O patriotismo que eu queria ver

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Por Rev. Alan Renê Alexandrino Lima


Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria [...] Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hebreus 11.14,16).

A Copa do Mundo FIFA® está chegando ao seu final. E de uma forma que a grande maioria dos brasileiros nem imaginava nem gostaria que ocorresse: melancólica! Independentemente do final, pudemos perceber um arroubo de otimismo durante quase um mês. A maioria dos brasileiros estava eufórica, apoiava a seleção brasileira e, tristemente, voltava-se contra outra parcela da população brasileira que não estava apoiando a seleção pelas mais variadas razões.

O Facebook se tornou uma grande vitrine através da qual as pessoas exibiam seus pensamentos a respeito da seleção brasileira. Alguns desses pensamentos eram feios, vexatórios e vergonhosos. Aqui aproveito para fazer um recorte: Limito-me aos pensamentos daqueles que apoiaram a seleção e se voltaram contra aqueles que não o fizeram. Uma das principais acusações era a de antipatriotismo. Aqueles torcedores brasileiros que estavam torcendo por outras seleções eram acusados de não serem patriotas e não amarem o Brasil. Epítetos os mais variados foram aplicados, como, por exemplo, “coxinha”, “gente sem noção”, “imbecis”, “idiotas” e até mesmo “nojentos”. Testemunhei tal atitude até mesmo entre aqueles que têm “um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Efésios 5.5). Inversamente, houve até mesmo quem entendesse que usar a camisa oficial da seleção brasileira era sinônimo de patriotismo, honrar a pátria e etc.

Uma dúvida sempre me acompanhou nesse período: é justo, na real acepção do termo, acusar alguém de antipatriotismo por não apoiar a seleção brasileira? E mais: há dignidade em fazer do futebol motivo para beligerância, ofensas, ironias, indiretas sarcásticas até mesmo entre cristãos?

PATRIOTISMO

O termo “patriotismo” tem a sua origem na língua grega. Para os gregos antigos o termo dizia respeito à devoção a uma língua, tradições, símbolos, história, ética e leis comuns a um determinado povo. O filósofo Stephen Nathanson afirma que o termo envolve:

          1. Afeição especial pelo próprio país;
          2. Um sentimento de identificação pessoal com o país;
          3. Preocupação especial pelo bem-estar do país; e
          4. Disposição para se sacrificar para promover o bem do país.

A Stanford Encyclopedia of Philosophy define “patriotismo” como “o amor ao país, a identificação com ele, e a preocupação especial pelo seu bem-estar e o dos compatriotas”. É pertinente observar ainda que, de acordo com a Stanford Encyclopedia, somente uma pessoa cujo amor pelo país não se expressa por meio de nenhum interesse especial é que pode ser considerada como antipatriota. Tomando essa afirmação e juntando-a com o fato de que, muitos dos que vi contrários à seleção brasileira agiam assim motivados por preocupação genuína com a situação do Brasil, chego à conclusão de que dificilmente poderíamos dizer que os mesmos são antipatriotas.

A partir das definições acima não consigo compreender como o não torcer pela seleção brasileira é uma horrível manifestação de falta de amor pelo país, e o torcer pela seleção, uma cristalina manifestação de patriotismo.

Soma-se a isso o fato de que aquela que tem real interesse na conquista da Copa do Mundo é a entidade que é a verdadeira proprietária da seleção: a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Trata-se de um órgão privado que não tem nenhum compromisso real com o bem-estar do país. A CBF pugna pelos seus próprios interesses, sendo o maior deles, o lucro.

Por tudo isso, é que estou convicto de que patriota é aquele que vê o atual estado do Brasil (sem educação, sem segurança, sem saúde, sem cuidado para com os seus cidadãos, caminhando rumo a uma ditadura socialista) e se dói por isso. O patriota se preocupa com tudo isso. Ele luta por um país diferente. Ele briga para que uma ideologia autoritária não se instale de vez na nação. O patriota é aquele que possui verdadeira afeição pelos símbolos oficiais do seu país: seu hino, sua bandeira, suas forças armadas. A seleção brasileira não é um símbolo da nação. Ela não luta por melhorias em nossa nação, nem mesmo possui esse objetivo. É verdade que ela usa as cores da nossa bandeira. Ela se posta enfileirada ante a execução do nosso hino, mas ela não luta pela melhoria do Brasil. Ela almeja a sua própria glória e o lucro para a sua entidade mantenedora (o que, necessariamente, não é ruim. Trata-se apenas de um esclarecimento). Assim sendo, é possível não torcer pela seleção e, ainda assim, ser verdadeiramente patriota. Ao mesmo tempo, é possível se imaginar patriota simplesmente por vestir uma camisa da seleção e não o ser de fato.

UM PATRIOTISMO MAIOR

Depois disso tudo, quero me dirigir especialmente aos cristãos evangélicos.

Somos brasileiros? Somos. Devemos ser patriotas? Creio que sim. Não obstante, tem me afligido muito perceber que muitos cristãos têm brigado e escrito palavras vergonhosas motivados por um “prato de lentilhas”. Quem dera fôssemos tão prontos para defender o nome do nosso Senhor Jesus Cristo e denunciar os erros, as heresias e os males que nos assolam, como o somos para trocar farpas por causa de um jogo de futebol!

Vivemos numa nação que, além do caos político, econômico e social, vive o caos espiritual. O fato de os últimos censos registrarem dezenas de milhões de evangélicos não diz absolutamente nada. Vivemos um cristianismo superficial, sem discernimento, sem compromisso verdadeiro com a Palavra de Deus, sem zelo para com aquilo que é do Senhor. Em nome de um patriotismo cego e sem entendimento desonramos a Deus transgredindo o seu santo dia. Quantos já estavam dispostos a deixar de participar do ajuntamento solene, caso o Brasil tivesse chegado à grande final? Ao agirmos assim não estamos menosprezando nossa verdadeira e mais importante cidadania? Não estamos honrando nossa “brasilidade” em detrimento do nosso status como filhos do Deus vivo? Agindo assim não estamos demonstrando que preferimos tesouros terrenos a tesouros celestiais? Mais do que nunca, como crentes, precisamos definir muito claramente as nossas prioridades. Precisamos defender a nossa pátria celestial, o reino de Deus, com o mesmo vigor, a mesma veemência, a mesma paixão com que defendemos nossa seleção brasileira e os nossos clubes do coração. É preciso também que lutemos contra o pecado e contra o erro com a mesma disposição com que denunciamos as falcatruas e a corrupção dos nossos governantes. Até porque somente Jesus Cristo é a solução para todo o caos moral, político, econômico, social e espiritual no qual estamos imersos.

Eu acredito que somos aqueles de quem Hebreus 11.14,16 fala: “Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria [...] Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade”. Também o apóstolo Pedro afirma que, porque somos “estrangeiros e peregrinos” devemos nos abster “das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma” (1Pedro 2.11). Dessa forma, tenho a certeza de que nossa “brasilidade” é efêmera, passageira. Este não é o nosso verdadeiro país. Esta não é a nossa verdadeira pátria. Possuímos uma cidadania celestial. Aspiramos por uma pátria superior, que tem o Senhor Deus como o seu Arquiteto e Mantenedor. Um dia não mais possuiremos carteiras de identidade que identifiquem nossa nacionalidade como “brasileiro” ou “brasileira”. Chegará o dia quando em nossa identidade consistirá de “uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe” (Apocalipse 2.17). Chegará o dia quando a seleção brasileira não mais nos dividirá, nem mais será o motivo para tanta agressão verbal entre os filhos de Deus. Particularmente, almejo pelo dia quando o futebol, quando mal usado, quando absolutizado, quando tratado como ídolo, deixará de provocar guerras e contendas entre nós (Tiago 4.4).

Enquanto esse dia não chega, que sejamos verdadeiros patriotas: 1) Lutando pelo verdadeiro bem-estar do Brasil; e 2) Batalhando diligentemente pela fé que uma vez por todas nos foi entregue e vivendo a mutualidade da comunhão, como verdadeiros habitantes da Jerusalém celestial, nascidos não da vontade do homem nem da vontade da carne, mas pela graça e pelo poder do Senhor! Isso é ser verdadeiramente patriota!

Que o Senhor nos abençoe!

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Fonte: Cristão Reformado
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