A Graça in(comum) e algumas questões

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 Por Jofre Garcia 

A rotulada Graça Comum não pode ser usada como um mecanismo regulador de aceitação para adoração na Igreja (falo Igreja e não denominação) de qualquer expressão artística, produzida fora do que nos convém conceituar como “cristã”.

Também, os que são alvos da Incomum Graça ou Graça Especial, não podem se valer da misericórdia de Deus como um recurso para a demonização de tudo que se faz debaixo do sol, e que não se enquadra na definição “evangélica”.

É interessante que a discussão em torno da Graça Comum virou um entrincheiramento para posições antagônicas e que pouca reflexão, de fato, tem sido produzida, apenas o endurecimento das “teorias”.

Teorias? Sim!

Tendo em vista que levamos as discussões e os posicionamentos apenas para o fator das artes, e qualquer expositor da Palavra pode se ver “em maus lençóis” caso lhe convenha a citação de algum trecho literário, poético, musical, etc, que não seja de alguém que carrega a alcunha de evangélico. A questão fica apenas na arte, ninguém será questionado se utilizar dados científicos, tecnológicos, econômicos ou de qualquer outra natureza em seus sermões, até parece que a questão controversa da Graça Comum se dá em torno da malfadada capacidade humana de expressar sentimentos, pensamentos, emoções em forma artística.

Então…

Não se deveriam construir templos. Pois se usam métodos, cálculos e invenções que foram criados por “mundanos” que não visavam a glória de Deus, mas, apenas ganhar dinheiro. Não se deveriam usar o sistema bancário, e nem vou completar o comentário. Não se deveriam fazer uso dos automóveis, dos sistemas de som, dos métodos administrativos largamente usados nas igrejas. Não se deveria usar a bandeira Brasileira, pois esta carrega em si uma ostentação do ideal positivista de Augusto Comte: “Ordem e Progresso”. Não se poderiam cantar o Hino Nacional Brasileiro, nem a popularíssima “Parabéns pra você”. Ou o que é mais grave, não se poderia usar nem mesmo a seqüência das notas musicais, as quais são atribuídas ao monge católico Guido d’Arezzo, quando a Reforma Protestante ainda dormia o sono dos justos.

Mas, acontece algo interessante: nesses casos há um subterfúgio balizador: 

“tal objeto, agora, foi consagrado para ser usado para a glória do Senhor”.

Quem consagra?

Deus?

Poupem os meus cabelos brancos.

Todo talento, todo dom vem do Pai das Luzes.

Cansei de ver os ditos pregadores expositivos citarem mais os teólogos e suas posições, que na grande maioria dos casos basta-se a sua geração, do que citar os textos bíblicos. E o que vamos fazer para entender a mensagem do Novo Testamento se relegarmos ao limbo todo caldeirão cultural em que ele está inserido?

O que João combate ao escrever a sua narrativa do Evangelho e nas suas Cartas?

O que vamos dizer de Paulo, homem extremamente culto e que faz uso dos ganchos culturais existentes para apresentar o Evangelho de Cristo?

Durante o ministério de Cristo e na instalação da Igreja com o Livro de Atos e as diversas Cartas, não encontramos cerceamento da arte ou cultura em nenhum lugar, existe a premissa de que tudo seja para a glória de Deus.

E para a glória de Deus deve ser usado.

O que é a gloria de Deus?

Que glória possui o homem que dela Deus necessite? Ele é o Senhor da Glória!

Tudo o que fizermos deve ser voltado para o louvor do Nome do Senhor reconhecendo em cada coisa a sua glória. Ora, somente os que são alvo da Graça Especial é que possui tal entendimento, mas isso não indignifica quem reconhece no homem comum o talento artístico que o Senhor concedeu por sua graça. Ele, o artista, não usou esse dom com o devido propósito, mas, se algum pregador, escritor, teólogo usar tal citação, deve faze com tal propósito.

Alguns pontos nos Is:

Não se pode creditar o cristianismo exclusivamente ao simplismo. Ele não é uma revelação específica para os incultos, toda gente foi alvejada pela semeadura da Palavra, os mais simples responderam com uma maior aceitação, mas, cuidado!

O Evangelho não é uma apologia a estagnação, a acomodação nem a deseducação de um povo, pois quem tem fé caminha, progride, aprende, não para, segue sempre.
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Muitos intelectuais se somaram ao cristianismo e contribuíram para que o próprio Novo Testamento pudesse ser construído literariamente (sabendo que Deus conduziu todo processo). Mas, cuidado! Tornar a mensagem cristã recheada de academismo é um pecado grotesco e que tem sido despejado do púlpito de muitas Igrejas.

Perceber, compreender, admirar a arte em nossa volta, mesmo que não seja “evangélica” é um dever nosso. Paulo asseverou: “Examinais todas as coisas, retendes o que é bom”. O que não se pode e criar uma atmosfera idolátrica em torno dos artistas em que reconhecemos um talento nato e admirável.

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria. Portanto, com sabedoria, temor, amor e prudência, devemos construir a teologia de nossa geração, usando com cuidado citações, quando convier e dentro do contexto do louvo ao Nome do Senhor, reconhecendo a Sua glória.

Em fim, vivamos como novas criaturas em Cristo, mesmo num mundo pavoroso que jaz no maligno, mas não caminhemos em paranóia como se Deus não permitisse ao homem comum, por sua graça comum, construir coisas belas. Façamos a Palavra habitar em nós ricamente e, assim, sermos capazes de discernir o mundo a nossa volta.

Por que glorificar (servir) a Deus pode ser fazer sapatos e vendê-los a um preço justo, como disse Lutero. 
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Jofre é teólogo, colunista do Púlpito Cristão e escreve para o Auxílio do Alto.
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