A Bíblia realmente ensina que cristãos não perdem a salvação?

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por Herman Bavinck


Por mais que ocorra apostasia no cristianismo, isso nunca pode nos levar a questionar a fidelidade imutável de Deus, a certeza do Seu conselho, o caráter permanente da Sua aliança, ou a confiabilidade de suas promessas. Devemos rapidamente abandonar todas as criaturas que deixam de confiar em Sua Palavra. E esta Palavra na sua totalidade é uma promessa imensamente rica para os herdeiros do reino.

Não é apenas um punhado de textos que ensinam a perseverança dos santos: o Evangelho inteiro a sustenta e confirma. O Pai os escolheu antes da fundação do mundo (Ef 1:4), ordenou-lhes a vida eterna (At 13:48), para serem conformes à imagem de seu Filho (Rm 8:29). Esta eleição permanece (Rm 9:11;. Hb 6:17) e no devido tempo traz consigo a vocação e a justificação e a glorificação (Rm 8:30).

Cristo, em quem todas as promessas de Deus são Sim e Amém (2 Co 1:20), morreu por aqueles que foram dados a Ele pelo Pai (Jo 17:6, 12), a fim de que Ele pudesse dar-lhes a vida eterna e não perder sequer um deles (Jo 6:40; 17:2). Ele, portanto, dá-lhes a vida eterna e nunca se perderão em toda a eternidade, ninguém os arrebatará da Sua mão (Jo 6:39; 10:28 ). O Espírito Santo, que os regenera, permanece eternamente com eles (Jo 14:16) e sela-os para o dia da redenção (Efésios 1:13; 4:30).

O pacto da graça é firme e confirmado com um juramento (Hb 6:16-18; 13:20), inquebrável como um casamento (Ef 5:31-32), como um testamento (Hb 9:17), e em virtude desse pacto, Deus chama os seus eleitos. Ele inscreve a lei no mais íntimo do ser deles, coloca temor no coração deles (Hb 8:10;. 10:14), não permite que sejam tentados além de suas forças (1Co 10:13.), confirma e completa neles o bom trabalho que Ele começou (1Co 1:9;. Fp 1:6), e os mantém para o retorno de Cristo, para que recebam a herança celestial (1 Ts 5:23; 2 Ts 3:3; 1. Pe 1:4-5

Em sua intercessão diante do Pai, Cristo age de tal forma que a fé de seus eleitos não desfaleça (Lc 22,32), e que no mundo eles possam ser guardados do maligno (Jo 17:11, 20), para que possam ser salvos em todos os tempos (Hb 7:20-25). Ele está contemplando Sua glória (Jo 11:24-26). Os benefícios de Cristo, que o Espírito Santo dá a eles, são todos irrevogáveis (Rm 11:29). Aqueles que são chamados também serão glorificados (Rm 8:30). Aqueles que são adotados como filhos, são herdeiros da vida eterna (Rm 8:17; Gl 4:7). Aqueles que creem já têm a vida eterna aqui e agora (Jo 3:16). Esta mesma vida, sendo eterna, não pode ser perdida. Ela não pode morrer, uma vez que não pode pecar (1Jo 3:9). A fé é uma terra firme (Hb 11:1), a esperança é uma âncora (Hb 6:19) e não nos decepciona (Rm 5:5), e o amor nunca acaba (1Co 13:8).

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Texto extraído no original de Reformed Dogmatic 4.269-70 (quebras de parágrafo são de Kevin DeYoung)
Tradução: Arielle Pedrosa

Acorda Igreja! Estão corrompendo as nossas crianças!

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Por Ruy Marinho


Acabo de assistir a um vídeo extremamente inquietante. Trata-se de uma palestra ministrada pela Dr. Damares Alves, advogada, assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica e Secretária Nacional do Movimento Brasil Sem Aborto. A mensagem, cujo tema é "Um Alerta Para as Famílias, Educadores, Diretores e Professores", foi gravada na Primeira Igreja Batista de Campo Grande/MS. São denúncias muito graves das quais compartilho com todos os leitores deste blog por serem altamente relevantes.

marxismo cultural, no pior estilo gramscistaestá avançando cada vez mais através do governo vermelho, efetivando à destruição das famílias brasileiras com o golpe mais baixo que poderiam usar: atingindo diretamente as nossas crianças com uma enxurrada de imoralidades destrutivas! 

Pelo fato deste blog ser de conteúdo reformado, peço que desconsiderem as eventuais diferenças teológicas, pois a essência da mensagem do vídeo é extremamente importante para todos nós por tratar de questões concernentes aos princípios cristãos em um modo geral.

Assistam o vídeo... reflitam!


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Sobre a palestrante: Drª. Damares Alves é membro da Igreja do Evangelho Quadrangular, advogada, atualmente exerce as funções de Assessora Parlamentar no Congresso Nacional, Assessora Jurídica da Frente Parlamentar Evangélica e Secretária Nacional do Movimento Brasil Sem Aborto. É também assessora jurídica da Frente Parlamentar da Família e Apoio a Vida, liderada pelo senador Magno Malta e co-fundadora do movimento  ATINI – Voz Pela Vida, que exerce uma importante luta no combate à violência contra crianças indígenas.

Divulgação: Bereianos
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A Teologia da Prosperidade de Benny Hinn falhou!

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Por Thiago Chagas


O controverso evangelista Benny Hinn, um dos principais líderes neopentecostais adeptos da teologia da prosperidade, usou o site oficial de seu ministério para pedir US$ 2,5 milhões aos seus seguidores.

Segundo Hinn, “um amigo amado e de longa data” se dirigiu a ele dizendo que “Deus gostaria que seu ministério ficasse completamente livre de dívidas”, e que isso o teria levado a doar US$ 2,5 milhões, se os seguidores do evangelista igualassem o valor em 90 dias, o que daria no total, US$ 5 milhões.

“O que eu poderia dizer? Imediatamente eu vi a mão de Deus nisso. Nosso Senhor poderia simplesmente ter usado o nosso amigo para plantar a semente e ser abençoado imensamente por isso. Mas é tão evidente que Deus quer oferecer um milagre ainda maior do que os US$ 2,5 milhões. Ele deseja que os nossos parceiros e amigos de ministério sejam abençoados como este homem precioso de Deus, plantando uma semente muito maior para a obra do Senhor, e, ao fazê-lo, dobrando as bênçãos”, escreveu Hinn.

O evangelista ainda afirma que as doações de seus seguidores poderão se transformar em bênçãos financeiras dobradas, e resultar no fim de contas atrasadas.

“Imagine ir até a caixa de correio sem temer, sem contas se acumulando em seu balcão, e sem ligações de cobradores na sua casa. Deus quer limpar a sua dívida! Cada pedacinho dela… e nos próximos 90 dias! Esta é uma hora marcada. Imaginem: seus US$ 100 doados imediatamente dobram para US$ 200. Sua semente de US$ 500 torna-se literalmente US$ 1.000. Se Deus te leva a plantar 10 mil dólares, ele cresce instantaneamente em uma semente de US$ 20 mil! E a tua descendência ceifará através da lei sobrenatural de multiplicação! Só Deus poderia oferecer algo parecido com isso, uma colheita dupla para você. E quanto mais você planta, mais você vai colher!”, garantiu o evangelista, que recentemente foi alvo de investigações da Receita Federal e do Senado dos Estados Unidos.

O Christian Post relatou que a compra recente de um jato particular e um carro de luxo com dinheiro do ministério teria levado Benny Hinn a sofrer intensas críticas nos Estados Unidos. Um evento organizado por ele em Trinidad e Tobago também teria sido alvo de controvérsias, pois ele teria pedido aos milhares de presentes que doassem US$ 100 dólares cada para cobrir os custos da organização.

Fonte: Gospel+

Sinceramente, não sei como ainda tem gente que acredita na tal teologia da prosperidade! Benny Hinn, que é um dos maiores expoentes de tal heresia, vem ao Brasil quase todos os anos e milhares de pessoas caem nas mentiras apregoadas por ele. Não duvido que muitos brasileiros vão ajudá-lo financeiramente, na esperança da falsa promessa de recompensa descrita acima. 

Não é por falta de insistentes denúncias, nem por diversos alertas feitos por refutações de apologistas cristãos e por líderes evangélicos brasileiros, há muito tempo vem sendo anunciado as heresias destrutivas de Benny Hinn (a última você pode rever aqui). 

Será que os muitos cristãos brasileiros que acompanham as cruzadas "bennyhistas" ainda não se convenceram que ele é um falso profeta? 

Ruy Marinho
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Todo homem é pelagiano por natureza!

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Por Josemar Bessa


Certa vez George Whitefield (1714-1770) disse que qualquer homem que está familiarizado com a natureza humana e a propensão do seu próprio coração, deve inevitavelmente reconhecer que a justiça própria é o último ídolo a ser erradicado do coração.

Há apenas duas formas pelas quais o homem pode ter paz verdadeira com Deus. A primeira é ter um coração completamente livre de qualquer pecado. Quando Adão era santo havia perfeita paz, mas ela foi quebrada. Todos nós pecamos, e esta porta (a perfeição própria do coração – ser um ser merecedor de algo da parte de Deus) está para sempre fechada para toda a nossa raça.

De todos os nascidos de mulher, de todos que pisaram esta terra, apenas um entrou no céu por seus próprios méritos, Cristo, o Filho de Deus. Só nEle e em seus méritos a paz agora é possível: “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” - Romanos 5:1-2

A maneira com que podemos certamente garantir uma falsa paz e nos destruir é fechar os olhos as ofensas infinitas do pecado, do pecador a um Deus infinitamente santo, é minimizar o pecado acreditando ser possível ter algum mérito diante de Deus, é se fazer cego para nossas próprias consciências e nos convencermos de que realmente não somos culpados além de toda possibilidade de reparação e de toda possibilidade de ter algum mérito diante de Deus que nos faça digno de reivindicações diante dEle.

Justiça própria é o maior ídolo humano. Ele tem “reinado” não só no mundo secular, mas em grande parte daqueles que dizem ter crido no evangelho. Um evangelho que não destrói o ídolo justiça-própria, que mantém espaço para a justiça própria e mérito humano na salvação...  não é evangelho de forma nenhuma. Homens assim passam seus dias no engendramento de desculpas transformando o mal em bem, o demérito em mérito, a necessidade de graça em reivindicações.

Tendo nascido caído em um mundo caído; tendo nascido sob um pacto de obras, é natural para todos nós recorrer a um pacto de obras para a nossa salvação eterna. E nós temos orgulho diabólico suficiente para pensarmos em ter um alguma glória em nossa salvação. Todo homem é Pelagiano por natureza. E portanto, não é de se admirar que sem a obra o soberana do Espírito abracemos facilmente a “liberdade” humana, nossa capacidade de colocarmos sobre nossa força e desejo o passo fundamental da nossa salvação. O ídolo justiça-própria é terrível e o mais resistente no coração caído. É a atitude mais comum debaixo do sol. É um mal que floresce em todas as idades, todas as classes sociais, todos os níveis intelectuais – do analfabeto ao homem que possua a maior quantidade de títulos acadêmicos, o ídolo justiça-própria reina!

Nada ofende tanto nossa sociedade, cultura... e muitas vezes a igreja de nossos dias,  do que atacar o ídolo justiça-própria. Vozes revoltadas logo se levantam com paixão avassaladora para defendê-lo. Eis a grande dificuldade hoje com as Doutrinas da Graça, pois ela não poupa o ídolo justiça-própria, então, se torna uma pedra de tropeço. A justiça toda suficiente de Cristo não deixa espaço para a auto-justiça. O ego se levanta então furioso. Esse não é um erro periférico, é um erro fatal!

Auto-justiça nasceu com o pecado e ela cresce com o crescimento do pecado. De maneira perversa, quanto mais o pecado cresce em uma sociedade, cultura e no coração humano, mas a auto-justiça floresce, mas o ídolo justiça-própria é entronizado. A disposição para negar o seu crime é universal entre os homens. Nada, senão a Graça Soberana, pode efetivamente erradicar o hábito da auto-justificação. O homem tem uma grande estima por si mesmo, por sua bondade... e não o oposto como é pregado hoje.

Nada na natureza humana parece mais obstinado, ou mais difícil de erradicar do que o espírito meritório. Deixado entregue ao seu próprio coração, o homem vive em pecado, morre em pecado, e deita-se para sempre na tristeza eterna; mas não renuncia sua própria bondade e abandona suas esperanças hipócritas de que pode merecer algo de um Deus totalmente santo.

Se não podemos falar como Jeremias: “O Senhor é a Nossa Justiça” – Tudo que dissermos estará a serviço do engano:  “Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” - Jeremias 33:16

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A Trindade: da teoria à prática - 5/5

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Por Rev. Leandro Lima


Aspectos práticos da doutrina da Trindade

Até aqui vimos aspectos históricos, bíblicos e teológicos da doutrina da Trindade. Agora queremos falar sobre aspectos práticos. Claro que isso não significa que o que foi dito acima não é prático. Mas até aqui nos preocupamos em definir bem os conceitos, agora queremos tratar sobre como a doutrina da Trindade deve influenciar a nossa vida diária.

É impossível ter um relacionamento correto com Deus sem considerar a Trindade. Hoje as pessoas demonstram inconscientemente preferência por uma das pessoas da Trindade. Há aqueles para quem a pessoa do Pai é a central. Essas pessoas pensam muito pouco em Jesus e no Espírito Santo. Principalmente os oriundos da tradição católica, quando lembram de Deus, pensam na pessoa do Pai. Outros preferem a pessoa do Filho, geralmente os influenciados pelo “pietismo”, mas certamente são minoria. O Espírito Santo é o foco principal da vida da maioria dos crentes das igrejas carismáticas. Essa fragmentação das pessoas da Trindade é coisa bem típica do nosso mundo moderno. Ela dilui a compreensão da riqueza de Deus.

Por outro lado, na prática o que se percebe é uma espécie de unitarismo funcional. Quando pensamos em Deus, não trazemos à memória a existência triúna, mas o imaginamos como uma pessoa única. Isso compromete demasiadamente o relacionamento com ele, pois impede que entendamos mais completamente o seu caráter. Na verdade é impossível compreender a Criação e a Redenção sem pensar na Trindade. Pois, como vimos, tanto a Criação quando a Redenção não são obra de uma das pessoas divinas, mas da Trindade como um todo.

Nesse ponto outras coisas precisam ser consideradas. Um problema é imaginar que Deus precisou criar o mundo para se sentir mais pleno. Isso é um engano, pois Deus é absolutamente completo em si mesmo. Ele não precisava criar o universo para se sentir melhor, nem mesmo para experimentar algum relacionamento, pois em seu ser, Deus já é completo e relacionável.

Na oração sacerdotal Jesus disse: “E agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo... porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.5,24). Na verdade, esse por si só, já é um grande argumento em favor da Trindade. Se a Bíblia diz que Deus é amor (1Jo 4.8), então, o que ele amava antes de ter criado alguma coisa? Deus exercitava o amor consigo mesmo, no relacionamento trinitário, que por sua vez, veio a ser a base para o relacionamento amoroso com os homens, que assim, também pode ser chamado de “amor eterno” (Jr 31.3). Deus expandiu seu amor intra-trinitário para suas criaturas, e isso demonstra de forma assombrosa como é grande esse seu amor.

Quando Deus nos chama para a fé, na verdade é um convite para mergulhar no relacionamento trinitário, aquele relacionamento que as pessoas da Trindade têm entre si. Jesus disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada” (Jo 14.23).

Deus não precisava criar nada para se sentir mais pleno, mas ainda assim decidiu criar para dar maior expressão ao relacionamento trinitário. Somos chamados para participar disso, como Jesus deixou bem claro em sua oração: “A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós” (Jo 17.21). A ideia somada desses textos é: O Deus triúno em nós, e nós no Deus triúno, uma comunhão com base trinitária. Somos chamados para mergulhar no amor da Trindade. Por essa razão, não considerar a Trindade é entender menos o amor de Deus.

Isso por sua vez nos leva a entender nosso chamado relacional. Jesus continuou orando Pai: “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim” (Jo 17.22-23).

É fácil de entender porque a comunhão é tão difícil na igreja. As pessoas buscam comunhão através de eventos sociais, trabalhos comunitários, músicas que incentivam cumprimentos mútuos, etc. Mas a verdadeira base da comunhão da igreja é a Trindade. Precisamos entender que fomos chamados para refletir o mesmo amor que existe na Trindade. Somos chamados para mergulhar nesse amor, e de tal forma ele precisa inundar a nossa vida, que os outros irmãos receberão os efeitos dele.

O próprio sentido de nossa missão no mundo também está explícito nessas palavras de Jesus. Queremos que o mundo conheça o Evangelho, para isso fazemos imensas campanhas evangelísticas, cultos de evangelização, distribuímos folhetos, mas percebemos que os resultados são insignificantes. Jesus ensinou que nosso testemunho depende de nossa unidade. Enquanto o amor da Trindade não invadir nosso coração a ponto de alcançar os outros, o mundo continuará descrente em relação a Jesus.

A consciência da Trindade muda também o próprio culto que prestamos a Deus. O culto cristão é essencialmente trinitário. Uma definição de culto cristão poderia ser: “Adorar o Pai, pela mediação do Filho, no poder do Espírito Santo”. [15] Essa é uma definição interessante, mas há o perigo de compartimentar as coisas, pois não é só o Pai que é adorado, e sim o Deus triúno. A ideia é que o culto como um todo é para a Trindade e obra da Trindade. O acesso à presença de Deus se faz pela pessoa do Filho. A comunicação de Deus com o povo se dá pelo Espírito que faz uso da Palavra. O culto é uma vibrante atuação do Deus triúno.

Quando temos isso bem claro em nossa mente, percebemos que a única coisa que precisamos para adorar a Deus verdadeiramente é a atuação da Trindade. Isso evidentemente não dispensa os elementos do culto como a música, os instrumentos, e as próprias pessoas. Mas a adoração verdadeira não pode depender de um cântico animado, de instrumentos bem tocados, ou da eloquência do pregador. Se essas coisas são os instrumentos da adoração é provável que não esteja acontecendo adoração. A adoração verdadeira é obra da Trindade em nós, e a partir de nós, para a própria Trindade. Por isso o culto bíblico é bastante diferente do que se vê na maioria das igrejas. O culto bíblico é teocêntrico e não antropocêntrico.

Finalmente, a doutrina da Trindade é um chamado ao serviço. Estudamos sobre a absoluta igualdade essencial da Trindade. Nesse sentido não há qualquer grau de subordinação entre as pessoas da Trindade. Mas percebemos que nas obras externas, ao trabalhar na Criação e na Redenção, as pessoas da Trindade se subordinam umas às outras e trabalham em perfeita cooperação. Embora sejam pessoas plenas, e cada uma tenha a essência completa da Trindade em si, não são, nem desejam ser autônomas. São absolutamente livres e isso faz com que se relacionem e promovam a obediência. O Filho faz questão de obedecer ao Pai, e o Espírito é obediente ao Filho.

A dificuldade que os cristãos têm de trabalhar juntos é por causa do ego. Cada um tem seu orgulho pessoal, e deseja que sua opinião prevaleça. Achamos que obedecer e servir uns aos outros nos torna inferiores. Achamos que a liberdade é a autonomia. A Trindade nos ensina que através do serviço e da obediência cristã é que desfrutamos da plena liberdade. Quando o Filho de Deus amarrou a tolha na cintura e lavou aos pés dos discípulos, isso não o fez menos digno nem menos livre, ao contrário.

Diante dessas coisas, concluímos que devemos valorizar mais essa doutrina. Precisamos nos arrepender por considerar tão pouco esse precioso ensino da Escritura, e passar a considerar o caráter trinitário de nosso Deus em nosso relacionamento com ele, com os irmãos e no culto que lhe dirigimos. Acima de tudo permanece que não podemos conhecer verdadeiramente a Deus, se não considerarmos seu caráter trinitário. Como diz Bavinck, “somente quando nós contemplamos essa Trindade é que nós descobrimos quem e o que Deus é”.[16]

Notas:
15 Ricardo Barbosa de Sousa. O Caminho do Coração, p. 80.
16 Herman Bavinck. Teologia Sistemática, p. 155.


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Porque não sou arminiano?

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Por Pr. Fabiano Antônio Ferreira, D.D.

(Estudo feito no Colégio de Pastores na Obra da Restauração de Tudo [1] - Abril/2003)


O propósito destes dois breves artigos é justificar porque não adoto o sistema teológico que ficou conhecido na história da igreja cristã como arminianismo, nome devido ao seu defensor, Tiago Armínio (1560-1609), em contraposição ao sistema oposto que foi cognominado de calvinismo, em homenagem ao grande reformador francês João Calvino (1509-1564). O presente artigo revelará para o leitor a primeira razão.

O sistema arminiano foi apresentado de forma sistemática à igreja holandesa em 1610, por discípulos de Tiago Armínio, na forma de cinco pontos que sintetizavam os ensinos do professor holandês e alteravam os ensinos dos reformadores, diferenciando deles não apenas em termos de ênfase, mas de conteúdo. Os cinco pontos do arminianismo apresentados na Remonstrance (Representação) são os seguintes: (1) Livre-Arbítrio (ou capacidade humana: o homem, mesmo caído, ainda tem condições de atender por si mesmo ao chamado do evangelho, vindo por seus próprios recursos a arrepender-se e exercer a fé; para os arminianos não existe morte espiritual em termos absolutos; (2) Eleição Condicional (Deus não teria marcado ninguém para salvar-se ou perder-se, mas a eleição antes da fundação do mundo seria baseada na presciência divina, que elegeria aqueles que de antemão previu que iriam arrepender-se e crer, sendo, portanto, o conjunto dos eleitos aberto, sem garantir a segurança de qualquer pessoa antes do encerramento de sua história; (3) Expiação Geral ou Ilimitada (Jesus Cristo não teria morrido por pessoas específicas, mas sim por toda a humanidade, apenas possibilitando a salvação de qualquer pessoa que, dentro da história, creia em sua morte expiatória, embora isso não seja suficiente para garantir-lhe a absoluta segurança, uma vez que a salvação depende da perseverança na fé, e não se sabe com certeza quem irá perseverar até o fim; (4) Graça Resistível (Na concepção arminiana, a graça de Deus pode ser resistida no ato da salvação e, quando o pecador aquiesce a ela, até mesmo depois de "salvo", o homem pode resistir a Deus de modo a vir a perder-se total e finalmente); (5) Insegurança da Salvação (Ninguém pode garantir que os que são verdadeiramente regenerados vão perseverar até o fim, ou seja, uma pessoa que hoje se presume salva, amanhã poderá vir a perder sua salvação). É bom lembrar que, do sistema arminiano formulado pelos remonstrantes, Armínio discordaria do 5o ponto, pois, apesar de toda a sua incapacidade de entender o que os reformadores ensinaram, jamais duvidou da Perseverança dos Santos.

Em 1618, um concílio internacional constituído de 84 renomados eruditos reformados reuniu-se na cidade de Dort, na Holanda, para analisar e responder aos remonstrantes, formulando, em 1619, após sete meses de discussões em 154 seções, os importantes Cânones de Dort, dispostos em cinco capítulos cujos títulos ficaram sendo conhecidos como os Cinco Pontos do Calvinismo, em homenagem ao grande reformador João Calvino. Esses cinco pontos, pois, são a síntese do ensino reformado, não apenas subscrito por João Calvino, mas por todas as confissões de fé históricas e catecismos reformados, a saber, Confissão de Fé dos Países Baixos, Catecismo de Heildelberg, Segunda Confissão Helvética e Confissão de Fé de Westminster, e, como bem ficou demonstrado nos Cânones de Dort, refletem o verdadeiro ensino das Escrituras reafirmado pelos reformadores e negado pelos remonstrantes.

Os Cinco Pontos do Calvinismo são os seguintes: (1) Depravação Total (Os homens não regenerados, após a queda, são totalmente incapazes de escolher o bem quanto a questões espirituais, visto que estão mortos em delitos e pecados, sendo habilitados apenas por um milagre de ressurreição espiritual, que ocorre quando da regeneração, veja Ef 2:1-10); (2) Eleição Incondicional (Deus, antes da fundação do mundo, em seu propósito eterno e soberano, segundo o conselho da sua vontade, em amor elegeu alguns pecadores para a salvação, independente de quaisquer méritos que neles se observassem, nem tampouco previsão de arrependimento e fé, veja Ef 1.3-12; 2Ts 2.13; Jo 6.37, 39, 6.65; At 13.48); (3) Expiação Limitada (Ao enviar seu Filho para ser morto por causa dos pecados dos homens, Deus, na verdade, tinha em mente propiciar o único meio para que seus eleitos pudessem ser salvos, o que lhes garante eterna salvação, enquanto a expiação arminiana é universal e, contudo, não garante a salvação de ninguém em termos absolutos; a melhor demonstração desta verdade foi feita por John Owen no livro Por quem Cristo morreu?, PES, e eu o aconselho a ler a discussão detalhada ali, inclusive as respostas às objeções a este ensino lógico e claro das Escrituras; Mc 10.45; Tt 2.14; Hb 9.28; At 20.28; Ef 5.25; Jo 17.6, 9; Hb 9.12; Ap 5.9); (4) Graça Irresistível (Os eleitos, dentro do tempo, serão chamados por Deus para sair de suas sepulturas espirituais, isto de um modo irresistível, no ato da aplicação da redenção pelo Espírito Santo (regeneração), uma vez que esta redenção eterna foi-lhes conquistada objetivamente por Deus Filho. O apóstolo Paulo diz Rm 8.28-30: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou." (Veja também Jo 6.37, 39, 65; Tt 3.3-6; Ef 2.1-10); (5) Perseverança dos Santos (A salvação do eleito é eterna, uma vez que a mesma graça de Deus que os salvou agirá eficazmente em suas vidas, de maneira que não poderão cair total e finalmente, pois justificação, regeneração e adoção são irreversíveis. É verdadeira a afirmação da Escritura que "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). Veja também Jo 10.28-30: "25 Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. 26 Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28 Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. 29 Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. 30 Eu e o Pai somos um.".

Pois bem, ao analisar o que os reformadores ensinaram fundamentalmente, cujo resumo são os Cinco Pontos do Calvinismo, e constatar a total consistência desses ensinos com as Escrituras, não pude fazer outra opção e o meu pêndulo teológico se inclinou irresistivelmente para o Calvinismo.

No dizer de Paulo Anglada, em Calvinismo - As Antigas Doutrinas da Graça, Editora Os Puritanos, SP, 1996, "As antigas doutrinas da graça são um sistema lógico, coerente e harmonioso. Os assim chamados pontos do calvinismo revelam como é possível a redenção eterna de pessoas pecadoras totalmente depravadas, em conseqüência do pecado original, pelo Deus Triúno: o Pai elege incondicionalmente, o Filho redime objetivamente os eleitos, e o Espírito Santo aplica eficazmente a redenção ao coração daqueles por quem Cristo morreu". Por fim, Anglada diz: "A doutrina calvinista da perseverança dos santos é a conclusão inevitável e bíblica da obra da redenção. O homem, em seu estado natural, está totalmente depravado - isto é, teve suas faculdades espirituais completamente corrompidas, tornando-se inimigo de Deus, morto nos seus delitos e pecados. Deus o Pai movido pelo seu infinito amor escolheu, antes da fundação do mundo, alguns dentre estes para manifestar a sua misericórdia, elegendo-os para ser santos e irrepreensíveis. Vindo a plenitude dos tempos, o Senhor Jesus Se fez carne, cumpriu a lei e morreu na cruz pelos eleitos de Deus, expiando objetivamente a culpa que lhes fora imputada pelo pecado de Adão. Na época própria, aprouve a Deus chamá-los eficazmente, aplicando soberanamente a Sua graça especial para a salvação, independentemente de qualquer mérito da parte deles. Que absurdo imaginar que, depois de tudo isso, o redimido possa apartar-se totalmente da graça de Deus e perder a salvação!"

Assim, como estou convencido de que esses dois sistemas são os dois pólos em que podemos nos situar teologicamente, de modo que não se pode ser lógica, coerente e biblicamente, arminiano e calvinista, ou uma mistura "calviminiana" que contenha uma porcentagem de um e de outro sistema ao mesmo tempo, segue-se que tive de optar entre um e outro. Ou você é arminiano ou você é calvinista, e não uma mistura desses dois sistemas mutuamente exclusivos. Optei, como não poderia deixar de ser, pelo calvinismo, uma vez que ele reflete o sistema ensinado pelos apóstolos e pelo próprio Jesus. Não me envergonho de estar na companhia dos mais nobres santos da história da igreja, como Agostinho, Lutero, Calvino, John Knox, John Bunyan, John Gill, John Owen, George Whitefield, Jonathan Edwards, Spurgeon e outros. Estou em boa companhia, você não acha?

Agora, quando se fala em arminianismo, o sistema da incerteza, da dúvida, do pessimismo, do medo, da insegurança, só quem sofre dos mesmos problemas que seu articulador é que pode abraça-lo. Só pode ser calvinista quem tem fé suficiente para submeter-se à soberania de Deus e pode aceitar o que as Escrituras ensinam claramente, só os eleitos convictos de sua posição é que podem ser calvinistas.

Por séculos, os arminianos conviveram com seu sistema sem leva-lo aos seus extremos lógicos e, por conseguinte, sem revelar de fato a sua verdadeira face. Os cinco pontos que enumeramos são apenas a ponta do iceberg do arminianismo. Você quer saber o que realmente estava escondido no sistema arminiano e que hoje declaradamente está sendo defendido pelos arminianos que ousaram levar o arminianismo aos seus extremos lógicos? Uma frase só: Open theism (Teísmo aberto)! Sabe o que é isto? No próximo artigo eu explico. Esta será a segunda razão porque não sou arminiano. A ponta de seu iceberg já me afastou dele, e o corpo do iceberg, por certo, me manterá definitivamente no outro pólo, no porto seguro do calvinismo, em excelente companhia. Até o próximo número de Pregação Hoje.

2ª Parte

Neste segundo artigo, exponho a segunda razão que me distanciou definitivamente do arminianismo. O fato é que Deus, em todas as épocas, "precisou" de homens que nutriam uma correta perspectiva dele, de si mesmos e de seus semelhantes. Aliás, este é o alvo supremo da vida cristã e a meta da verdadeira espiritualidade. Homens que viam a Deus por uma correta perspectiva teológica, enxergando-o pela ótica da Escritura: um Deus infinito, soberano, onipotente, onisciente, onipresente, que rege o seu mundo criado com sabedoria infinita e que dispõe de meios eficazes de antemão planejados para levar a história ao fim que ele mesmo planejou, agindo sempre segundo o conselho de sua santa vontade.

Homens que se vejam como o grande apóstolo Paulo - e nesta santa fileira podemos colocar Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Matthew Poole, John Owen, John Gill, C. H. Spurgeon, D. M. Lloyd-Jones, Gerstner, R. C. Sproul, etc., e quem sabe eu e você, a história dirá -, que se considerava o mínimo entre os santos, o principal dos pecadores, exemplo daqueles que haveriam de crer em Deus, um verdadeiro referencial para os eleitos de Deus contemporâneos seus e seus sucessores. Que também via os homens por uma correta perspectiva espiritual, pela ótica da doutrina acerca do homem revelada na Escritura.

Para o apóstolo Paulo, os homens eram salvos ou não. Os salvos eram os eleitos de Deus, predestinados para filhos de adoção por Jesus Cristo, chamados eficazmente pelo evangelho, ressuscitados de suas sepulturas espirituais pela ação miraculosa do Deus triúno para tomarem assento nos lugares celestiais em Cristo, marcados para entrar na história humana como ovelhas do Pai e do Filho, resgatados pelo sacrifício expiatório, propiciatório e substitutivo do Filho na cruz do Calvário e regenerados pelo Espírito Santo em sua vocação eficaz e irresistível, e selados pelo mesmo Espírito para o dia da redenção. Sua mensagem era: Deus salva pecadores!

Os outros homens, segundo seu evangelho, eram eleitos ou reprovados, o que o motivava a pregar intensamente o evangelho a fim de ser o instrumento de Deus para a descoberta dos eleitos, que Deus soberanamente ia colocando em seu caminho, dentre os quais podemos citar a vendedora de púrpura Lídia e o carcereiro de Filipos.

Paulo era grato a Deus por ser colaborador de Deus e cooperador de Deus em favor da Senhora Eleita, a Igreja. Era humilde, como não poderia deixar de ser, por ter sido escolhido por Deus para fazer um grande serviço no seu reino, que ele sempre esteve consciente de que não era merecedor. Alegre ele dizia: "Mas Deus me escolheu desde o ventre" e em outro lugar, "Ele nos elegeu antes da fundação do mundo".

Diferentemente desta visão salutar da Escritura, ilustrada com um máximo exemplo, o do apóstolo Paulo, está a visão de mundo arminiana.

Até pouco tempo, o arminianismo, desde a sua concepção em contraposição ao calvinismo, conviveu com suas inconsistências lógicas internas, quando foi definitivamente levado aos seus extremos lógicos [2], através de seus proponentes mais aferrados no cenário evangélico canadense e americano, liderados por Clark Pinnock [3] - e já há representantes tupiniquins [4] do arminianismo levado aos seus extremos nesta terra brasili!-, e chegou a ponto de ver Deus com a imagem inversa daquela que é descrita na Escritura, esvaziando todos os seus atributos e criando um "Deus" finito e impotente (ou deus? ou um ídolo?), que nem ao menos sabe o que poderá acontecer no futuro, tendo em vista que há um ser no universo chamado homem, livre, dotado de um "livre-arbítrio", imprevisível, com ações não causadas e que é uma ameaça ao cumprimento de Suas predições na Escritura, por não permitir que Deus preveja nenhuma de suas ações futuras. Na visão arminiana extremada, que é totalmente humanista e antibíblica, assumindo uma postura quase liberal (no sentido acadêmico e histórico do termo), Deus é rebaixado quase à posição do próprio homem caído, ou talvez um pouco abaixo, e o homem sobe a uma estatura quase do Deus da Bíblia. Esta visão, obviamente, não passa de produto da imaginação do homem caído em seu projeto de autonomismo apóstata, inspirado, como não poderia deixar de ser, pelo arqui-inimigo de Deus, que foi o primeiro a desejar essa autonomia rebelde. O autonomismo apóstata só poderia levar à desconstrução [5] da teologia, como já era previsto. De fato, o arminianismo, que enfatiza exageradamente o autonomismo, é a prova mais completa da depravação total do ser humano!

Quando o arminianismo extremado é assumido como visão de mundo e fornece os pressupostos para a análise da Escritura, o homem passa a ocupar o centro das atenções e Deus sai para segundo ou terceiro plano. Os superpoderes que os homens passam a ter são a evidência disso, pois até mesmo os homens não-regenerados que a Bíblia ensina estar mortos em delitos e pecados passam a não mais ser vistos assim, mas são vistos como capazes de ascender aos céus, se quiserem, e até mesmo sair de lá, caso entrem. Isso tudo nada mais é do que aquela antiga heresia que ficou sendo conhecida na história da igreja como pelagianismo [6] ou o seu alomorfe (outra forma), o semi-pelagianismo. De acordo com a visão arminiana, nem Deus pode deter um homem assim tão poderoso, mas tem de ficar sempre de plantão para poder contornar os problemas que o homem cria no universo, que podem até frustrar os seus planos, e forçosamente Ele tem de ficar costurando a história até ver se ele consegue fazer aquilo que antigamente predisse na Escritura, e talvez "impensadamente", por "não saber" do que o homem era capaz. Na visão da Escritura, todos os problemas que os homens causaram e irão causar, sob insinuação do arqui-inimigo de Deus, são conhecidos exaustivamente por Deus e jamais o pegaram ou o pegarão de surpresa, pois Ele é onisciente e sabe para onde a história está indo e jamais perdeu ou perderá o controle de tudo o que acontece no mundo criado, como supõem os arminianos extremados. Mais ainda, a doutrina bíblica da providência divina ensina-nos que tudo está decretado pelo Deus Todo-Poderoso, de modo que não existe algo que ocorra sem ser produto de seu decreto eterno.

Por outro lado, no arraial evangélico, essa visão arminiana constrói os super-pastores, os verdadeiros todo-poderosos que ameaçam tomar o lugar de Deus, que determinam, decretam, chamam à realidade as coisas que não são, abençoam, profetizam prosperidade e etc. Em suma, fazem coisas que antigamente só o Deus da Bíblia podia fazer. Quem sofre mais nisso tudo são as ovelhas fiéis e sinceras que são manipuladas por líderes com esse tipo de orientação arminiana extremada, que oferecem para elas ao invés de eleição e segurança eterna e absoluta, uma posição de candidatas ao reino dos céus, ameaçando-as por qualquer motivo, até os mais frívolos e banais, de perderem sua salvação. O arminianismo é um terrorismo espiritual pior do que o encabeçado por Osama bin Laden! É com tristeza profunda que eu constato e registro esta realidade.

Ao ler a biografia de Armínio e suas obras completas, desconfio de sua insanidade. Desconfio também da insanidade do sistema "teológico" que seus discípulos criaram, uma monstruosidade humanista resultante do autonomismo apóstata, que solapa a salutar visão da Escritura que, realmente, desde que humildemente abraçada, pode produzir instrumentos realmente poderosos nas mãos de Deus. A proposta teológica arminiana prefigurava embrionariamente a desconstrução da genuína teologia bíblica e, forçosamente, não poderia fazer outra coisa. Muito embora seus defensores hoje digam que não apoiam o desconstrucionismo, na prática, porém, eles estão desconstruindo toda a sã doutrina. Deus já se encontra desconstruído em seus atributos e, ao que tudo indica, a própria Trindade não poderá escapar das propostas insanas dos arminianos extremados.

Em contrapartida, para você recuperar o fôlego, a teologia bíblica genuína já invadiu as vidas de muitos pecadores na história e produziu santos na Igreja do Deus vivo, a ponto de um desses santos, Jonathan Edwards, poder soar o alerta em sua congregação, mostrando vividamente os perigos que correm os "Pecadores nas mãos de um Deus irado". (Com ar de zombaria, de repente, os liberais diriam que isso foi um dos "desatinos" do período pré-iluminista!). Ao que me parece, e também creio que a R. C. Sproul, a teologia arminiana e seu parceiro muito chegado, o liberalismo, refletem nada mais nada menos do que a cena de um "Deus (ou deus) nas mãos de pecadores irados!".

Que Deus nos guarde das idéias perniciosas desses pecadores irados, que estão imergindo muitos cristãos sinceros num verdadeiro buraco negro e a fé cristã num lago de areia movediça. Coisas estranhas estão surgindo por aí afora, como o teísmo libertário, a teologia do processo, a teologia da abertura de Deus (que implica num lógico e total esvaziamento da onisciência de Deus, a partir do qual Deus passa a não conhecer o futuro), a emergência veloz de um neo-gnosticismo gospel e a última novidade - digo última por que eu não sou onisciente como os arminianos extremados, graças a Deus, e não sei o que eles estão aprontando ao redor deste mundo - é que eles já estão trabalhando para esvaziar o inferno [7]. Era só o que faltava. Será que eles, no fundo, não estão é com medo de ir para lá? Claro, pelo sistema arminiano extremado, ninguém pode ter certeza absoluta de salvação e de que não vai parar lá. Então, dizem eles agora, vamos construir um túnel "teológico" para resgatar aquelas pobres almas que supõem os adversários que estejam lá (bem baixinho: os calvinistas!) e comecemos a empreitada de diminuir sua temperatura, pois pode ser que paremos lá, ninguém sabe o futuro, nem Deus nem nós! Para os liberais a tarefa foi fácil, bastando desconstruir o inferno e pronto: problema resolvido!

O arminianismo extremado, querido leitor, é, na realidade, a "teologia" da incerteza, da insegurança e da desesperança: um buraco negro de areia movediça. Fortalece o homem e enfraquece ou quase extingue Deus. É antibíblico desde os seus fundamentos e inconsistente com a Escritura. Saiamos de sua região inóspita correndo, aborrecendo até a roupa manchada de suas nódoas miasmáticas e sigamos em direção aos pastos verdejantes da sã doutrina da Escritura, onde ouvimos a voz doce e suave do Bom Pastor, encontramos garantia de vida eterna, como também paz e segurança absolutas por estarmos seguros nas mãos Daquele de quem ninguém pode arrebatar suas ovelhas, porque Ele é maior do que todos e do que tudo. Nas mãos desse Deus verdadeiro, não nas de uma deidade desconstruída por pecadores irados, você pode ser realmente uma bênção!

Reafirmando os ideais da Reforma:

Sola Scriptura
Sola Gratia
Sola Fide
Solus Christue
Soli Deo Gloria
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Notas:

[1] O Colégio dos Pastores na Obra da Restauração de Tudo tem sua sede na Rua Guaiuba, 231, Acari, Rio de Janeiro. Todas as últimas semanas de cada mês, os evangelistas e pastores se reúnem para Estudos Bíblicos e Teológicos Avançados e aulas de línguas, com o objetivo de manter os líderes na Obra da Restauração de Tudo bem informados sobre as principais tendências teológicas no evangelicalismo contemporâneo e para reciclagem e atualização nas disciplinas de Hermenêutica, Exegese do AT e do NT, Teologia Bíblica, Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Línguas Originais da Bíblia, Lingüística, Inglês e Língua Portuguesa.

[2] Observe que nem todos os arminianos levam o arminianismo aos seus desdobramentos extremos, ficando com a forma mais branda não extremada do mesmo, não trabalhando suas inconsistências internas. Quando o arminianismo começou a resolver suas inconsistências lógicas internas, ele revestiu a forma extremada defendida por Clark Pinnock e seus confrades arminianos, no livro Grace of God and the Will of Man, que apresenta a verdadeira face do arminianismo.

[3] Caso o leitor queira inteirar-se mais profundamente desses assuntos que abordarei de passagem neste artigo, leia os seguintes livros de Clark Pinnock (autor ou organizador), Grace of God and the Will of Man, The Opennes of God, A Wideness in God's Mercy, Most Moved Mover. Antes, eu o aconselho a vacinar-se com as seguintes respostas dadas a esses escritos arminianos extremados: R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna (Editora Cultura Cristã); Paulo Anglada, Calvinismo: As Antigas Doutrinas da Graça (Editora Puritanos); Os Cânones de Dort (Editora Cultura Cristã); Thomas R. Schreiner e Bruce A. Ware, Still Sovereign: Contemporary Perspectives on Election, Foreknowledge, and Grace; Bruce A. Ware, God's Lesser Glory: The Diminished God of Open Theism. Todas essas obras podem ser adquiridas no site www.amazon.com.

[4] Ouça os 2 CD's de Ricardo Gondim sobre Predestinação e o leitor, após ter lido as obras de Clarck Pinnock citadas na nota anterior, verá que Gondim defende os pontos de vista do "open theism" (teísmo aberto, ou teísmo libertário, ou teologia da abertura de Deus), ainda que de um modo velado e disfarçado, pois não cita as fontes sobre as quais se apóia pesadamente. Contudo, é fácil perceber que os pressupostos nada ortodoxos de Gondim nesses CD's derivam dos teístas libertários, com os quais ele, como arminiano, se simpatiza, além de ser um passo à frente nos rasgos de liberalismo que demonstrou em É Proibido, o que a Bíblia permite e a Igreja proíbe. Mas o leitor deve seguir o seguinte conselho: ouça os CD's de Gondim assentado e bem apoiado, pois neles Gondim consegue a façanha de reverter a história, qualificando como ortodoxos Pelágio, Armínio e os arminianos em geral, até os do teísmo libertário, dos quais ele é um dos representantes no Brasil, e condenando e qualificando como hereges Agostinho, Calvino e todos os reformados que defendem, como diz ele, o predestinismo. Está pasmado? Vá conferir e depois me responda: Será Gondim o alter-ego ("outro eu") de Pinnock ou de Richard Rice no Brasil? O tempo nos dirá. Penso que quem tem visto com tão bons olhos a teologia de Charles Finney, como é o caso de Gondim, só pode usar o Soli Deo Gloria dos reformadores no final de seus artigos como um disfarce. Cuidado, leitor!

[5] Segundo Ricardo Quadros Gouvêa em Fides Reformata 2/1, p. 64: "O desconstrucionismo é uma prática de leitura baseada em uma hermenêutica de suspeita em que o texto é entendido a partir da sua auto-desintegração teórica. A desconstrução implica na subversão, na descentralização de qualquer origem perceptível de discursos autoritativos associados a 'metanarrativas', isto é, macroestruturas teóricas como, por exemplo, sistemas filosóficos e teológicos".

[6] Pelagianismo - a essência do ensino de Pelágio era sua idéia errônea de que o arbítrio, mesmo no estado caído dos homens, era essencialmente livre da corrupção do pecado e possuía a capacidade em si mesmo de escolher e realizar boas obras, conforme R. K. Mc Gregor Wright, A Soberania Banida, p.23. Também, segundo define este mesmo autor à p. 256, "o semipelagianismo foi uma teologia de acomodação surgida no séc. 5, que ensinava que a graça de Deus não era necessária para o livre-arbítrio começar a agir de modo correto."

[7] PINNOCK, Clark H., A Wideness in God's Mercy.

Sobre o autor: é ministro na Obra da Restauração de Tudo e pastoreia a Igreja em Engenheiro Pedreira, no Rio de Janeiro. É bacharel e licenciado em matemática, especialista em línguas originais da Bíblia (hebraico, aramaico e grego), doutor em divindade pela Faculdade de Ciências Filosóficas e Teológicas do Rio de Janeiro, bacharelando em Português-Hebraico pela UFRJ, tradutor de inglês, hebraico e espanhol e faz mestrado em Antigo Testamento no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo. Leciona Teologia Bíblica, Teologia Sistemática, Teologia Contemporânea, Hermenêutica, Exegese, Línguas Originais da Bíblia, Língua Portuguesa e Inglês no Colégio dos Pastores na Obra da Restauração de Tudo, no Rio de Janeiro. É 2o. vice-presidente da Academia Evangélica de Letras do Grande Rio.

Fonte: Monergismo 
Via: Presbiterianos Calvinistas
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Fé e Ciência: amigos ou inimigos?

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Deus, o Criador

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Por Stephen J. Wellum


É difícil superestimar a importância da doutrina da criação.  Nas Escrituras, Deus se identifica, primeiramente, como o soberano Criador e, por isso, o Senhor do universo. Muitos cristãos são naturalmente interessados na doutrina da salvação, mas, sem o Deus de criação e providência, não há cristianismo como a Bíblia o descreve. Na verdade, as bases teológicas para a doutrina da salvação estão arraigadas no fato de que o Deus que existe - o Senhor pessoal, soberano e trino que existe desde toda a eternidade - em um momento, falou e trouxe este universo à existência, a partir do nada. E, como tal, tudo e todos são completamente dependentes dele e responsáveis a ele.

A doutrina da criação, juntamente com a providência, deve ser vista como o resultado e a execução do plano e do decreto eterno de Deus. A Escritura mostra com clareza que o plano de Deus é o seu plano eterno pelo qual, antes da criação do mundo, ele preordenou fazer acontecer todas as coisas que chegam a acontecer (ver, por exemplo, Sl 139.16; Is 14.24-27; 37.26; 46.10-11; At 2.23; 4.27-28; 17.26; Rm 8.28-29; 9.1-33; Gl 4.4-5; Ef 1.4, 11-12; 2.10). A criação é a realização desse plano eterno no que diz respeito à origem do universo e de tudo que existe, incluindo os seres angelicais e humanos. A providência, por outro lado, é a realização do eterno plano de Deus, no tempo, em relação ao mundo que ele criou, em termos de sua preservação e governo de todas as coisas para cumprirem os propósitos a que foram designadas, para a sua própria glória (ver, por exemplo, Sl 103.19; 136.25; 145.15; Dn 4.34-35; At 17.28; Rm 11.36; Ef 1.11; Cl 1.17; Hb 1.3). Deus, ao identificar-se a si mesmo como o Deus soberano de criação e providência, deixa bastante claro que somente ele é Deus e que nenhum outro é Deus, que ele não compartilhará sua glória com nenhuma coisa criada e que merece toda a nossa adoração, louvor e obediência (ver, por exemplo, Is 40-48; Jr 10.1-16; Jo 17.3; 1 Tm 1.17).

Além disso, quando afirmamos que Deus é o Criador, estamos enfatizando, pelo menos, três verdades. Primeira, estamos ressaltando o fato de que Deus criou o universo a partir do nada (creatio ex nihilo). As Escrituras começam com a afirmação de que, "no princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gn 1.1). Antes de o universo ser criado, nada existia, exceto o Deus trino. Entretanto, em um momento, o Deus eterno falou e trouxe este universo de espaço e tempo à existência, "a partir do nada", ou seja, sem o uso de quaisquer materiais previamente existentes. É por causa deste fato que a Escritura e a teologia cristã afirmam que a matéria não é eterna, mas apenas uma realidade criada. Em outras palavras, somente Deus é o Deus autoexistente, e tudo mais é dependente dele. Segunda, estamos afirmando que Deus criou o universo espontaneamente. A Escritura não diz, em nenhuma de suas passagens, que Deus teve necessidade de criar todas as coisas motivado por algum tipo de necessidade que havia fora ou dentro dele mesmo. Em vez disso, ele, como o Deus trino, que é autoexistente e autossuficiente, decidiu espontaneamente criar todas as coisas. Neste sentido importante, Deus não teve de criar o universo; pelo contrário, devido à sua soberana e livre escolha e para seu próprio prazer, Deus se propôs a criar. Essa é a razão por que a Escritura afirma que Deus não precisa do mundo, e sim que o mundo e tudo que há nele são total e completamente dependentes de Deus. Terceira, dizer que Deus é o Criador significa que a criação é um ato do Deus trino. A criação é não somente a obra do Pai (Gn 1.1; Sl 19.1-2; 33.6, 9; Is 40.28; At 17.24-25; Ap 4.11), ela é também a obra do Filho (Jo 1.1-3; 1 Co 8.6: Cl 1.15-17; Hb 1.2) e a atividade do Espírito Santo (Gn 1.2; Jó 33.4; Sl 104.30). E, como um ato do Deus trino, a razão para a existência do universo é, em última análise, a glória de Deus.

Assim como é importante afirmar o que queremos dizer positivamente com a doutrina da criação, também é necessário enfatizar o que não queremos dizer. A definição bíblica da criação é contrária tanto às opiniões antigas quanto às contemporâneas sobre as origens. Em específico, a Bíblia rejeita os seguintes pontos de vista falsos referentes à origem do universo e dos seres humanos.

• Primeiramente, a Bíblia rejeita todos os pontos de vista naturalistas e evolucionistas quanto às origens. Em seu âmago, o naturalismo tenta ver as origens apenas à luz de processos naturalistas que envolvem a evolução da matéria, por acaso, durante um período de tempo. É por meio desta ideia que as pessoas tentam explicar toda a complexidade e ordem do universo, incluindo os seres humanos. Neste ponto de vista, a matéria é entendida como eterna ou, pelo menos, geradora de si mesma, independente da soberana vontade de Deus. A Escritura rejeita francamente esta ideia.

• Em segundo, a Escritura rejeita todos os pontos de vista panteístas sobre a criação. Neste ponto de vista, não há uma distinção crucial entre o Criador e a criação; Deus e o mundo são, essencialmente, um. Além disso, o mundo é frequentemente explicado como uma emanação ou efusão necessária de toda a realidade - o Único. A Escritura deixa claro que o Deus eterno e transcendente não será reduzido à sua ordem criada e que a distinção entre a criatura e o Criador, negada pelo panteísmo, é fundamental para um ponto de vista cristão sobre o mundo.

• Em terceiro, a Escritura rejeita todos os entendimentos dualistas quanto ao universo. No dualismo, há duas substâncias ou princípios distintos e coeternos dos quais tudo mais é derivado e que são frequentemente vistos como duas forças antagonistas - o bem e o mal. Outra vez, a Escritura mostra com clareza que somente Deus é Deus, que ele não tem rivais e não compartilhará a sua glória com ninguém.

O que cada um destes três pontos de vista falsos têm em comum é o fato de que tentam negar o glorioso Deus da criação. O apóstolo Paulo refletiu sobre esta situação infeliz em Romanos 1.8-32, argumentando que a existência do Deus da criação é manifestada claramente para todas as pessoas, mas, devido à rebeldia do coração humano, a verdade de Deus tem sido voluntariamente suprimida e distorcida por nós. Em vez de glorificarmos a Deus, que nos criou, e dar-lhe graças, temos mudado a glória de Deus pelas realidades criadas. O resultado final é, correta e tristemente, a ira justa, santa e perfeita de Deus que nos sobrevém devido ao nosso pecado e depravação. Nesta situação, a única esperança para nós é a soberania de Deus em graça e redenção.

A Importância Prática e Teológica da Doutrina da Criação

Qual é a importância prática e teológica da doutrina da criação? Há muitos pontos que poderiam ser desenvolvidos, mas pelo menos três reflexões são apropriadas.

Primeira, a doutrina da criação identifica para nós o nosso Deus glorioso. A criação nos lembra que o Deus que criou não é uma deidade pequena e insignificante. Não, ele é o Senhor sobre tudo, a fonte de tudo que existe e aquele que é o único soberano. Além disso, a criação nos lembra que ele não é uma deidade distante. Antes, Deus é o "Senhor da aliança", aquele que é o Deus vivo e ativo, envolvido intimamente em e com a sua criação, sustentando, mantendo e governando constantemente a sua criação e entrando num relacionamento de aliança com seu povo. O nosso Deus é verdadeiramente grande, cheio de majestade, glória, sabedoria, força e poder, devido ao fato de que ele é o Deus criador.

Segunda, a doutrina da criação nos diz algo sobre nós mesmos, como criaturas de Deus. É precisamente porque somos criaturas de Deus, feitos à sua imagem, que os seres humanos desfrutam de um papel singular na criação. Ironicamente, quando as pessoas tentam viver à parte de Deus e negam seu Criador tanto em sua vida como em seu pensamento, elas descobrem que não podem entender a si mesmas corretamente. Assim, acabam vendo a si mesmas como menos do que são, ou seja, como animais ou máquinas humanas, que têm pouca ou nenhuma importância e valor. Mas o ponto de vista cristão sobre os seres humanos, vinculado à doutrina da criação, nos diz que Deus nos fez com dignidade e valor e que isto, em última análise, é a única base para um entendimento apropriado dos seres humanos. Além disso, o fato de que fomos criados por Deus também serve como fundamento para toda a ética, para a responsabilidade humana e para um entendimento correto de nosso lugar, em sujeição a Deus, na sua criação. Mas, outra vez, devido à nossa rejeição intencional de nosso Senhor e Criador, temos nos posicionado contra ele e, assim, somos necessitados de redenção, uma redenção que somente Deus pode realizar e consumar soberanamente.

Terceira, a doutrina da criação nos diz algo sobre o nosso mundo em pelo menos duas áreas importantes. A primeira área está relacionada a como devemos ver este mundo em termos de valores. Visto que Deus criou este mundo, é importante enfatizar que ele tem valor. Isto é evidenciado em Gênesis 1 pelo julgamento de valor "era bom" (vv. 4, 10, 12, 18, 21, 25), da parte de Deus, e pela sua avaliação conclusiva "era muito bom" (v. 31). Neste contexto, "bom" indica que o mundo era não somente o que Deus planejara e tencionara, mas também que ele tinha grande valor. Deus falou "Sim!" para o que havia criado. Uma implicação importante disto para a teologia cristã é não elevarmos, em nosso pensamento e em nossa prática, o "espiritual" acima do "físico". Isto foi um problema no passado e produziu vários entendimentos errados na igreja. Ao criar este mundo, Deus valoriza tanto a realidade física como a espiritual. Infelizmente, como resultado da Queda, ambas estão agora corrompidas. Mas, na redenção, Deus fez uma obra em Cristo que salva não somente a nossa alma, mas também o nosso corpo. Por isso, há nas Escrituras a ênfase sobre a ressurreição de nosso corpo, para vivermos em novos céus e uma nova terra, na presença de Deus, para sempre (ver 1 Co 15; Ap 21-22).

A segunda área está relacionada ao entendimento cristão da relação e envolvimento contínuo de Deus com seu universo e das implicações disto para um ponto de vista cristão quanto à ciência. É claro que muito poderia ser dito neste assunto. Entretanto, basta dizer que, uma vez que a ordem criada é o resultado da decisão espontânea do Senhor soberano e pessoal, ela é também planejada, ordenada, estruturada e governada por leis. Mas, em sua estrutura, a criação nunca deve ser vista meramente em termos mecânicos. A teologia cristã rejeita qualquer noção ou de um universo "aberto" ou de um universo "fechado". Um universo "aberto" é o ponto de vista representado pelo animismo. O animismo não entende o universo como que estando sob o controle soberano de Deus, mas, em vez disso, ele é controlado por forças e espíritos caprichosos. Um ponto de vista de universo "fechado" é aquele representado pela ciência moderna. Neste ponto de vista, o universo é concebido como que estando unicamente sob o controle de leis mecânicas, independentes da vontade e do plano de Deus; e, por isso, este ponto de vista concebe aquilo que é miraculoso como impossível. As Escrituras, porém, rejeitam esses dois pontos de vista. Em vez disso, as Escrituras nos apresentam um universo "controlado". O ponto de vista bíblico vê este mundo como ordeiro e previsível devido à sua relação com o Deus de criação e providencia. Mas também afirma que este mundo não é independente de Deus e que, se Deus quiser, pode agir neste mundo e realizar seus planos e propósitos de maneiras miraculosas e extraordinárias. Por conseguinte, o ponto de vista cristão sobre o mundo, unido à nossa doutrina de criação, nos permite ver o mundo em um padrão ordeiro e previsível, possibilitando assim a ciência. Enquanto o problema de milagres não é realmente um problema devido ao fato de que o Deus de criação é também o Deus de providência que sustenta o mundo continuamente e age nele.

Com base nesta breve consideração, não é difícil perceber que a doutrina da criação e a afirmação de que Deus é o Criador têm importância crucial para a teologia cristã. Como já disse, sem o Deus de criação e providência não há cristianismo como a Bíblia o descreve. Todas as outras doutrinas, incluindo a doutrina da salvação, estão arraigadas e alicerçadas no fato de que Deus é o criador soberano e Senhor de seu universo. Na verdade, a doutrina da criação é também fundamental à teologia cristã em outro sentido - ela é o começo da história que leva à redenção. Ao insistir no fato de que a criação original de Deus era boa, a Bíblia prepara o cenário para o que sai errado - o pecado, a morte, a destruição - e para o desenvolvimento da linha histórica da Escritura que culmina na vinda de um Redentor para corrigir as coisas. Em última análise, todo o drama da história de redenção prenuncia a restauração - a transformação numa glória ainda maior (Rm 8.1-27) - daquela bondade do universo que se tornou corrompido e chega por fim ao alvorecer de um novo céu e uma nova terra (Ap 21-22), o lar da justiça (2 Pe 3.13).

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- Sobre o autor: Stephen J. Wellum é professor de Teologia Cristã desde 1999 no Southern Baptist Theological Seminary e editor do Southern Baptist Journal of Theology, Dr. Wellum já lecionou teologia na Associated Canadian Theological Schools e Northwest Baptist Theological College and Seminary. Ele também serviu como pastor em Dakota do Sul e Kentucky, bem como palestrante em várias conferências nos EUA, Canadá e Reino Unido. Dr. Wellum é autor do livro  Kingdom through covenant e já escreveu numerosos artigos científicos e resenhas de livros para várias publicações.

Fonte: Editora Fiel
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A fiel provisão de Deus

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Por  Hudson Taylor


Conhecendo Deus através das dificuldades

Nosso Deus, não raramente, permite que seu povo passe por dificuldades com o propósito de levá-los a conhecê-lo de uma forma que seria impossível sem aquela experiência. Em seguida, ele se lhes revela como “socorro bem presente na angústia” e traz verdadeira alegria aos corações a cada nova manifestação da fidelidade do Pai. Mesmo conseguindo enxergar uma parte tão pequena dos doces frutos da tribulação, já podemos sentir muitas vezes que não nos privaríamos deles por nada neste mundo. Quanto mais haveremos de bendizer e engrandecer seu Nome quando todas as coisas invisíveis e imperceptíveis forem trazidas à luz!

No outono de 1857, apenas um ano depois de me estabelecer em Ningpo, na China, um pequeno incidente ocorreu que contribuiu muito para fortalecer nossa fé na bondade e no atencioso e vigilante cuidado de Deus para conosco.

Um irmão em Cristo, o pastor John Quarterman, da Missão Presbiteriana do Norte, foi acometido por um caso virulento de varíola, e foi meu doloroso privilégio cuidar dele durante o sofrimento da sua doença até seu funesto final. Quando tudo acabou, era necessário que eu descartasse todas as roupas que havia usado durante o período de contato com o paciente, para evitar a transmissão da infecção a outros. Contudo, sem o dinheiro necessário para comprar outras no lugar daquelas, meu único recurso era a oração.

O Senhor me respondeu por meio da chegada de uma caixa, há muito extraviada, contendo roupas enviadas de Swatow (em outra região da China), no verão do ano anterior. A chegada desta encomenda naquele exato momento tanto foi apropriada como surpreendente, e causou uma doce percepção da provisão soberana do Pai.

Um Canal de Ajuda a Outros

Muitos parecem achar que sou muito pobre. Isto realmente é verdade, num sentido, mas dou graças a Deus porque sou “pobre, mas enriquecendo a muitos; nada tendo, mas possuindo tudo” (2 Co 6.10). E o meu Deus há de suprir cada uma das minhas necessidades, a ele seja toda a glória! Eu não estaria, mesmo se pudesse escolher, em situação diferente daquela em que estou – totalmente dependente do Senhor e usado como canal de ajuda a outros.

No sábado passado, chegou o correio normal da nossa terra natal. Naquele dia, como sempre, havíamos oferecido um café da manhã aos pobres e necessitados, que compareceram num total de setenta pessoas. Às vezes, este número não chega a 40, outras vezes, passa de 80. Oferecemos todos os dias, com exceção do dia do Senhor, pois então não conseguiríamos atender às pessoas e ainda cumprir todas as outras obrigações antes do culto.

Bem, naquele sábado de manhã, pagamos todas as nossas despesas e fizemos a compra para o dia seguinte, o que nos deixou sem um dólar no bolso, nem no meu, nem no bolso do meu companheiro, o Sr. Jones. Como o Senhor haveria de prover para a segunda-feira, não imaginávamos, mas acima da nossa lareira tínhamos pendurado dois pergaminhos escritos em chinês: Ebenézer: Até aqui nos ajudou o Senhor; e: Jeová-Jiré: o Senhor proverá. Assim, permanecemos firmes na confiança e Deus nos guardou de duvidar dele, por um instante sequer.

Naquele mesmo dia chegou uma carta, uma semana antes do que o tempo normal, com um valor de duzentos e quatorze dólares. Agradecemos a Deus e tomamos coragem. O cheque foi levado a um comerciante e, apesar de geralmente levar vários dias para se fazer o câmbio, desta vez ele disse: “Mande buscar na segunda”.

Apesar dele não ter tido condições ainda de comprar todo o valor do cheque, recebemos um crédito de setenta dólares na nossa conta e, assim, tudo deu certo. Como é maravilhoso viver assim, dependendo diretamente do Senhor, que nunca nos falhou!

Na segunda-feira, pudemos dar o café da manhã aos pobres, como era nosso costume, pois não lhes tínhamos avisado para não virem, estando confiantes que era obra do Senhor e que ele proveria. Não pudemos evitar que nossos olhos se enchessem de lágrimas de gratidão, quando vimos o Senhor suprir, não só as nossas necessidades, mas também aquelas da viúva, do órfão, do cego, do coxo, do abandonado e do destituído, através da abundância daquele que alimenta os corvos.

"Engrandecei o Senhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome... Oh! provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia. Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem. Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém aos que buscam o Senhor bem nenhum lhes faltará" (Sl 34.3,8-10) – e se não é bom, por que o desejaríamos?

Outra Crise

Mas até duzentos dólares não duram para sempre e, lá pelo Ano Novo, os suprimentos estavam acabando outra vez. Finalmente, no dia 6 de janeiro, 1858, só uma moeda restou, a vigésima parte de um centavo, para mim e para o Sr. Jones juntos. Embora provados, olhamos mais uma vez para Deus, para que ele manifestasse seu gracioso cuidado. Encontramos suficiente provisão em casa para prover um magro café da manhã, depois do qual não tínhamos mais nada para o resto do dia e nem dinheiro para comprar alimento algum. Só podíamos recorrer àquele que podia suprir todas nossas necessidades através da petição: “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje”.

Depois de oração e deliberação, pensamos que talvez devêssemos dispor de alguma coisa que possuíamos, a fim de suprir nossas necessidades mais imediatas. Porém, examinando tudo, achamos pouca coisa supérflua ou desnecessária e menos ainda aquilo que os chineses teriam probabilidade de adquirir prontamente. Teríamos direito a crédito, se assim quiséssemos nos valer dele, mas o achávamos contrário aos princípios da Palavra, como também incoerente com a posição em que estávamos.

Tínhamos, de fato, um item que os chineses poderiam ter comprado facilmente: um fogão de ferro. Entretanto, ficamos muito tristes diante da possibilidade de ficar sem ele.

Finalmente, decidimos oferecê-lo e saímos para falar com o fundidor. Depois de andar uma boa distância, chegamos ao rio, que pretendíamos atravessar por meio de uma ponte flutuante de barcos. O Senhor, porém, havia fechado nosso caminho. Na noite anterior, uma tempestade levou a ponte embora e o único jeito de atravessar, agora, era através de uma balsa, que custava duas moedas por pessoa. Como só tínhamos uma moeda, nosso caminho era claramente voltar e esperar a própria intervenção de Deus em nosso favor.

Ao chegar em casa, descobrimos que a Sra. Jones havia saído com as crianças para almoçar na casa de um amigo, um convite feito alguns dias antes. O Sr. Jones, embora convidado também, se recusou agora a ir e deixar-me em jejum sozinho. Então, fizemos mais uma busca cuidadosa em todos os armários; embora nada houvesse para comer, encontramos um pequeno pacote de chocolate em pó, que, dissolvido em água quente, ajudou a nos reavivar um pouco.

Em seguida, clamamos novamente a Deus na nossa angústia, e o Senhor ouviu e nos salvou de todas as nossas tribulações. Pois enquanto ainda estávamos de joelhos, uma carta chegou da Inglaterra contendo uma oferta.

Confiança Abundantemente Recompensada

Esta provisão oportuna não só supriu a necessidade urgente e imediata daquele dia, mas também nos deu confiança para ir em frente com o meu casamento, que estava marcado para duas semanas depois desta ocasião, na confiança segura de que o Deus a quem pertencíamos não nos deixaria envergonhados. E esta expectativa não foi desapontada, pois ainda que nossa fé fosse muitas vezes exercitada, por vezes severamente, nos anos posteriores, ele sempre se provou fiel às promessas e nunca permitiu que nos faltasse bem algum.

Nunca, talvez, existiu uma união que cumprisse mais plenamente a bendita verdade: “O que acha uma esposa acha o bem, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18.22). Minha querida esposa não foi apenas uma preciosa dádiva para mim; Deus a usou grandemente durante os doze significativos anos que lhe deu para servir numerosas pessoas neste país para onde nos enviou.

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Fonte: Jornal Arauto, ano 22, nº4
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