se deleitar numa boa alimentação e num bom pastoreio, sobretudo, no Pastor dos pastores que se encontra na pessoa de Deus.

***
Divulgação: Bereianos
.

Arminianismo e o seu circo soteriológico

.

Por Jailson Serafim


Contradições nos Cinco Pontos do Arminianismo

(1) A piada do livre arbítrio

Não só o dogma do livre arbítrio é falso e blasfemo, como também contraditório. Ele entra em contradição com o segundo ponto do arminianismo - a eleição condicional. Os arminianos dizem que "desde a fundação do mundo, Deus sabia quem iria crer ou não crer em Cristo, e que, com base nessa presciência, elegeu os que iriam crer para a salvação, e da mesma forma, predestinou, designou, recusou ou reprovou de antemão [desde a eternidade] os que não iriam crer, para a condenação" (Pr. Raimundo Ferreira de Oliveira; Lições Bíblicas [CPAD], Quarto Trimestre de 1987, pp.32-33). Ora, com base nisto, perguntamos: aqueles que, pela presciência de Deus, não crerão em Cristo e que foram de antemão por Deus predestinados, designados e reprovados para a condenação, tem a capacidade para escolherem a Deus??? Se têm essa capacidade, onde fica então a presciência de Deus?

(2) A piada da eleição condicional

Não só este dogma é blasfemo e antibíblico, como também contraria o terceiro ponto do arminianismo. Ora, se em sua presciência, Deus já sabia quem vai crer e quem não vai crer em Cristo, elegendo os futuros crentes em Cristo para a salvação, bem como predestinando, designando, recusando ou reprovando de antemão os que não crerão em Cristo, como então Cristo poderia morrer por aqueles que de antemão Ele próprio havia predestinado, designado, recusado e reprovado para a condenação? Poderia Cristo morrer por aqueles que de antemão sabia que jamais creriam nEle? Morreria Cristo em vão? E onde estaria a sua presciência?

(3) A piada da expiação geral

Agora, não só o dogma arminiano (expiação geral) é blasfemo e antibíblico, como entra em contradição com o quarto ponto do arminianismo. Ora, o quarto ponto do arminianismo (resistibilidade da graça divina) ensina que a graça de Deus pode ser resistida não só por uma parte da raça humana (os eleitos), mas por toda as duas partes (eleitos e não eleitos [reprovados]). Neste sentido, se Cristo morreu por toda a raça humana para dar-lhe a vida eterna, e se qualquer uma das partes da humanidade (os eleitos ou os reprovados) pode lhe resistir (ao seu chamado interno), isto faria com que o Salvador morresse em vão!

(4) A piada da graça resistível

Todavia, este dogma arminiano não só é blasfemo e antibíblico, mas também contraria o segundo ponto do arminianismo. Ora, se é verdade que desde a eternidade, Deus já sabia quem iria crer em Cristo, e que com base nesta presciência, elegeu estes para a salvação, como então estes podem resistir ao chamado interno do Espírito Santo? Este dogma resultaria em negar a presciência de Deus, bem como todo o dogma da eleição condicional para a salvação!

(5) A piada da perda da salvação

Este dogma arminiano, não só é falso e blasfemo, como também entra em contradição com o segundo ponto do arminianismo. Ora, se desde a eternidade Deus sabia quem ia crer nele e perseverar até o fim, e que, com base nesta presciência, os elegeu para a salvação, como é possível eles se perderem? Este dogma resultaria tanto em negar a presciência de Deus, como também a negar o dogma arminiano da eleição condicional!

***
Fonte: Perfil do autor no Facebook

Leia também o artigo em sua versão integral, "Os Cinco Contraditórios Pontos do Arminianismo".
.

O propósito da salvação em 1 Pedro - 2/5



Por Leonardo Dâmaso


b) A razão do imperativo à santidade.


1.15 ... pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também a vós mesmos em todo o vosso procedimento.

Após instar os cristãos a sempre se manterem como filhos obedientes e não se amoldarem ao antigo esquema de vida norteado pelo pecado que outrora eles faziam parte antes da conversão, Pedro, dessa vez, salienta por qual motivo os cristãos devem viver em santidade. O apóstolo realça que assim como Deus, que é santo, chamou os cristãos de uma vida outrora em trevas para a sua maravilhosa luz (2.9), os cristãos, em vista disso, também devem ser santos em tudo o que fizerem na vida. Se no versículo 14 Pedro exortou o que os cristãos “não devem fazer” (imperativo negativo), isto é, “não se amoldar” ao esquema de uma vida pecaminosa, aqui, mais uma vez, há outro imperativo – tornai-vos santos.

A conjunção “mas”, no grego αλλα (alla), traduzido pela a ARA como pelo contrário, estabelece um contraste com o versículo 14b. Portanto, o versículo 15 é a continuação do versículo 14b, o qual amplia o tema da santidade na vida cristã. Era como se Pedro dissesse: “Não façam aquilo de novo” – vos amoldar às paixões que tínheis anteriormente, “mas façam isso” – sejam santos também em tudo o que fizerem. (NVI) Não obstante duas proposições são destacadas aqui:

i. O caráter daquele que chama os cristãos à santidade.14 A palavra “santo” possui diferentes conotações de significado no Antigo e no Novo Testamento. Santo, no hebraico קדוש (qadosh), significa “ser separado do uso comum para o uso exclusivo de Deus”. No Antigo Testamento, todos os objetos que eram utilizados para Deus eram santos. As vestes sacerdotais eram santas (Êx 28.2), o lugar específico para a preparação das ofertas de sacrifício era santo (Êx 29.31), os vasos usados no templo eram santos (1Rs 8.4).   

Por outro lado, a mesma ideia de “separado” que a palavra קדוש (qadosh) transmite no Antigo Testamento é aplicada no Novo Testamento com a palavra grega άγιον (hagios). Contudo, é importante frisar, para melhor compreensão, que a santidade de Deus possui uma dupla conotação. Assim, destacamos a santidade “singular” e a santidade “moral” de Deus.  Senão vejamos:

1. A santidade singular de Deus. De modo restrito, por ser completamente distinto, separado e adorado pela sua igreja em virtude da sua magnífica grandeza inacessível e ao mesmo tempo acessível mediante Cristo Jesus (Jo 1.14), somente Deus possui esta santidade peculiar. Mesmo quando estiverem com os corpos glorificados vivendo eternamente na terra restaurada, os cristãos não serão santos nesse aspecto como Deus é, pois ainda continuarão sendo seres finitos. Desse prisma, a santidade de Deus é única, sendo um atributo incomunicável aos homens (veja Êx 15.11; Is 57.15; Ap 4.8).    

2. A santidade moral de Deus. Proveniente de sua santidade singular, Deus também possui uma santidade moral. As leis estabelecidas por Deus nas Escrituras revelam o seu caráter santo e demonstram que ele é absolutamente livre de qualquer deformidade ética. Deus é separado do pecado e do mal moral (veja Jó 34.10; Hc 1.13). Portanto, diferente da santidade singular, que é exclusiva em Deus, a santidade moral é comunicável aos homens, o que veremos a seguir.

ii. A santidade deve abarcar todas as áreas da vida dos cristãos. Pedro sublinha que, assim como Deus, o nosso pai espiritual (2Cor 6.18; Hb 12.9; Gl 3.26) é santo, nós, cristãos, como filhos obedientes (vs.14; Rm 8.13-16) também devemos ser santos em toda a nossa conduta moral15 (2.12; 3.1, 3, 13; 2Pe 2.7; 3.11). O Deus que exige santidade é, sobretudo, o modelo para que o imitemos em santidade (Ef 5.1). “Nenhum aspecto da nossa vida está excluído desse imperativo divino. Todo o nosso procedimento deve resplandecer o caráter de Deus, a santidade daquele que nos chamou do pecado para a salvação”.16           

c) A santidade é um imperativo porque é confirmada nas Escrituras.

1.16 Porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.

Pedro, agora, ratifica sua exortação aos cristãos sobre a necessidade de conduzirem suas vidas em santidade recorrendo às Escrituras, afirmando que está escrito que eles devem ser santos.

A expressão está escrito γέγραπται (gegraptai), no grego, “era usada em relação a documentos legais cuja validade ainda permanecia”.17 Sendo assim, Pedro não baseia a sua exortação em suas convicções particulares em como os cristãos devem se portar, mas, sobretudo, lança mão da autoridade das Escrituras do Antigo Testamento citando Levítico 11.44-45 para confirmar o seu argumento.

O apóstolo extrai como base para o seu ensino aos cristãos uma exortação proferida diretamente da boca de Deus a Moisés e a Arão, para que estes instruíssem o povo de Israel a serem santos em toda a sua conduta moral assim como Deus é santo (uma vez que a santidade é um dos temas que permeia Levíticos, veja também 19.2; 20.7, 26; 21.8, 15; 22.9, 16, 32).18 Parafraseando, era como se Pedro dissesse: Deus é santo, logo, ele exige que nós, também, sejamos santos, porque ele próprio corrobora em Levítico 11.44-45 e 19.2 para que sejamos santos assim como ele é santo! A conjunção porque διότι (dióti) remonta a expressão está escrito, a qual alega que o imperativo à santidade foi extraído das Escrituras.

Aplicação prática

Não somos santificados pela obediência aos preceitos de Deus estabelecidos nas Escrituras; obedecemos aos preceitos de Deus porque fomos santificados [aspecto posicional dos cristãos] na união com Cristo Jesus pela regeneração. Por outro lado, como pessoas que foram (Hb 10.10; 1Cor 6.9-11), são (Hb 2.11) e estão sendo santificadas pelo Espírito Santo (Hb 10.14), os cristãos, todavia, são chamados a manifestar santidade [aspecto colaborativo na santificação], isto é, o caráter do Deus santo em suas vidas “interiormente” quando estão sozinhos e ninguém os vê, somente Deus, e “externamente” na maneira de viver (ARC) com os outros pelos relacionamentos sociais (para mais detalhes sobre a santificação, veja o meu comentário do versículo 2b).  
  
William Barclay escreve:

O cristão é um homem de Deus por eleição de Deus. É eleito para uma tarefa no mundo e para um destino na eternidade. É eleito para viver para Deus no tempo e para viver com Deus na eternidade. No mundo tem que obedecer a lei de Deus e reproduzir a vida de Deus. O cristão foi eleito por Deus, e, portanto, em sua vida tem que haver algo da pureza de Deus e em sua ação tem que manifestar-se algo do amor de Deus. O cristão recebeu a tarefa de ser diferente.19  

_________ 
Notas:
[14] A expressão “segundo é santo aquele que vos chamou”, traduzida literalmente do grego κατά τόν καλέσαντα υμας άγιον – “assim como o santo que vos chamou” é incompleta, embora esteja correta. Porém, quando acrescentamos na tradução o verbo auxiliar (tempo presente do modo indicativo) εστιν (estin) “é”, o sentido da expressão fica mais claro – “assim como “é” santo aquele que vos chamou”. (Almeida Século 21) No entanto, prefiro a tradução desse trecho da seguinte forma: “Conforme o exemplo do Santo que vos chamou” (veja um exemplo similar em 2Pe 2.1).
[15] No grego, o substantivo αναστροφη (anastrophe), literalmente “conduta”, traduzido pela a ARA por “procedimento”, e pela a ARC por “maneira de viver”, enfatiza o estilo de vida moral que uma pessoa tem no seu relacionamento com outras pessoas. Desse modo, prefiro a tradução literal do grego ou a tradução da ARC.     
[16] Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 50.   
[17] Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág 554-555
[18] a religião judaica promovida e distorcida pelos fariseus e líderes religiosos ensinava que os homens poderiam alcançar a santificação pelos seus próprios atos simplesmente se cumprissem os preceitos descritos na “lei”. Tais preceitos de santidade tinham conotações legalistas porque eram baseados numa interpretação equivocada das Escrituras (Mc 7.1-13; Hb 13.9). Contudo, tanto a lei no Antigo Testamento quanto o evangelho enfatiza o contrário. Assim como a salvação é e sempre foi pela graça mediante a fé, a santificação (progressiva), por sua vez, também é desfrutada pela fé (At 26.18).  
[19] William Barclay. 1 Pedro, pág 64-65.

***
Fonte: Trecho extraído do Comentário Expositivo de 1 Pedro do autor. 
Divulgação: Bereianos

Leia também:
O propósito da salvação em 1 Pedro - 1/5
O propósito da salvação em 1 Pedro - 3/5
O propósito da salvação em 1 Pedro - 4/5
O propósito da salvação em 1 Pedro - 5/5
.

5 motivos por que você deve pregar sobre a ira de Deus

.

Por Steven J. Lawson


O reformador de Genebra João Calvino disse: “A pregação é a exposição pública da Escritura pelo homem enviado de Deus, na qual o próprio Deus está presente em juízo e em graça”. O fiel ministério do púlpito requer a declaração tanto do juízo como da graça. A Palavra de Deus é uma espada afiada de dois gumes, que suaviza e endurece, conforta e aflige, salva e condena.

A pregação da ira divina serve como um pano de fundo negro, que faz o diamante da misericórdia de Deus brilhar mais do que dez mil sóis. É sobre a tela escura da ira divina que o esplendor da sua graça salvadora irradia mais plenamente. Pregar a ira de Deus exibe do modo mais resplandecente a sua graciosa misericórdia para com os pecadores.

Como trombeteiros sobre a muralha do castelo, que anunciam a vinda de uma catástrofe, os pregadores devem proclamar todo o conselho de Deus. Aqueles que ocupam os púlpitos devem pregar por inteiro o corpo de verdade das Escrituras, o que inclui tanto a ira soberana quanto o supremo amor. Eles não podem pegar e escolher o que querem pregar. Abordar a ira de Deus nunca é algo opcional para um pregador fiel – é um mandato divino.

Tragicamente, a pregação que lida com o juízo iminente de Deus está ausente de muitos púlpitos contemporâneos. Os pregadores se escusam ao falar da ira de Deus, isso quando não se silenciam por completo. Para magnificar o amor de Deus, muitos argumentam, o pregador deve minimizar a sua ira. Mas omitir a ira de Deus significa obscurecer o seu maravilhoso amor. Parece estranho, mas é falta de misericórdia omitir a declaração da vingança divina.

Por que a pregação da ira divina é tão necessária? Primeiro, o caráter santo de Deus a exige. Uma parte essencial da perfeição moral de Deus é o seu ódio pelo pecado. A.W. Pink assevera: “A ira de Deus é a santidade de Deus incitada a agir contra o pecado”. Deus é um “fogo consumidor” (Hebreus 12.29) que “sente indignação todos os dias” (Salmo 7.11) contra os ímpios. Deus “odeia a iniquidade” (45.7) e se enfurece contra tudo o que é contrário ao seu perfeito caráter. Ele irá, portanto, destruir (5.6) os pecadores no Dia do Juízo.

Todo pregador deve anunciar a ira de Deus, ou irá marginalizar a sua santidade, amor e justiça. Porque Deus é santo, ele está separado de todo pecado e, por conseguinte, em oposição a todo pecador. Porque Deus é amor, ele se deleita na pureza e, por necessidade, odeia tudo aquilo que é profano. Porque Deus é justo, ele deve castigar o pecado que viola a sua santidade.

Segundo, o ministério dos profetas a exige. Os profetas do passado proclamavam com frequência que os seus ouvintes, por causa de sua contínua impiedade, estavam acumulando para si mesmos a ira de Deus (Jeremias 4.4). No Antigo Testamento, mais de vinte palavras são usadas para descrever a ira de Deus, e essas palavras são usadas, em suas várias formas, num total de 580 vezes. De novo e de novo, os profetas falavam com imagens vívidas para descrever a ira de Deus derramada contra a impiedade. O último dos profetas, João Batista, escreveu acerca da “ira vindoura” (Mateus 3.7). De Moisés ao precursor de Cristo, houve um contínuo esforço para alertar os impenitentes do furor divino que os espera.

Terceiro, a pregação de Cristo a exige. Ironicamente, Jesus teve mais a dizer acerca da ira divina do que qualquer outro na Bíblia. Nosso Senhor falou sobre a ira de Deus mais do que falou sobre o amor de Deus. Jesus alertou acerca do “inferno de fogo” (Mateus 5.22) e da “destruição” eterna (7.13) onde há “choro e ranger de dentes” (8.12). Sem rodeios, Jesus foi um pregador do fogo do inferno e da condenação. Os homens nos púlpitos fariam bem em seguir o exemplo de Cristo em sua pregação.

Quarto, a glória da cruz a exige. Cristo sofreu a ira de Deus por todos aqueles que haveriam de invocá-lo. Se não há nenhuma ira divina, não há nenhuma necessidade da cruz, muito menos da salvação das almas perdidas. De que os pecadores precisariam ser salvos? Apenas quando reconhecemos a realidade da ira de Deus contra aqueles que merecem o juízo é que nós descobrimos que gloriosa notícia é a cruz. Muitos ocupantes de púlpito de hoje se vangloriam de terem um ministério centrado na cruz, embora raramente, se é que o fazem, pregam a ira divina. Isso é uma violação da própria cruz.

Quinto, o ensino dos apóstolos a exige. Aqueles que foram diretamente comissionados por Cristo foram incumbidos de proclamar tudo o que ele lhes havia ordenado (Mateus 28.20). Isso requer a proclamação da justa indignação de Deus contra os pecadores. O apóstolo Paulo advertia os descrentes do Deus que aplica ira (Romanos 3.5) e declara que somente Jesus pode nos “livrar da ira vindoura” (1Tessalonicenses 1.10). Pedro escreve sobre o “Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios” (2Pedro 3.7). Judas aborda a “pena do fogo eterno” (Judas 7). João descreve “a ira do Cordeiro” (Apocalipse 6.16). Claramente, os escritores do Novo Testamento reconheceram a necessidade da pregação da ira de Deus.

Os pregadores não devem se esquivar de proclamar o justo furor de Deus contra os pecadores que merecem o inferno. Deus tem um dia determinado no qual ele há de julgar o mundo com justiça (Atos 17.31). Este dia está despontando no horizonte. Assim como os profetas e apóstolos, e como o próprio Cristo, nós também devemos advertir os descrentes deste terrível dia vindouro e compeli-los a correrem para Cristo, o único que é poderoso para salvar.

***
Fonte: Ministério Fiel
.

Perdão



Por Abraham Booth


O perdão do pecado é aquilo que o pecador espiritualmente despertado mais deseja. Todavia, é possível o perdão? Sem a Bíblia jamais saberíamos se tal perdão seria possível. Vemos, nas Escrituras, que Deus fala de Sua misericórdia desde os dias mais antigos: "O Senhor... perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado" (Ex. 34:7).

Na Bíblia Deus fala de muitos modos a respeito do Seu perdão, como também sobre a pecaminosidade humana, de muitas maneiras diferentes. Os pecadores são descritos como "corrompidos" e "abomináveis". O perdão de Deus é descrito como "limpeza" e "cobertura". Os pecadores são descritos como "devedores" e "sobrecarregados". O perdão é apresentado como "apagador" de dívidas e como "levantador" do abatido. As ofensas "vermelhas" são tornadas brancas "mais que a neve". O perdão de Deus é inteiramente adequado ao teu pecado!

O perdão de Deus para o pecado é gratuito, pleno e eterno. Estes três aspectos merecem considerações mais detalhadas, para mostrar quão completamente Deus na Sua misericórdia perdoa os pecadores.

Este perdão é gratuito. Não há condições para serem cumpridas antes dele ser dado. Os exemplos das Escrituras tornam isso bem claro. Que condições Saulo de Tarso teve de cumprir antes de ser perdoado? Nenhuma! Ele era um inimigo de Deus. Foi perdoado não porque tivesse cumprido certas condições, mas, "para que em mim, o principal pecador, evidenciasse Jesus Cristo a Sua completa longanimidade e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna" (I Tim. 1:16). Paulo, sem merecer, foi perdoado como "um modelo" para nós, da graça perdoadora de Deus.

Que condições Zaqueu, ou a samaritana, ou o carcereiro de Filipos cumpriram para obterem o perdão? Nenhuma, de fato! Nenhum deles merecia ser perdoado. Outros exemplos também poderiam ser citados, porém contentar-me-ei com apenas mais um. Que condições o ladrão moribundo teve de cumprir para ser perdoado? Também nenhuma! Ele era um notório pecador. Teria ele razão para esperar uma resposta feliz à sua oração: "Lembra-te de mim..."? Seu perdão foi unicamente um ato da graça de Deus! E o fato de só ele ter sido perdoado, dos dois ladrões, é um ato da graça discriminativa.

Ainda que este perdão seja gratuito para os pecadores, nunca devemos esquecer-nos de que Cristo pagou um alto preço por ele. Perdão para a menor das nossas ofensas só se tornou possível porque Cristo cumpriu as mais aflitivas condições, — Sua encarnação, Sua perfeita obediência à lei divina e Sua morte na cruz. O perdão que é absolutamente gratuito ao pecador teve um alto custo para o Salvador. Entretanto, no exato momento de pagar esse preço, como para mostrar que ele não foi pago em favor de pessoas justas ou dignas aos seus próprios olhos, Jesus moribundo perdoou livremente o ladrão. É evidente que o perdão vem pela graça, e a graça é favor dado sem o cumprimento de quaisquer condições preestabelecidas.

Penso que já foram apresentados fatos suficientes para provar que o perdão é gratuito. Eu poderia facilmente acrescentar outros fatos. Mas deixo-os de lado e só quero lembrar-te de um versículo marcante: "Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho" (Rom. 5:10). Está claro, então, que o perdão não foi dado por qualquer coisa boa que tais "inimigos" tivessem feito!

Em segundo lugar, este perdão é pleno. Mesmo só um pecado traz a maldição da lei sobre o pecador. O perdão deve ser pleno o suficiente para incluir cada pecado, e deve abranger os piores pecados, não importando quão perversos eles sejam, ou de outro modo tal perdão seria inadequado. Uma pessoa com um só pecado não perdoado, está perdida.

O sangue de Cristo tem valor infinito por causa da gloriosa dignidade d Aquele que o derramou. A morte de Cristo é capaz de "nos purificar de toda injustiça" (I Jo. 1:9), e isso significa que nos pode purificar de cada pecado, por pior que seja, e de todos os pecados, não importando quão numerosos sejam eles.

Podemos muito bem clamar: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e esqueces da rebelião do restante da tua herança. O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na benignidade. Tornará a apiedar-se de nós; subjugará as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Miq. 7:18-19).

Venha, então, trêmulo pecador! Pense nas riquezas da graça! Não permitas que nenhum pecado, ou mesmo uma multidão deles, te leve ao desespero. Deus nunca confere o Seu favor por causa do merecimento do pecador e nunca o nega por causa do seu demérito. A graça é livre e plena. Descanse sobre esta verdade!

Em terceiro lugar, o perdão é para sempre. Esta é a coroação final de um perdão completo. Ele é irreversível. As Escrituras dizem isto claramente: "... de seus pecados não me lembrarei mais" (Heb. 8:12). Esta promessa não é condicional, e sim absoluta. Não depende do perfeito comportamento subsequente do pecador (Se dependesse, então esse perdão certamente fracassaria e não poderia ser mantido). Depende do valor eterno da morte expiatória do Senhor e da inabalável fidelidade de Deus. "Quanto está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões" (Sal. 103:12). "Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rom. 8:33). Estas fortes expressões significam que o perdão jamais poderá ser revertido.

O fato de Deus castigar Seus filhos quando eles pecam, não significa que eles possam perder o seu perdão. O castigo que lhes impõe é evidência do Seu amor e do Seu interesse por eles, e não um sinal de que os está rejeitando.

O fato dos crentes orarem continuamente para que Deus lhes perdoe os pecados, não significa que eles já não estejam perdoados. Eles buscam a consciência de que foram perdoados. Não vamos imaginar que toda vez que eles pecam, arrependem-se, confessam o seu pecado e pedem perdão, Deus realiza novos atos de perdão. Contudo, eles precisam conscientizar-se sempre de que o perdão já lhes pertence, por serem filhos de Deus.

Quão glorioso, portanto, é o perdão que procede da graça de Deus. Quão completo é esse perdão! Nada existe que possa levar o pior pecador a deixar de pedi-lo. Ninguém tem razão para dizer: "Infelizmente, meus pecados são enormes demais!"

"Que diremos, pois, permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum" (Rom. 6:1-2). Antes, o pecador perdoado dirá com a mais profunda gratidão: "Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome... (porque) é ele que perdoa todas as tuas iniquidades" (Sal. 103:1,3).

"O perdão de Deus é da mesma natureza dEle. Não é estreito, difícil, frio, restrito e condicionado como o perdão que impera entre os homens; mas é pleno, livre, insondável, sem limites, absoluto — é da mesma natureza das excelências de Deus. Lembrem-se disso, pobres almas, quando tiverem de tratar com Deus a respeito deste assunto. O perdão não é merecido por obras piedosas realizadas antes, porém, é o mais forte motivo para se viver piedosamente depois de recebê-lo. Aquele que não aceita o perdão, a não ser que possa merecê-lo de uma forma ou de outra, não participará dele. Aquele que presume tê-lo recebido, e não se sente obrigado a ser obediente a Deus por causa do perdão que recebeu, na verdade não goza dele!"

Leitor, um tal perdão não seria próprio para você? Almeja ser perdoado? Então, olhe para Jesus que morreu por você. Isso que tanto deseja é um dom livre que se tornou possível por causa do Seu sacrifício a favor dos pecadores.

Você já está perdoado? Então o teu coração deve estar cheio de santo amor pelo Senhor e de compaixão para com qualquer que te ofenda. Aquele que se considera perdoado, mas não perdoa aos outros, "é mentiroso" (I Jo. 4:20).


***
Fonte: The Reign of Grace
Tradução: Josemar Bessa
Via: Josemar Bessa
.

Interpretando 1 Pedro 1:1-2

.

Por Sam Storms


Pedro, apóstolo de Jesus Cristo,


Aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitínia, escolhidos de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue:

Graça e paz lhes sejam multiplicadas. (1 Pedro 1.1-2)

A passagem de 1 Pedro 1. 1-2 afirma que somos eleitos “de acordo com a pré-conhecimento de Deus Pai”. Como já vimos, a presciência de Deus é o deleite especial ou a afeição graciosa com a qual Ele nos vê. Mais uma vez, um bom sinônimo é “amar primeiro”. Precisamos também interpretar a força da proposição traduzida por “de acordo com” (kata).

A maioria concorda que a palavra kata nessa passagem tem o sentido de “em conformidade com”. Em outras palavras, a presciência de Deus ou seu amor eterno por nós era o padrão ou norma à luz da qual seu ato eletivo foi realizado. Contudo, como sugerido por M.J. Harris, é quase como se a noção de conformidade fosse “totalmente deslocada, passando kata a denotar ‘fundamento’. Assim, a eleição é fundamentada na (kata) presciência de Deus Pai, realizada pela (en) obra santificadora do Espírito, tendo como objetivo ou conquista (eis) a obediência e a aspersão constante do sangue de Cristo”.

Precisamos ser cautelosos para não fundamentar uma grande parte da nossa teologia nas nuances das preposições gregas. Entretanto, não podemos nos dar ao luxo de ignorar as preposições como se elas não tivessem qualquer importância. Um exemplo relacionado a ignorar as preposições é a tentativa de Norman L. Geisler de contornar a doutrina da eleição incondicional. Geisler insiste em que, segundo 1 Pedro 1. 1-2, a eleição e a presciência são atos simultâneos, que nenhum se baseia no outro, seja cronológica ou logicamente. Mas dizer que a eleição é “de acordo com” a presciência (que é a interpretação de Geisler) não é a mesma coisa que dizer que a eleição é “concomitante” ou “simultânea” à presciência. A exegese de Geisler tem duas falhas graves. Primeira: ele pensa erroneamente que a presciência se refere a não mais do que a onisciência divina, o atributo em virtude do qual Deus conhece todas as coisas. E a segunda: ele lê na preposição kata um significado estranho ao Novo Testamento.

Em suma, o argumento de Pedro é o mesmo que o de Paulo. Em conformidade com o amor, ou talvez com base nele e na afeição graciosa pré-temporais de Deus pelos pecadores, Ele nos predestinou à fé e à vida.

***
Fonte: Texto extraído do capítulo 8 da obra Escolhidos: Uma exposição da doutrina da eleição.
Selecionado por: Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos

Para adquirir este excelente livro, clique aqui!
.

Devemos ensinar publicamente a predestinação?

.

Por Thomas Magnum


É inegável que os reformados, também conhecidos como calvinistas, são conhecidos pela crença na predestinação incondicional. Muitos até acham que esse foi o tema mais abordado pelo reformador João Calvino, na verdade Calvino falou mais em oração e vida cristã do que na doutrina da predestinação e isso é facilmente observado nas Institutas e em seus comentários, principalmente o dos Salmos. 

Lembro a primeira vez que tive contato com a doutrina da eleição, foi lendo um sermão de Spurgeon sobre o assunto, fiquei estarrecido, assombrado e maravilhado com a grandeza e soberania de Deus. Os efeitos da doutrina da eleição em minha vida foram de sede, temor e adoração. Embora muitos defendam e creiam nessa verdade bíblica contida na Palavra de Deus, existe muita resistência quanto a ensina-la na igreja. Muitos ministros e líderes que professam sua crença confessional temem falar sobre isso nos cultos públicos, achando que é uma mensagem difícil ou dura demais para o povo ouvir.

Nos dias de Agostinho havia alguns franceses que deram início a essa questão, muitos se viam perturbados com a doutrina da eleição. O motivo não era que a doutrina fosse falsa em algum ponto, mas, achavam que a doutrina era perigosa e ofensiva, optando por suprimi-la e não coloca-la em evidência. Hoje também temos grupos que preferem não falar sobre o assunto, ainda que sua confissão denominacional professe a predestinação, para evitar contendas e dissenções. Creem que isso é preferível para preservar a unidade da igreja e a tranquilidade da consciência. Com isso é comum observarmos que muitos chamam a doutrina da eleição de crença secundária. A verdade de Deus não pode ser secundária e nem pode ser ofuscada por tolices humanas que se tornaram um clichê que, em vez de edificar, macula e detém o crescimento dos santos.  

Ao analisarmos essa questão biblicamente, veremos que ela não se sustenta perante o ensino das Escrituras Sagradas. Em sua despedida dos irmãos de Éfeso o apóstolo Paulo nos diz:

Vocês sabem que não deixei de pregar-lhes nada que fosse proveitoso, mas ensinei-lhes tudo publicamente e de casa em casa. Atos 20.20 NVI

Podemos observar que todo o desígnio de Deus foi ensinado por Paulo como diz outra versão. Devemos nos submeter ao que a Escritura diz, toda a Palavra deve ser pregada (Tota Scriptura) e ensinada ao povo. Lemos ainda em 2Timoteo 3.16,17:

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.

O Texto já fala por si mesmo, a Palavra de Deus é divinamente inspirada e para que? Para tornar o homem perfeito e isso vem pelo ensino e exposição das Escrituras. Em outro lugar observamos o objetivo da predestinação:

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Romanos 8.29

O objetivo da eleição é para sermos conforme a imagem de Jesus. Logo, se a doutrina da eleição nos leva a sermos semelhantes a Cristo, porque não ensina-la? Ainda tomando mais um texto bíblico observamos o Senhor dizendo: 

Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade.” João 17.17

Toda a Palavra de Deus é verdade, não uma parte dela. E Paulo nos adverte que a Igreja de Deus é a coluna e firmeza da verdade (I Timóteo 3.15), se somos baluarte da verdade se somos coluna e firmeza da verdade, temos que pregar a verdade, como lemos em João 17, a Palavra de Deus é a verdade e ela fala da predestinação. Como Paulo disse em Éfeso temos que dizer também: “pregamos todo o desígnio de Deus”. Logo, se a Escritura é a verdade, e a verdade liberta o homem (João 8.36) e essa verdade ensina a predestinação, devemos pregar publicamente. O teólogo Fraçois Turretini diz:

Daí crermos que essa doutrina não deve ser totalmente suprimida com base numa modéstia irracional, nem ser esquadrinhada curiosamente com presunção temerária. Antes, deve ser ensinada sóbria e prudentemente com base na Palavra de Deus, de modo que evitem os rochedos traiçoeiros: de um lado, o rochedo da “ignorância fingida”, que nada deseja ver propositadamente se cega para as coisas reveladas; do outro, o rochedo da “curiosidade injustificada”, que se ocupa em ver e entender tudo, até mesmo os mistérios. Destrói-se o primeiro, que (pecando por falta) crê que devemos abster-nos da proposição dessa doutrina, e o segundo, que (pecando por excesso) deseja fazer tudo com esse mistério escrupulosamente acurado (exonychizein) e acredita que nada dela deve ser deixado de lado sem ser posto a descoberto (anexereuneton). Contra ambos, declaramos (com os ortodoxos) que a predestinação pode ser ensinada com proveito, contanto que isso seja feito sobriamente, com base na Palavra de Deus. [1]

Jesus ensinou a doutrina da predestinação: 

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. Mateus 25.34

Quem é de Deus escuta as palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não sois de Deus. João 8.47

Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” João 15.16

Paulo ensinou:

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. Romanos 8.29,30

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo.” Efésios 1.4,5,9

Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos. II Timóteo 1.9

Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo. I Tessalonicenses 5.9 

Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade. II Tessalonicenses 2.13

Ver também Romanos 9 todo o capitulo.

Pedro ensinou: 

Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar.” Atos 2.39 

Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas. I Pedro 1.2

Lucas ensinou: 

E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam designados para a vida eterna. Atos 13.48

Thiago Ensinou: 

Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação. Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas. Thiago 1.17,18

João Ensinou:

Saúdam-te os filhos de tua irmã, a eleita. Amém.” II Jo 13

A doutrina da predestinação é um santo ensinamento da Palavra de Deus, por isso o tema deve ser pregado e ensinado com santo zelo e prudência. Calvino é acusado por muitos desconhecedores da doutrina bíblica e da história da igreja de ter criado a doutrina da predestinação, acabamos de ver que isso não é verdade, a Bíblia ensina o assunto abundantemente, vale notar que só nos atemos ao Novo Testamento, pelo foco do texto que é sobre a exposição da doutrina na igreja. Agostinho bem antes de Calvino abordou o tema de forma volumosa também. No entanto, vale citarmos o reformador: 

Quando homens quiserem fazer pesquisa sobre a predestinação, é preciso que se lembrem de entrar no santuário da sabedoria divina. Nesta questão, se a pessoa estiver cheia de si e se intrometer com excessiva autoconfiança e ousadia, jamais irá satisfazer a sua curiosidade. [2] O fundamento de nossa vocação é a eleição divina gratuita, pela qual fomos ordenados para a vida antes que fôssemos nascidos. Desse fato depende nossa vocação, nossa fé, a concretização de nossa salvação. [3] 

Portanto, fica para nós o conselho de Paulo a seu filho na fé Timóteo:

Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.  II Timóteo 4 . 2

Sola Scriptura, Tota Scriptura.

_________
Notas:
[1] Compêndio de Teologia Apologética, François Turretini. Ed. Cultura Cristã
[2] Institutas da Religião Cristã, João Calvino. Ed. Unesp
[3] Exposição de Gálatas, João Calvino. Ed. Fiel

***
Fonte: Bereianos
.