Não ha silêncio nas escrituras

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Por Jorge Fernandes Isah

Tenho me arriscado a escrever sobre alguns assuntos que até pouco tempo sequer tinha a menor idéia. Isso se deve especialmente à renovação da minha mente pelo Espírito Santo, e a leitura das Escrituras. Mas não há como rejeitar aquilo que os santos de todos os tempos escreveram e ainda escrevem, seja em livros, artigos, pregações ou postagens em sites e blogs. Pretender ser uma mente "neutra", partindo-se do zero é pura prepotência e soberba, além de ser uma conclusão estúpida e enganosa em si mesma. Não tenho problemas em assumir o que sou, e o que tenho sido é fruto da ação de Deus através da instrumentalização do corpo de Cristo, capacitado pelo próprio Deus a auxiliar os membros no conhecimento e entendimento da verdade. Isto não quer dizer perfeição nem infabilidade, mas um processo lento em que, mesmo na imperfeição e vivendo com a natureza pecaminosa, o Senhor vai-me afastando cada vez mais de mim, e me colocando cada vez mais próximo de Cristo. E, de forma alguma, ninguém pode dizer que o conhecimento adquirido ou a ignorância cultivada é fruto exclusivamente de si mesmo. Mas esta é apenas uma introdução, não o assunto deste texto.

Dito isso, abordarei mais um tema do qual não domino, mas tenho o entendimento suficiente para considerá-lo verdadeiro: o pressuposicionalismo bíblico.

Interessante que alheio à metodologia humanista de se avaliar e colocar o texto bíblico à prova da razão e da ciência, as pressuposições interpretativas serão a base para a exegese; ou seja, nenhum estudioso interpretará as Escrituras sem pressuposições, e a afirmação de que existe uma "neutralidade" no estudo não passará de uma grande farsa.

A questão é: ou se interpreta a Bíblia através das pressuposições sobrenaturais, ou a fazemos através das pressuposições racionalistas e liberais. Delas dependerá o caminho a ser tomado. O que significará utilizar de pressuposição interpretativa crente e ortodoxa ou incrédula e liberal.

Na verdade o incrédulo baseará o seu estudo a partir da incredulidade; enquanto o crente baseará o seu estudo a partir da crença bíblica.

Defender uma isenção ou neutralidade é sempre uma forma de engano, de se autoenganar, tendo-se em vista a impossibilidade de interpretação a partido do nada, da neutralidade, pois, sem se partir de algum ponto específico é impossível se chegar a algum lugar.

Porém, isso não quer dizer que as nossas crenças se sobreporão à Bíblia, que se chegará diante dela com tudo ajeitado, esperando apenas a confirmação, a qual implicará, muitas vezes, em conspurcação, em distorção do texto bíblico. Ao contrário a Escritura deve avaliar e validar se todas as nossas crenças estão, de fato, concordantes com a revelação proposicional de Deus. O incrédulo e liberal utilizará a sua fé não-sobrenatural e irracional, ancorado em falsas premissas, a deduzir que tudo deve partir e ser explicado pelo homem. Deus é simplesmente descartado do método, revelando o quanto o discurso racionalista não passa de um embuste irracional, tendencioso e desonesto de se interpretar a realidade escriturística.

Então podemos dizer que a interpretação bíblica estará respaldada pela fé, que estará sustentada por suposições ortodoxas. Temos, por assim dizer, um círculo vicioso, certo? Errado. Simplesmente porque assim como Deus pode ressuscitar um cadáver e soprar vida numa alma morta [o que os liberais terão uma infinidade de desculpas e justificativas no mínimo absurdas e estapafúrdias para não reconhecer a sobrenaturalidade bíblica e reafirmar a sua incredulidade], assim também Ele pode transformar nossas pressuposições. E isso acontece infalivelmente na regeneração, no novo-nascimento, quando o Espírito Santo reorientará as pressuposições do homem em relação à Bíblia. Já que o homem caído, o homem natural, encontra-se no estado de rebeldia contra Deus e a Sua palavra, sendo-lhe impossível concebê-la como a fidedigna revelação divina. Somente após o novo-nascimento ele estará em disposição intelectual para aceitá-la e sujeitar-se a ela pela renovação da mente, tornando-a semelhante à mente de Cristo.

Ainda que o seu entendimento inicial seja limitado, e algumas das suas antigas pressuposições ainda permaneçam nos detalhes, à medida que a palavra for-lhe revelada, ele estará crescendo na graça, deixando de tomar leite para comer carne, amadurecendo-se, santificando-se, progredindo no entendimento da Bíblia e da Fé que foi uma vez dada aos santos.

Logo a tarefa interpretativa deve estar pautada por pressuposições teológicas [pressuposicionalismo], fundamentadas na ortodoxia cristã, ao invés de se recriar novas ortodoxias [ou seriam heterodoxias?] a cada geração que, na verdade, têm como único objetivo demolir a fé bíblica e disseminar o ceticismo iluminista. Faz-se necessário apelar constantemente à Bíblia, "a Palavra santa e viva de Deus, que nos reorienta e que refina as nossas pressuposições e proporciona um entendimento cada vez maior da revelação escrita de Deus, dentro dos limites da ortodoxia cristã".¹

Mesmo sendo possível aos exegetas discordarem ou se contraporem à infalibilidade bíblica [de chegarem à conclusão da não infalibilidade do texto sagrado], o problema estará na abordagem "científica" que os levará a compreender o método humano como infalível, mesmo que substituído por outro, e por outro, e mais outro, e tantos quanto forem necessários para que a ciência sempre seja o argumento final de todo o processo interpretativo [excluíndo-se qualquer hipótese de sobrenaturalidade bíblica], levando-a ao extremo de ser o dogma principal da crença naturalista: a fé cega na ciência; o que implicará sempre no silêncio de Deus para eles, quando o Senhor está a falar ativa e diretamente em toda a Escritura.

O próprio fato de tê-las diante de nós é a prova cabal da sua infalibilidade, "e qualquer outra conclusão de uma, assim chamada, exegese 'objetiva' é categoricamente equivocada - e enganosa".²

A imperfeição humana e o seu estado caído são provas da impossibilidade de se obter a "precisão científica" tão decantada e idolatrada pelos estudiosos, mas que no fundo, não passa de uma tentativa insignificante e frustrada de se "avaliar" a revelação especial, além de ser uma afronta a Deus.

O único padrão válido para a interpretação bíblica e seus aspectos históricos, éticos, artísticos, etc é o da Bíblia, a qual é a voz do próprio Deus. Portanto, infalível. Assim o método interpretativo levará, se bíblico, ao conhecimento da verdade; se extrabíblico ou não-bíblico, ao aprofundamento cada vez maior no engano. O que me leva a concluir a completa e total impossibilidade do homem natural conhecer a Deus a parte da revelação escriturística, sem que o Espírito Santo opere em sua mente regenerando-a.

Em linhas gerais, todo o esforço interpretativo do homem não-bíblico somente o afastará mais da verdade; enrijecendo-lhe a mente ao ponto em que todo o seu esforço "científico" o levará mais ao abandono e ao não-conhecimento de Deus. Ele terá uma idéia do que venha a ser o Todo-Poderoso, porém será uma imagem tão distorcida que nem mesmo o mais eficiente espelho esférico poderá reproduzir.

Na verdade, enquanto muitos acreditam enganosamente no silêncio de Deus, Ele estará sempre a falar.

Porque não há silêncio na Escritura.


Nota: 1- "Infalibilidade e Interpretação", de Rousas John Rushdoony & P. Andrew Sandlin - Editora Monergismo - pg. 61
2- idem - pg. 75

Fonte: [ KÁLAMOS ]
Via: [ Ministério Batista Beréia ]

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2 comentários

Ruy,

obrigado por reproduzir o meu texto. Sinto-me honrado.

Grande abraço!

Cristo o abençoe!

Responder

Excelente reflexão! Deus nos permite, em sua infinita bondade, sempre "um ponto de partida", nem que seja aquele em que chegamos à conclusão, de forma sobrenatural, de que não é o entendimento certo. Certo, me refiro ao que primeiro entendemos em nossa mente puramente carnal, porque não temos como não apreender nada! Algo sempre vem conosco! Mas daí, a revelação nos traz para a Luz, revelação esta, que não pode ser entendida humanamente, já disse o apóstolo Paulo, aos coríntios "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.
Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido.
Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo."
1 Coríntios 2:14-16
Um exemplo, foi de onde venho, nascida em um lar, onde lia-se a Bíblia todos os dias no "culto doméstico", mas pela retirada de versículos de contexto nas "doutrinas" da denominção a que pertencia minha família, estávamos em completa escuridão de conhecimento bíblico real e completo, embora, mesmo nesse quadro, meus pais, pessoas simples, que se converteram a Jesus, deixando o catolicismo, aprenderam inicialmente doutrinas de homens como usos e costumes, (foram membros da Assembléia de Deus), mas o poder e a sabedoria de Deus agiu mesmo assim, pois meu pai nunca foi "batizado" no Espírito Santo, conforme o entendimento desta denominação, de batismo, nem minha mãe, que achava que era, perdia o controle de sua fala, nunca a vi pronunciar em oração nada além de palavras inteligíveis era uma mulher discreta, orava baixinho! Sempre tínhamos uma oração final, racional! Mas o testemunho deles era digno de uma vida regenerada! Ficaram na memória de todos os que os conheceram como pessoas amorosas e de exemplo na vida diária!
Daí, do que aprendi, cheguei a uma segurança hoje, Deus é Soberano, não importa o que pensamos ou fazemos, Ele nos mostra a verdade! Hoje humildemente, tenho buscado ao Senhor, depois de ter sido por muitos anos alguém que não sabia da existência de um homem na história da reforma, chamado Calvino, que explica uma pergunta minha que fiz na infância, lendo Romanos 9, que só foi respondida agora, mesmo tendo passado mais de 10 anos frequentando Escolas Bíblicas dominicais como membro de uma igreja presbiteriana, só há 2 anos atras e que vim conhecer a doutrina da regeneração, da Graça e da eleição, assim como da predestinação! E sei que tenho muito ainda a aprender, embora possa estar sempre partindo de um ponto de total "desconhecimento", pela misericórdia de Deus, e seu poder e por amor do Seu Nome, Ele vai nos ensinar! Amém.

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