Confrontando o Paganismo

.
Por: R.C. Sproul

Neemias servia a um governo pagão como um crente em Deus. Ele era humilde e respeitoso para com o rei, mas o devido temor ao seu rei não o impediu de agir para salvar o seu povo. Ele orou a Deus e fez um pedido ao rei, pedindo permissão para ir à Jerusalém e reconstruí-la. Ele também pediu cartas de salvo conduto que ele poderia apresentar aos vários governadores, e até concessão de materiais de construção.

Nem todos os governadores pagãos estavam otimistas com o Neemias e seus planos. Na verdade, alguns estavam ferozmente resistentes a eles. Quando Sambalá, o horonita e Tobias, o amonita, souberam dos seus esforços, eles ficaram profundamente perturbados por alguém que tivesse vindo procurar o bem dos filhos de Israel.

Quando Neemias começou a tarefa de reconstrução, seus inimigos riram dele e o desprezaram. Neemias, porém, não deixou que seus críticos determinassem sua agenda. A tentação de Neemias teria sido permitir aos pagãos alterar seus planos e se engajar-se no duplo risco do compromisso na missão. Isso teria aliviado o peso sobre o seu próprio povo e ganhado os aplausos de judeus e pagãos. Mas Neemias não se importava nenhum pouco com os aplausos de homens e estava totalmente relutante em desistir da missão que ele tinha assumido com Deus.

Ao invés de se preocupar em agradar os pagãos, Neemias focou as reformas necessárias no meio de seu próprio povo. O paganismo que Neemias temia não era o paganismo dos pagãos; era o paganismo do seu próprio povo. Não era o paganismo fora do campo que ameaçava Israel tanto quanto o paganismo dentro do campo.

Coram Deo:

Você está procurando o aplauso de homens ao invés de a aprovação de Deus?

Passagens para estudo:

Neemias 2.10,18;4.9
___________________________
Fonte:
ligonier.org
Tradução:
Renato da Silva Barbosa
Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]

Quanto Custa ser um Cristão?

.
“Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se tem com que a acabar?” (Lucas 14:28)
Este versículo é de grande importância. Poucas são as pessoas que não têm freqüentemente de fazer esta pergunta: “Quanto custa?”. Ao comprar um terreno, ao construir uma casa, ao mobiliar as habitações, ao fazer planos para o futuro, ao decidir a instrução e estudos dos filhos, etc., seria sábio e prudente que nos sentássemos a considerar com calma os gastos que tudo isso implicaria. As pessoas evitariam muitas moléstias e dores se ao menos fizessem a pergunta: “Quanto custa ser um crente verdadeiramente ser santo?” Estas perguntas são decisivas. Por não havê-las formulado desde um bom princípio, muitas pessoas que pareciam iniciar bem a carreira cristã, mais tarde mudaram seu rumo e se perderam para sempre no inferno.

Vivemos em tempos muito estranhos. Os acontecimentos se sucedem com extraordinária rapidez. Nunca sabemos “o que o dia nos trará”, quanto mais o que nos trará o ano! Nos nossos dias vemos muitos fazerem confissões de sua religiosidade. Em muitas partes do país as pessoas expressam vivo desejo de seguir um curso de vida santo e um grau mais alto de espiritualidade. É muito comum ver como as pessoas recebem a Palavra com alegria, porém depois de dois ou três anos se afastam e voltam a seus pecados. Há muitos que não consideram o custo de ser um verdadeiro cristão e um crente santo. Nossos tempos requerem de um modo muito especial que paremos e consideremos o custo e o estado especial de nossas almas. Este tema deve preocupar-nos. Sem dúvida o caminho da vida eterna é um caminho delicioso, porém seria loucura de nossa parte fechar os olhos ao fato de que se trata de um caminho estreito e que a cruz vem antes da coroa.

1) O que custa ser um verdadeiro cristão?

Desejo que não haja mal entendidos sobre este ponto. Não me refiro aqui ao quanto custa salvar a alma do crente. Custou nada menos do que o sangue do Filho de Deus ao redimir o pecador e livrá-lo do inferno. O preço de nossa salvação foi a morte de Cristo na cruz do Calvário. Temos “sido comprados por preço”. Cristo derramou o seu sangue em favor de muitos”(Marcos 14:241 Co.6:20). Porém não é sobre este tema que versa nossa consideração. O assunto que vamos tratar é distinto. Refere-se ao que o homem deve estar disposto a abandonar se deseja ser salvo; ao que deve sacrificar se se propõe a servir a Cristo. É neste sentido que formulo a pergunta: “Quanto custa?”.

Não custa grande coisa ser um cristão de aparência. Só requer que a pessoa assista aos cultos do domingo, duas vezes e durante a semana seja medianamente moralista. Este é o “cristianismo” da grande parte dos evangélicos da nossa época. Se trata, pois, de uma profissão de fé fácil e barata; não implica em abnegação nem sacrifício. Se este é o cristianismo que salva e o qual nos abrirá as portas da glória ao morrermos, então não temos necessidade de alterar a mundana descrição do caminho da vida eterna e dizer: “Larga é a porta e largo é o caminho que conduz ao céu”.

Porém, segundo o ensino Bíblico, custa caro ser cristão. Há inimigos que vencer, batalhas que evitar e sacrifícios que realizar; deve-se abandonar o Egito, cruzar o deserto, carregar o peso da cruz e tomar parte na grande caminhada. A conversão não consiste em uma decisão tomada por uma pessoa, em um confortável sofá, para logo em seguida ser levado suavemente ao céu. A conversão marca o início de um grande conflito, e a vitória vem após muitas feridas e contendas. Custa se obter a vitória. Daí concluirmos a importância de calcularmos este custo.

Tratarei de demonstrar de uma maneira precisa e particular o que custa ser um verdadeiro cristão. Suponhamos que uma pessoa esteja disposta a servir a Cristo e se sente impulsionada e inclinada a segui-lo. Suponhamos que como resultado de alguma aflição, de uma morte repentina, ou de um sermão, a consciência de tal pessoa tem sido avivada e agora se dá conta do valor da alma e sente o desejo de ser um verdadeiro cristão. Sem dúvida alguma, todas as promessas do Evangelho se lhe resultarão alentadoras; seus pecados, por muitos e grandes que sejam, podem ser perdoados; seu coração por frio e duro que seja, agora pode ser mudado; Cristo, o Espírito Santo, a misericórdia, a graça, tudo está à sua disposição. Porém, ainda, tal pessoa deveria calcular o preço. Vejamos uma por uma, as coisas que deverá desejar, ou, em outras palavras, o que lhes custará ser cristão

A) Custará sua Justiça Própria

Deverá abandonar o orgulho e a auto-estima de sua própria bondade; deverá contentar-se com o ir ao céu como um pobre pecador, salvo pela gratuita graça de Deus e pelos méritos e justiça de outro (Jesus). Deverá experimentar que “tem errado e se tem desgarrado como uma ovelha”; que não tem feito as coisas que deveria ter feito e feito coisas que não deveria; deve confessar que não há nada são nele. Deve abandonar a confiança em sua própria moralidade e respeitabilidade, e não deve basear sua salvação no fato de que tem ido à igreja, tem orado, tem lido a Bíblia e participado dos sacramentos do Senhor, mas que deve confiar, única e exclusivamente na pessoa e obra de Cristo Jesus.

Isto parecerá muito duro a algumas pessoas, porém não me surpreende que seja assim. “ Senhor - disse um lavrador, temeroso homem de Deus, a James Hervey - é mais difícil negar o nosso EU orgulhoso, que nosso EU pecador. Porém é absolutamente necessário que o neguemos . Aprendamos, pois, de uma vez por todas, que ser um verdadeiro cristão custará a uma pessoa perder sua justiça própria.

B) Custará seus pecados

Deverá abandonar todo hábito e prática que sejam maus aos olhos de Deus. Deve virar o seu rosto contra o pecado, romper com o pecado, crucificar o pecado, mesmo contra a opinião do mundo. Não pode estabelecer nenhuma trégua especial com nenhum pecado que amava antes da sua conversão. Deve considerar a todos os pecados como inimigos mortais de sua alma e odiar todo caminho de falsidade. Por pequenos ou grandes, ocultos ou manifestos que sejam os pecados, deve renunciar completamente a todos eles. Sem dúvida estes pecados tentarão vencê-lo, porém jamais poderá ceder. Sua luta contra o pecado será continua e não admitirá trégua de nenhum tipo. Está escrito: “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes...”. “cessai de fazer o mal” (Ez.18:31; ls.l:16).

Isto também parecerá muito duro para muitas pessoas; e vemos que freqüentemente nossos pecados são mais queridos do que nossos próprios filhos. Amamos o pecado, o abraçamos com todo nosso ser, nos agarramos a ele, nos deleitamos nele. Separar-nos do pecado é tão duro como separar-nos da nossa mão direita, e tão doloroso como se nos arrancassem um olho. Porém devemos separar-nos do pecado; não há outra alternativa possível. “Ainda que o mal lhe seja doce na boca, e ele o esconda debaixo da língua, e o saboreie, e o não deixe, antes o retenha no seu paladar.. “ ,sendo este o caso, devemos apartá-lo de nós si em verdade desejamos ser salvos (Jó 20:12-13). Se desejamos ser amigos de Deus, devemos primeiro romper com o pecado. Cristo está disposto a receber os pecadores, porém não aqueles que se agarram a seus pecados. Anotemos pois, também isto: o ser cristão custará a uma pessoa seus pecados.

C) Custará seu amor à vida fácil.

Para correr com êxito a corrida ao céu se requer esforço e sacrifício. Haverá de velar diariamente e estar alerta, pois se encontrará em território inimigo. Em cada hora e em cada instante deverá vigiar sua conduta, sua companhia e os lugares que freqüenta. Com muito cuidado haverá de dispor de seu tempo e vigiar sua língua, seu temperamento, seus pensamentos, sua imaginação, seus motivos e sua conduta em suas relações diárias. Terá que ser diligente em sua leitura da Bíblia, em sua vida de oração, na maneira como passa o Dia do Senhor e participa dos meios de graça. Certamente que não poderá conseguir perfeição em todas estas coisas, porém mesmo assim, não pode descuidar-se. “O preguiçoso deseja, e nada tem, mas a alma dos diligentes se farta” (Pv.13:4).

Também isto parece duro e difícil. Não há nada que nos desagrade tanto como as dificuldades na nossa confissão religiosa; por natureza evitamos as dificuldades. Secretamente desejaríamos que alguém pudesse cuidar de nossas obrigações religiosas e que desempenhasse por procuração nosso cristianismo. Não está de acordo com o nosso coração tudo aquilo que implique em esforço e trabalho; porém sem dor não há lucro para a alma. Deixemos bem firmado este fato: o ser cristão custará a uma pessoa seu amor pela vida fácil.

D) Custará o favor do mundo.

Se deseja agradar a Deus deve saber que será depreciado pelo mundo. Não deve estranhar se o mundo o engana, lhe ridiculariza, se levanta calúnias contra você e o persegue e o odeia. Não deve se surpreender se as pessoas o depreciam e com desdém condenam suas opiniões e práticas religiosas. Deve resignar-se a que o acusem de tolo, entusiasta e fanático, e inclusive que distorçam suas palavras e representem falsamente suas ações. Não se surpreenda de que o tachem de louco. O Mestre disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão vossa” (Jo.15:20).

Também isto parece duro e difícil. Por natureza nos desagrada o proceder injusto e as acusações falsas. Se não nos preocupa a boa opinião dos que nos rodeiam deixaríamos de ser de carne e osso._Sempre resulta desagradável ser o alvo de criticas injustificadas e objeto de mentira e falsas acusações; porém não podemos evitá-lo. Do cálix que bebeu o Mestre também devem beber seus discípulos. Estes devem ser “...desprezado, e o mais rejeitado entre os homens... (Is.53:3). Anotemos, pois, o dito: ser cristão custará a pessoa o favor do mundo .

Esta é, pois, a lista do que custará a uma pessoa ser cristã. Devemos aceitar o fato de que não é uma lista insignificante. Nada podemos riscar dela. Resultaria uma temeridade fatal se defendesse por justiça própria, os pecados, o amor à vida fácil, o amor ao mundo e crer que vivendo assim poder-se-ia salvar-se.

A realidade é esta: custa muito ser um verdadeiro cristão. Porém, que pessoa, no sentido pleno, pode dizer que este preço é demasiado elevado pela salvação da alma? Quando o barco está em perigo de afundar-se, a tripulação não vacila em lançar ao mar a preciosa carga. Quando a gangrena envolve a extremidade de um membro a pessoa se submeterá a qualquer operação, inclusive a amputação deste membro. Com maior motivo, pois, o crente está disposto a abandonar qualquer coisa que se levante entre sua alma e o céu. Uma religião que não custa nada, nada vale. Um cristianismo barato - sem a cruz - cedo ou tarde manifestará sua inutilidade; jamais levará a posse da coroa. Sem cruz não há coroa

II) A Importância de Calcular o Custo.

Facilmente poderíamos resumir o assunto estabelecendo o princípio de que nenhuma das obrigações prescritas por Cristo pode ser descuidada sem grande prejuízo para a alma. São muitos os que fecham os olhos para a realidade da fé salvadora e evitam considerar o quanto custa ser cristão. E para ilustrar o que digo eu os poderia descrever o triste fim daqueles que, ao declinar seus dias, se dão conta desta realidade e fazem esforços espasmódicos para voltar-se para Deus. Porém, com grande surpresa se dão conta de que o arrependimento e a conversão não eram tão fáceis como haviam imaginado e que custa “uma grande soma” ser um cristão. Descobrem, também, que os hábitos do orgulho e a indulgencia pecaminosa, junto com o amor a vida fácil e mundana, não podem abandonar-se tão facilmente como haviam pensado. E assim, depois de uma débil luta, caem em desespero a abandonam este mundo sem esperança, sem graça e sem estar preparados para comparecer diante de Deus. Em suas vidas alimentaram a idéia de que o assunto espiritual poderia ser solucionado prontamente e facilmente. Porém abrem seus olhos quando já é demasiado tarde e descobrem, pela primeira vez na vida, que estão indo para perdição por não haver antes “calculado o custo”.

Porém, há uma classe de pessoas as quais quero dirigir-me ao desenvolver esta parte do tema. E um grupo numeroso e que espiritualmente está em grande perigo. Tratarei de descrever estas pessoas e ao fazê-lo agucemos nossa atenção. Estas pessoas não são, como as anteriores, ignorantes do evangelho; não, ao contrário: pensam muito nele; não ignoram o conteúdo da fé; conhecem bem os esquemas da revelação.

Porém, o grande defeito das tais pessoas é que não estão “arraigadas nem fundamentadas na fé”. Com muita freqüência o conhecimento religioso destas pessoas é de segunda mão; têm nascido de famílias cristãs, têm-se educado em uma atmosfera cristã, porém nunca têm experimentado em suas vidas as realidades do novo nascimento e a conversão. Precipitadamente e talvez por pressões diversas, ou pelo desejo de ser como os demais, têm feito profissão de fé e se tem unido a membresia de alguma igreja, porem sem haver experimentado uma obra da graça em seus corações. Estas pessoas estão em uma posição perigosíssima e são as que mais necessitam da exortação de calcular o custo de serem verdadeiros cristão

Por não haver calculado o custo um grande número de israelitas pereceu miseravelmente no deserto entre o Egito e Canaã. Cheios de zelo e entusiasmo abandonaram a terra de Faraó e parecia que nada poderia pará-los. Porém, tão logo encontraram perigos e dificuldades no caminho, seu calor não tardou em esfriar-se. Nunca pensaram na possibilidade de que pudessem surgir obstáculos. Pensavam que em questão de dias entrariam na posse da terra prometida. E assim, quando pelos inimigos, privações, sede e fome, foram provados, começaram a murmurar contra Moisés e contra Deus e desejaram voltar ao Egito. Em uma palavra: “não calcularam o custo” e em conseqüência morreram em seus pecados.

Por não haver calculado o custo, muitos dos seguidores de Jesus voltaram suas costas
“... e já não andavam com ele” (JO.6:66). Quando pela primeira vez viram seus milagres e ouviram sua pregação, pensaram: “O Reino de Deus virá a qualquer momento”. Se uniram ao número dos apóstolos e, sem pensar nas conseqüências, o seguiram. Porém se deram conta de que se tratava de doutrinas duras de crer, e uma obra dura de realizar, e de uma missão dura de se levar a termo, sua fé se desmoronou e nada ficou da mesma. Em uma palavra: não pararam para “calcular o custo”, por isso naufragaram na sua profissão de fé cristã.

Por não haver calculado o custo, o rei Herodes voltou outra vez a seus velhos pecados e destruiu a sua alma. Desfrutava ouvindo a pregação de João Batista. O admirava e considerava um homem justo e santo, e inclusive o ouvia “de boa mente” . Porém, quando se deu conta de que devia abandonar a sua favorita Herodias, sua profissão de fé religiosa se desvaneceu por completo. Não havia pensado nisto; não havia “calculado o custo” (Marcos 6:20)..

Por não haver calculado o custo, Demas abandonou a companhia de Paulo, abandonou o evangelho, deixou a Cristo e perdeu o céu. Por longo período de tempo com o grande apóstolo dos gentios e se converteu em um dos seus companheiros de trabalho. Porém, quando se deu conta de que não podia participar da companhia do mundo e de Deus ao mesmo tempo abandonou o cristianismo e se uniu ao mundo. “Demas, tendo amado o presente século” - nos diz Paulo - “me abandonou... “ (II Tm.4: 10). Não havia calculado o custo.

Por não haver calculado o custo milhares de pessoas que têm sentido uma experiência religiosa sob a evangelização de famosos pregadores naufragam espiritualmente. Se excitam e emocionam e chegam a pensar que experimentaram uma obra genuína de conversão; porém, na realidade não tem sido assim. Receberam a Palavra com alegria tão espetacular que inclusive surpreenderam os crentes experimentados.

Com tal entusiasmo falavam da obra de Deus e das coisas espirituais que os crentes mais velhos chegavam a envergonhar-se de si mesmos. Porém, quando a novidade e o frescor de seus sentimentos se dissiparam, uma repentina mudança lhes sobreveio e demonstraram que na realidade não eram mais do que corações de terreno pedregoso em que a Palavra não pôde lançar raízes profundas. “O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo antes de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza” (Mt.13:20-21). Pouco a pouco se derrete o céu de tais pessoas e seu amor se esfria. Por fim chega o dia quando seu assento na igreja está vazio e já nada se sabe deles. Por que? Porque não “calcularam o custo”.

Por não haver contado o custo, milhares de pessoas que professaram ser salvas em reuniões de avivamento, depois de um tempo voltam ao mundo e são motivo de vergonha para o evangelho. Começam com uma noção tristemente equivocada do que seja o verdadeiro cristianismo. Imaginam que a fé cristã não é mais que uma “decisão por Cristo”, uma mera experiência de certos sentimentos de alegria e paz. Logo que se dão conta de que têm de carregar uma pesada cruz no peregrinar até o céu, de que o coração é enganoso e de que o diabo está sempre ativo, se decepcionam e esfriam e retornam a seus velhos pecados. Por que?

Porque nunca chegaram a saber o que é o cristianismo da Bíblia. Nunca aprenderam a calcular o custo.

Por não haver calculado o custo, freqüentemente os filhos de pais crentes dão um pobre testemunho do que é o cristianismo e são motivo de afronta para o evangelho. Desde a infância se familiarizaram de uma maneira teórica com o conteúdo do evangelho. Têm aprendido de memória longas passagens da escritura e têm assistido com certa regularidade a Escola Dominical, porém na realidade nunca têm pensado seriamente no que têm aprendido. E quando as realidades da vida começam a fazer-se sentirem suas vidas, com grande assombro por parte dos membros da congregação, estes filhos de crentes abandonam toda religião e submergem de cheio no mundo. Por que? Porque nunca chegaram a entender seriamente os sacrifícios e conseqüências que uma profissão de fé séria o cristianismo exige. Nunca se lhes ensinou a calcular o custo.

Estas verdades são tão solenes como dolorosas, porém são verdades e põem em relevo a importância do tema que estamos considerando. São considerações que põem de manifesto a absoluta necessidade que têm todos aqueles que professam um desejo profundo de santidade, de fazer-se a pergunta: Quanto custa?

Melhor iriam as coisas em nossas igrejas se ensinassem a seus membros a calcular o custo que implica a profissão de fé cristã. A maioria dos líderes religiosos dos nossos dias dão mostras de uma impaciente pressa nas coisas do evangelho. Parece que o único grande fim a que se propõem é a conversão instantânea das almas, e em torno disto centralizam seus esforços. Esta maneira tão parcial e vazia de ensinar e apresentar o cristianismo é funesta.

Não interpretem mal o que digo. Eu aprovo inteiramente que se ofereça a salvação de uma maneira imediata, gratuita e completa em Cristo. Aprovo plenamente que se chame com urgência os pecadores a que se convertam imediatamente depois de se ouvir a mensagem de salvação. E a estas coisas não cedo o primeiro lugar. Mas condeno a atitude e o proceder de alguns que apresentam estas verdades por si só, isoladas e sem relação às demais verdades de todo conselho de Deus. Além destas verdades, com toda honestidade devemos advertir os pecadores das obrigações que impõe o serviço a Cristo e o que implica sair do mundo.

Não temos direito de forçá-los a entrar no exército de Cristo, se antes não os temos advertido e prevenido da magnitude da batalha cristã. Em uma palavra: devemos adverti-los do custo de ser um verdadeiro cristão.

Não foi esta a maneira de proceder do nosso Senhor Jesus? O evangelista Lucas nos diz que, em certa ocasião “Ora, ia com ele uma grande multidão; e voltando-se, disse-lhes: Se alguém viera mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo” (Lc. 14:25-27). Francamente, não se pode reconciliar esta passagem bíblica com a maneira de proceder de muitos mestres religiosos da nossa época; no que a mim concerne, a doutrina do mesmo é clara como a luz do meio dia. Esta doutrina ensina que não temos que forçar os pecadores a uma precipitada confissão de fé cristã, sem antes não os termos advertido claramente da necessidade que têm de calcular o custo.

Lutero, Latimer, Baxter, Wesley, Whitefield, Rowland HilI, e outros, procederam segundo a maneira pela qual defende este texto. Todos estavam bem cientes do caráter enganoso do coração humano; e sabiam bem que não é ouro1 tudo que reluz, que a convicção não é conversão, que a emoção não é fé, que o sentimento não é graça, que não é de todo botão que provém fruto. “Não vos enganeis - era o grito constante destes pregadores - pensai bem no que fazeis; não corrais antes de haverdes sido chamados; calculem o custo!”.

Se desejamos fazer o bem, não nos envergonhemos de seguir as pisadas do nosso Senhor Jesus Cristo. Exortem as pessoas a que considerem seus caminhos. Obrigue-os com santa violência a que entrem e participem do banquete a que se entreguem completamente a Deus. Ofereça-os uma salvação gratuita, completa e imediata. Insta-os uma e outra vez a que recebam a Cristo na plenitude de seus benefícios.

Porém, em tudo, diga-lhes a verdade, toda a verdade! Alguns pregadores se utilizam de atos vulgares para recrutar adeptos. Não fale somente do uniforme, do soldo e da glória, fale também dos inimigos da batalha, da armadura, das sentinelas, das marchas, e dos exercícios. Não apresente apenas uma parte do cristianismo. Não esconda a cruz da abnegação, que todo peregrino cristão deve levar, quando falar da cruz sobre a qual Cristo morreu para nossa redenção. Explique com detalhes tudo o que a1, profissão de fé cristã implica. Rogue com insistência várias vezes aos pecadores que se arrependam e corram para Cristo; porém, insista, ao mesmo tempo, a que se sentem e calculem o preço.

III) Sugestões para Ajudar a Calcular Corretamente o Custo.

Mencionarei alguns fatores que sempre influenciam nos nossos cálculos para saber o custo do verdadeiro cristianismo. Considere com calma e equilíbrio o que se tem de deixar e o que se tem de provar para chegar a ser discípulo de Cristo. Não esconda nada, considera tudo. E logo, faça as seguintes somas, tendo o cuidado de repassá-las bem para não haver equivoco, pois o resultado correto dos mesmos é alentador:
  1. Conte e compare os benefícios e as perdas que um discipulado verdadeiramente cristão contém. Muito possivelmente perderás algo deste mundo, porém ganharás a salvação da alma imortal. Está escrito: “Que aproveita ao homem, ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc.8:36).

  2. Conte e compare os elogios e censuras, se é que és um cristão verdadeiro. Muito provavelmente terás de sofrer as reprovações do mundo, porém, terás a aprovação de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. As censuras vêm dos lábios de pessoas equivocadas, cegas e falíveis; a aprovação vem do Rei dos reis o Juiz de toda a terra. Está escrito: “Bem-aventurado sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mt. 5:11-12).

  3. Conte e compare os inimigos e amigos. Por um lado tens a inimizade do diabo e dos maus; por outro, tens o favor e a amizade de Cristo Jesus. Os inimigos, quando muito, podem produzir-te alguns arranhões, pode rugir forte e rodear a terra e o mar para tratar de arruinar a tua alma; porém não pode de modo nenhum destruí-la. Teu Amigo é poderoso para salvar-te eternamente. Está escrito:“Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois disso, nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer” (Lc. 12:4-5).

  4. Conte e compare a vida presente e a por vir . A vida presente não é fácil; implica em vigilância, oração, luta, esforço, fé e labor; porém, só é por poucos anos. A vida vindoura será de descanso e repouso; a influência do pecado já terá terminado e satanás estará acorrentado. E, ah! será um descanso para toda eternidade. Está escrito: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para noS eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentado nós nas cousas que se vêem; porque as cousas que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2 Co.4:17-18).

  5. Conte e compare os prazeres do pecado e a felicidade do serviço a Deus. Os prazeres que o homem mundano obtêm são vazios, irreais, não satisfazem. São como a fogueira que fazem os espinhos arder: range e brilha, porém, só por uns minutos, logo se apaga e desaparece. A felicidade que Cristo ou torga a seu povo é sólida, duradoura e substancial; não depende da saúde nem das circunstâncias; nunca abandona o crente, nem mesmo na hora da morte. E uma felicidade que, além disso, se verá galardoada com uma coroa incorruptível. Está escrito: “O júbilo dos perversos é breve” ; “Pois qual o crepitar dos espinhos debaixo duma panela, tal é a risada do insensato” (Jó 20:5; Ec.7:6). Porém também está escrito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la a dou com a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo. 14:27).

  6. Conte e compare as tribulações que o cristianismo verdadeiro implica e as tribulações que sobrevirão aos maus após a morte . A leitura da Bíblia, a oração, a luta cristã, uma vida de santidade, etc., implica em dificuldades e exigem abnegação por parte do crente. Porém não é nada em comparação com a “ira que virá” e que se desencadeará sobre os impenitentes e os incrédulos. Um só dia no inferno será muito mais intolerável que toda uma vida de peregrinação levando a cruz. O “bicho que nunca morre e o fogo que nunca se apaga” é algo que vai mais além do que a mente humana pode conceber e descobrir. Está escrito: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu em tormentos”(Lc.16:25).

  7. Considere e compare, em último lugar, o número daqueles que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo, e o número daqueles que deixam a Cristo e voltam ao mundo. Os que se voltam do pecado e do mundo para servir a Cristo são muitos; porém nenhum dos que realmente têm conhecido a Cristo voltam ao inundo. Cada ano multidões abandonam o caminho largo e tomam a senda estreita que conduza vida. Nenhum dos que andam pelo caminho estreito se cansam do mesmo e voltam ao caminho. O caminho largo registra muitas pegadas de pessoas que torceram seu rumo e o abandonaram; porém, as pegadas dos caminhantes do caminho estreito, que conduz ao céu todas seguem a mesma direção. Está escrito “O caminho dos perversos é como a escuridão”. “O caminho dos pérfidos é intransitável” (Pv.4:19; 13:15). Porém, também está escrito: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv.4: 18).

Estas somas e estas contas freqüentemente não se fazem corretamente; por isso há pessoas que continuamente e não podem dizer se vale a pena ou não servir a Cristo. As perdas e ganhos, as vantagens e desvantagens, as tribulações e os prazeres, as ajudas e os obstáculos, lhes dão um balanço tão igual, que não podem optar por Cristo. É que não têm feito a soma corretamente.
Como se explica o erro de tais pessoas? Se deve a uma carência de fé por sua parte. Para chegar a uma conclusão correta sobre nossas almas, devemos conhecer algo daquele poderoso princípio que Paulo menciona no capítulo 11 de sua Epístola aos Hebreus. Permitam-me demonstrar de que maneira intervém este princípio no grande “negócio” de calcular o custo.

A que se deveu o fato de Noé perseverar até o fim na construção da arca? Estava só em meio a uma geração pecadora, incrédula e havia de sofrer o opróbrio, a zombaria e o ridículo das pessoas. O que lhe deu fortaleza ao seu braço e paciência em seu labor? Foi a fé. Noé cria na ira que havia de vir; cria que só na arca poderia achar o refúgio seguro. Pela fé considerou e teve como pobre o conceito e a opinião do mundo. Pela fé calculou o custo e não duvidou de que a construção da arca significava um ganho.

A que se deveu o fato de Moisés rejeitar os prazeres do Egito e recusar-se ser chamado de filho da filha de Faraó? Como pode escolher ser maltratado com o povo de Deus e dirigir ao povo hebreu á terra da promissão, livrando-o da terra da escravidão? Segundo o testemunho do olho humano dos sentidos iria perder tudo e não ia ganhar nada em troca. O que impulsionou Moisés a agir dessa forma? Foi a fé. Ele cria que acima de Faraó havia UM maior e mais poderoso que o dirigiria e protegeria em sua grande missão. Ele tinha por maiores riquezas o vitupério de Cristo que todos os tesouros dos egípcios. Pela fé calculou o custo e “como vendo o invisível”, se persuadiu de que o abandono do Egito e o peregrinar pelo deserto era, na realidade, ganho.

Que foi que fez o fariseu Saulo de Tarso decidir deixar a religião de seus pais e abraçar o Cristianismo? Os sacrifícios e os custos que a mudança implicava eram em verdade enormes. No entanto, Paulo abandonou todas as brilhantes perspectivas que tinha entre os de sua nação; trouxe sobre si, ao invés do favor dos homens, o ódio do homem, a inimizade do homem, a perseguição do homem até a morte. A que se deveu o fato de Paulo poder fazer frente a tudo isso? Se deveu a sua fé. Ele cria que Jesus, a quem conheceu no caminho de Damasco, poderia dar-lhe cem vezes mais do que o que abandonara, e no mundo vindouro a vida eterna. Pela fé calculou o custo, e viu claramente até que lado se inclinava a balança. Cria firmemente que o tomar a cruz de Cristo sobre si era ganho.

Notemos bem todas estas coisas. A fé que fez Noé, Moisés e Paulo fazerem as coisas que fizeram, é o segredo que nos levará a conclusões corretas com respeito a nossa alma. A mesma fé tem de ser nossa ajudadora e nosso livro de contas quando nos sentamos para calcular o custo do verdadeiro cristianismo. Esta fé, se a pedimos a receberemos. “Ele dá maior graça” (Tiago 4:6). Armados com esta fé apreciaremos as coisas no seu justo valor. Cheios desta fé, nunca aumentaremos a cruz nem diminuiremos a coroa. Nossas conclusões serão todas corretas; nossa soma total não registrará erros.

Conclusão

Em conclusão desejo que consideres seriamente se tua profissão de fé religiosa te custa atualmente algo. Mui possivelmente não te custa nada. Com toda probabilidade tua religião não te custa dificuldades, nem tempo, nem pensamentos, nem cuidados, nem dores, nem leitura alguma, nem oração, nem abnegação, nem conflito, nem trabalho, nem labor de nenhuma classe. Bem, pois não te escuses do que vou te dizer: esta profissão de fé nunca poderá salvar tua alma; nunca te dará paz enquanto estás vivo, nem esperanças na hora da morte. lima religião que não custa nada, não vale nada. Desperta! Desperta! Desperta e crê! Desperta e ora! Não descanses até que possas dar uma resposta satisfatória a minha pergunta: “Que te custa?”

Pensa se é que necessitas de motivos que te estimulem mais e mais para o serviço do Senhor, pensa no muito que custou a salvação de tua alma. Considera que nada menos do que o Filho de Deus teve de abandonar o céu, fazer-se homem, sofrer a cruz, ser sepultado, para logo ressuscitar vitorioso sobre o pecado e a morte, e tudo para obter a redenção de tua alma. Pensa em tudo isso e te convencerás de que não é algo insignificante possuir uma alma mortal. Vale a pena tomar-se o incômodo de pensar sobre a esta alma tão preciosa.

Ó, homem preguiçoso! Ó, mulher preguiçosa! Te conformarás com perder o céu por mero fato de que não queres te preocupar com as coisas espirituais? Tanto te repugna o exercício e o esforço como para permitir que tua alma naufrague para toda a eternidade? Sacode esta atitude covarde e indigna! Lavanta-te e porta-te varonilmente! Que não termine o dia sem que hajas dito a ti mesmo: “Por muito que seja o custo, eu tomo a determinação de esforçar-me para entrar pela porta apertada”. Olha a cruz de Cristo e receberás alento para seguir adiante, e valor para consegui-lo. Sê sincero e realista com tua própria situação espiritual; pensa na morte, no juízo, na eternidade. Poderá custar muito o ser cristão, porém podes estar seguro de que vale a pena.

Se algum leitor realmente sente que tem calculado o custo, e tomado sobre si a cruz, eu o exorto a que persevere e continue em frente. Talvez freqüentemente sintas como se teu coração estivesse a ponto de desfalecer, e que o ímpeto da tentação ameaça naufragá-lo no desespero. Eu te digo: persevera, segue em frente. Não há dúvida de que teus inimigos são muitos, e os pecados que te rodeiam batem com ímpeto; talvez os teus amigos sejam poucos, e o caminho íngreme e estreito. Porém, mesmo assim, nestas circunstâncias, persevera e segue adiante.

O tempo é muito curto. Uns poucos anos de vigilância e oração, uns vão e vêm sobre as ondas do mar deste mundo, umas poucas mortes a mais, umas mudanças a mais, uns poucos verões a mais, e já não haverá necessidade de muita luta.

A presença e companhia de Cristo compensará os sofrimentos deste mundo. Quando nos vemos como somos vistos, e olhamos até a nossa jornada da nossa vida, nos surpreenderemos de nossa debilidade e desmaios de coração. Ficaremos surpresos de que demos tanta importância a nossa cruz, e pensamos tão pouco em nossa coroa. Ficaremos maravilhados de que calculando o custo, chegamos até a duvidar para onde se inclinava a balança. Animemo-nos! Não estamos longe do nosso lugar eterno!

PODE CUSTAR MUITO SER UM VERDADEIRO CRISTÃO
E UM CRENTE FIEL, PORÉM VALE A PENA!


Fonte: Jornal “Os Puritanos” Ano IV N.3.
VIA: [ Monergismo ] / Via: [ Bispo J.C. Ryle ]
.

Minha vida é diferente? – M. Lloyd-Jones

.

«. . . desde que Jesus entrou no meu coração. . .»

Minha fé cristã influi em minha idéia da vida e a dirige em todos os aspectos? Declaro-me cristão e seguidor da fé cristã; a pergunta que agora me faço é: «Será que essa minha fé cristã afeta meu conceito da vida, no todo e nos pormenores? ela está sempre determinando a minha reação e a minha resposta às coisas específicas que acontecem?» Ou então, podemos colocar a questão assim: «Está claro e óbvio para mim e para toda gente que toda a minha abordagem da vida, a minha concepção essencial da vida, em geral e em particular, difere completamente da do que não é cristão?» É preciso que o seja.

O Sermão da Montanha começa com as bem-aventuranças. Estas descrevem pessoas totalmente diversas de todas as demais, tão diferentes como a luz das trevas, tão diferentes como o sal da putrefação. Se, pois, somos dife¬rentes no essencial, temos que ser diferentes em nossa maneira de ver todas as coisas e em nossa reação a tudo que sucede. Não conheço melhor indagação que uma pessoa possa fazer a si própria, em quaisquer circunstâncias, do que essa. Quando lhe sobrevier algo que o transtorne, pergunte-se: «Minha reação é essencialmente diversa do que seria se eu não fosse cristão?» Lembremo-nos do ensino. . . que consta no final do capítulo cinco do Evangelho (segundo Mateus).

Você decerto lembra que nosso Senhor colocou a questão em termos como estes: «Se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis mais do que os outros?» E isso. Cristão é aquele que faz «mais do que os outros». É aquele que é absolutamente diferente. E, se em cada detalhe de sua vida, não penetrou este seu cristianismo, você é um cristão de tipo muito inferior, é um homem de «pequena fé».

Studies in the Sermon on the Mount, ii, p. 139,40.
.

Quando os Sofrimentos se tornam Bençãos

.

Por J. C. Ryle

Lucas 1.5-12

O primeiro acontecimento narrado neste evangelho é a súbita aparição de um anjo a um sacerdote judeu chamado Zacarias. O anjo anuncia-lhe que milagrosamente ele se tomará pai de um menino e que esse menino será o precursor do Messias prometido há muito tempo. A Palavra de Deus havia predito claramente que, na vinda do Messias, alguém O precederia, a fim de preparar-Lhe o caminho (Ml 3.1). A sabedoria de Deus providenciou as coisas de tal modo que o precursor nasceria na família de um sacerdote.

Não podemos compreender claramente, em nossos dias, a imensa importância do anúncio feito por esse anjo. Para um judeu piedoso deve ter sido boas-novas de grande alegria! Foi o primeiro comunicado de Deus para Israel desde a época de Malaquias. O longo silêncio de quatrocentos anos foi quebrado. O anúncio do anjo dizia ao crente israelita que as semanas proféticas de Daniel se cumpriam completamente (Dn 9.25), que a mais preciosa promessa de Deus finalmente estava para se cumprir e que estava para surgir "a semente" por meio da qual todas as nações da terra seriam abençoadas (Gn 22.18 - ARC). Precisamos nos colocar no lugar de Zacarias, a fim de tributarmos a estes versículos o seu devido valor.

Primeiramente, observemos nesta passagem o belo testemunho proferido sobre o caráter de Zacarias e de Isabel. Somos informados que "ambos eram justos diante de Deus" e viviam "irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor". Pouco importa se interpretamos a expressão "eram justos" como uma referência à justiça imputada ao crente no ato de sua justificação ou à justiça realizada no íntimo dos crentes por operação do Espírito Santo, no processo de santificação. Esses dois tipos de justiça nunca estão dissociados. Não existe qualquer "justo" que não seja santifícado e qualquer "santo" que não seja justificado. Basta saber que Zacarias e Isabel possuíam a graça divina, quando esta era muito rara, e observaram com devoção consciente todos os exaustivos preceitos da lei cerimonial, em uma época quando poucos israelitas se importavam com eles, exceto na aparência.

O que realmente chama a nossa atenção é o exemplo que esse casal santo oferece aos crentes. Todos devemos nos esforçar para servir a Deus fielmente e fazer brilhar toda a nossa luz, assim como eles o fizeram. Não esqueçamos as claríssimas palavras das Escrituras: "Aquele que pratica a justiça é justo" (1 Jo 3.7). Felizes são as famílias cristãs das quais podemos testemunhar que ambos, marido e mulher, são "justos" e se empenham para ter uma consciência livre de ofensas diante de Deus e dos homens (At 24.16).

Em segundo, observemos nesta passagem a árdua provação que Deus se agradou em trazer a Zacarias e Isabel. Eles "não tinham filhos". Um crente moderno dificilmente pode compreender o significado completo dessas palavras. Ao judeu da antigüidade elas transmitiam a idéia de uma aflição bastante severa. A esterilidade era uma das mais amargas experiências (1 Sm 1.10). A graça de Deus não torna uma pessoa imune a qualquer problema. Ainda que esse sacerdote santo e sua esposa eram "justos", eles tinham um "espinho na carne". Lembremos isto, se servimos a Cristo, e não nos assustemos com as provações. Ao invés disso, creiamos que uma mão de perfeita sabedoria está avaliando qual deve ser a nossa porção e que, ao disciplinar-nos, Deus visa fazer-nos "participantes da sua santidade" (Hb 12.10). Se as aflições nos levam para mais perto de Jesus, da Bíblia e da oração, elas são bênçãos! Talvez não pensemos assim. Mas pensaremos, quando acordarmos no mundo vindouro.

Em terceiro, observemos nesta passagem o instrumento pelo qual Deus anunciou o nascimento de João Batista. "Apareceu um anjo do Senhor" a Zacarias. Sem dúvida alguma, o ministério dos anjos é um assunto profundo. Em nenhuma outra parte da Bíblia encontramos menção tão freqüente aos anjos quanto na época do ministério terreno de nosso Senhor. Em nenhuma outra época lemos sobre tantas aparições de anjos quanto durante a encamação de Jesus e sua vinda ao mundo. O significado dessa circunstância é muito claro: a igreja deveria compreender que o Messias não é um anjo; é o Senhor dos anjos e dos homens. Os anjos anunciaram a sua vinda, proclamaram o seu nascimento, regozijaram-se quando Ele surgiu. E, ao fazerem tais coisas, deixaram bem claro a seguinte verdade: Aquele que veio para morrer pelos pecadores não era um dentre os anjos, era Alguém superior a eles — o Rei dos reis e Senhor dos senhores.

Acima de tudo, há uma coisa a respeito dos anjos que não devemos esquecer: eles se interessam profundamente pela obra de Jesus e pela salvação que Ele providenciou. Cantaram louvores sublimes quando o Filho de Deus veio para estabelecer a paz entre Deus e o homem, por intermédio de seu sangue. Regozijam-se quando pecadores se arrependem, quando homens se tornam filhos na família do Pai celestial. Deleitam-se em ministrar aos herdeiros da salvação. Enquanto estamos nesta terra, esforcemo-nos para ser como os anjos, tendo a maneira de pensar deles e compartilhando de suas alegrias. Este é o modo de estar em sintonia com o céu. As Escrituras afirmam sobre aqueles que lá entram: são "como os anjos" (Mc 12.25).

Finalmente, observemos nesta passagem o efeito que o aparecimento do anjo produziu na mente de Zacarias. Esse homem justo "turbou-se, e apoderou-se dele o temor". A sua experiência é exatamente a mesma de outros santos que passaram por situações semelhantes. Moisés diante da sarça ardente, Daniel às margens do rio Tigre, as mulheres no sepulcro de Jesus e o apóstolo João na ilha de Patmos — todos demonstraram temor semelhante ao de Zacarias. Assim como ele, esses outros santos tremeram e sentiram medo, quando contemplaram visões de coisas pertencentes ao outro mundo.

Como explicar esse temor? Existe apenas uma resposta: esse temor surge de nosso senso íntimo de fraqueza, culpa e corrupção. A visão de um habitante celestial inevitavelmente nos faz lembrar de nossa própria imperfeição e inconveniência natural para nos apresentarmos diante de Deus. Se os anjos são excessivamente grandes e tremendos, como será o Senhor deles?

Devemos bendizer a Deus porque temos um poderoso Mediador entre Ele e nós, Jesus Cristo, homem. Crendo nEle, podemos nos aproximar de Deus com intrepidez, esperando sem temor o Dia do Juízo. Quando os anjos poderosos saírem para ajuntar os eleitos de Deus, esses não terão motivo para ficar com medo. Os anjos são conservos e amigos dos eleitos de Deus (Ap 22.9).

Devemos tremer ao pensar no terror que sobrevirá aos ímpios naquele dia! Se mesmo os justos sentem-se perturbados por uma aparição súbita de espíritos amáveis, qual será a reação dos ímpios quando os anjos vierem para recolhê-los como palha destinada à fogueira? Os temores dos justos não têm fundamento e são efêmeros. Quando se manifestarem os temores dos perdidos, ficará comprovado que os ímpios tinham motivos corretos para esses temores, que permanecerão para sempre.

Iniquidade e Perversidade: Marcas do mundo na igreja

.
Por Pr. João de Souza

Existem dois tipos de iniquidade: A individual e a coletiva. A pior iniquidade é aquela que sai do âmbito do indivíduo e se impregna por toda a sociedade.

Veja um tipo de iniquidade social. Um indivíduo que ajudou a construir a nação se aposenta depois de trabalhar 35 anos com um salário referencial de 5.4 salários mínimos, e dez anos depois percebe que sua aposentadoria foi achatada para menos de dois salários. Isso é um tipo de iniquidade. Políticos com cargos governamentais que não se contentam com seu salário e votam para si mesmos aumentos exorbitantes. Isto é iniquidade. Pastores que vivem nababescamente à custa de suas igrejas. Isto é iniquidade.

A diferença entre a iniquidade da igreja e do governo é que os governantes exercem seus cargos numa estrutura iníqua em que o grande chefe é Satanás. Os profetas, o Senhor Jesus e os apóstolos sempre denunciaram que o mundo faz parte de um sistema satânico e, os governantes, até mesmo bons cristãos, levados pela estrutura iníqua que impera no mundo, por melhor que sejam suas intenções, acabam por entrar na corrente dos iníquos.

Iniquidade na Bíblia não diz respeito apenas aos pecados de uma pessoa, mas aos pecados da coletividade, da sociedade e de seus governos. E o governo que ora apeia do poder parece ter sido o mais iníquo de todos, porque por trás dos benefícios sociais que alega ter trazido ao povo, foi o que mais oprimiu a classe dos aposentados e o que mais enriqueceu seus políticos e simpatizantes.

Agora, no apagar das luzes, os deputados aprovaram um aumento substancial de seus salários; debochando do povo que os elegeu! Você tem idéia do que é ganhar 26 mil por mês – livres! – e ter todas as regalias e mordomias do governo? Aluguel de apto em Brasília, telefones, combustível, ternos novos, carros à disposição etc. enquanto a maioria do povo brasileiro ganha o salário mínimo?

Você não acha que é iniquidade um funcionário do governo se aposentar com ganhos reais, em que seu salário se mantém sempre atualizado, enquanto o trabalhador do regime CLT não tenha reajustes pelo menos para repor a inflação? Isto se chama iniquidade! Porque este sistema é tão iníquo quanto o da Índia que divide o povo em castas.

Sim, porque a iniquidade de um governante pesa mais diante de Deus do que a iniquidade de um pecador que apenas peca contra seu próprio corpo. Um governante iníquo peca contra todos os filhos de Deus e contra o próprio Deus! Um governante iníquo afronta o senso de justiça de Deus e zomba de Deus. Será condenado porque pisa o pobre! E os deputados e senadores acabaram de pisar debochadamente do pobre e sobre os que os elegeram! Mais que isto, estão zombando da bondade e da misericórdia de Deus!

Sempre achamos que o pecado de Sodoma era apenas de prostituição sexual, sodomia ou práticas sexuais, mas não. O profeta Ezequiel denuncia Sodoma da seguinte forma: “Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade teve ela e suas filhas; mas nunca amparou o pobre e o necessitado” (Ez 16.49).

Veja bem como o profeta mensura a iniquidade de um povo.

E passo, daqui em diante a falar da igreja como sendo esta a Sodoma condenada por Deus. Sim, porque a prática da iniquidade é própria dos governos, já que a estrutura do poder está nas mãos do inimigo de Deus. Não é possível, no entanto, que a igreja que deveria ser a líder na prática da justiça, tenha incorporado em sua estrutura a mesma iniquidade dos governos.

1. Soberba. A igreja brasileira tem se destacado pela soberba, pelo orgulho, e tomou para si a frase do Lula, “nunca antes na história desse país”, como a dizer: Nunca antes na história da igreja… Como se a igreja nos dias de hoje estivesse cumprindo seu verdadeiro papel na sociedade. Deus condenou Sodoma, não apenas pelas práticas sexuais, mas pelas práticas sociais. A soberba leva à luxúria e esta leva à perversão sexual. A igreja institucionalizada está tão ou mais iníqua que os regimes governamentais. Estes podem ser iníquos porque a iniquidade faz parte de seu DNA, mas a igreja deveria ter o DNA de Deus!

2. Fartura de pão e tranquilidade. As benesses governamentais aos que estão no poder são inimagináveis. Seus líderes possuem nas mãos o poder de compra, a capacidade de adquirir o que querem com o dinheiro dos contribuintes. Miquéias, o profeta disse que tais políticos, enquanto estão deitados, maquinam a iniquidade e pensam em como fazer o mal! “À luz do dia praticam o mal, porque o poder está em suas mãos. Se cobiçam campos, os arrebatam – condenação do profeta aos grileiros que roubam as terras para seu próprio poder – se casas, as tomam…” (Mq 2.1-2).

Mas, e quanto às lideranças da igreja? Alguns dirigentes de denominações possuem casas em resorts no exterior para passar as férias; vivem nababescamente, usam cartões sem limite – afinal a igreja paga suas despesas – e espiritualmente debocham daqueles sobre quem eles impõem seu regime disciplinar. Raras são as exceções.

A maioria dos líderes denominacionais vive com fartura de pão e com tranquilidade, enquanto exigem de seus membros ofertas e primícias ameaçando-os de maldição caso não contribuam. Isto é iniquidade. Deus condenou Sodoma porque o povo daquela cidade não amparava o pobre e o necessitado!

3. O pobre é desamparado. Deus condenou Sodoma pelo orgulho e pela fartura e porque não socorria os pobres nas suas necessidades. Uma igreja que não olha para as necessidades do pobre, que se esquiva de defender os necessitados vive o papel de Sodoma. A igreja deve sempre sair em defesa dos injustiçados, dos que sofrem, dos que são desprezados pelas autoridades; deve sempre sair em defesa dos menos afortunados socialmente. Sempre que entro em áreas de risco em vielas e becos das vilas pobres da minha cidade, fico a imaginar que aquela gente não teve a mesma sorte do restante da população, e por isso não lhes restou alternativa senão a de montar um barraco no estreito pedaço de terra, para criar seus filhos e sobreviver. Por pouco não fomos criados numa dessas vilas paupérrimas, não fosse a habilidade de papai de se esforçar e trabalhar duramente.

Na cidade onde resido é comum ver nas áreas pobres, pequenos jardins floridos, árvores frutíferas na frente da casa, hortas minúsculas cultivadas em faixas estreitas de terra, indicativo de que os habitantes não estão ali por serem marginais – perigosos – mas porque foram marginalizados pelos governos. A única entidade que lhes presta alguma assistência é a igreja! Mas não a igreja como estrutura ou sistema: Quem ampara essa gente são irmãos em Cristo que socorrem e ajudam esses pobres com seus próprios recursos, porque a denominação age como a sanguessuga. Pegam em vez de dar!

E não é admissível que a igreja deixe penetrar em sua estrutura a mesma iniquidade que está impregnada nos governos. É uma afronta a Deus a construção de mega-templos para o deleite social das pessoas; construções que indicam o quanto a igreja vive na luxúria e no orgulho. Deus não precisa de grandes templos; precisa de pessoas que lhe são templo. É entre as pessoas que Deus habita, e não dentro dos mega-templos. A construção de grandes templos é indício de iniquidade.

Por outro lado louvo a atitude de queridos irmãos que, à semelhança dos primeiros discípulos se entregam e se despojam de todos os recursos para socorrer os desvalidos, os pobres, bêbados, drogados e os recolhem em seus abrigos para deles cuidar. Esses irmãos não contam com a ajuda das denominações, porque ajudar entidades sociais que não sejam de sua igreja não traz nome nem fama ao pastor e sua denominação.

Aqui mesmo em Porto Alegre a Sociedade Emanuel, uma entidade pentecostal recolhe a escória da sociedade para suas casas e abrigos à custa de grande sacrifício. E, pasmem! É ajudada por muitas pessoas que não são membros de igrejas, além de ser perseguida pelo poder público. Sim, porque o governo iníquo nada faz, mas exige dos que fazem que tenham casas e abrigos de primeiro mundo para socorrer os que nem mundo tem! A iniquidade e a perversidade não permitem que se faça o bem, por isso os engravatados do poder público criam leis que impedem que a igreja exerça seu verdadeiro trabalho. Isso também é iniquidade.

Assim, meus leitores, a mesma iniquidade que grassa o governo, o poder público grassa também a igreja!

Felizmente, Deus haverá de se erguer a favor dos injustiçados e galardoará os que ajudam os necessitados. Eu deveria me calar, como afirma o profeta, mas como calar diante da iniquidade reinante no mundo?

“Não admira que num tempo mau como este as pessoas que têm juízo fiquem de boca fechada! Procurem fazer o que é certo e não o que é errado, para que vocês vivam. Assim será verdade o que vocês dizem, isto é, que o SENHOR, o Deus Todo-Poderoso, está com vocês. Odeiem aquilo que é mau, amem o que é bom e façam com que os direitos de todos sejam respeitados nos tribunais. Talvez o SENHOR, o Deus Todo-Poderoso, tenha compaixão das pessoas do seu povo que escaparem da destruição” (Am 5.13-15).

.

O evangelho que vivemos é o evangelho que Jesus viveu?

.


Por Márcio de Souza

Vivo me perguntando isso! Porque se o Evangelho que vivemos é o mesmo que Cristo viveu, tem algo errado comigo, porque o que vejo não condiz com o que leio nas Escrituras Sagradas.

Quando leio a Bíblia, vejo Jesus se relacionando frequentemente com ímpios (não crentes), andando com prostitutas (sem praticar prostituição), sentando e comendo com publicanos, evangelizando seu nenhum pudor e pregando a graça escandalosamente.

Certa feita, Ele transformou água em vinho, mas hoje o Evangelho diz que não se pode tocar em álcool. Noutra oportunidade, Ele se alegrou com pessoas que não professavam o mesmo credo dEle. Ele tocava em gente discriminada pela sociedade e os socorria nas suas necessidades sem esperar nada em troca, mas o Evangelho hoje diz que se nos misturarmos com gente que vive a margem da sociedade, nos tornaremos "farinha do mesmo saco".

O Evangelho que Jesus vivia, dava contra as portas do inferno e as portas do inferno não resistiam, mas o Evangelho que vivemos hoje suporta os ataques infernais é o inferno que dá contra as portas da igreja e nós "bravamente" resistimos.

No Evangelho que Jesus vivia o indivíduo pensava primeiro na comunidade, mas hoje pensamos, como diz o adágio, a filosofia de "farinha pouca, meu pirão primeiro". No Evangelho de Jesus o amor era a tônica, mas hoje amor é secundário o importante é manter a igreja cheia e os gasofilácios transbordando. No Evangelho de Jesus, simplicidade era um estilo de vida, mas hoje acumular riquezas é mais do que necessário, é imperativo.

Pois é, ainda dizem por aí que é tudo igualzinho a Igreja primitiva, e que foi só o tempo que passou, mas na realidade estamos a léguas de distância do Evangelho de Jesus e vivemos abraçadinhos com o Evangelho dos evangélicos.

Fonte: [ Púlpito Cristão ]

O Conhecimento do Deus que se Auto-Revela: O Ponto de Partida para uma Cosmovisão Cristã

.
Por: Dr. Albert Mohler Jr.


A cosmovisão cristã se estrutura, antes de tudo, no conhecimento revelado de Deus. Não há outro ponto de partida para uma cosmovisão cristã autêntica – e não há nenhum substituto.

Um dos princípios mais importantes do pensamento cristão é o reconhecimento de que não há uma postura de neutralidade intelectual. Nenhum ser humano é capaz de atingir um processo de pensamento que não exige suposições, conjecturas ou componentes intelectuais herdados. Todo pensamento humano exige estruturas pressupostas que definem a realidade e explicam, em primeiro lugar, como é possível sabermos alguma coisa.

O processo de cogitação e atividade intelectual humana tem sido, em si mesmo, o foco de grande interesse intelectual. Na filosofia, o campo de estudo dirigido à possibilidade do conhecimento humano é a epistemologia. Os filósofos antigos se preocuparam com o problema do conhecimento, mas esse problema se torna mais complexo e agudo num mundo de diversidade intelectual. Por conseqüência do iluminismo, o problema da epistemologia se moveu para o próprio centro do pensamento filosófico.

Somos capazes de conhecer a verdade? A verdade, no sentido objetivo, está acessível a nós? Por que diferentes povos, diferentes culturas e diferentes crenças se apegam a entendimentos tão diversos e fazem afirmações irreconciliáveis da verdade? A verdade existe realmente? Se existe, como podemos conhecê-la?

Quando a era moderna deu lugar à era pós-moderna, o problema do conhecimento se tornou mais complexo. Muitos filósofos pós-modernos rejeitam a possibilidade da verdade objetiva e sugerem que toda a verdade é nada mais do que construção social e aplicação de poder político. Entre alguns, o relativismo é o entendimento predominante quanto à verdade. Entre outros, o reconhecimento do pluralismo intelectual leva à afirmação de que todas as afirmações da verdade estão presas em conjecturas culturais e só podem ser conhecidas com as lentes de perspectiva distorcida.

Em outras palavras, o problema do conhecimento é fundamental quando pensamos sobre a responsabilidade de formar uma cosmovisão cristã e de amar a Deus com a nossa mente. As boas notícias são estas: assim como somos salvos tão-somente por graça, reconhecemos que o ponto de partida para todo pensamento cristão, na graça de Deus, é-nos demonstrado por meio da auto-revelação de Deus.

O Deus que se revela na Bíblia

O ponto de partida para todo pensamento verdadeiramente cristão é a existência do Deus que se revela na Bíblia. O fundamento da cosmovisão cristã é o conhecimento do único Deus vivo e verdadeiro. O fato de que Deus existe separa a cosmovisão cristã de todas as outras – e temos de afirmar, desde o início, que nosso conhecimento de Deus depende totalmente do dom da revelação divina.

O pensamento cristão não é redutível a mero teísmo – a crença na existência de um Deus pessoal. Ao contrário, o pensamento cristão autêntico começa com o conhecimento de que o único Deus verdadeiro é o Deus que se revelou a nós na Bíblia.

Como nos recordou o falecido Carl F. Henry: “A revelação divina é a fonte de toda a verdade, inclusive a verdade do cristianismo; a razão é o instrumento para reconhecê-la; a Escritura é o seu princípio averiguador; a consistência lógica é um teste negativo para a verdade, e a coerência, um teste subordinado. A tarefa da teologia cristã é exibir o conteúdo da revelação bíblica como um todo ordenado”.

Essa mesma afirmação é verdadeira para todo o pensamento cristão. O cristianismo afirma a razão, mas a revelação divina é a fonte de toda a verdade. Fomos dotados da capacidade de conhecer, mas somos primeiramente conhecidos por nosso criador, antes de chegarmos a conhecê-lo por meio de seu dom de auto-revelação.

A total veracidade da Bíblia

Visto que a nossa dependência da Bíblia ficou evidente, precisamos afirmar a importância da inspiração e da veracidade total da Bíblia. Afirmar a inerrância e a infalibilidade da Bíblia não é apenas uma questão de articular um ponto de vista elevado das Escrituras. A afirmação da total veracidade da Bíblia é essencial para que os crentes tenham uma confiança adequada de que podem conhecer o que Deus deseja que conheçamos. Além disso, nossa afirmação da inerrância das Escrituras se baseia não somente na afirmações internas da Escritura, mas também no próprio caráter de Deus. O Deus que nos conheceu e nos amou antes de chegarmos a conhecê-lo é o Deus que nos dá uma revelação de si mesmo totalmente confiável.

No entanto, a ignorância das verdades bíblicas elementares é abundante. Evidentemente, esse é um problema que existe dentro e fora da igreja. Muitos membros de igreja parecem tão ignorantes a respeito do Deus vivo e verdadeiro quanto as demais pessoas. Inúmeros púlpitos estão em silêncio e comprometidos. O “deus vulgar” da crença popular é o único deus conhecido por muitos.

Como Christian Smith e seus colegas pesquisadores documentaram, a fé de muitas pessoas pode ser descrita como “deísmo terapêutico e moralista” – um sistema de crença que provê a imagem de uma deidade agradável e não ameaçadora que não está preocupada com nosso comportamento, mas deseja que sejamos felizes.

A deficiência da cosmovisão cristã na era moderna pode estar diretamente relacionada a uma mudança significativa na doutrina de Deus. O Deus adorado por milhões de pessoas modernas é uma deidade reduzida ao padrão pós-moderno.

O único Deus verdadeiro

O único Deus verdadeiro, o Deus que se revela na Bíblia, é um Deus que define sua própria existência, estabelece seus próprios termos e governa a sua própria criação. A superficialidade de maior parte da “espiritualidade” moderna é um monumento à tentativa humana de roubar de Deus a sua glória. A cosmovisão cristã não pode ser resgatada sem uma profunda redescoberta do conhecimento de Deus.

Inevitavelmente, nosso conceito de Deus determina nossa cosmovisão. A questão da existência ou inexistência de Deus é fundamental, assim como o são as questões do seu caráter e do seu poder. Os teólogos falam sobre os “atributos” de Deus, significando com isso as particularidades da natureza revelada de Deus. Se começamos com o conceito correto de Deus, nossa cosmovisão será apropriadamente harmoniosa. Se nosso conceito de Deus é sub-bíblico, nossa cosmovisão também será sub-bíblica.

Os atributos de Deus revelam seu poder e seu caráter. O Deus da Bíblia é onisciente e onipotente; é também fiel, bondoso, paciente, amável, misericordioso, gracioso, magnífico e justo.

Na base de todo os atributos de Deus descritos nas Escrituras, estão duas grandes verdades que formam os pilares centrais de todo pensamento cristão. O primeira desses pilares é a soberania total, final e perfeita de Deus. A soberania de Deus é o exercício de sua autoridade legítima. Sua onipotência, sua onisciência e sua onipresença são os instrumentos de sua soberania.

O segundo desses grandes pilares é a santidade de Deus. Assim como a soberania é o grande termo que inclui todos os atributos de poder de Deus, a santidade inclui todos os atributos morais de Deus referidos nas Escrituras. Em primeiro nível, a santidade define a Deus como a fonte de tudo que é bom, verdadeiro, belo, amável, justo, reto e misericordioso. Em outras palavras, a santidade estabelece que Deus não é apenas o possuidor desses distintivos morais – ele é, também, a fonte crucial deles. Em última análise, Deus não é meramente definido por esses atributos morais; ele os define pela exibição de seu caráter na Bíblia.

Em outras palavras, dizer que Deus é justo não significa que ele é aprovado quando testado sob a luz de nosso entendimento de justiça. Ao contrário, nós obtemos entendimento adequado de justiça somente por conhecermos o Deus que se revela a si mesmo como justo. Um dos problemas centrais do pensamento moderno é a tentativa dos seres humanos de julgarem a Deus por nossas próprias categorias de perfeição moral. Nossa responsabilidade consiste em colocar nossas categorias em submissão à realidade e à revelação de Deus.

A questão da existência ou inexistência de Deus é fundamental, assim como o são as questões do seu caráter e do seu poder. A cosmovisão cristã se estrutura, antes de tudo, no conhecimento revelado de Deus. A cosmovisão cristão se estrutura, antes de tudo, no conhecimento revelado de Deus. E isso implica o conhecimento abrangente do Deus que se auto-revela, se auto-define e não aceita rivais. Não há outro ponto de partida para uma cosmovisão cristã autêntica – e não há nenhum substituto.

***
Sobre o autor: Dr. Albert Mohler é o presidente do Southern Baptist Theological Seminary, pertencente à Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos; é pastor, professor, teólogo, autor e conferencista internacional, reconhecido pela revista Times como um dos principais líderes entre o povo evangélico norte-americano. É casado com Mary e tem dois filhos, Katie e Christopher.

Traduzido por: Wellington Ferreira

Copyright:
© R. Albert Mohler Jr.
© Editora Fiel 2010

Traduzido do original em inglês: The Knowledge of the Self-Revealing God: Starting Point for the Christian Worldview publicado no site: www.albertmohler.com

Fonte: [ Editora Fiel ]

Acostumando com a idéia

.
Por Daniel Clós Cesar

Há uns 6 anos atrás perdi minha avó materna. Era a primeira vez que um parente próximo falecia. Não fui ao enterro, não vi o caixão... nem mesmo entrei no cemitério. Uns dois anos mais tarde falecia minha avó paterna. O mesmo cemitério, e só consegui entrar na capela funerária poucos instantes antes do caixão ser fechado. Vi seu corpo de longe.

Nos últimos dois anos faleceram meus avôs. No primeiro consegui entrar na capela, vi seu corpo e consegui ficar próximo das pessoas que ali o estavam velando. Há pouco mais de 6 meses, no enterro do último avô, não apenas fui capaz de entrar na capela, mas de ser o orador do funeral. A primeira coisa que eu devia fazer, no último lugar em que eu deseja estar.

Obviamente não me acostumei com a morte. Não é uma sensação agradável e não existe forma de se aceitá-la de forma indifirente. Ainda que nossa fé esteja alicerçada na eternidade dos santos, a perda física/temporal de um ente é momentâneamente devastadora. Momentânea para aqueles que tem sua esperança no Senhor, é claro.

Penso agora então no pecado. Penso nas "invencionices" do neo-cristianismo averso à doutrina e adepto do judaísmo-gospel e da manipulação do texto sagrado.

Sob pretexto de que inovar é responder à voz do Espírito Santo. Pastores, ex-pastores (agora apóstolos), levitas(?) e homens-ministério tornaram-se um canal de abastecimento de um evangelho torto e com propósitos carnais.

A visão... ou nova visão destes homens e mulheres, transforma o mundo em terra prometida. Transformam a "parábola" do Peregrino de Bunyan em heresia ou fundamentalismo (em sua versão pejorativa). Tornam a Justiça de Deus tão falível quanto a do homem... tão suja quanto pode ser nossa mais pura verdade.

Milhares estão se acostumando com a idéia de que isso é Evangelho. De que essa foi a pregação de Cristo e esse foi o Seu propósito na Cruz. Não grupos de fãs, mas igrejas, mega-igrejas, erguem suas torres de glória em torno desses mundanismos. E muitas, que antes proclamavam o nome de Deus, hoje proclamam o nome de seus líderes e asseclas mais distintos.

Estou cansado de "adivinhos". Estou cansado de pessoas populares, ricas desse mundo e mentamente perturbadas, dominando púlpitos e pessoas sem Cristo, em nome de Cristo. Estou farto de tanta burrice teológica, tanta infantilidade, tanto leite tépido e com prazo de validade expirado sendo servido como fonte de vida.

No entanto não creio que os verdadeiramente salvos, aqueles a quem Deus desde a eternida já ecolheu, venham a se perder. Não temo pela vida deles. Elas estão protegidas no Senhor.

Estristece-me sim, o fato de que o precioso nome do Senhor seja usado como título de carnê profético, tour de cruzeiro e motivo de piada... não em programas de humor, mas em igrejas ditas cristãs.

Lamentável... mas muito mais do que esperado.

"...nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios"

(Apóstolo Paulo, ensinando a Timóteo, o que é ser um verdadeiro cristão)



Fonte [ Púlpito Cristão ]
.

Equilíbrio - Martyn Lloyd-Jones

.

O apóstolo já nos tem exortado nesta Epístola aos Efésios acerca do que ele chama "parvoíces e chocarrices". Não devemos ser pomposos, não devemos apresentar-nos com excessiva seriedade, mas isso é muito diferente do erro das "parvoíces e chocarrices". Muitas vezes fico surpreso por ouvir cristãos cedendo a essas "parvoíces e chocarrices". Verifiquemos que não estamos produ¬zindo uma atmosfera nociva com esse tipo de coisa. Essa espécie de conversa pertence ao mundo, não a nós. Isso é a instrução das Escrituras.

O mundanismo, naturalmente, tem muitas formas, e há perigos específicos. O apóstolo adverte Timóteo, na Primeira Epístola, capítulo 6, versículo 9: "Os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas". Paulo aí condena o amor ao dinheiro. O dinheiro como tal não é mau, se o homem o usa apropriadamente, como despenseiro do Senhor Jesus Cristo. Contudo, no momento em que o homem começa a amar o dinheiro, entra o pecado. Tenho bastante idade para poder dizer que tenho visto muita gente boa sair-se mal nesse ponto. Uma vez que acontece isso, a temperatura espiritual sempre abaixa, e ocorre uma rápida perda de vigor espiritual. Conheci homens que foram convertidos de uma vida muito pecaminosa, e que, por causa da sua conversão, começaram a dar atenção ao seu trabalho, progrediram e tiveram sucesso; e tive a infeliz experiência de ver alguns deles caírem na armadilha de que estamos falando. Antes, jogavam fora o seu dinheiro; agora, começaram a amá-lo. Ambos os extremos são maus.

Outra causa da perda de vigor e energia espiritual, e de deixar de ser "forte no Senhor e na força do seu poder", é a enervante atmosfera da respeitabilidade. É um perigo muito comum na Igreja. Às vezes me pergunto se não é a maior maldição na hora presente. Pelo menos, as estatísticas provam claramente que, por uma razão ou outra, o cristianis¬mo atual não está sensibilizando as classes trabalhadoras deste país. Será, às vezes me pergunto, porque estamos dando a impressão de que o cristianismo é só para as respeitáveis classes médias? Examinemo-nos a nós mesmos sobre isso. Tememos a manifestação do Espírito? Pesa sobre nós a culpa de apagar o Espírito? Tememos a vida, o vigor e o poder? Quantas vezes vi homens que começaram com fogo se tornarem cristãos simplesmente respeitáveis, finos - inúteis, sem nenhuma energia, sem nenhum vigor, sem nenhum poder!

Permitam-me ilustrar isso outra vez com fatos da esfera do ministério. Conheci homens que entraram no ministério e que sem dúvida eram homens chamados por Deus, cheios de paixão pelas almas e revestidos de poder na pregação. Vi-os terminarem apenas como bons pastores, bons visitadores. Visitar faz parte do ministério pastoral; mas se o homem se torna apenas um homem agradável, um pastor bondoso, excelente para receber-se em casa, alguém que toma uma xícara de chá com você, é trágico. Que tragédia o profeta acabar sendo tão-somente um homem amável e um pastor bondoso! Mais uma vez estamos vendo que sempre devemos procurar evitar os extremos. No entanto, não há nada que possa ser tão enervante como esse tipo de atmosfera fina e respeitável, na qual ficamos temendo quase tudo, e, acima de tudo, ficamos temendo a manifestação do poder do Espírito Santo. Por isso, começamos a "extinguir o Espírito"!

É evidente que há aplicações intermináveis deste tema. Ele constitui o fundo e base racional do ensino que se vê em 2 Coríntios, capítulo 6, sobre "não nos prendermos a um jugo desigual com os infiéis". Isso se aplica primariamente ao casamento. A razão pela qual o cristão não deve casar-se com alguém incrédulo é que, fazendo isso, ele se põe numa atmosfera nociva, que tende a minar a sua energia e vitalidade espiritual. Isso é inevitável, como se vê no fato de que desse modo ele se associou e se prendeu a alguém que não tem vida e entendimento espiritual. Ele, não o seu cônjuge, é que sofrerá as conseqüências. Por conseguinte, somos exortados a não nos sujeitarmos a um jugo desigual com os infiéis.