O evangelismo compulsório e o barateamento do evangelho

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Por Renato César


Quem nunca presenciou dentro de ônibus, praças e até em avenidas de grande movimentação homens e mulheres pregando o evangelho em alta voz, enquanto os que por ali passavam faziam de conta que não ouviam? E quantas vezes nós, mesmo sendo cristãos, já nos sentimos incomodados?

Muitos crentes tentam forçosamente transportar os eventos que marcaram o início da Igreja para nosso contexto, na esperança de que talvez multidões, ou pelo menos uma pessoa, se converta com esse evangelismo compulsório, empurrando as boas novas orelha adentro de quem está próximo.

É claro que não se deve subestimar jamais os efeitos que a Palavra de Deus podem causar no coração daqueles que a ouvem, e é bem possível que pessoas deem atenção ao que estes evangelistas urbanos dizem e, por que não, venham a arrepender-se e crer em Cristo. Mas não é este o ponto do qual parte esta crítica.

Alguns objetam que os críticos dessa metodologia de evangelismo, por despeito ou na tentativa de justificar sua inércia, acabam por desqualificar essa prática e os que tentam obedecer ao “ide” de Jesus. Mas sabemos que a Bíblia é um todo e, assim como uma lei de nossos dias, não pode ser obedecida de forma fragmentada. Dessa forma, ao mesmo tempo que ela nos manda evangelizar, também nos adverte a não atirar pérolas aos porcos (Mt 7:6).

O evangelho é a mais valiosa mensagem que existe, e ofertá-lo insistentemente a quem o despreza é rebaixá-lo a um nível incompatível com seu valor. Como bem orientou Jesus a seus discípulos: “E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés” (Mt 10:14).

Mas o barateamento do evangelho não se restringe aos pregadores de rua. Ele invadiu muitos púlpitos de igrejas, mediante extensos apelos à conversão dos incrédulos ao fim dos sermões. A palavra apelo é mesmo adequada, pois o que se vê, em alguns casos, é uma verdadeira apelação, com uso de música de fundo para comover as almas perdidas e uma exaustiva repetição de convites ao arrependimento.

“Essa é a última chamada para conversão. Repetindo, última chamada. Jesus poderá vir amanhã, e você vai ficar. Aceite a Jesus antes que seja tarde demais. Pelo amor de Deus, alguém aí quer aceitar a Jesus?”. É isto que escuto nas linhas e entrelinhas quando me deparo com longos e apelativos convites à conversão.

Devemos reconhecer que por detrás dos apelos prolongados existe, não raro, a pressão para que pastores ou evangelistas angariem mais fiéis, pois o número de conversos é entendido como sucesso na pregação e resposta divina à fidelidade do pregador, além de servir de fundamento para a avaliação de ministérios pastorais e missionários.

Entretanto, nem a falta de conhecimento nem a pressão externa servem de justificativa para a desvalorização que se faz do evangelho, ofertando-o a quem não o quer receber, como se fôssemos nós mesmos capazes de persuadir alguém a crer ou mesmo os responsáveis por sua salvação/condenação.

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Sobre o autor: Renato César é cristão reformado, formado em administração de empresas e teologia, membro da IPB - Fortaleza/CE. Contatos: renatocesarmg@hotmail.com

Divulgação: Bereianos
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1 comentários:

Creio que é mais produtivo pensar em estratégias em como anunciar o Reino e a Sua Justiça do que criticar quem o faz, ou se faz da melhor maneira, ou ainda se é uma mensagem genuína do evangelho.
Quando se critica sem apresentar propostas, nada mais é do que uma crítica vazia.
Opinião de um presbiteriano.
Fábio Monteiro

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