Pedro, a pedra e os católicos

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Por - David K. Lowery

Talvez o que é dito sobre Pedro, após sua confissão de Jesus como Cristo (16.16), seja instrutivo para responder a essa questão. Jesus, após uma explica­ção da capacitação divina por trás da capacidade de Pedro de fazer essa confissão (v. 17), faz duas declarações a respeito desse apóstolo. Jesus, em um jogo com o nome de Pedro em que usa a palavra grega para pedra (petra), diz: “ [...] Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v. 18).

Há pouco debate em relação a essa última afirmação ser uma palavra de garantia de que a igreja durará até o retorno de Jesus, mesmo em face da oposição de Satanás. Mas qual é o sentido da primeira parte da declaração? Jesus dizia, aqui, que Pedro seria a fundação da igreja primitiva? Esse texto (associado ao versículo seguinte) é usado pelos intérpretes ca­tólicos romanos para sustentar a visão de que Pedro foi o primeiro papa. Um corpo de interpretação protestante, um contra-argumento à interpretação dos católicos romanos, desenvolveu o argumento de que a “pedra” a que Jesus se refere não é Pedro, mas, antes, a confissão deste de que Jesus é o Cristo. Não há nada inerentemente improvável nessa segunda proposta e pode-se montar um bom caso para essa interpretação.

Todavia, a leitura mais natural do texto é entender que o jogo de palavras aponta para Pedro como a pedra. Mas em que sentido ele é a fundação sobre a qual a Igreja é edificada? A resposta a essa pergunta exige o exame do versículo seguinte, a declaração adicional de Jesus a respeito de Pedro: “E eu te darei as chaves do Reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (16.19).

A segunda parte dessa declaração (o ligar e o desligar) aparece, de novo, em 18.18, em relação aos discípulos em geral. Isso pode indicar que, aqui, Pedro funciona como o porta-voz ou representante dos discípulos. Se esse for o caso, ele não seria o único beneficiário dessa bênção, mas compartilharia o papel com os outros discípulos. Todavia, as chaves dos céus são dadas a Pedro. Qual é a relevância das cha­ves? Elas abrem e fecham portas (cf. Lc 11.52). Mateus fornece pouca indicação de como Pedro deve exercer essa autoridade. O livro de Atos, que dá atenção ao desenvolvimento da Igreja Primitiva, registra o papel de Pedro de proclamar o evangelho tanto para judeus como para gentios. Sob essa luz, torna-se claro o papel dado a Pedro por Jesus.

No dia de Pentecostes, Pedro pregou o evangelho para os judeus, e três mil creram (At 2). No nascimento da Igreja, Pedro atuou como o primeiro “porteiro”. Quando ele proclamou o evangelho que “em nome de Jesus Cristo [vocês podem encontrar] perdão dos pecados” (2.38), muitos creram e foram

batizados. Por meio do ministério de Pedro, abriu-se a porta para muitos judeus que, pela fé em Cristo, foram acrescentados à Igreja. Pedro também foi o primeiro porteiro para os gentios (At 10). Pedro, con­vidado por Cornélio a ir a sua casa e preparado por Deus para fazer isso, foi. Lá, Pedro prega o evangelho, e muitos crêem e são trazidos para o Reino dos céus. Em ambos os casos, foi Pedro quem iniciou essa nova fase de proclamação do evangelho e abriu a porta para judeus e gentios.

Nesse âmbito, Pedro atuou como a pedra sobre a qual a Igreja foi edificada. Ele proclamou o evangelho, com a autoridade inerente à mensagem dada a ele, e o perdão dos pecados para todos que crerem — primeiro para os judeus, mas também para os gentios. Nesse sentido, os pecados que ele proclamou des­ligados pela fé em Cristo foram desligados. Para aqueles que se recusaram a crer, os pecados que os prendiam permaneceram (cf. At 2.40). Dessa forma, Pedro era o porta-voz de Deus para judeus e gentios, papel para o qual foi designado por Jesus mesmo.

Pedro foi o único a desempenhar esse papel? Sim, no sentido de que ele foi o primeiro, mas outros também proclamaram o evangelho. Paulo, por exemplo, tam­bém pregou o evangelho. Ele também abriu a porta da fé para judeus e gentios (por exemplo, At 14.1). Assim, a fundação da Igreja não foi lançada apenas por Pedro. Nesse sentido, as palavras de Paulo para os efésios, em que ele descreve a Igreja como edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas” (Ef 2.20), são relevantes. Pedro, de fato, foi o primeiro orador da Igreja a pregar para judeus e gentios, mas não foi o último. Nem sua autoridade era única. Outros podiam proclamar com autoridade que aqueles que criam no Evangelho podiam ter certeza de que seus pecados eram perdoados e afirmar com igual certeza que os que rejeitavam a mensagem do evangelho faziam isso para seu próprio risco e permaneceriam presos a seu pecado (cf. At 13.38-41).

Todavia, nada pode mudar o fato de que Pedro foi o primeiro porteiro do Reino para ju­deus e gentios. É esse papel que Mateus descreve nessas palavras de Jesus sobre Pedro, e este se tornou o pioneiro para muitos que seguiram seu exemplo.

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Extraído de: Teologia do Novo Testamento - Editor Roy B. Zuck - CPAD 1ª Edição, 2008. pp. 55-57. Teologia de Mateus por David K. Lowery

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